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PRODUTOS E SERVIÇOS VOLTADOS PARA O FUTURO

Por Sabina Deweik, professora da Escola São Paulo dos cursos de

Cool Hunting” e “Os Novos Paradigmas do Futuro e as Tendências Emergentes

O que uma marca precisa para ser relevante? Como radiografar a realidade e direcionar a bússola que nos dá a rota para saber, por exemplo, como empreender, como falar com o consumidor em um mundo repleto de novos comportamentos e mudanças? Vivemos o tempo todo uma espécie de FOMO (sigla em inglês que quer dizer Fear of Missing Out), a crescente síndrome da contemporaneidade na qual estamos o tempo todo com a sensação de que não sabemos o que escolher porque parece que sempre estamos perdendo uma enormidade de oportunidades.

Como caçadora de tendências, estudando, observando e captando movimentos e comportamentos há mais de 18 anos, aprendi a olhar não apenas para os movimentos passageiros, mas também para aqueles que têm uma maior duração. Como Cool Hunter, acompanho os chamados “Trend Reports” (relatórios de tendências) e percebo que, na realidade, o que é apresentado como um novo movimento, muitas vezes é apenas a evolução de um comportamento manifestado de outra forma. As tendências podem causar o tal do FOMO. São tantos os novos comportamentos que uma empresa, uma marca, pode ficar perdida e não saber o que escolher para aplicar em seu negócio. Por isso, ao invés de falar apenas de tendências, olhamos para os chamados Paradigmas do Futuro, que já são a certeza de que um movimento pode durar 20 anos. É aí que sentimos o JOMO (Joy of Missing Out), que prega justamente a alegria de não escolher todas as opções.

Os Paradigmas são novas forças que direcionarão o mercado e a sociedade: são novos parâmetros culturais, comerciais, empreendedoriais que estão trazendo uma verdadeira mudança radical na construção do futuro. Eles representam as novas direções. São linhas guia para o desenvolvimento de todas estratégias e projetos de empresas, instituições e consumidores. Um paradigma é uma mudança no imaginário coletivo mundial, uma nova consciência global da qual marcas, instituições, organizações ou indivíduos não podem escapar. Diferente de uma macro tendência, os paradigmas têm um núcleo de estabilidade maior, portanto, têm uma duração no tempo também maior. Os paradigmas perduram por até 20 anos ao passo que as macro tendências tem uma vigência de 6/7 anos.

Os paradigmas apresentados abaixo representam as chaves de leitura para compreender as tendências e suas evoluções no tempo. É como uma moldura, um frame que enquadra múltiplos comportamentos que conversam com o mesmo impulso. Eles são fruto de mais de 20 anos de observação e monitoramento de comportamentos em diferentes setores (são baseados em minha experiência com o renomado instituto de pesquisa de tendências e consultoria estratégica Future Concept Lab, com sede em Milão).

O conhecimento dos paradigmas nos dá a possibilidade de entendimento de inúmeros comportamentos. Sendo assim, para um único paradigma, podem existir inúmeras tendências coexistindo. Como afirma Francesco Morace no livro “O que é o Futuro?”, os paradigmas não são apenas dimensões descritivas e analíticas, mas sim dimensões conceituais e geradoras por meio das quais é possível imaginar projetos e produtos voltados para o futuro.

Então vamos comigo conhecer essas 4 forças que trazem clareza e foco: Crucial & Sustainable, Trust & Sharing, Quick & Deep, Unique & Universal.

Crucial & Sustainable

Esse paradigma diz respeito ao tema da sustentabilidade que está moldando o futuro do nosso planeta e de todos os consumidores do mundo.

O paradigma Crucial & Sustentável é expresso por meio da:

  • vontade e da necessidade de uma nova ética em torno da sustentabilidade
  • capacidade de devolver e oferecer recursos “fundamentais” por meio de valores que tem relevância;
  • necessidade de nutrir comportamentos e modos de pensar que possam minimizar o impacto negativo no ecossistema;
  • sensibilidade rumo a uma mudança ligada a recuperação da consciência coletiva (que não é mais somente de elite) relacionada com o meio ambiente como prioridade;
  • noção de que ser sustentável não é apenas um pensamento ecológico mas também social;
  • combinação entre ética e estética. A nova sustentabilidade é criativa, inovadora e gera desejo.

O Crucial & Sustainable é “Voltar às origens, protegendo ao longo do tempo tudo aquilo que nos circunda: nosso patrimônio econômico, ambiental e, ao mesmo tempo, também social e cultural. Redescobrir a importância dos recursos essenciais, que demonstram ter um papel decisivo em nossas vidas.”, diz Francesco Morace no livro “O que é o futuro?”

Dica:

Se uma empresa quer se manter relevante nos próximos 20 anos, ela precisa refletir em como sua marca pode pensar no coletivo maior. Essa era de transição é definida pela busca dos sentidos e do propósito. “As marcas podem ser disruptivas mas também com um impacto social. Se uma marca pensa e age na era industrial, ela está em um tempo diferente do que vive o seu consumidor”.

Um exemplo é a Tesla que faz carros elétricos com custo baixo e está mudando a mobilidade urbana e impactando o planeta positivamente. O erro está em ver o negócio como uma fábrica gigante de produzir produtos ao invés de cuidar de sistemas humanos reais.

Quick & Deep

Esse paradigma diz respeito a qualidade do futuro que estará cada vez mais em sintonia com a ideia de respeito pelas pessoas normais, pelos consumidores, em busca de experiências felizes, sem perseguir a quimera do luxo. A capacidade de ser rápido, oportuno e acessível deverá ser conciliada com a ideia de felicidade e profundidade de experiência.

O Paradigma Rápido & Profundo enfatiza:

  • a demanda por produtos e serviços simples e eficazes;
  • a capacidade de satisfazer as demandas de uma forma precisa, direta, eficaz e, sobretudo rápida;
  • a necessidade de visar o cumprimento do pedido do cliente que tem sempre menos tempo e mais conhecimento;
  • o desejo de receber de forma rápida e fácil, objetos a qualquer hora do dia ou da noite;
  • a felicidade por meio da fruição e do imediatismo de uso;
  • criar atalhos, acessibilidade e estar onde seu cliente está, entendendo que o tempo hoje é o maior luxo que temos;
  • a noção de que preço e valor são coisas diferentes. Nem sempre, aquilo que tem um preço alto tem um valor alto para o consumidor. Hoje, há experiências acessíveis de grande intensidade para o consumidor.

Segundo o sociólogo Francesco Morace, “é este o paradigma ligado à qualidade do cotidiano, no qual emergem com força os temas da felicidade e da oportunidade”.

Dica:

Acessibilidade com qualidade. O futuro pede pelo cruzamento destas duas dimensões. Um bom exemplo é a o serviço Rent The Runway, que recentemente anunciou uma parceria com o varejista de itens para casa West Welm. A partir da ideia de que a casa costumava ser um lugar privado, mas agora é um lugar público, ou seja os interiores são hoje flexíveis e instagramáveis, é possível combinar qualidade e rapidez. A parceria responde às mudanças de comportamento dos Millennials, que usam produtos de interiores para ter controle criativo sobre espaços alugados. Já que os Millennials e a Geração Z estão constantemente postando fotos de si mesmos em suas casas no Instagram, há uma necessidade de mudança dos interiores sem um custo alto. O serviço atende essa necessidade Quick & Deep.

Aqui vale uma observação sobre instagramável. Em nosso curso online de Arquitetura e Urbanismo, Mila Strauss e Marcos Paulo Caldeira explicam mais sobre esse conceito e mostram como os arquitetos estão incluindo em seus projetos o conceito de instagramável.

Trust & Sharing

O futuro é caracterizado por uma relação muito mais próxima e de confiança, não só com a marca, mas também com toda a empresa em seu complexo orgânico. As grandes empresas terão um novo papel de liderança e responsabilidade social e cultural muito além de seu produto. O compartilhamento irá encontrar a sua importância entre o real e o virtual e a explosão de novas tecnologias e a acelerada afirmação das redes sociais têm papel relevante na transparência da mensagem.

O Paradigma Trust & Sharing reforça a necessidade futura de:

  • renovar a lealdade e o compartilhamento;
  • atingir uma convergência entre o consumidor e a empresa;
  • gerar uma cadeia de valor que é baseada na integração entre o fabricante e o consumidor;
  • confiar uns nos outros;
  • compartilhar sensações e impressões;
  • desenhar o mais alto grau de felicidade à partir da experiência mais comum de produto e serviço;
  • sentir-se, como fabricante e como consumidor, no mesmo barco chamado Marca;
  • assumir a confiança como um pilar do compartilhamento seja no território real, seja no território virtual.

O paradigma Trust & Sharing, segundo Francesco Morace no livro “O que é o Futuro?”, “redefine uma cadeia de valor que toma forma atravessando todos os setores da sociedade e do mercado: a reciprocidade das relações repropõe uma economia das “não equivalências”, regenerando uma relação baseada na lealdade e no compartilhamento entre as pessoas, instituições, empresas e consumidores”.

Dica:

Com a possibilidade de compartilharmos cada vez maior, torna-se essencial o item confiança e transparência. A Yellow é um ótimo exemplo de Trust & Sharing — os patinetes compartilhados que tomaram conta das ciclovias, calçadas e ruas em uma grande parte das capitais brasileiras. O serviço vai crescer ainda mais: a Uber, por exemplo, pretende chegar ao mercado brasileiro com bicicletas e patinetes ainda neste ano. O modelo é apostar na confiança. Os patinetes ficam soltos nas ruas e o usuário desbloqueia seu uso pelo app. A localização é compartilhada no aplicativo para saber onde está o veículo. Depois que você usa, outra pessoa pode utilizar o patinete. Um modelo cada vez mais crescente de pensar os negócios desafiando o antigo sistema do fazer individual e da propriedade privada.

Unique & Universal

Esse paradigma diz respeito a capacidade de produzir e comunicar uma identidade única e distinta, inclusiva e não exclusiva, fundada na dimensão cultural de sua história, de sua identidade. Em um mundo global, torna-se essencial negócios ou pessoas que assumem seu caráter único, sua personalidade, sua maneira única de ser e se expressar no mundo seja como marca ou como ser humano. A diversidade constitui a condição do sucesso dos negócios no futuro.

Por meio do paradigma Único & Universal:

  • a antinomia entre o local e o global será deixada permanentemente para trás;
  • será reconhecido o valor dos produtos únicos e locais;
  • produtos locais serão transformados em opções globais;
  • o caráter distintivo das origens e dos processos será comunicado de modo mais transparente;
  • as mídias sociais serão usadas a fim de criar novas lógicas de distribuição e de comunicação, dando aos produtos locais uma melhor oportunidade de se afirmarem no mercado global;
  • customizado, personalizado, distinto passam a ser conceitos relevantes.

“As empresas e os profissionais que desejem conjugar o paradigma Unique & Universal deverão compreender que a demanda, cada vez mais universal, será suprimida no futuro por ofertas cada vez mais exclusivas”, nos diz Francesco Morace em “O que é o Futuro?”.

Dica

O caráter único é o que diferencia. A diversidade não é momentânea, não é tema de nicho, ela permite a inclusão de quem ficou a parte durante muito tempo. É o ponto de partida para ficarmos mais perto das pessoas e do consumidor. Um exemplo é o reposicionamento da Mattel, fabricante da famosa boneca Barbie, que nos anos 80 refletia um modelo de consumo aspiracional, com uma única boneca magra, alta, loira. Trazendo o novo paradigma, a Mattel trabalha hoje com uma gama de bonecas com diferentes biotipos para se comunicar com essa nova geração.

Saiba mais!

Para se aprofundar nesse universo de pesquisas e análises de tendências, Sabina Deweik desenvolveu com a Escola São Paulo o curso online “Os Novos Paradigmas do Futuro e as Tendências Emergentes”, onde conta mais sobre cada um dos paradigmas citados acima e relaciona cada um deles com tendências emergentes!

#escolasaopaulo #descubra #reinvente #viva

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UM PLANO DE TRANSFORMAÇÃO

Ajudar meninas da periferia de São Paulo a tornarem reais os seus planos de vida. Este é o principal objetivo do Plano de Menina, projeto social criado pela consultoria Plano Feminino (especializada em estratégias de marketing voltadas para mulheres) da jornalista Viviane Duarte.

A iniciativa é realizada em bairros como Capão Redondo, Grajaú, Pirituba e Brasilândia e tem como público-alvo meninas de 13 a 18 anos. Durante o período de um ano, elas têm aulas de autoestima, autoconhecimento, liderança, empreendedorismo, finanças, vida digital, planejamento de carreira e teatro com profissionais voluntárias.

Em entrevista à revista TPM, Viviane conta que muitas das garotas participantes eram o que ela define como “nem-nem” (nem trabalha nem estuda), tinham baixa autoestima e nenhum plano para o futuro. “Muitas crescem num ambiente tóxico, que faz com que elas pensem não ter direito a nada. São pais, tios ou vizinhos que falam: ‘não adianta sonhar, isso não é pra gente’. Só que toda menina tem direito a ter um plano. Ter uma meta é o primeiro passo para que elas se tornem protagonistas de suas histórias”, afirma.

Não à toa, um dos exercícios propostos às meninas é um teste do espelho no qual elas contam para si mesmas, olhando para o próprio reflexo, o que desejam para o futuro. “A maioria não tem essa coragem de falar, de se encarar, porque elas foram tão invalidadas… Umas não querem nem olhar no espelho. “Queremos fazer essa menina olhar no espelho e acreditar em quem ela é para poder provocar essa mudança”, explica em reportagem do jornal HuffpostBrasil.

Para contribuir neste processo de empoderamento das garotas, o projeto conta com o apoio de mentoras conceituadas, como Eliane Dias, empresária do grupo Racionais MC’s, Camila Costa, CEO da ID, agência de marketing digital, e a ex-consulesa da França Alexandra Loras. “Na minha trajetória, já fui chamada de burra e de macaca por causa da minha cor. Mas também tive apoio de pessoas que acreditaram em mim e me ajudaram a desafiar a ideia de que uma negra da periferia não poderia entrar numa escola de elite como a Sciences Po, o Instituto de Estudos Políticos de Paris, onde boa parte dos presidentes da França estudaram. Eu consegui e virei a melhor aluna da turma. Hoje quero ajudar outras meninas da periferia a realizarem seus sonhos”, conta Alexandra, que também é embaixadora da iniciativa.

PROTAGONISTA DA PRÓPRIA HISTÓRIA

O Plano de Menina nasceu de uma necessidade de Viviane de promover alguma ação que contribuísse com a sociedade e que a reconectasse com as suas origens. Assim como as garotas do projeto, ela também cresceu na periferia paulistana, mas ao contrário de muitas delas teve a sorte de contar com uma mãe e uma avó que sempre a fizeram a acreditar que ela era alguém com valor e capaz de tornar os seus sonhos realidade. “Minha mãe sempre fez a gente estudar e deixou claro que isso faria a gente chegar mais longe. Sempre disse que a mulher tinha que pagar suas próprias contas. Do jeito simples dela, ela sempre me disse que eu tinha que ser protagonista da minha história”, relembra em entrevista ao site Projeto Draft.

Desde 2016, ano em que foi criado, o projeto já contou com a participação de 400 garotas. A próxima etapa é estendê-lo para as mães das meninas e também para os garotos dos bairros. “Percebemos que as meninas empoderadas começaram a achar os meninos chatos e vamos criar um ruído aí. Nosso foco são as meninas, mas precisamos falar com eles também, trabalhar o respeito, a admiração, o papel como homem. A gente está fazendo isso porque queremos um futuro melhor para elas”, explica Viviane.