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ECONOMIA CRIATIVA NOS ESPAÇOS PÚBLICOS

A potência da economia criativa

No dia 16 de junho de 2018, Beyoncé e Jay-Z lançaram de surpresa o videoclipe de Apeshit, música que compõe Everything is Love, primeiro álbum gravado a quatro mãos pelo casal. Em 48 horas, o vídeo se tornou notícia em todo o mundo e superou 13 milhões de reproduções no YouTube, isso em meio à Copa do Mundo. À parte o inegável poder de atração do chamado casal real da música pop, chamou a atenção do público e da imprensa mundial o local escolhido para a gravação do videoclipe: o Museu do Louvre. “Eles visitaram o Louvre quatro vezes nos últimos dez anos. Na última vez, em maio de 2018, nos propuseram esta ideia. Os prazos eram muito curtos, mas o projeto convenceu rapidamente o Louvre, porque sua proposta demonstrava um verdadeiro vínculo com o museu e com as obras que os tinham marcado”, explicou um porta-voz do museu, o maior da Europa, ao jornal EL PAÍS.

O vídeo de Apeshit apresenta 17 obras de arte renomadas (pinturas e esculturas) como O casamento em Caná, de Veronese, a A balsa da Medusa, de Géricault, A Coroação de Napoleão, de Jacques-Louis David, Vênus de Milo (100 a.C.), A Grande Esfinge de Tânis (2686-2160 a.C) A Balsa da Medusa, de Théodore Géricault, e Mona Lisa, de Leonardo da Vinci. O enorme sucesso da produção fez com que o Louvre abrisse ao público (quase um mês depois) um tour guiado com a sequência de obras que aparecem no videoclipe. O percurso tem duração de 1h30.

Esta é a segunda vez que o Louvre organiza uma mostra inspirada em um artista pop. A primeira foi motivada pela música Smile Mona Lisa, do rapper will.i.am. A iniciativa tem como foco principal atrair, ampliar e formar público (desde os atentados de 2015, o museu viu diminuir em 13% o número de visitantes – 70% dos frequentadores do museu são turistas. Mas, além disso, representa também uma tendência entre museus e outras instituições de arte no mundo: se abrir a novas estratégicas para se manter atualizado e, principalmente, vivo.

A abertura de museus para desfiles de moda e gravação de filmes e videoclipes é uma delas. “Falta dinheiro, e os edifícios públicos servem para arrecadá-lo“, explica, Sophie Rastoin Sandoz, chefe pela agência parisiense L’Invitation, em entrevista ao EL PAÍS. A instituição é responsável por encontrar locações em toda a Europa para filmagens e evento de marcas de luxo, bancos, seguradoras e agências de comunicação. Em 2014, o Louvre recebia pouco mais de cem rodagens. Em 2017, foram 500, quase metade das realizadas na capital francesa. “O clipe no Louvre, um baluarte da cultura ocidental, representa uma abertura da cultura europeia e da cultura parisiense – da tradição – ao campo pop”, analisa o curador geral do Museu Brasileiro da Escultura (MuBE) e professor da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP) Cauê Alvez em entrevista ao G1.

E a economia criativa no Brasil…

Para além das questões econômicas, a iniciativa do Louvre mostra também o quanto é possível ser inventivo no universo da economia criativa e como os setores que a compõem podem trabalhar em conjunto por um mesmo objetivo (e não de maneira isolada e em nichos específicos). Um movimento que está em curso também no Brasil. O antigo Ministério da Cultura (MinC) e a Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos (Apex-Brasil), por exemplo, realizaram em novembro de 2018, o Mercado das Indústrias Criativas do Brasil (MicBR), evento que teve justamente o objetivo de estimular a integração de todos os setores culturais e criativos brasileiros.

Entre os países emergentes, o Brasil é considerado um dos maiores mercados para a economia criativa (somos o maior mercado de vídeo on demand, tv paga, música e games da América Latina, segundo dados da consultoria PwC, por exemplo). “As atividades culturais e criativas já representam 2,6% do PIB brasileiro, geram 1 milhão de empregos diretos e englobam mais de 200 mil empresas e instituições. Há um vasto potencial de crescimento e isso passa também pela internacionalização dos nossos talentos e da nossa valiosa produção cultural”, afirmou durante o evento o ex-ministro da Cultura, Sérgio Sá Leitão, hoje Secretário Estadual de Cultura e Economia Criativa do Estado de São Paulo. Quanto mais fortalecido e diverso for o setor, mais impactante (e interessante) serão as iniciativas. Viva a criatividade!

Criatividade para usar espaços

Esse movimento internacional de tornar os espaços cada vez mais democráticos e aproximar o público de museus e instituições culturais, também já acontece no Brasil.

Os arquitetos Mila Strauss e Marcos Paulo Caldeira, nossos professores no curso online de Arquitetura e Urbanismo, defendem a ideia de espaços multifuncionais, ou seja, uma área só atendendo vários usos. Acreditam que usar o mesmo imóvel para diversas funções, principalmente imóveis públicos, faz parte de um processo de urbanização que as grandes metrópoles precisam passar.

“Quanto maior o número de funções ou de utilizações você inventar para aquela metragem quadrada dentro de uma metrópole, mais você otimizará sua receita”, conta Marcos Paulo Caldeira, no curso online.

Os dois arquitetos foram convidados, alguns anos atrás, para participar da revitalização de um espaço em cima do túnel da Avenida 9 de Julho, que era um espaço quase que invisível – o Mirante 9 de Julho, que na época era um espaço quase que residual. Hoje, depois de revitalizado, é um espaço aberto ao público, com atividades culturais e um café, e voltou a ser um ponto turístico da cidade. Durante o processo, Mila e Marcos tinham uma questão em mente: como devolver esse espaço para a cidade, tornando-o um espaço seguro, onde as pessoas frequentassem? Estudaram muito a história dele, um mirante que, desde o início, já tinha a característica de ser utilizado para contemplar o centro da cidade. Tentaram potencializar essa atividade. Foram muitos estudos e pesquisas para entender a população local, como a cidade poderia ativar esse espaço e usá-lo de forma a integrar todos os usos que estavam nesse lugar – pessoas que passavam pela 9 de Julho, moradores locais, pessoas que usavam a Avenida Paulista, e as que usavam o MASP.

O ícone abandonado foi retomado e agora constrói uma nova história, já cheia de expectativas. As mudanças no Mirante incluem visual moderno, balcões de madeira construídos em cada lado, infraestrutura usada como restaurante e café. Durante o dia, o Mirante 9 de Julho é aberto como ponto de encontro para trabalho, reuniões e palestras. Existe um coworking de uso livre, sem taxas, que disponibiliza internet, mesa, espaço, comida boa e café para quem precisa.

Descendo uma escadaria de 1932 em espiral, bem estreita, encontrada durante as obras da reforma, você encontra a chamada Galeria Vertigem, outro pequeno espaço expositivo. Um espaço onde diferentes iniciativas podem dialogar: arte urbana, projetos musicais, exibições de filmes ao ar livre e feiras independentes, com curadoria do produtor cultural Akin Bicudo. Um lugar que celebra um novo momento de resgate da cidade e ocupação dos espaços públicos.

A ideia dos envolvidos no projeto é fazer com que o Mirante seja um suporte artístico, especialmente dedicado a performance. Ainda recebe feiras independentes, mostras de arte urbana, intervenções culturais de grupos de dança e música e sessões de cinema ao ar livre. Abriga o projeto “Mercado Efêmero”; que dá oportunidade a chefs que ainda não possuem seus próprios estabelecimentos poderem usufruir da estrutura. Os pratos do restaurante custam no máximo R$ 25 e toda a programação cultural é gratuita.

• As imagens contidas nesse post são de divulgação do videoclipe Apeshit!

#escolasaopaulo #descubra #reinvente #viva

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MODA E MÚSICA TEM A VER?

Rodrigo Polack responde! 

Hoje, logo pela manhã, ao pesquisar alguns vídeos no Youtube, me deparei com um especialíssimo — e me emocionei de imediato. Tinha a mais que absurda cantora islandesa Bjork, se apresentando no desfile de Alexander McQueen. 

Vou (tentar!) descrever a cena: o vestido era um haute couture longo, com bordados e plumas, e uma ventania de dar inveja à Beyoncé, que fazia a islandesa flutuar na passarela. As modelos, passavam por Bjork, compondo um lindo ballet de preciosismo fashion. O evento era o Fashion Rocks, o ano 1997 e a música era Bachelorette. 

Esse vídeo curto, de três minutos e meio, desencadeou uma pesquisa por outros, também icônicos para a moda, que tivessem uma relação direta com a música. Ali estava o tema da minha coluna desta semana. 

Em seguida, digitei na busca “Viktor & Rolf + Tori Amos”. Recordei do memorável, delicado e estranhamente lindo desfile de fall/winter 2005 da dupla, em Paris. A cantora Tori Amos, de cabelos vermelhos frisados e robe de seda pink, tocada um piano de calda, numa passarela escura e dramática. Quem abriu o desfile foi Lily Cole, num vestido-casaco-edredom com direito a travesseiro e muito cabelo armado. A terceira foi Carol Trentini. Raquel Zimmermann e Cintia Dicker vieram pouco depois, para completar o time das brasileiras.  Eu, que estava há apenas 2 anos na carreira de stylist, fiquei impressionado com tamanha sensibilidade. A união de imagens lindas arquitetadas com perfeição, ao som de uma trilha tão única, criaram uma espécie de atmosfera noir, digna de um sonho do Batman. Quem já assistiu a um desfile, sabe o que é a sensação gostosa de bater o pezinho ao som da batida perfeita. 

Para mim, a moda foi, é, e sempre será emocionante. Abra os olhos e deixe os ouvidos atentos, pois quando menos esperar, cores, texturas, brilhos e formas vão  formando imagens como num passe de mágica. E nem precisa ser tão entendedor do assunto. Basta ser livre para voar. 

Jean Paul Gaultier criou o corset de Madonna para a Blonde Ambition Tour, de 1990. Dentre tantas, com certeza absoluta, é a peça mais lembrada de todo o acervo da Rainha do Pop. Basta olhar para uma foto, que toda a performance vem à mente. Com coreografia, rabo de cavalo, bailarinas e afins. Claro, para quem é da época, assistiu ou leu alguma matéria sobre o assunto.  

Madonna uma vez disse, “Não sigo as tendências, as faço!”. Mas não faz sozinha. É rodeada dos melhores designers de moda (stylists e profissionais da beleza também, of course!) que dão tudo para serem os escolhidos. Com a mesma máxima da loira ambiciosa, Maria Antonieta, esposa do Rei Luis XV, em pleno século XVIII, foi a primeira rainha a entender e usar a moda como instrumento de poder.   

No MTV Awards, também de 1990, Madonna com muitas joias, penteado monumental e um vestido riquíssimo  (que deixava seu peito quase todo à mostra, em um decote pra lá de profundo), deixou o mundo extasiado com sua performance ao vivo, em homenagem à abusada Maria Antonietta. Mais uma vez, a música se rende aos encantos da moda e também da história. Lady Gaga e Beyoncé em Paparazzi, David Bowie em Life On Mars, George Michael em Freedom (ao lado de uber models como Naomi Campbell, Linda Evangelista, Cindy Crawford e Christy Turlington), nos trouxeram momentos mais que memoráveis e cheios de referências fashionistas. Vou contar um segredinho… para fazer uma edição de looks no meu trabalho, coloco músicas que tenham a ver com o mood. Se o estilo é mais romântico, já boto uma música clássica bem intense ou até uma bossa nova. Se é rocker, caio de cabeça nos Rolling Stones (minha banda favorita da vida!). Se é street, vou de hip hop e por aí vai. A música me move em tudo o que faço, inclusive nesse exato momento que estou escrevendo. E sabe qual a playlist que estou ouvindo? Uma que só tem trilhas de filmes de moda. 

Agora abra uma nova janela na sua tela e assista a cada um desses momentinhos mágicos que citei acima. Tenho certeza que você vai ficar com vontade de sair por aí desfilando um lookão, ou quem sabe, até se emocionar como eu. Ou as duas coisas. 

Rodrigo Polack é stylist há 15 anos, professor da Escola São Paulo no curso Styling, apresentador do programa 5 Looks, no Discovery Home & Health, ao lado de Chris Flores e colunista semanal da Revista QUEM Inspira. Clique aqui para ler a matéria original