A Virada Sustentável é um movimento de mobilização para a sustentabilidade que organiza o maior festival sobre o tema no Brasil. Começou em 2011, em São Paulo, e já realizou edições nas cidades do Rio de Janeiro, Porto Alegre, Salvador, Manaus, entre outras. A concepção temática da Virada Sustentável é, atualmente, baseada e totalmente concebida a partir nos 17 Objetivos do Desenvolvimento Sustentável (ODS) definidos pela ONU, que são também os princípios que orientam a programação do festival em todas as cidades. Participamos de parte da programação que aconteceu na Unibes, em São Paulo, nos dias 22 e 23 de agosto.
4ª Revolução Industrial e Gestão de Resíduos
Antonis Mavropoulos, em sua palestra “4ª Revolução Industrial e Gestão de Resíduos”, problematizou a relação que existe entre reciclagem e economia circular. Acredita que não devemos considerar a reciclagem como o caminho para a economia circular, pois perdemos tempo e dinheiro com ela, quando teríamos de avançar nas outras partes da cadeia (utilizar matérias-primas renováveis ou biodegradáveis, projetar com responsabilidade para estender o ciclo de vida atual de um produto – reparando, atualizando e revendendo -, produzir com consciência, criar mais plataformas de compartilhamento e pensar em novos modelos de negócios como um todo).
Ele propõe novos modelos de negócios em que a mentalidade dos governos e marcas precisa ser diferente, uma vez que estes entendem tudo sobre o mercado financeiro, mas não sobre seus impactos sociais e ambientais. Ainda medimos progresso de forma errada, pelo PIB, o que, de novo, deixa como foco a questão financeira, e não a ambiental e a social. O reuso, por exemplo, não é medido no PIB, bem como o prolongamento da vida útil de um produto.
Segundo o fundador e CEO da D-Waste e Presidente da ISWA, o futuro do nosso planeta está na conexão entre Economia Circular e Indústria 4.0. Isso determinará se estamos indo em direção a um planeta com ou sem desperdício. A Economia Circular ou será digitalizada ou não prevalecerá.
A 4ª revolução industrial apenas acelerará o esgotamento de recursos e criará problemas mais complexos e danos mais irreversíveis se não caminhar de mãos dadas com a economia circular. Porém, tanto a indústria 4.0, como a economia circular, demandam mudanças radicais nos modelos, culturas e políticas de negócios a fim de entregar todos os resultados prometidos. Sem essas mudanças, tanto a indústria 4.0, como a economia circular, acelerarão o esgotamento de recursos e aprofundarão a desigualdade.Vivemos em uma nova sociedade, que leva ao surgimento de uma nova economia.
Economia circular do plástico
O jornalista e editor Caco De Paula, moderador do painel “Economia Circular do Plástico”, inicia sua fala comentando como o plástico, que mudou completamente a vida das pessoas em vários aspectos por muitos anos, passa hoje pelo problema no fechamento do ciclo, pois temos que pensar em uma nova forma de lidar com essa matéria-prima. E, ao se tornar um bem de consumo, temos uma série de “contratos sociais” que ainda não estão bem estabelecidos, envolvendo fabricantes, consumidores e governos. Algo que está em construção no mundo inteiro, não só no Brasil. Estamos praticando um exercício de virada, em que personagens da cadeia estão vivendo experiências, criando soluções e financiando pesquisas em busca de alternativas mais sustentáveis.
Nesse painel, presenciamos uma discussão aberta e informativa sobre os desafios e tendências da economia circular do plástico, com participação de representantes de grandes empresas da cadeia produtiva em nível global: Fabiana Quiroga, diretora de reciclagem da Braskem, Mariana Bazzoni de Werna Mendes, gerente de sustentabilidade da AMBEV, e César Sanches, diretor de sustentabilidade do Valgroup. Os representantes das três empresas têm como desafio suas áreas sustentáveis, investindo sempre em inovação como forma de garantir maiores facilidades para a reciclagem desse material. Consideram ser necessário criar um outro modelo de negócio, pois, no caso de outras matérias-primas, como o alumínio, o próprio produto reciclado financia o processo, o que está longe de acontecer com o plástico.
Fabiana Quiroga acredita que a questão do plástico deva passar por uma mudança comportamental de todos os setores da cadeia, desde a fabricação da matéria-prima, a transformação, a empresa de produção de bens de consumo e, no final, o consumidor em si. Todos os setores devem oferecer soluções sustentáveis para a sociedade e pensarem juntos em uma mudança comportamental.
Fabiana contou também como a Braskem se empenha todos os dias para melhorar a vida das pessoas por meio de soluções sustentáveis da química e do plástico, engajados na cadeia de valor para o fortalecimento da economia circular. Entre algumas ações, entregam conhecimento aos clientes no melhor aproveitamento da matéria-prima e em uma produção que facilite a reciclagem (quanto mais tipos de plásticos colocarem em uma embalagem, por exemplo, mais complexa sua reciclagem). Quando fala de mudança, chamou a atenção para a importância do design, em como pensar a melhor forma do design desse produto para que possa ser usado o máximo possível e, ao final, não tornar-se um resíduo, mas uma nova matéria-prima.
A designer, pesquisadora e doutora em Comunicação e Semiótica, Mônica Moura, autora do livro Faces do Design, define design como “ter e desenvolver um plano, um projeto, significa designar. É trabalhar com a intenção, com o cenário futuro, executando a concepção e o planejamento daquilo que virá a existir”.
Em nosso curso Design Sustentável, com Eloisa Artuso, além de trazer ferramentas sustentáveis aos designers, trazemos conhecimento e responsabilidade à todos os profissionais que estão pensando em suas marcas e negócios, sendo eles designers de produtos ou não.
Mariana Bazzoni de Werna Mendes conta como a AMBEV se posiciona frente às demandas da sociedade em prol da sustentabilidade, caminhando além das expectativas do consumidor sobre a reciclagem em si, repensando seu posicionamento acima das provocações que vem recebendo do consumidor. A AMBEV tem uma missão de conseguir transportar as expectativas do consumidor para o restante da cadeia, sendo inventiva, criativa e com muito diálogo entre todos os setores. Para ela, a visão de circularidade é ter diversos atores trabalhando em outros aspectos além do uso e descarte, como gerar valor em cima daquilo que normalmente não parece ter mais. Lixo é dinheiro, e temos que gerar valor e oportunidades para ele com inovação e novas ações.
César Sanches percebe que a economia circular gerará uma série de oportunidades para empreendedores, professores, pesquisadores. Novas tecnologias, automação, robótica, inteligência artificial, tudo isso vai se desenvolver, e cabe a nós usar os materiais e essas tecnologias de forma a criar uma sociedade melhor. Numa visão otimista, acredita que o ser humano, se observarmos ao longo de toda a sua história, já entendeu que a economia linear chegou ao seu limite e que podemos aproveitar todo esse conhecimento acumulado por séculos e transformá-lo em economia circular, sustentável. Não é uma obra concluída, mas está sendo feita.
Economia circular do alumínio
No painel “Reciclagem | Os desafios da profissionalização, geração de renda e consumo consciente”, Eunice Lima, diretora de comunicação e relações governamentais da Novelis, Estevão Braga, gerente de sustentabilidade da Ball, Cristiano Cardoso, da Cooperativa Recifavela, e Nina Marcucci, coordenadora de conteúdo do Menos 1 Lixo, discutiram como as empresas e as cooperativas têm buscado soluções para aumentar a rentabilidade, melhorar a gestão e, consequentemente, a qualidade de vida das pessoas envolvidas no ciclo produtivo do alumínio. Eunice Lima contou que o Brasil é o maior reciclador de alumínio do mundo, por ser um negócio altamente rentável. Temos um índice de 97,3% de reciclagem de latas de alumínio com 600 mil pessoas envolvidas no processo. A Sua reciclagem consome 95% menos energia elétrica, quando comparado à produção do alumínio a partir do minério, reduz em 95% a emissão de gazes de efeito estufa, além de ser um material infinitamente reciclável. Seu sucesso se dá pela estruturação da reciclagem do alumínio como negócio; investimento industrial em capacidade de reciclagem; as indústrias absorvem todo o material coletado (existe comprador garantido); valor agregado da sucata, que remunera atividades de coleta e transporte; logística reversa organizada; e valor compartilhado em todos os elos da cadeia. Não enfrenta os desafios de outros materiais como vidro, plástico etc. Um processo que hoje é uma oportunidade de renda e já se tornou um novo modelo de negócio. Ponto para o alumínio.
Jogando luz no lixo invisível
Em uma cidade como São Paulo, o sistema de recolhimento, tratamento e destinação dos resíduos custa bilhões de reais todos os anos e envolve milhares de pessoas, incluindo toda a economia informal gerada pelos catadores e suas famílias, peças fundamentais no processo da reciclagem. Mas tudo isso não é suficiente se cada um de nós, cidadãos, não tomarmos consciência sobre nossas opções de consumo de produtos e a destinação dos resíduos que inevitavelmente são gerados. Para refletir sobre como essas questões estão todas interligadas, o painel “Jogando Luz no Lixo Invisível” reuniu uma roda de conversa com diferentes olhares sobre experiências de manejo sustentável de resíduos com Patrícia Lorena, CEI e Founder da Inurbe, Larissa Kroeff, cofundadora da Meu Copo Eco, e João Bourroul, do Pimp My Carroça. Patrícia Lorena nos apresentou dados como o de São Paulo ser responsável por 12% do PIB brasileiro e produzir, aproximadamente, 8% dos resíduos do país – 19 mil toneladas por dia, quantidade que encheria 140 aviões cargueiros 747-8F, os quais, se enfileirados, ligariam a Avenida Paulista ao aeroporto de Congonhas! Acumulando essa quantidade por três dias, encheríamos o Estádio do Pacaembu.
Lamenta a relação que os paulistanos têm com os resíduos – tratam de manter suas casas limpas, mas entendem a rua como responsabilidade alheia, sem perceber suas responsabilidades individuais em manter a cidade limpa e conservada. Larissa Kroeff trouxe uma reflexão sobre o lixo produzido nos eventos, e percebeu uma oportunidade de negócio criando o projeto “Meu Copo Eco”. No Brasil, o custo do lixo se divide com o de saúde e o de educação nas gestões municipais – 97% do lixo geram custo por meio da coleta e manutenção dos aterros sanitários, enquanto que apenas 3% geram receita às cooperativas de reciclagem. “E se fosse o contrário?”, questiona ela. João Bourroul, além de nos contar do trabalho dele com os catadores nos projetos Pimp My Carroça e Cataki, empoderando e trazendo autoestima a esses atores praticamente invisíveis da cadeia, nos presenteou com o testemunho de um catador, que veio para relatar os problemas que enfrentam no dia a dia, como a logística e a falta de respeito.
Clique aqui para para ler sobre o que vimos e sobre nossas impressões do dia 22, o dia seguinte!
#VireSuaCidade #escolasaopaulo #descubra #reinvente #viva