Por André Camargo, time da Humans Can Fly e colunista da Escola São Paulo
Em 2015, a Microsoft completava 40 anos de existência. Para celebrar a data, Bill Gates enviou um e-mail a todos os funcionários da empresa. Na mensagem, relembrava o ‘delírio’ que inspirou sua criação, em um tempo em que computadores eram gigantescos e caríssimos:
Logo no início, Paul Allen e eu definimos a meta de um computador em cada mesa e em cada lar. Era uma ideia ousada, e muita gente pensou que estávamos loucos por imaginar que isso era possível.
No trabalho com meus clientes de Coaching de Propósito de Vida, uma das etapas fundamentais é investigar a Visão Externa.
Em poucas palavras, sua visão externa corresponde a uma imagem do mundo que você gostaria de criar, com seus talentos e com sua energia, para deixar como legado quando você partir.
Como, por exemplo, “um computador em casa mesa e em cada lar”.
Em contrapartida, a Visão Interna, outra das etapas fundamentais da investigação do Propósito de Vida, é uma imagem da pessoa que você deseja se tornar, como consequência de seus esforços para mudar o mundo.
A busca da visão, seja interna ou externa, corresponde à criação de um holograma que torna presente seu futuro desejado. É a realização imaginativa do seu sonho hoje mesmo, aqui e agora. Essa é a base da prática de visualização, consagrada em diferentes tradições espirituais e cada vez mais utilizada no campo da alta performance por atletas, cientistas, políticos, artistas, visionários e empreendedores.
Quanto mais nítido for o holograma que você criar e sustentar, quanto mais sentido fizer para a pessoa que você é, mais irá te nutrir ao longo da jornada. Poucas coisas fazem tanta diferença para o sucesso de um projeto quanto estar apoiado sobre uma forte visão compartilhada. A visão de futuro se torna um núcleo de vitalidade, até que por fim a realidade corresponda ao holograma.
Uma dificuldade que encontro no trabalho com meus clientes é a tendência de buscar a visão por uma via intelectual. Mas a uma visão que seja apenas intelectual, por mais lógica, coerente ou genial que pareça, faltará tônus. Será uma visão flácida.
Para que seja, de fato, transformadora, potente, a visão precisa emergir do corpo e das emoções, precisa tocar a alma e o coração. Precisa co-mover.
A busca da Visão pode ser empreendida por meio de viagens, intercâmbios, encontros, retiros na Natureza e práticas espirituais. Uma das estratégias possíveis, que uso nos processos de coaching, é convidar a alma a falar por meio de Perguntas de Poder. Como a do título deste artigo.
- Que impacto você gostaria que sua existência tivesse no mundo?
- Se não existisse nenhum tipo de limitação, que mudanças você sente mais vontade de produzir no jeito que as coisas são?
- Que causas, lugares e pessoas te tocam mais fundo?
- Que tipo de mundo você gostaria de deixar para as próximas gerações?
No nível pessoal, uma clara visão pode funcionar como um Norte para a sua vida. E, provavelmente, também para as vidas das pessoas que se conectarem com você e com o seu Propósito.
Ser capaz de gerar e sustentar uma clara visão de futuro, portanto, é algo imprescindível na vida de um(a) líder.
Escrevo este texto motivado por um livro que comecei a ler: a biografia do Elon Musk, fundador da Tesla e da SpaceX.
Já leu?
Lá encontrei um exemplo poderoso de visão externa.
“Qualquer análise sobre Elon Musk”, diz o autor, “deve começar pela sede da SpaceX, em Hawthorne — um subúrbio de Los Angeles, Califórnia.”
Ali os visitantes encontrarão dois pôsteres gigantes de Marte pendurados lado a lado na parede que antecede a baia em que Musk trabalha. O pôster à esquerda retrata o planeta como é hoje — um orbe vermelho frio e árido. Já a imagem à direita mostra a superfície de Marte como uma imensa massa de terra verde cercada de oceanos. O planeta foi aquecido e transformado para abrigar humanos. Musk está determinado a tentar tornar isso realidade. Transformar humanos em colonizadores do espaço é sua missão declarada de vida.
Por um lado, achei essa imagem extraordinária. Todo dia o cara vai trabalhar e lá está sua visão materializada. Imagino o efeito que isso tem.
Por outro lado, acho a visão inquietante. Mesmo que tenha um bocado de gente que eu gostaria de mandar para o espaço, na minha opinião, já causamos estrago suficiente em um único planeta.
Mas, no fundo, não importa.
O que isso significa é somente que não faria sentido, para mim, trabalhar na SpaceX. Porque não compartilho da mesma Visão nem do mesmo Propósito.
E o que não significa é que eu não possa me encantar, me inspirar e me nutrir, seja na vida pessoal, seja no meu trabalho, pela força dos exemplos de Bill Gates e Elon Musk.
Pessoas que levam tão a sério seus sonhos mais delirantes que chegam a se acreditar capazes de mudar o mundo.