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A NOVA MODA É SUSTENTÁVEL

A seguir, a atualização sobre a semana do Fashion Revolution em abril de 2020, publicada no Instagram:

Marcas, indústrias e varejistas: participem da Semana Fashion Revolution Digital!

O Fashion Revolution não irá realizar nenhuma atividade presencial em abril, mas enquanto marca ou indústria você pode seguir engajado nas nossas campanhas, principalmente revelando como os trabalhadores da sua rede estão amparados neste momento de crise e quais têm sido suas políticas perante isso. ??Por ser um momento complexo para todos, vamos fortalecer a coletividade, atentar para os mais vulneráveis e garantir o bem-estar de nossas comunidades. Suas principais ativações durante a Semana Fashion Revolution podem ser algumas das sugestões na sequência de imagens do post!

Para ler mais e descobrir outras formas de se envolver – durante a Semana e além – veja a publicação completa no site!

#fashionrevolution #quemfezminhasroupas #doquesãofeitasminhasroupas

A MODA

Ao longo de muitos anos a indústria da moda se manteve isolada da sociedade em geral como parte de sua própria proposta de se colocar enquanto algo para poucos. Por muito tempo, se criticou esse isolamento a partir de diversos ângulos, desde elitismo até questões trabalhistas. Felizmente, os novos ventos do comportamento social nos trouxeram uma era de valorização da transparência enquanto paradigma e hoje a situação é diferente.

Mais do que nunca, hoje temos muitos agentes e órgãos interessados em fazer dessa indústria (de extrema importância para a economia mundial) um bom setor para se trabalhar, independentemente da posição na cadeia de produção, e fazer da moda um dos pivôs da mudança de valores do sistema capitalista, reconhecendo na sustentabilidade o único caminho para uma sociedade mais justa.

A MODA E O FASHION REVOLUTION

A moda é uma força a ser considerada. Ela inspira, provoca, conduz e cativa. O Fashion Revolution acredita no poder de transformação positiva da moda, e tem como principais objetivos  conscientizar sobre os impactos socioambientais do setor, celebrar as pessoas por trás das roupas, incentivar a transparência e fomentar a sustentabilidade.

O movimento foi criado após um conselho global de profissionais da moda se sensibilizar com o desabamento do edifício Rana Plaza em Bangladesh, que causou a morte de 1.134 trabalhadores da indústria de confecção e deixou mais de 2.500 feridos. A tragédia aconteceu no dia 24 de abril de 2013, e as vítimas  trabalhavam para marcas globais, em condições análogas à escravidão.

#QUEMFEZMINHASROUPAS

A campanha #QuemFezMinhasRoupas surgiu para aumentar a conscientização sobre o verdadeiro custo da moda e seu impacto no mundo, em todas as fases do processo de produção e consumo. Realizado inicialmente no dia 24 de abril, o Fashion Revolution Day ganhou força e hoje tornou-se a Fashion Revolution Week, que conta com atividades promovidas por núcleos voluntários, em mais de 100 países.

Queremos tornar a moda uma força para o bem!

SEMANA FASHION REVOLUTION BRASIL

No Brasil, o movimento atua há 5 anos. Durante a Semana Fashion Revolution, e ao longo do ano em eventos pontuais, realizamos ações, rodas de conversa, exibições de filmes e workshops, que promovem mudanças de mentalidade e comportamento em consumidores, empresas e profissionais da moda.

Ficamos muito felizes com o crescimento do movimento, que hoje está estabelecido como Instituto Fashion Revolution Brasil e trabalha em parceria com diversos atores.

A Semana Fashion Revolution 2019 envolveu aproximadamente 25 mil pessoas em 50 cidades do Brasil e contou com mais de 230 voluntários, 48 representantes locais, 55 embaixadores em 114 escolas e universidades, comprometidos com a organização de 815 eventos. Para se ter uma ideia, em 2018 foram realizados 733 eventos, e em 2017, 225. Além disso, aproximadamente 500 marcas de vestuário se engajaram na campanha.

Queremos mostrar ao mundo que a mudança é possível, através do engajamento de todos! A conscientização é o primeiro passo para que poderosas transformações sejam concretizadas. Vamos criar conexões e exigir práticas mais sustentáveis e transparentes na indústria da moda?

No curso Design Sustentável da Escola São Paulo, Eloisa Artuso mostra as suas conexões estabelecidas com marcas e iniciativas para tornar seus processos produtivos mais sustentáveis. Ela ensina como podemos atuar para projetarmos uma sociedade econômica, social e ambientalmente viável. Com uma visão de mundo integrada e uma riqueza de cases de redução de impactos sobre o planeta como um todo, o conteúdo do curso se alinha aos Objetivos do Desenvolvimento Sustentável da ONU.

Participe de nossa campanha nas redes sociais, em qualquer momento do ano:

1 – Faça uma selfie com a etiqueta da marca que está vestindo

2 – Pergunte na legenda: @nomedamarca  #QuemfezMinhasRoupas? #FashionRevolution

3 – Poste e faça parte dessa revolução!

“O Fashion Revolution promete ser uma das poucas campanhas verdadeiramente globais a surgir neste século”, diz Lola Young, criadora do Grupo Parlamentar de Todos os Partidos sobre Ética e Sustentabilidade na Moda no Reino Unido.

A co-fundadora do movimento, Orsola de Castro, completa: “Nós queremos que você pergunte: ‘Quem fez minhas roupas?’. Essa ação irá incentivar as pessoas a imaginarem o “fio condutor” do vestuário, passando pelo costureiro até chegar no agricultor que cultivou o algodão que dá origem aos tecidos. Esperamos iniciar um processo de descoberta, aumentando a conscientização de que a compra é apenas o último passo de uma longa jornada que envolve centenas de pessoas, e realçando a força de trabalho invisível por trás das roupas que vestimos”.

CONTATOS

  • Para dúvidas, saber como participar e ver o que esta acontecendo em sua cidade, escreva para a Dandara Valadares no email:

fashionrevolution.br@gmail.com

  • Para apresentar projetos, propostas ou convites, escreva para a nossa diretora executiva Fernanda Simon no email:

brasil@fashionrevolution.org 

  • Marcas, industrias e empresas podem escrever para a Bárbara Poerner, nossa articuladora no email:

frd.comunicacao@gmail.com

  • Faculdades e projetos educacionais podem escrever para a nossa diretora educacional,  Eloisa Artuso:

frd.educacional@gmail.com

  • Mídia e veículos de divulgação, escreva para a nossa assessora de comunicação, Giovanna Campos:

frd.assessoria2@gmail.com

CRÉDITOS TEXTO:
https://www.fashionrevolution.org/south-america/brazil/

#escolasãopaulo #descubra #reinvente #viva

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VIRADA SUSTENTÁVEL – DIA 1

A Virada Sustentável é um movimento de mobilização para a sustentabilidade que organiza o maior festival sobre o tema no Brasil. Começou em 2011, em São Paulo, e já realizou edições nas cidades do Rio de Janeiro, Porto Alegre, Salvador, Manaus, entre outras.
A concepção temática da Virada Sustentável é, atualmente, baseada e totalmente concebida a partir nos 17 Objetivos do Desenvolvimento Sustentável (ODS) definidos pela ONU, que são também os princípios que orientam a programação do festival em todas as cidades.
Participamos de parte da programação que aconteceu na Unibes, em São Paulo, nos dias 22 e 23 de agosto.

4ª Revolução Industrial e Gestão de Resíduos

Antonis Mavropoulos, em sua palestra “4ª Revolução Industrial e Gestão de Resíduos”, problematizou a relação que existe entre reciclagem e economia circular. Acredita que não devemos considerar a reciclagem como o caminho para a economia circular, pois perdemos tempo e dinheiro com ela, quando teríamos de avançar nas outras partes da cadeia (utilizar matérias-primas renováveis ​​ou biodegradáveis, projetar com responsabilidade para estender o ciclo de vida atual de um produto – reparando, atualizando e revendendo -, produzir com consciência, criar mais plataformas de compartilhamento e pensar em novos modelos de negócios como um todo).

Ele propõe novos modelos de negócios em que a mentalidade dos governos e marcas precisa ser diferente, uma vez que estes entendem tudo sobre o mercado financeiro, mas não sobre seus impactos sociais e ambientais. Ainda medimos progresso de forma errada, pelo PIB, o que, de novo, deixa como foco a questão financeira, e não a ambiental e a social. O reuso, por exemplo, não é medido no PIB, bem como o prolongamento da vida útil de um produto.

Segundo o fundador e CEO da D-Waste e Presidente da ISWA, o futuro do nosso planeta está na conexão entre Economia Circular e Indústria 4.0. Isso determinará se estamos indo em direção a um planeta com ou sem desperdício. A Economia Circular ou será digitalizada ou não prevalecerá.

A 4ª revolução industrial apenas acelerará o esgotamento de recursos e criará problemas mais complexos e danos mais irreversíveis se não caminhar de mãos dadas com a economia circular. Porém, tanto a indústria 4.0, como a economia circular, demandam mudanças radicais nos modelos, culturas e políticas de negócios a fim de entregar todos os resultados prometidos. Sem essas mudanças, tanto a indústria 4.0, como a economia circular, acelerarão o esgotamento de recursos e aprofundarão a desigualdade.Vivemos em uma nova sociedade, que leva ao surgimento de uma nova economia.

Economia circular do plástico

O jornalista e editor Caco De Paula, moderador do painel “Economia Circular do Plástico”, inicia sua fala comentando como o plástico, que mudou completamente a vida das pessoas em vários aspectos por muitos anos, passa hoje pelo problema no fechamento do ciclo, pois temos que pensar em uma nova forma de lidar com essa matéria-prima. E, ao se tornar um bem de consumo, temos uma série de “contratos sociais” que ainda não estão bem estabelecidos, envolvendo fabricantes, consumidores e governos. Algo que está em construção no mundo inteiro, não só no Brasil. Estamos praticando um exercício de virada, em que personagens da cadeia estão vivendo experiências, criando soluções e financiando pesquisas em busca de alternativas mais sustentáveis.

Nesse painel, presenciamos uma discussão aberta e informativa sobre os desafios e tendências da economia circular do plástico, com participação de representantes de grandes empresas da cadeia produtiva em nível global: Fabiana Quiroga, diretora de reciclagem da Braskem, Mariana Bazzoni de Werna Mendes, gerente de sustentabilidade da AMBEV, e César Sanches, diretor de sustentabilidade do Valgroup. Os representantes das três empresas têm como desafio suas áreas sustentáveis, investindo sempre em inovação como forma de garantir maiores facilidades para a reciclagem desse material. Consideram ser necessário criar um outro modelo de negócio, pois, no caso de outras matérias-primas, como o alumínio, o próprio produto reciclado financia o processo, o que está longe de acontecer com o plástico.

Fabiana Quiroga acredita que a questão do plástico deva passar por uma mudança comportamental de todos os setores da cadeia, desde a fabricação da matéria-prima, a transformação, a empresa de produção de bens de consumo e, no final, o consumidor em si. Todos os setores devem oferecer soluções sustentáveis para a sociedade e pensarem juntos em uma mudança comportamental.

Fabiana contou também como a Braskem se empenha todos os dias para melhorar a vida das pessoas por meio de soluções sustentáveis da química e do plástico, engajados na cadeia de valor para o fortalecimento da economia circular. Entre algumas ações, entregam conhecimento aos clientes no melhor aproveitamento da matéria-prima e em uma produção que facilite a reciclagem (quanto mais tipos de plásticos colocarem em uma embalagem, por exemplo, mais complexa sua reciclagem). Quando fala de mudança, chamou a atenção para a importância do design, em como pensar a melhor forma do design desse produto para que possa ser usado o máximo possível e, ao final, não tornar-se um resíduo, mas uma nova matéria-prima.

A designer, pesquisadora e doutora em Comunicação e Semiótica, Mônica Moura, autora do livro Faces do Design, define design como “ter e desenvolver um plano, um projeto, significa designar. É trabalhar com a intenção, com o cenário futuro, executando a concepção e o planejamento daquilo que virá a existir”.

Em nosso curso Design Sustentável, com Eloisa Artuso, além de trazer ferramentas sustentáveis aos designers, trazemos conhecimento e responsabilidade à todos os profissionais que estão pensando em suas marcas e negócios, sendo eles designers de produtos ou não.

Mariana Bazzoni de Werna Mendes conta como a AMBEV se posiciona frente às demandas da sociedade em prol da sustentabilidade, caminhando além das expectativas do consumidor sobre a reciclagem em si, repensando seu posicionamento acima das provocações que vem recebendo do consumidor. A AMBEV tem uma missão de conseguir transportar as expectativas do consumidor para o restante da cadeia, sendo inventiva, criativa e com muito diálogo entre todos os setores. Para ela, a visão de circularidade é ter diversos atores trabalhando em outros aspectos além do uso e descarte, como gerar valor em cima daquilo que normalmente não parece ter mais. Lixo é dinheiro, e temos que gerar valor e oportunidades para ele com inovação e novas ações.

César Sanches percebe que a economia circular gerará uma série de oportunidades para empreendedores, professores, pesquisadores. Novas tecnologias, automação, robótica, inteligência artificial, tudo isso vai se desenvolver, e cabe a nós usar os materiais e essas tecnologias de forma a criar uma sociedade melhor. Numa visão otimista, acredita que o ser humano, se observarmos ao longo de toda a sua história, já entendeu que a economia linear chegou ao seu limite e que podemos aproveitar todo esse conhecimento acumulado por séculos e transformá-lo em economia circular, sustentável. Não é uma obra concluída, mas está sendo feita.

Economia circular do alumínio

No painel “Reciclagem | Os desafios da profissionalização, geração de renda e consumo consciente”, Eunice Lima, diretora de comunicação e relações governamentais da Novelis, Estevão Braga, gerente de sustentabilidade da Ball, Cristiano Cardoso, da Cooperativa Recifavela, e Nina Marcucci, coordenadora de conteúdo do Menos 1 Lixo, discutiram como as empresas e as cooperativas têm buscado soluções  para aumentar a rentabilidade, melhorar a gestão e, consequentemente, a qualidade de vida das pessoas envolvidas no ciclo produtivo do alumínio.
Eunice Lima contou que o Brasil é o maior reciclador de alumínio do mundo, por ser um negócio altamente rentável. Temos um índice de 97,3% de reciclagem de latas de alumínio com 600 mil pessoas envolvidas no processo. A Sua reciclagem consome 95% menos energia elétrica, quando comparado à produção do alumínio a partir do minério, reduz em 95% a emissão de gazes de efeito estufa, além de ser um material infinitamente reciclável. Seu sucesso se dá pela estruturação da reciclagem do alumínio como negócio; investimento industrial em capacidade de reciclagem; as indústrias absorvem todo o material coletado (existe comprador garantido); valor agregado da sucata, que remunera atividades de coleta e transporte; logística reversa organizada; e valor compartilhado em todos os elos da cadeia. Não enfrenta os desafios de outros materiais como vidro, plástico etc.
Um processo que hoje é uma oportunidade de renda e já se tornou um novo modelo de negócio. Ponto para o alumínio.

Jogando luz no lixo invisível

Em uma cidade como São Paulo, o sistema de recolhimento, tratamento e destinação dos resíduos custa bilhões de reais todos os anos e envolve milhares de pessoas, incluindo toda a economia informal gerada pelos catadores e suas famílias, peças fundamentais no processo da reciclagem. Mas tudo isso não é suficiente se cada um de nós, cidadãos, não tomarmos consciência sobre nossas opções de consumo de produtos e a destinação dos resíduos que inevitavelmente são gerados. Para refletir sobre como essas questões estão todas interligadas, o painel “Jogando Luz no Lixo Invisível” reuniu uma roda de conversa com diferentes olhares sobre experiências de manejo sustentável de resíduos com Patrícia Lorena, CEI e Founder da Inurbe, Larissa Kroeff, cofundadora da Meu Copo Eco, e João Bourroul, do Pimp My Carroça. 
Patrícia Lorena nos apresentou dados como o de São Paulo ser responsável por 12% do PIB brasileiro e produzir, aproximadamente, 8% dos resíduos do país – 19 mil toneladas por dia, quantidade que encheria 140 aviões cargueiros 747-8F, os quais, se enfileirados, ligariam a Avenida Paulista ao aeroporto de Congonhas! Acumulando essa quantidade por três dias, encheríamos o Estádio do Pacaembu.

Lamenta a relação que os paulistanos têm com os resíduos – tratam de manter suas casas limpas, mas entendem a rua como responsabilidade alheia, sem perceber suas responsabilidades individuais em manter a cidade limpa e conservada.
Larissa Kroeff trouxe uma reflexão sobre o lixo produzido nos eventos, e percebeu uma oportunidade de negócio criando o projeto “Meu Copo Eco”. No Brasil, o custo do lixo se divide com o de saúde e o de educação nas gestões municipais – 97% do lixo geram custo por meio da coleta e manutenção dos aterros sanitários, enquanto que apenas 3% geram receita às cooperativas de reciclagem. “E se fosse o contrário?”, questiona ela.
João Bourroul, além de nos contar do trabalho dele com os catadores nos projetos Pimp My Carroça e Cataki, empoderando e trazendo autoestima a esses atores praticamente invisíveis da cadeia, nos presenteou com o testemunho de um catador, que veio para relatar os problemas que enfrentam no dia a dia, como a logística e a falta de respeito.

Clique aqui para para ler sobre o que vimos e sobre nossas impressões do dia 22, o dia seguinte!

#VireSuaCidade #escolasaopaulo #descubra #reinvente #viva

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O MUNDO TODO EM UM SÓ LUGAR

“São Paulo é como o mundo todo”, afirmou Caetano Veloso na canção Vaca Profana, lançada em 1986. Historicamente composta por imigrantes de diversas regiões do mundo, a cidade ampliou nos últimos anos a sua variedade linguística, um reflexo direto do que é considerado o maior fluxo migratório forçado da história da humanidade – de acordo com a ONU, atualmente 65 milhões de pessoas vivem em situação de refúgio no mundo.   

De acordo com pesquisa realizada pelo Observatório das Migrações em São Paulo, da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), entre os anos 2000 e 2015 foram registrados mais de 879 mil imigrantes internacionais no Brasil. Destes, quase 368 mil se estabeleceram no Estado de São Paulo vindos de 71 países (120 mil apenas na cidade de São Paulo) – a maior parte da Síria e da República Democrática do Congo.
Muitos chegam ao país foragidos de guerras civis, conflitos religiosos e em busca de melhores oportunidades. São, em sua maioria, homens, com idade entre 30 e 34 anos. Das mulheres, 55% estão desempregadas ou em empregos precários. Grande parte deles sofre para se adaptar à nova vida, seja pela barreira linguística, pela dificuldade em conseguir trabalho ou pelo preconceito que enfrentam. O documentário Cara do Mundo retrata justamente essa adaptação dos imigrantes à cidade. Produzido por estudantes da Escola de Jornalismo da Énois, o filme traz depoimentos de oito imigrantes, vindos de países como Síria, Haiti, Senegal, Bolívia e Japão, e está disponível para download no site Video Camp.

CRIANDO PONTES 
Para ajudá-los a recomeçar a vida na cidade, instituições religiosas e profissionais das mais diversas áreas se uniram e criaram projetos com o objetivo de facilitar o processo de adaptação e promover a aproximação entre os imigrantes e os moradores da capital. É o caso do Movimento Estou Refugiado, iniciativa que tem como lema “o preconceito acaba quando a compreensão começa”. Criado por Gisela Rao e Luciana Capobianco, o projeto estruturou um banco de currículos e agenda reuniões com equipes de RH de diversas empresas com o intuito de ajudar os profissionais imigrantes e se inserirem no mercado de trabalho local.

Os integrantes da iniciativa também propuseram um crowdsourcing para arrecadar bilhetes de ônibus após perceberem que muitas vezes os imigrantes perdiam oportunidades de entrevistas de trabalho pelo fato de não terem dinheiro para o transporte. A ação resultou em mais de 1.500 ofertas de emprego e mais de 500 refugiados efetivamente empregados. Além disso, o projeto está realizando entrevistas com refugiados, fazendo pesquisas, escrevendo artigos e editando vídeos, para montar uma biblioteca sobre o assunto, e abriu a Planisfério Causas, empresa social que desenvolve produtos e serviços e garante a autonomia do movimento. O primeiro serviço já está funcionando: o lava-rápido Kosukola.   Outra iniciativa que tem ajudado os imigrantes a se integrarem à cidade é o Abraço Cultural. Criado em 2015, por André Cervi e Daniel Assunção, o negócio social tem refugiados como professores de cursos de idiomas (como francês, inglês, espanhol e árabe) e cultura (dança, literatura, cinema, história, política e curiosidades). Com atuação em São Paulo e também no Rio de Janeiro, a ação promove a troca de experiências, a geração de renda e a valorização pessoal e cultural dos refugiados residentes no Brasil que em seus países atuavam como advogados, engenheiros, cineastas, professores universitários. “Não queremos ser assistencialistas. Queremos mudar paradigmas através da troca cultural e da valorização das habilidades dos refugiados”, explica André, em entrevista ao Draft.  

Todos os professores selecionados passam por um treinamento e ajudam na atualização do material didático da escola, bastante focado nas experiências culturais dos imigrantes. O projeto oferece cursos regulares, intensivos, individual e in company com aulas durante a semana e aos sábados com duração de quatro meses. “Quero quebrar o estigma da guerra e mostrar aos brasileiros que a Síria é um país com uma cultura e história muito ricas”, afirma Ali Jeratli, professor de árabe.  

Atuando em São Paulo desde 1940, na região do Glicério, no centro da cidade, a Missão Paz, da Congregação dos Missionários de São Carlos, auxilia sete mil pessoas por ano de países como Haiti, Bolívia e Peru. “Vejo que a cidade abriu caminhos para acolher bem quem vem de fora. Mas ainda sinto que é preciso fazer uma mobilização no sentido de melhorar a relação”, avalia o padre Antenor João Dalla Vecchia, em entrevista ao Estadão. “Infelizmente, ainda ocorrem manifestações de rechaço, de xenofobia, de preconceito.”
Desde 1969, o projeto mantém o Centro de Estudos Migratórios e criou, em 1970, a Casa do Migrante na qual vivem 110 pessoas em processo de adaptação à cidade. “O imigrante chega com a mala e o desejo de reorganizar sua vida, reconstruir seu futuro. É claro que necessita de um atendimento muito específico, muito particular. Oferecemos um local onde ele pode guardar suas coisas, iniciar sua trajetória e se regularizar do ponto de vista legal”, explica. 

A Missão Paz também oferece palestras sobre a cultura brasileira e auxilia na recolocação profissional dos imigrantes. “O importante é passarmos a mensagem de que as migrações vêm para acrescentar. Não podem ser entendidas como algo ruim para a cidade”, comenta. “Elas vêm para formar a nossa cultura, somam de forma positiva.” 

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O QUE TE FAZ FELIZ?

“Felicidade é a certeza de que a nossa vida não está se passando inutilmente”, disse o escritor Érico Veríssimo. Já o compositor popular Odair José decretou na canção A Noite Mais Linda do Mundo: “felicidade não existe. O que existe na vida são momentos felizes.” Independentemente da linha de pensamento, é fato que a busca pela felicidade sempre foi uma constante na história da humanidade. Dentro do mundo capitalista, essa busca foi automaticamente associada com a aquisição de bens materiais (roupas, aparelhos eletrônicos, carros, imóveis), intervenções estéticas e, claro, a procura constante por mais e mais dinheiro. Não é preciso dizer que com o tempo o modelo se mostrou equivocado para este fim.  

Em 2008, o Butão, um país de 750 mil habitantes, localizado entre a China e a Índia, tornou-se assunto em todo o mundo ao divulgar a implementação de uma nova medida que se propunha a aferir a felicidade de seus habitantes. Batizada de Felicidade Interna Bruta (FIB) ou GNH (Gross National Happiness), a ideia surgiu após uma declaração do rei Jigme Singye Wangchuck, na década de 1970. Questionado por um jornalista a respeito do baixo desenvolvimento do seu país e a total dependência econômica da Índia, o monarca respondeu que o progresso do Butão não deveria ser medido em consumo e riquezas, ou pelo Produto Interno Bruto (PIB), mas pela felicidade da sua população.  Apesar de ser considerado um país “não desenvolvido” pela Organização das Nações Unidas (ONU) (entre as razões para esta classificação estão o fato de metade da sua população adulta ser analfabeta e o salário mínimo girar em torno de US$ 100), o Butão figura entre as dez nações mais felizes do mundo, com baixos índices de violência e fome zero. “A filosofia da FIB é a convicção de que o objetivo da vida não pode ser limitado a produção e consumo seguidos de mais produção e mais consumo, de que as necessidades humanas são mais do que materiais”, explica Thakur S. Powdyel, diretor do Centro de Pesquisa e Desenvolvimento Educacional da Universidade Real do Butão, em entrevista à revista Superinteressante.  

A medida é baseada em quatro pilares: 1) desenvolvimento socioeconômico sustentável e equitativo, 2) conservação ambiental, 3) preservação e promoção do patrimônio cultural e 4) boa governança. Além disso, conta com nove domínios e diversos indicadores que avaliam questões como quantas vezes na semana a pessoa teve sentimentos positivos, como compaixão e perdão, ou negativos como inveja e raiva. Apesar de ter sido implementado oficialmente no país apenas em 2008, o FIB norteia todas as políticas públicas do país há quatro décadas e foi se aprimorando ao longo dos anos.  

Para Kalinka Susin, brasileira que atua no país como professora no Royal Thimphu College, a felicidade da população do Butão tem mais relação com a cultura do país do que com as ações propostas pelo FIB. “São os valores budistas de colaboração, de convivência em comunidade. O coletivo vale mais do que o individual. O butanês tem uma relação com a família estendida. A família butanesa não é nuclear, nunca foi, não é pai, mãe e filhos. Os filhos são criados por membros próximos que podem criá-los. Os homens migravam para fazer a colheita: a mulher é a terra e o homem era mais migrante. Os filhos eram criados pelas mulheres da comunidade. O butanês tem uma noção de irmandade que vem do budismo, ele valoriza muito a família e a ecologia à qual ele pertence”, explica, em entrevista ao portal G1.  Até 2005, o ensino sobre o FIB era realizado apenas nos templos budistas e nos centros comunitários. A partir daquele ano, o governo criou o projeto 2020 do FIB que tem como meta fazer com que toda a sociedade butanesa internalize os conceitos da Felicidade Interna Bruta. Isso porque, em 2015, relatórios oficiais registraram um aumento de pessoas infelizes no país, em comparação com os dados de 2010. O resultado tem ligação com o aumento da migração do campo para cidade e os impactos da globalização. “A pressão materialista mundial é tamanha que, se não educarmos nossos cidadãos desde a infância sobre o assunto, não conseguiremos perpetuar nosso maior bem social que é a felicidade”, reflete o monge Khenpo Phuntsok Tashi, diretor do Museu Nacional do Butão, em reportagem do Projeto Draft.  

A FELICIDADE ESTÁ NO EQUILÍBRIO 
Recentemente, a ONU passou a adotar o FIB como um de seus indicadores para medir o desenvolvimento de uma nação. “Ela considera o bem-estar psicológico, que inclui questões como autoestima e estresse; políticas de saúde e hábitos que prejudicam ou melhoram a saúde; o uso do tempo, incluindo tempo para lazer e para a família; a vitalidade comunitária, ou seja, o nível de interação com a sociedade em geral; a educação, a cultura e as oportunidades de desenvolver atividades artísticas; o meio ambiente, ou seja, a percepção da população em relação à qualidade da água e do ar, bem como o acesso a áreas verdes; a governança; a representatividade social em órgãos públicos; e, por último, o padrão de vida, a renda familiar e a qualidade de moradia”, explica Emanuele Seicenti de Brito, professora Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade de Ribeirão Preto (FEA-RP) da USP, em entrevista à Rádio USP.
As ideias por trás do FIP estão reverberando no ocidente de diversas maneiras. No início deste ano, economistas apresentaram durante o Fórum Econômico Mundial, realizado em Davos, uma alternativa ao PIB. Batizado de Índice de Desenvolvimento Inclusivo (IDI), o novo indicador econômico leva em consideração 11 aspectos econômicos agrupados em três pilares: crescimento, desenvolvimento e inclusão. Além disso, muitas empresas passaram a utilizar o FIP (com adaptações) como uma possibilidade de criar ambientes mais humanizados e felizes para os seus colaboradores priorizando, por exemplo, o equilíbrio entre vida profissional e pessoal. “No FIB, o emprego é visto como uma entre muitas atividades produtivas, incluindo ser pai e mãe.”, explica o médico Michael Pennock, consultor da ONU para internacionalização do indicador, em entrevista à revista Época.  

Karma Dasho Ura, coordenador das pesquisas do FIB no Butão, destaca que outra questão revista a partir do indicador é a jornada de trabalho. “Seis horas de trabalho energético são suficientes. O resto do dia deveria ser liberado para lazer cultural, socialização, atividade física”, afirma, também em entrevista à Época. “Gente infeliz não projeta nada novo”, acrescenta. “É interessante as empresas pensarem da forma reversa: não produzir mais para ser feliz, mas sim ser feliz para produzir mais. Colocar a felicidade em primeiro lugar”, complementa a professora da USP Emanuele Seicenti de Brito.