A sociedade contemporânea ocidental conta com inúmeras vantagens em relação às gerações anteriores. A tecnologia nunca foi tão avançada, a inovação e a criatividade nunca foram tão valorizadas. Mas junto dessas benesses, as nossas relações com as coisas e pessoas também mudaram. O tempo se acelerou, nos isolamos no mundo digital e doenças relacionadas aos novos hábitos, como a ansiedade e a depressão, se intensificaram e se “espalharam”. Por conta disso, é importante entendermos o que está acontecendo conosco.
O FOMO
Em um mundo repleto de novos comportamentos e mudanças, fica difícil radiografar a realidade e direcionar a bússola que nos dá a rota para saber, por exemplo, como empreender, como falar com o consumidor, quais estratégias usar em seu negócio, o que é preciso para que uma marca seja relevante. Vivemos o tempo todo uma espécie de FOMO (sigla em inglês que quer dizer Fear of Missing Out), a crescente síndrome da contemporaneidade na qual estamos o tempo todo com a sensação de que não sabemos o que escolher porque parece que sempre estamos perdendo uma enormidade de oportunidades.
Estudando, observando e captando tendências e comportamentos aprendemos a olhar não apenas para os movimentos passageiros mas também para aqueles que tem uma maior duração. Como caçadores de tendências, acompanhamos muitas vezes os chamados “Trend Reports” (relatórios de tendências) e percebemos que na realidade o que é apresentado como um novo movimento, é apenas a evolução de um comportamento manifestado de outra forma. Por isso, ao invés de falar apenas de tendências, olhamos para os chamados Paradigmas do Futuro.
As tendências podem causar o tal do FOMO. São tantos os novos comportamentos que uma empresa, uma marca, pode ficar perdida e não saber o que escolher para aplicar em seu negócio. Já os paradigmas são a certeza de que um movimento pode durar 20 anos. É aí que sentimos o JOMO (Joy of Missing Out), que prega justamente a alegria de não escolher todas as opções.
OS PARADIGMAS
Os Paradigmas são novas forças que direcionarão o mercado e a sociedade: são novos parâmetros culturais, comerciais, “empreendedoriais” que estão trazendo uma mudança radical na construção do futuro. Eles representam as novas direções. São linhas guia para o desenvolvimento de todas as estratégias e projetos de empresas, instituições e consumidores. Um paradigma é uma mudança no imaginário coletivo mundial, uma nova consciência global da qual marcas, instituições, organizações ou indivíduos não podem escapar. Diferente de uma macro tendência, os paradigmas tem um núcleo de estabilidade maior, portanto tem uma duração no tempo também maior. Os paradigmas perduram por até 20 anos ao passo que as macro tendências tem uma vigência de 6 ou 7 anos.
Os paradigmas apresentados abaixo são fruto de mais de 20 anos de observação e monitoramento de comportamentos em diferentes setores (são baseados na experiência com o renomado instituto de pesquisa de tendências e consultoria estratégica Future Concept Lab, com sede em Milão). Eles representam as chaves de leitura para compreender as tendências e suas evoluções no tempo. É como uma moldura, um frame que enquadra múltiplos comportamentos que conversam com o mesmo impulso. O conhecimento dos paradigmas nos dá a possibilidade de entendimento de inúmeros comportamentos. Sendo assim, para um único paradigma, podem existir inúmeras tendências coexistindo.
Como afirma Francesco Morace no livro O que é o Futuro, os paradigmas não são apenas dimensões descritivas e analíticas , mas sim dimensões conceituais e geradoras por meio das quais é possível imaginar projetos e produtos voltados para o futuro. Então vamos comigo conhecer essas 4 forças que trazem clareza e foco: Crucial & Sustainable, Trust & Sharing, Quick & Deep, , Unique & Universal.
CRUCIAL & SUSTAINABLE
Esse paradigma diz respeito ao tema da sustentabilidade que está moldando o futuro do nosso planeta e de todos os consumidores do mundo.
O Crucial & Sustainable é “Voltar às origens, protegendo ao longo do tempo tudo aquilo que nos circunda: nosso patrimônio econômico, ambiental e, ao mesmo tempo, também social e cultural. Redescobrir a importância dos recursos essenciais, que demonstram ter um papel decisivo em nossas vidas”, diz Francesco Morace no livro O que é o futuro?
Dica: Se uma empresa quer se manter relevante nos próximos 20 anos ela precisa refletir em como sua marca pode pensar no coletivo maior. Essa era de transição é definida pela busca dos sentidos e do propósito. As marcas podem ser disruptivas mas também com um impacto social. Se uma marca pensa e age na era industrial, ela está em um tempo diferente do que vive o seu consumidor”.
Um exemplo é a Tesla que faz carros elétricos com custo baixo e está mudando a mobilidade urbana e impactando o planeta positivamente. O erro está em ver o negócio como uma fábrica gigante de produzir produtos ao invés de cuidar de sistemas humanos reais.
QUICK & DEEP
Esse paradigma diz respeito à qualidade do futuro que estará cada vez mais em sintonia com a ideia de respeito pelas pessoas normais, pelos consumidores em busca de experiências felizes, sem perseguir a quimera do luxo. A capacidade de ser rápido, oportuno e acessível deverá ser conciliada com a ideia de felicidade e profundidade de experiência.
Dica: Acessibilidade com qualidade. O futuro pede pelo cruzamento destas duas dimensões. Um bom exemplo é a o serviço Rent The Runway que recentemente anunciou uma parceria com o varejista de itens para casa West Welm. A partir da ideia de que a casa costumava ser um lugar privado, mas agora é um lugar público, ou seja os interiores são hoje flexíveis e instagramáveis, é possível combinar qualidade e rapidez. A parceria responde às mudanças de comportamento dos Millennials que usam produtos de interiores para ter controle criativo sobre espaços alugados. Já que os Millennials e a Gen Z estão constantemente postando fotos de si mesmos em suas casas no Instagram, há uma necessidade de mudança dos interiores sem um custo alto. O serviço atende essa necessidade Quick & Deep.
TRUST & SHARING
O futuro é caracterizado por uma relação muito mais próxima e de confiança, não só com a marca, mas também com toda a empresa em seu complexo orgânico. As grandes empresas terão um novo papel de liderança e responsabilidade social e cultural muito além de seu produto. O compartilhamento irá encontrar a sua importância entre o real e o virtual e a explosão de novas tecnologias e a acelerada afirmação das redes sociais tem papel relevante na transparência da mensagem.
O paradigma Trust & Sharing, segundo Francesco Morace no libro O que é o Futuro?, “redefine uma cadeia de valor que toma forma atravessando todos os setores da sociedade e do mercado: a reciprocidade das relações repropõe uma economia das “não equivalências”, regenerando uma relação baseada na lealdade e no compartilhamento entre as pessoas, instituições, empresas e consumidores”.
Dica: Com a possibilidade de compartilharmos cada vez mais, torna-se essencial o item confiança e transparência. A Yellow é um ótimo exemplo de Trust & Sharing — os patinetes compartilhados que tomaram conta das ciclovias, calçadas e ruas em uma grande parte das capitais brasileiras. O serviço vai crescer ainda mais: a Uber, por exemplo, pretende chegar ao mercado brasileiro com bicicletas e patinetes ainda neste ano. O modelo é apostar na confiança. Os patinetes ficam soltos nas ruas e o usuário desbloqueia seu uso pelo app. A localização é compartilhada no aplicativo para saber onde está o veículo. Depois que você usa, outra pessoa pode utilizar o patinete. Um modelo cada vez mais crescente de pensar os negócios desafiando o antigo sistema do fazer individual e da propriedade privada.
UNIQUE & UNIVERSAL
Esse paradigma diz respeito a capacidade de produzir e comunicar uma identidade única e distinta, inclusiva e não exclusiva, fundada na dimensão cultural de sua história, de sua identidade. Em um mundo global, torna-se essencial negócios ou pessoas que assumem seu caráter único, sua personalidade, sua maneira única de ser e se expressar no mundo seja como marcar ou como ser humano. A diversidade constitui a condição do sucesso dos negócios no futuro.
Dica: O caráter único é o que diferencia. A diversidade não é momentânea, não é tema de nicho, ela permite a inclusão de quem ficou a parte durante muito tempo. É o ponto de partida para ficarmos mais perto das pessoas e do consumidor. Um exemplo é o reposicionamento da Mattel, fabricante da famosa boneca Barbie que nos anos 80 refletia um modelo de consumo aspiracional, com uma única boneca magra, alta, loira. Trazendo o novo paradigma, a Mattel trabalha hoje com uma gama de bonecas com diferentes biotipos para se comunicar com essa nova geração.
No curso de Cool Hunting da Escola São Paulo, eu explico as minhas metodologias para fazer análises ricas da realidade e no curso Os Novos Paradigmas do Futuro e as Tendências Emergentes, também da Escola São Paulo, conto todos os detalhes desses novos movimentos, seus desdobramentos e muitas outras informações a respeito do que veremos emergir nos próximos anos.
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