Por Sabina Deweik Em minhas palestras e cursos, eu exponho as minhas concepções sobre o futuro a partir das análises de comportamento e de consumo que realizo cotidianamente. O que faço me dá abertura para estudar inúmeros assuntos que estão sob o enorme “guarda-chuva” chamado de futuro, mas aqui vou discutir um pouco a respeito de como eu construí o meu presente quando ainda ele ainda era um futuro e sobre uma reflexão que tangenciou a discussão sobre o futuro do trabalho. CHAMADO DE ALMA Há anos atrás me joguei em um aprendizado transformacional chamado coaching ontológico. Na época não tinha a menor ideia onde aquela estrada me levaria e nem tão claro o porque de tê-la escolhido. Só fui. Fiquei me perguntando se não seria melhor ter feito todo aquele investimento em um mega blaster curso de inovação já que durante mais de 15 anos havia me dedicado inteiramente ao meu trabalho como caçadora de tendências e pesquisadora de comportamento. Apesar da minha decisão, não deixei de ser uma caçadora de tendências full time, pois meu pensamento e meu olhar são de uma caçadora de tendências e essas são ferramentas que não são simplesmente desligáveis, elas sempre estão ali, trabalhando e criando insights de inovação. Pensando nisso que decidi gravar um curso online de Cool Hunting com a Escola São Paulo no qual divido com os alunos quais ferramentas são essas e como eu as opero para ser um profissional em constante atualização. Foi apenas quando terminei todo o processo, diga-se de passagem me “viraram do avesso”, é que entendi o que havia me mobilizado nessa direção. Entendi que houve um chamado de alma por criar e dar um sentido maior a minha existência. Diz-se na antroposofia que é na virada deste setênio (contagem de 7 em sete anos), aos 42 anos, que vamos em busca de aprendermos com as nossas escolhas e estamos prontos para encarar a vida com mais sabedoria e espiritualidade. Foi exatamente aos 42 anos que me joguei nessa formação. Depois, entendi profundamente que aquilo que me move na vida é compreender o comportamento humano. Como caçadora de tendências, do ponto de vista social, detectar como os comportamentos humanos se manifestam em tendências. Como coach ontológico, olhando para os comportamentos humanos individuais e como eles se expressam nas histórias de vida. OS SLASH/BARRA, BARRA, BARRA A angustia de não saber me definir: jornalista de formação, palestrante, educadora, caçadora de tendências, pesquisadora e também coach ontológico, deu lugar a um entendimento voltado ao futuro das profissões. Foi aí que percebi que a inquietação de não saber me colocar em uma única caixa não era meramente uma angústia pessoal. Era um fenômeno social chamado Slash Career ou Carreiras Slash. Os profissionais chamados Slash (termo popularizado pela escritora nova iorquina Marci Alboher em seu livro “Uma Pessoa/ Múltiplas Carreiras: O Guia das Carreiras Slash”), são aqueles que precisam da barra para poder responder à pergunta: Qual sua profissão? Aqui no Brasil conhecido como o “profissional barra, barra, barra”. É um modelo híbrido que reflete, em certa medida, a necessidade das pessoas de realizar todo o seu potencial, com diferentes formas de atuação. Em meu caso, refletiu-se em meu potencial ser expresso com várias atuações: em inovação mas também em acompanhar seres humanos a abrir novas perspectivas para viver com mais bem estar e coerência. O fenômeno de ter várias carreiras simultaneamente está ganhando cada vez mais adeptos por conta da flexibilização do mercado e da busca por propósito no mundo profissional. Segundo a autora Marci Alboher, pessoas com carreiras Slash são aquelas que tem múltiplos fluxos de renda simultaneamente de diferentes carreiras. Muitas pessoas tendem a confundir um estilo de vida Slash com o trabalho em tempo parcial. Uma diferença fundamental é que, em uma carreira Slash, todo trabalho é conectado de um jeito ou de outro com os outros. Há um efeito de cruzamento e todos eles desempenham um papel no planejamento geral de carreira. A maioria das pessoas opta por uma carreira de Slash porque não consegue encontrar um único emprego satisfatório. O Slash permite experimentar, encontrar uma direção e aprimorar habilidades diferentes. A própria autora Marci expandiu sua carreira original como advogada ao negociar um acordo de trabalho flexível, que lhe permitia viajar e buscar outras carreiras como jornalista / autor, palestrante e coach de escritores aspirantes. Hoje, ela se identifica como líder de autora / palestrante / líder sem fins lucrativos, embora muitas vezes conte com sua experiência em direito e jornalismo. Um dado curioso é que ter múltiplas carreiras ao mesmo estava associada a profissões mais criativas como fotógrafo/escritor porém, atualmente, principalmente com a geração dos millennials, o fenômeno tem se tornado mainstream também com carreiras mais tradicionais. É que para essa geração, o trabalho não é apenas uma fonte de renda mas também uma esfera de realização pessoal. A sharing economy e o crescimento da tecnologia também proporcionaram um aumento desse tipo de atuação como por exemplo motorista de uber/ host do airbnb/blogger/youtuber. PORQUE SE TORNAR UM PROFISSIONAL SLASH? Ter uma carreira não linear não fazia parte do pensamento de emprego há vinte anos atrás. Os empregadores até penalizavam carreiras não lineares em seus processos de recrutamento. Hoje, as organizações buscam maior agilidade e flexibilidade em termos de modelos de emprego. No futuro próximo, as organizações tenderão a contratar funcionários em tempo parcial, remotos e flexíveis. Do ponto de vista pessoal, poder abraçar diferentes paixões e talentos, dá a possibilidade de assumir múltiplas identidades. Não é preciso abrir mão do que você ama em nome do trabalho. Sem falar nas múltiplas fontes de renda e na possibilidade de equilibrar vida pessoal e profissional, unindo hobbies com a profissão como por exemplo um jornalista, que é coach mas também é músico como freelancer. Se você também já é ou se sente híbrido provavelmente você já está vivendo no futuro. E se formos mais a fundo, o gênio da renascença Leonardo da Vinci, já vivia desta forma. Ele era artista/ inventor/ pintor/ escultor/ desenhista/ cientista/ engenheiro/ anatomista/ matemático/ arquiteto/ botânico/ poeta/ músico. Imaginem desconsiderar uma das barras? Da Vinci provavelmente não expressaria todo o seu potencial e seu talento e não seria essa referência na história da humanidade. E você? Quais talentos você ainda não expressou? O que te impede de se tornar um profissional slash? #escolasaopaulo #descubra #reinvente #viva |
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O FUTURO É FEMININO
O nome deste post faz referência a uma campanha de conscientização a respeito dos direitos das mulheres que vem tomando força no mundo todo. Elas reivindicam a correção de atrasos sociais, institucionais e constitucionais, a fim de finalmente alcançar uma sociedade equitária em oportunidades para homens e mulheres. Mas a campanha também nos leva a refletir a respeito de quais valores queremos imprimir no mundo, afinal o ser feminino está vinculado à diversas questões cotidianas que, se valorizadas, caminharemos para uma nova sociedade com novas perspectivas.
O PASSADO É MASCULINO
Há muitos anos a humanidade está vivendo uma era de valores masculinos. Em todas as esferas de nossa vida aprendemos a competitividade, o individualismo, a ação, o foco em resultados, os resultados a qualquer custo, a racionalidade. Esta forma de viver e enxergar o mundo e as coisas está dando espaço à emocionalidade, à colaboração, à intuição, ao cuidado, à empatia — valores esses ligados ao feminino. E aqui não entra em questão o gênero masculino ou feminino, mas de uma forma de ser, viver, trabalhar e perceber o nosso entorno de maneira distinta.
Se pensarmos no mundo do trabalho, fica fácil entender o quanto nos movemos até agora segundo padrões do masculino. No mundo organizacional, por exemplo, as habilidades até então requisitadas em um colaborador eram sua capacidade analítica e seu poder de gerar números e resultados. Até mesmo a competição foi super- valorizada. A mentalidade era: tenho que ser melhor que meu colega porque posso não receber a tão desejada promoção. Ou ainda: Se ele/ela se der bem eu não vou me dar bem.
FALHAMOS. E AGORA?
Aprendemos inúmeros valores herdados da Revolução Industrial. Adam Smith, em 1776, escreveu em A Riqueza das Nações: “Individualismo é Bom para toda a sociedade” ou “O consumo é a única finalidade e o único propósito de toda produção”. Esse modelo foi incorporado por nós como a única lógica vigente. Um modelo social e econômico impondo sucesso como uma forma para atingir a felicidade ou ainda a ideia de que mais é melhor. Um modelo no qual o fazer sozinho, o não compartilhar fazem parte da lógica. Um modelo que nos distanciou das emoções, da consciência, do sentido maior. O resultado: uma população com altos índices de depressão, suicídio, burn out, estresse, ansiedade.
De acordo com uma pesquisa da Organização Mundial da Saúde (OMS), a depressão será até 2020, o maior motivo de afastamento do trabalho no mundo. No Brasil, cerca de 5,8% da população tem a doença, o que faz do país o campeão de casos na América Latina. Os índices demonstram que algo neste sistema está falhando. O aumento de bens de consumo e produtividade não é proporcional ao aumento de felicidade e bem-estar.
NOVOS VALORES EMERGENTES
Mas a boa notícia é que a antiga lógica está começando a ser revisitada, dando lugar a uma série de valores emergentes que apontam a bússola para outra direção. Se pensarmos nos modelos de negócios mais inovadores de hoje, desde Spotify, Netflix, Waze, Google, Airbnb, Uber e outros, há sempre a lógica do compartilhar, de gerar experiência para o usuário, de democratizar o uso e levar a um número cada vez maior de pessoas a se beneficiar do serviço/produto. Sem falar que nenhum deles trabalha com um bem físico, nem possui nada. Essa é uma mudança de mentalidade importante. Passar da posse ao acesso. Vamos desfazendo a necessidade de pagar pela propriedade de algo para ter a experiência com algo.
Segundo Jeremy Rifkin em seu livro A Era do Acesso, “A transformação do capitalismo industrial para cultural está desafiando muitas de nossas suposições básicas sobre o que constitui a sociedade humana. As antigas instituições fundadas nas relações com propriedade, nas trocas de mercado e no acúmulo de bens materiais estão sendo arrancadas lentamente para dar lugar a uma era em que a cultura se torna o recurso comercial mais importante, o tempo e a atenção se tornam a posse mais valiosa e a própria vida de cada indivíduo se torna o melhor mercado”.
UM NOVO SER HUMANO
Esse tipo de relação está dando lugar a um ser humano diferente, com um novo significado do ser, em detrimento do ter. Essa prerrogativa está sendo impulsionada pelas novas gerações, principalmente a geração Y, nascida entre fins dos anos 70 e início dos anos 90, e a geração Z, nascidos entre o fim de 1992 a 2010. Esses jovens começaram a trazer à tona o conceito de propósito no trabalho. Para eles, assim como para a geração Z, o “fazer” precisa fazer sentido.
Quando nos perguntamos pelo sentido das coisas, estamos acessando uma maior consciência. Depois de muito tempo de resultados, de racionalidade, de ação, passamos a dar espaço para nossas emoções, dentro e fora do mundo corporativo. Nos permitimos, por exemplo, falar de empatia no mundo do trabalho.
O MASCULINO RESSIGNIFICADO
O masculino também está sendo ressignificado e hoje sua única função não é prover, mas cuidar, exercer outros papéis. Esses papéis ainda não estão consolidados, mas aos poucos sendo discutidos em inúmeras instâncias. No universo do consumo, as marcas já estão incorporando esses novos conceitos. A Axe por exemplo, por mais de uma década, realizava campanhas nas quais as mulheres perdiam a cabeça e controlavam seus impulsos sexuais quando confrontadas com as fragrâncias da marca. Mas há dois anos, a estratégia é outra. Desmascarando estereótipos e com mais inclusão, a marca retratou homens usando sua confiança e sabedoria, não necessariamente as fragrâncias, para conquistar mulheres.
UMA ERA MAIS FEMININA
A busca pelo conhecimento, a valorização do silêncio, da natureza, a valorização de técnicas de colaboração, de autoconhecimento como CNV (Comunicação Não Violenta), Mindfulness, Yoga ou o crescimento do coaching como ferramenta de desenvolvimento humano apontam para o mesmo lugar: a emergência de uma era mais feminina. O livro Liderança Shakti dos indianos Nilima Bhat, criadora dessa filosofia, e Raj Sisodia, líder do movimento “Capitalismo Consciente”, fala desta transição de paradigma:
“Tanto os homens quanto as mulheres foram condicionados a valorizar características de liderança que tradicionalmente são consideradas masculinas: hierárquica, individualista e militar”, dizem eles. “Nós reanimamos um arquétipo feminino de liderança: regenerador, cooperativo, criativo e empático”, acrescentam os autores.
No curso Os Novos Paradigmas do Futuro e as Tendências Emergentes da Escola São Paulo, exponho detalhes desta e de muitas outras novas formas de se comportar e de ser em sociedade. Nesse conteúdo, explico e faço análises de cases e movimentos de transformação, mostrando os prováveis próximos passos das pessoas, do mercado e das relações estabelecidas por eles.
POR QUE O FEMININO?
O feminino é circular, emocional, intuitivo, colaborativo, empático, compassivo, flexível, adaptável, acolhedor, solidário, multidisciplinar. O feminino permite um encontro genuíno com o eu, com a consciência de si, do outro, do mundo. Independente de gênero, o que o mundo precisa é trazer esses valores do feminino para todas as esferas e domínios da vida. Reconhecer o feminino em si, é reconhecer nossos valores mais humanos. É um antídoto para muitos anos de desconexão e não consciência.
#escolasaopaulo #descubra #reinvente #viva
QUE DIFERENÇA TERÁ FEITO SUA PASSAGEM POR ESTE PLANETA?
Por André Camargo, time da Humans Can Fly e colunista da Escola São Paulo
Em 2015, a Microsoft completava 40 anos de existência. Para celebrar a data, Bill Gates enviou um e-mail a todos os funcionários da empresa. Na mensagem, relembrava o ‘delírio’ que inspirou sua criação, em um tempo em que computadores eram gigantescos e caríssimos:
Logo no início, Paul Allen e eu definimos a meta de um computador em cada mesa e em cada lar. Era uma ideia ousada, e muita gente pensou que estávamos loucos por imaginar que isso era possível.
No trabalho com meus clientes de Coaching de Propósito de Vida, uma das etapas fundamentais é investigar a Visão Externa.
Em poucas palavras, sua visão externa corresponde a uma imagem do mundo que você gostaria de criar, com seus talentos e com sua energia, para deixar como legado quando você partir.
Como, por exemplo, “um computador em casa mesa e em cada lar”.
Em contrapartida, a Visão Interna, outra das etapas fundamentais da investigação do Propósito de Vida, é uma imagem da pessoa que você deseja se tornar, como consequência de seus esforços para mudar o mundo.
A busca da visão, seja interna ou externa, corresponde à criação de um holograma que torna presente seu futuro desejado. É a realização imaginativa do seu sonho hoje mesmo, aqui e agora. Essa é a base da prática de visualização, consagrada em diferentes tradições espirituais e cada vez mais utilizada no campo da alta performance por atletas, cientistas, políticos, artistas, visionários e empreendedores.
Quanto mais nítido for o holograma que você criar e sustentar, quanto mais sentido fizer para a pessoa que você é, mais irá te nutrir ao longo da jornada. Poucas coisas fazem tanta diferença para o sucesso de um projeto quanto estar apoiado sobre uma forte visão compartilhada. A visão de futuro se torna um núcleo de vitalidade, até que por fim a realidade corresponda ao holograma.
Uma dificuldade que encontro no trabalho com meus clientes é a tendência de buscar a visão por uma via intelectual. Mas a uma visão que seja apenas intelectual, por mais lógica, coerente ou genial que pareça, faltará tônus. Será uma visão flácida.
Para que seja, de fato, transformadora, potente, a visão precisa emergir do corpo e das emoções, precisa tocar a alma e o coração. Precisa co-mover.
A busca da Visão pode ser empreendida por meio de viagens, intercâmbios, encontros, retiros na Natureza e práticas espirituais. Uma das estratégias possíveis, que uso nos processos de coaching, é convidar a alma a falar por meio de Perguntas de Poder. Como a do título deste artigo.
- Que impacto você gostaria que sua existência tivesse no mundo?
- Se não existisse nenhum tipo de limitação, que mudanças você sente mais vontade de produzir no jeito que as coisas são?
- Que causas, lugares e pessoas te tocam mais fundo?
- Que tipo de mundo você gostaria de deixar para as próximas gerações?
No nível pessoal, uma clara visão pode funcionar como um Norte para a sua vida. E, provavelmente, também para as vidas das pessoas que se conectarem com você e com o seu Propósito.
Ser capaz de gerar e sustentar uma clara visão de futuro, portanto, é algo imprescindível na vida de um(a) líder.
Escrevo este texto motivado por um livro que comecei a ler: a biografia do Elon Musk, fundador da Tesla e da SpaceX.
Já leu?
Lá encontrei um exemplo poderoso de visão externa.
“Qualquer análise sobre Elon Musk”, diz o autor, “deve começar pela sede da SpaceX, em Hawthorne — um subúrbio de Los Angeles, Califórnia.”
Ali os visitantes encontrarão dois pôsteres gigantes de Marte pendurados lado a lado na parede que antecede a baia em que Musk trabalha. O pôster à esquerda retrata o planeta como é hoje — um orbe vermelho frio e árido. Já a imagem à direita mostra a superfície de Marte como uma imensa massa de terra verde cercada de oceanos. O planeta foi aquecido e transformado para abrigar humanos. Musk está determinado a tentar tornar isso realidade. Transformar humanos em colonizadores do espaço é sua missão declarada de vida.
Por um lado, achei essa imagem extraordinária. Todo dia o cara vai trabalhar e lá está sua visão materializada. Imagino o efeito que isso tem.
Por outro lado, acho a visão inquietante. Mesmo que tenha um bocado de gente que eu gostaria de mandar para o espaço, na minha opinião, já causamos estrago suficiente em um único planeta.
Mas, no fundo, não importa.
O que isso significa é somente que não faria sentido, para mim, trabalhar na SpaceX. Porque não compartilho da mesma Visão nem do mesmo Propósito.
E o que não significa é que eu não possa me encantar, me inspirar e me nutrir, seja na vida pessoal, seja no meu trabalho, pela força dos exemplos de Bill Gates e Elon Musk.
Pessoas que levam tão a sério seus sonhos mais delirantes que chegam a se acreditar capazes de mudar o mundo.