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COMO A TECNOLOGIA PODE TORNAR AS CIDADES MAIS EFICIENTES?

A relação da humanidade com a tecnologia sempre foi conflituosa. Ao mesmo tempo em que a encarávamos como uma aliada para tornar o nosso dia a dia mais ágil e prático, também a enxergávamos como uma potencial ameaça (seremos substituídos por robôs?). Nos últimos anos, contudo, ela tem sido encarada como uma maneira de tornar as cidades cada vez mais eficientes. Um relatório recente elaborado pelo McKinsey Global Institute (MGI) concluiu que as tecnologias inteligentes podem ajudar as cidades a melhorar entre 10% e 30% alguns índices importantes de qualidade de vida, como redução de emissões de carbono, agilidade no deslocamento e redução de incidentes criminais.

Vidas podem ser salvas

Otimizando as centrais de atendimento e auxiliando no deslocamento no trânsito, por exemplo, a tecnologia pode reduzir entre 20 e 35% o tempo de resposta das chamadas emergenciais em casos de acidentes de carro ou incêndios, o que significa mais chances de salvar vidas. Um exemplo prático: graças a 8.200 megafones instalados na Cidade do México, seus 20 milhões de habitantes conseguiram ser alertados a tempo sobre o terremoto que atingiu o município em setembro de 2017, o maior registrado em um século. Instalado na costa do Pacífico há 20 anos, o sistema lança uma onda que aciona alarmes em escolas, escritórios e outros prédios da capital mexicana, dando aos habitantes o tempo de um minuto para saírem dos prédios antes do início dos tremores. O aplicativo SkyAlert também foi lançado com este objetivo, mas não funcionou durante o abalo sísmico – ainda que seja uma importante aliada, a tecnologia também falha.

Mapeamento para aumentar a segurança

Embora não possa, isoladamente, solucionar a criminalidade de uma cidade, a tecnologia pode ajudar a reduzir entre 30% e 40% os incidentes de assalto, roubo de carros e furtos, segundo o levantamento do MGI. Tudo graças ao mapeamento em tempo real das situações e, claro, ao policiamento preventivo. Contudo, este monitoramento deve ser feito com bastante cautela de modo a não interferir no direito de ir e vir dos cidadãos e a não contribuir na criminalização e no isolamento de alguns bairros e comunidades – muito antes de ser uma questão tecnológica, a criminalidade, de uma maneira geral, é fruto de desigualdades sociais.

Ainda segundo o estudo, até o ano de 2025, as cidades que fizerem o uso de aplicativos de mobilidade inteligente têm o potencial de reduzir os tempos de deslocamento entre 15 e 20% em média. Isso significa uma economia de 15 minutos por dia em uma cidade de trânsito intenso, por exemplo. Além disso, a tecnologia pode ajudar as equipes técnicas responsáveis a resolverem problemas de atraso e falhas com mais agilidade e orientar os motoristas a optarem por rotas mais rápidas.

No âmbito da saúde, a tecnologia pode reduzir em mais de 5% o índice de doenças em crianças, levando em consideração uma cidade em desenvolvimento, por exemplo, baixando as taxas de mortalidade infantil. Em cidades mais desenvolvidas, já existem sistemas que, por meio de dispositivos digitais, realizam exames que são posteriormente encaminhados para avaliação médica – tudo à distância. As avaliações ajudam o paciente e o médico a saberem quando uma intervenção é necessária, evitando complicações e internações.

Um exemplo prático de como a tecnologia pode contribuir com a saúde das populações é o data_labe. Criada no Rio de Janeiro, a iniciativa ajuda moradores da periferia da cidade a sugerirem políticas públicas que melhorem a realidade de suas comunidades. As propostas são feitas a partir da análise e do cruzamento de dados públicos. Por meio da iniciativa, por exemplo, a doula Vitória Lourenço identificou que as grávidas que mais morriam na cidade eram moradoras da periferia, jovens, negras e com baixo nível de escolaridade. Sua pesquisa serviu de base para o projeto de ampliação das Casas de Parto, lei apresentada pela vereadora Marielle Franco – assassinada em março de 2018.

Internet das coisas

Integrante da incubadora da Coppe, na Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), a startup criada pelo engenheiro Sergio Rodrigues combina tecnologias como internet das coisas e inteligência artificial para ajudar a solucionar problemas das cidades. Em parceria com o Ministério do Planejamento, a empresa desenvolveu o projeto Sigelu Aedes com o objetivo de contribuir nas ações de enfrentamento do mosquito Aedes aegypti. “No primeiro ano do projeto, aumentamos de duas mil para 200 mil vistorias. Deste total, seis mil tiveram focos comprovados”, afirma Rodrigues em entrevista à revista Pequenas Empresas e Grandes Negócios.

A tecnologia também tem sido utilizada para combater o déficit habitacional das grandes cidades no mundo. Atualmente, os edifícios são pensados e construídos como no século passado, mas iniciativas como construções modulares e bairros integrados tecnologicamente estão se tornando cada vez mais comuns, conforme aponta artigo da consultoria CB Insights. Neste novo cenário em desenvolvimento, até empresas de tecnologia como Google e Facebook têm se mostrado presentes, conforme reportagem da revista Época Negócios. A primeira investiu entre US$ 25 milhões e US$ 30 milhões em 300 unidades habitacionais modulares no bairro de Moffett Field, na Califórnia, e iniciou em 2017 a construção de um empreendimento com cerca de 10 mil unidades. Já a segunda vai construir em seu campus 1.500 apartamentos planejados (além de estabelecimentos e parques) voltados para seus funcionários e também para o público.

Para além da dualidade vilã x heroína, devemos encarar a tecnologia como nossa aliada na construção de cidades mais eficientes para todos os seus moradores, facilitando o seu dia a dia e, principalmente, fortalecendo os laços em comunidade. Afinal, não podemos esquecer que não é a inteligência artificial que faz uma cidade, mas sim os seus habitantes.

Arquitetura como agente de transformação

O Projeto de revitalização do Mirante Nove de Julho é um ótimo exemplo de como a tecnologia pode tornar a cidade mais inteligente, com soluções simples e relativamente baratas. Após a reforma, o espaço é ocupado por um café, feiras e eventos, e como nos conta Mila Strauss, arquiteta e nossa professora do curso online de Arquitetura e Urbanismo, responsável junto com Marcos Paulo Caldeira, pela reforma e recuperação da primeira fase do Mirante:

“O Mirante Nove de Julho é um exemplo onde a internet funciona como um ator muito importante. No pavilhão que foi reformado, encontra-se internet disponível. Tem muita gente que passa o dia trabalhando lá, ou desce para consultar alguma coisa. E é assim que as empresas que estão lá conseguiram engajar muitas atividades: através da internet. Esses usos novos, que são as bases das cidades inteligentes (tecnologia e a sustentabilidade), vão ativar muito espaços que estavam ociosos, de uma forma democrática e dinâmica. E ficamos muito felizes (e animados!) em poder fazer parte disso”.

#escolasaopaulo #descubra #reinvente #viva

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MULHERES NO COMANDO

Em 2014, a executiva Paula Paschoal se descobriu grávida de repente. Hoje diretora-geral do PayPal no Brasil, na época ela atuava como diretora de Vendas e Desenvolvimento de Negócios (um cargo estratégico) e, como muitas mulheres, teve receio de que a companhia não reagisse bem ao anúncio da gravidez e que isso a prejudicasse na carreira. O chamado risco associado ao gênero. “Fiquei tensa, esperei um, dois meses. Quando cheguei no quarto mês (da gravidez), não dava mais. Eu precisava contar para meu chefe. E a resposta dele foi muito positiva. Ele disse que enxergava que eu estava indo fazer um MBA de graça, em 4 meses”, conta em entrevista ao portal IT Forum. “Voltei da licença e fui promovida. Tive certeza que estava numa empresa na qual a valorização da mulher e a importância de equilibrar vida pessoal e profissional eram levadas a sério”, acrescenta. 

Paula representa uma mudança (ainda tímida) no mercado de trabalho para as mulheres. Especialmente no segmento corporativo, elas estão sendo (finalmente) reconhecidas pelo seu trabalho e tratadas da mesma maneira que os homensA mudança é resultado direto de pressões realizadas pelas próprias profissionais e de estudos que mostram que a diversidade é algo bom e lucrativo para as companhias. Um estudo da consultoria McKinsey, divulgado neste ano, por exemplo, comprovou que ter mulheres em cargos de liderança aumenta em 21% a chance de uma empresa ter desempenho financeiro acima da média. Batizado de Delivering Through Diversity, o levantamento avaliou mais de mil empresas em 12 países. 

Foto: Paula Paschoal – Divulgação

Em contrapartida, as companhias com pouca diversidade no organograma executivo avaliadas apresentam probabilidade quase 30% menos de alcançar lucratividade acima da média. “Elas não apenas estavam fora da liderança como também se mostraram muito atrás”, analisa o comunicado oficial da pesquisa, conforme informa reportagem do Infomoney.

Apesar do avanço, o mercado de trabalho em geral ainda é bastante difícil para as mulheresNo estudo da McKinsey, até as empresas que se mostraram mais abertas à questão da diversidade no seu ambiente de trabalho possuem apenas 10% de mulheres ocupando cargos executivos. As companhias que não se pautam pela questão da diversidade têm apenas 1%. Um estudo da Organização Internacional do Trabalho (OIT), divulgado neste ano, mostrou que a participação das mulheresno mercado de trabalho no mundo ainda é menor que a dos homens. “Apesar dos avanços conquistados e dos compromissos assumidos para continuar progredindo, as perspectivas das mulheres no mundo do trabalho ainda estão longe de ser iguais às dos homens”, aponta a Diretora-Geral Adjunta de Políticas da OIT, Deborah Greenfield, em entrevista ao G1.A desigualdade salarial não prejudica apenas o desempenho das empresas, mas do mundo como um todo. Pesquisa do McKinsey Global Institute (MGI), realizada em 95 países, identificou que a economia global ganharia US$ 28 trilhões até 2025 se houvesse igualdade de gênero em todos os países. Só a América Latina teria um aumento de 10% no PIB. Segundo estimativas do Fórum Econômico Mundial, a igualdade de gêneros só será possível em 2095. Temos um longo caminho pela frente, mas iniciativas como a como a do PayPal, de respeito à diversidade e à mulher, nos dão esperanças que estamos avançando no rumo certo.  

O estudo International Business Report (IBR) – Women in Business, realizado pela Grant Thornton em 35 países, mostrou que 29% das empresas brasileiras atualmente têm mulheres em cargos de liderança. Além disso, revelou que 39% das companhias não possuem mulheres liderando equipes – em 2017, o índice era de 53%. “Os dados deste ano comprovam que as companhias estão desenvolvendo a mentalidade de querer que mais mulheres liderem. Para que os indicadores cresçam ainda mais, as companhias precisam recrutar e treinar os talentos que provavelmente já estão presentes em suas próprias organizações”, explica Madeleine Blankenstein, sócia da Grant Thornton. Vamos em frente.