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STYLIST RODRIGO POLACK EXPLICA POR QUE PRODUTOS FALSIFICADOS NÃO VALEM A PENA

Samantha Jones mostra à Carrie Bradshaw uma bolsa Birkin que acabou de comprar no mercado negro, e depois de rasgar elogios à cópia perfeita, ainda argumenta que ninguém saberia que o tao desejado item é falso. Carrie, gênia, diz: “As pessoas podem não saber, mas VOCÊ sabe.” 
That’s the point, baby!
 A cena do seriado Sex And The City, poderia se passar em qualquer lugar (rico ou pobre) do mundo. Dos “ching lings” da vida às barracas em ruas super charmosas em Roma, a indústria do fake se dissemina de um jeito vergonhoso. E lá você também encontra toda a linha da Supreme X Louis Vuitton, o cintão gigante amarelo da Off-White, as camisetas e tênis de tigrinho da Gucci, chinelos com a medusa da Versace, e até, pasmem, PEÇAS EXCLUSIVAS — sim, dessas que nem as marcas originais possuem. Ou seja, criações feitas pelos próprios falsificadores! Oh Lord!  

Adquirir uma peça fake, simplesmente para impressionar alguém, é de uma cafonice tremenda. Ou você tem dinheiro para comprar o original, ou vai atrás de algo único, mais barato, mas que respeite a criação, em todo o seu processo. E a falta de qualidade? Bom, lixo vai parar no lixo, em pouquíssimo tempo

Lembro na minha infância de vizinhas irem ao Paraguai comprar muambas mil. Montavam verdadeiros shopping centers em plena sala de tv. Tinham  desde bronzeador Rayto de Sol e perfume Azzaro, ao cachorrinho que dava cambalhota e o soldado idiota que rastejava no chão. Ah, não poderia jamais me esquecer de uma sombrinha branca bizarra, com a cara da Madonna estampada, e seu cabo plástico de cisne!    

Todo esse universo “importado do Paraguai”, foi precursor do que viria com tudo, nos 90’s, com as lojas de 1,99 e suas tranqueiras da China. As Barbies apareceram em versões assustadoras, com maquiagens de dar medo a qualquer criança de 2 anos. Isso sem falar nos CDs piratas que acabaram com o mercado fonográfico e por aí vai.   

Na adolescência, por volta dos 15 anos, teve o boom das camisetas, moletons e jaquetas do Hard Rock Café e Planet Hollywood. Coitado daquele que voltava das férias sem um deles. Os mais basiquinhos vinham de Orlando ou Miami. Mas de vez quando aparecia uma fofa desfilando sua jaqueta jeans, bordada em linhas metalizadas HARD ROCK CAFÉ TOKIO. Nem preciso dizer que essa era a garota mais respeitada (e invejada!) do colégio. Um belo dia, essas peças começaram a Raparecer num ou outro, com estampas tortas e bordados toscos. Foi o fim do desejo. Aquele símbolo de status e poder, se tornou desinteressante, sem graça e morreu.  

SENHOR, como pude sobreviver a tudo isso sem sequelas? Me diz? Bom, nada melhor que ver todas essas porcarias ao vivo no passado, e me tornar um adulto vacinado a tudo o que é pirata.  

O ser humano, em qualquer idade,  se alimenta de símbolos para compensar as inseguranças e frustações. Como se um relógio fosse dizer a todos… “Hey, olha como sou f*da!” Longe de mim ditar regras e ser contra consumismo, que fique bem claro. Pelo contrário, sou aficionado por algumas marcas e pelo design original, e NÃO abro mão de qualidade.  

Só digo uma coisa… se não pode ter o “real oficial”, não tenha. Em época de fake news, uma boa e original idéia é tão rara quanto uma Birkin Hermès azul de croco.

Rodrigo Polack é stylist há 15 anos, professor da Escola São Paulo no curso de Styling, apresentador do programa 5 Looks, no Discovery Home & Health, ao lado de Chris Flores e colunista semanal da Revista QUEM Inspira. Clique aqui para ler a matéria original!

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FRANCA SOZZANI, A TRANSCENDÊNCIA NA MODA

Ousada, autoconfiante, visionária e sonhadora. Estes são alguns dos adjetivos mais usados para definir a personalidade de Franca Sozzani. Criadora de uma linguagem própria, a ex-editora-chefe da Vogue Itália transformou a publicação em uma referência para além do universo fashion. 

Foto: Peter Lindbergh

Nascida na Itália em 1950 e formada em Filosofia e Literatura pela Universidade de Mantua, Franca ingressou no universo editorial em 1976, na Vogue Bambini, trabalhou na revista feminina Lei e assumiu o comando da Vogue italiana em 1987 – na qual permaneceria por 28 anos. 

O idioma foi o primeiro grande desafio enfrentado por ela ao se tornar responsável pela publicação. Apesar de a Itália ser um país importante para o universo da moda, o fato de poucas pessoas lerem ou falarem italiano no mundo limitavam o alcance da revista. A estratégia escolhida por Franca para ultrapassar a barreira idiomática foi investir na contação de histórias por meio das imagens, um posicionamento que mudou para sempre os editoriais de moda.

“Eu queria me comunicar com todos, então pensei em criar imagens que fossem feitas para falar. O normal era a foto servir como um suporte para o texto, mas nós fizemos o contrário, reduzindo as palavras para o mínimo possível.”

Por acreditar que moda é muito mais do que roupas na passarela, a italiana fez da revista uma plataforma para reflexão de questões políticas e culturais que impactaram o mundo nas últimas três décadas. Apostando no talento e na visão de fotógrafos visionários como Peter Lindbergh, Bruce Weber e Steven Meisel, ela criou editoriais polêmicos que debateram questões como a fixação por cirurgias plásticas, direitos da população LGBT, o novo papel da mulher na sociedade, entre outras questões. “Atravessei vários mundos por meio do ponto de vista deles.”

Moda, Arte, Política e Reflexão

Em setembro de 2006, a publicação apresentou o editorial State of Emergency que remetia ao reforço no sistema de segurança dos aeroportos após os atentados terroristas de 11 de setembro de 2001 nos EUA. No ano seguinte, a revista discutiu a onda de reabilitação das celebridades em Supermodels Enter Rehab.

Black Issue – Steven Meisel

Inspirada pelo protesto contra racismo no segmento da moda realizado por um grupo de ativistas em Nova York, Franca lançou em 2008 uma edição especial apenas com modelos negras na capa e no recheio. Batizada de Black Issue, a publicação trouxe as modelos Tyra Banks, Liya Kebede, Sessilee Lopez, Jourdan Dunn e Naomi Campbell – além de ensaios com personalidades negras como a ex-primeira dama estadunidense Michelle Obama e o diretor Spike Lee – e buscou refletir sobre a importância da diversidade na moda. O impacto foi enorme: a edição foi a mais vendida da Vogue Itália, demandou duas reimpressões e aumentou em 30% a receita da revista.

The Black Barbie Issue – Cristina Dell’Oro e Gabriele Inzaghi

Em comemoração aos 50 anos da Barbie, e aos 30 anos do lançamento da Barbie negra, a editora lançou, no ano seguinte, um suplemento apenas com versões negras da boneca, batizado de The Black Barbie Issue. “A Barbie tem sido um ícone para gerações inteiras e é por isso que eu realmente quis dar um forte sinal de acordo com os tempos e dedicar a edição de aniversário à Barbie Negra“, declarou Franca na época. 

Water & Oil – Steven Meisel

Em 2010, a revista voltou aos holofotes com o editorial Water&Oil. O ensaio trouxe a modelo Kristen McMenamy vestida de preto, coberta de óleo e jogada no meio de uma praia, numa clara alusão aos animais que morreram no acidente provocado pela British Petroleum (BP) e que resultou no vazamento de milhões de barris de petróleo no mar do Golfo do México. 

Belle Vere – Steven Meisel

Em junho do ano seguinte, a publicação trouxe modelos plus size de lingerie em sua capa com o título Belle Vere, ou Belas Reais. Um ano antes, a publicação havia lançado em seu site o canal Vcurvy que apresenta conteúdo de moda para mulheres fora do padrão de beleza vigente.

“Um número cada vez maior de leitores quer ver o mundo real, habitado por pessoas reais, retratado na revista. São pessoas normais, não obcecadas em serem magras, que aceitam e respeitam seus corpos como eles são” 

Mas nada foi mais polêmico que o editorial  Horror Movie, de 2014, no qual a revista abordou a violência doméstica. Inspirado nos filmes de terror de diretores como Dario Argento e Stanley Kubrick, o ensaio se tornou notícia no mundo inteiro. 

Horror Movie – Steven Meisel

Em uma das imagens, por exemplo, uma modelo aparece morta aos pés da escada vestindo um vestido vermelho da marca Prada enquanto um homem está sentado segurando uma arma. Numa outra foto, uma modelo surge ensanguentada e gritando em uma escada próxima ao seu agressor. Acusada de oportunismo, Franca se posicionou. “Na Itália, a cada três dias uma mulher morre assassinada por um parente, pelo marido ou pelo namorado. A ferramenta que eu tenho [para protestar contra isso] é uma revista de moda”, declarou. 

“Não importa se corremos o risco de causar um tumulto geral com a mídia ou despertar críticas; ou se somos acusados de explorar questões sociais graves apenas para alavancar as vendas nas bancas de jornal. O que é importante para nós é que pelo menos uma das dezenas de mulheres que sofrem violência todos os dias possa sentir a nossa proximidade.” 

No documentário Franca: Caos e Criação, dirigido pelo filho da editora, Francesco Carrozzini, o CEO da CondéNast Internacional Jonathan Newhouse, responsável pela edição da Vogue, contou que chegou a pensar em demitir Franca devido às constantes polêmicas relacionadas ao seu trabalho. “Editar revistas não é arte. É um trabalho comercial. Franca tinha ido longe demais”, relembra, no filme. “A moda é muito maior do que um vestido”, disse ela em uma entrevista. “Por que uma revista de moda não pode falar sobre o que está acontecendo no mundo? Não quero só que gostem da revista. Quando não gostarem, também teremos feito nosso trabalho”, acrescentou. 

Ao lado de Anna Wintour, editora-chefe da Vogue EUA, de quem era amiga há três décadas, Franca formou a dupla mais poderosa e criativa do mundo da moda, descobridoras de grandes talentos e criadoras de tendências. “Ela não estava apenas à frente do nosso tempo. Ela estava à frente da nossa coragem, de muitas maneiras.”, declarou Anna em um discurso em homenagem à editora italiana. 

Franca morreu em 2016, aos 66 anos, de um tipo raro de câncer do pulmão contra o qual lutava há um ano. Ela faleceu ao lado do filho. “É preciso ser leve na vida. Leveza para mim é quando a profundidade leva você a voar alto.”, disse certa vez. No mundo da moda talvez ninguém tenha voado tanto e tão alto quanto ela. 

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À LA GARÇONNE APRESENTA COLEÇÃO INSPIRADA EM CLÁSSICOS DO CINEMA NOS ANOS 80 E 90

Personagens de filmes como E.T. – O Extraterrestre, Tubarão, Brinquedo Assassino, Jurassic Park e De Volta para o Futuro, clássicos dos anos 1980 e 1990, marcaram o desfile da coleção 1 de 2018 da À La Garçonne, marca de Fábio Souza e Alexandre Herchcovitch. Fora da SPFW desde 2017, quando resolveram seguir um cronograma à parte do calendário coletivo, os dois estilistas realizaram o evento na Biblioteca Mário de Andrade, no centro de São Paulo, para imprensa e alguns convidados.

“Há muito tempo eu venho fazendo desfiles em lugares públicos porque percebo que poucas pessoas conhecem essas locações. Fiz um desfile no Theatro Municipal com a minha marca e depois outro no mesmo lugar com a À La Garçonne, fiz na Praça das Artes, no saguão de entrada da Prefeitura de São Paulo e agora na Biblioteca Mario de Andrade, um lugar que sempre quis usar”, contou Alexandre, em entrevista ao site Glamurama.

Por realizar o evento durante o horário normal de funcionamento da biblioteca, a marca optou por um desfile em silêncio – no entanto, a trilha sonora, assinada por Max Blum, está disponível na Apple Music a quem estiver interessado com o nomeÀ La Garçonne Coleção 01-2018. A quinta coleção da brand contou com 63 looks entre peças festivas com jaquetas oversized acolchoadas e alfaiataria Príncipe de Gales com renda. As criações são resultado de parcerias com marcas como Vans, Hope, The North Face, New Era, Hering, Dickies, entre outras, além de licenciamento com filmes da Universal – que estamparam camisetas, jaquetas, moletons e bolsas em formato de lancheira dos anos 80.

“Não é uma coleção temática. São roupas que a gente tem vontade de usar, de ver por aí, é um mix. Na À La Garçonne, a coleção vira a cada ano. Quero que o meu cliente sinta que ele não comprou um produto perecível, é mais slow”, explicou Fábio Souza, em entrevista ao jornal Diário do Nordeste. Como já é característica da marca, o casting do desfile foi formado por modelos e “não modelos” e foi aberto com performance da atriz e escritora Fernanda Young, que interpretou uma bibliotecária que pedia silêncio ao público.

Herchcovitch assumiu o comando da À La Garçonne em 2016, quando se desligou da marca que leva seu nome e que ele fundou há 25 anos. Aos 45 anos, o estilista se reinventou na marca do marido, que antes vendia móveis e objetos antigos restaurados. Juntos, Alexandre e Fábio criam peças que seguem o conceito de streetwear couture, que valoriza o vestuário do dia a dia (moletom, jeans e camiseta de algodão) mesclado com tecidos fluidos e modelagens elaboradas.

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SLOW FASHION > FAST FASHION

Slowfashion: a moda na era da sustentabilidade e do consumo consciente

“Compre menos, escolha melhor, faça durar” – Vivienne Westwood

Você já ouviu falar sobre slow fashion? Trata-se de um conceito ligado à sustentabilidade e ao consumo consciente que ganhou espaço e visibilidade na indústria da moda nos últimos anos e temcomo adeptos estilistas renomados, como a inglesa Vivienne Westwood, o belga Bruno Pieters e o brasileiro Ronaldo Fraga.

Indo de encontro ao conceitofastfashion, caracterizado pela produção em massa e de baixa qualidade das roupas e acessórios, oslowfashion defende a produção em baixa escala de peças duráveis, com utilização de tecidos naturais (como algodão, linho e seda) e cores suaves, feitas à mão e com respeito às condições de trabalho dos profissionais envolvidos.

O conceito é aplicado, sobretudo, por marcas pequenas, que têm como característica a proximidade com o consumidor final que, interessado cada vez mais em entender a cadeia produtiva de tudo o que consome, as acompanha de perto, especialmentepor redes sociais como o Instagram.

Embora possuam conexões, slowfashion e moda sustentável não são a mesma coisa. Oprimeiro tem relação com o consumo consciente de produtos locais, feitos à mão e em menor número, enquanto que o segundo é focado em reduzir o impacto negativo da indústria da moda ao meio ambiente.

Sustentabilidade é o foco da À La Garçonne, brechó e antiquário de conceito upcycling (que incentiva a transformação de produtos descartáveis em novos materiais) criado em 2009 pelo empresário Fábio Souza. Lançada em 2016, a linha de roupas da marca,assinada pelo estilista Alexandre Herchcovitch (marido de Fábio Souza), é composta por peças criadas a partir da mescla de tecidos novos e materiais reciclados e usados, como panos abandonados em tecelagens desde a década de 1960 ou plástico verde, extraído do bagaço da cana de açúcar. A marca também busca dar novos significados a peças já usadas (por meio de aplicações, por exemplo) ou cria novos modelitos a partir do tecido de peças usadas.