Considerado um dos grandes nomes da moda nacional na atualidade, o estilista baiano Issac Silva cria coleções que abordam questões ligadas à ancestralidade negra. Seu último desfile na Casa de Criadores, em julho, contou apenas com modelos negras e trans na passarela e homenageou Xica Manicongo, a primeira travesti brasileira. A coleção foi composta por vestidos e conjuntos com estampas africanas em preto e branco que traziam nas etiquetas o nome da cada modelo. “Sempre em minhas coleções busco a verdade da nossa história. Exaltando a importância das mulheres e sua força e beleza”. Nesta entrevista, ele fala um pouco sobre moda, política e representatividade:
Escola São Paulo Seu desfile foi uma celebração e também um manifesto sobre identidade trans e feminismo negro. Como surgiu a ideia de fazer uma coleção com esta temática?
Issac Silva Minhas coleções sempre falam sobre diversidade, pluralidade, este é o DNA da minha marca. Eu fiz a coleção Xica Manicongo para mostrar que desde 1591 a mulher trans está invisibilizada na nossa sociedade. Fiz o desfile para mostrar que moda é muito mais que roupa, é uma ferramenta para se falar sobre tudo.
Escola São Paulo Qual foi a sua intenção ao colocar nas etiquetas o nome de cada modelo participante?
Issac Silva A intenção foi homenageá-las. Cada peça que foi desfilada vai ter o nome de quem a vestiu.
Escola São Paulo Em tempos de economia colaborativa, temas como diversidade, sustentabilidade e incentivo ao trabalho autoral estão cada vez mais em pauta. Como você enxerga estas questões no universo da moda?
Issac Silva Vejo como o futuro da moda, ela muda conforme os tempos. Eu estou bem feliz com esta grande mudança. Marcas e estilistas devem acompanhar, pois os modos das modas mudam.
Escola São Paulo Levando em consideração os temas que você aborda em seus desfiles, podemos concluir que você enxerga a moda como uma plataforma ativa de posicionamento político e consciência social?
Issac Silva Ela [a moda] sempre foi uma plataforma de posicionamento político e consciência social, a diferença é que as marcas não dialogavam com o seu tempo e nem com os novos tempos. No atual momento, ficou inadmissível estar na moda e invisibilizar as mulheres reais, o colorismo do Brasil. Eu sou a nova geração, o que tem de frescor, pois a moda voltou à estaca zero e, neste momento, é a hora de plantar para pode colher bons frutos nos próximos anos.