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Como podemos começar a (re)desenhar nosso futuro

O que a pandemia do coronavírus pode nos dizer sobre a maneira como temos conduzido os negócios?

Por Eloisa Artuso*

*Designer, diretora educacional do Fashion Revolution Brasil e nossa professora de Design Sustentável. Com um trabalho fundamentado no espaço onde sustentabilidade, cultura e educação se fundem com o design, se dedica a projetos que incentivam profundas transformações na indústria da moda. Siga @eloartuso

Vivemos em uma emergência climática, enquanto a indústria da moda é considerada uma das maiores poluidoras do mundo, além de responsável por uma exploração crescente de trabalhadores em sua cadeia de fornecimento. No entanto, marcas e varejistas ainda não estão assumindo responsabilidade suficiente pelos salários e condições de trabalho em suas fábricas e fornecedores, pelos impactos ambientais dos materiais e processos que utilizam ou por como seus produtos afetam a saúde das pessoas, animais e planeta.

Junto a isso, em meio à crise trazida pela propagação global da covid-19, gostaria de trazer uma reflexão: o que a pandemia do coronavírus pode nos dizer sobre a maneira como temos conduzido os negócios?

Primeiro, precisamos reconhecer que a ideia de desenvolvimento e progresso que conhecemos está nos conduzindo para um fim cada vez mais crítico, insustentável e talvez irreversível. Continuar vivendo na crença de crescimento infinito em um planeta finito é uma ilusão trazida por um sistema econômico centrado no homem, que desconsidera completamente a natureza e nossa intrínseca relação de vida com ela. A natureza não é nossa, não podemos fazer com ela o que quisermos, ela é a nossa casa e nós somos ela.

Recentemente, a diretora executiva do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente declarou que a humanidade estava pressionando demais o mundo natural, com consequências nocivas, e alertou que não cuidar do planeta significa não cuidar de nós mesmos e que o coronavírus é um “claro tiro de advertência”. A destruição dos sistemas naturais tem que acabar agora.

Empowerment to help others. Making masks for those in need. Image created by Guilherme Santiago. Submitted for United Nations Global Call Out To Creatives – help stop the spread of COVID-19

Está na hora de ser melhor do que o de costume, nossos modelos de produção e consumo, assim com as diretrizes políticas e econômicas imperantes, não são nem de perto o suficiente para lidar com uma pandemia ou com a crise climática que bate a nossa porta. Definitivamente, precisamos mudar.

Neste momento, estou em quarentena, recebendo uma enxurrada de informações e atualizações constantes, 24 horas por dia, assim como você, sobre a pandemia global, suas vítimas e suas desastrosas consequências. As notícias giram em torno, basicamente, de duas grandes esferas, a ciência da saúde e a ciência econômica, que por sua vez, parecem ter se tornado dois polos em combate.

Em meio a contradições, guiadas por líderes governamentais claramente perdidos mediante à crise e muitas vezes completamente irresponsáveis em suas tomadas de decisões como, por exemplo, as ações negligentes do nosso governo federal, que colocam toda a população brasileira em alto risco ao tratar com descaso as orientações impostas pela OMS (Organização Mundial da Saúde) e pelo próprio Ministério da Saúde.

No entanto, o sistema econômico que se defende aqui, ainda se baseia em um modelo de produção e consumo que surgiu das condições e da mentalidade do século XIX, portanto, completamente incapaz de resolver os desafios que enfrentamos hoje. Schumacher, um influente economista do Reino Unido defendia, já no início da década de 70, uma “economia como se as pessoas importassem”, ou seja, uma economia que coloca as pessoas e a natureza acima do lucro. Esse é o pensamento econômico que o mundo (ainda que tardiamente) precisa agora.

Todos os sinais já foram dados, não nos cabe mais adiar essa mudança de paradigma, precisamos de novas e mais avançadas economias, que façam jus à realidade em que vivemos, que sejam adequadas a 2020 e sustentáveis. Economias aptas a dar suporte e respeitar a capacidade regenerativa do sistema natural e garantir uma vida digna e o bem-estar das pessoas. Precisamos de um sistema resiliente, inclusivo, igualitário, equitativo e sustentável, baseado na abundância – e não na escassez dos recursos naturais – que gere valor para as pessoas e para o planeta.

Ao mesmo tempo, sabemos que crises como a causada pelo coronavírus e a climática afetam muito mais profundamente as populações vulneráveis. A prevenção do coronavírus, assim como a proteção contra catástrofes do clima, é um luxo para grande parte das pessoas no Brasil e no mundo, muitas das quais não têm sequer acesso à água limpa, a um sistema de saúde eficaz ou a condições dignas de trabalho, estudo e moradia. Assim como a maioria das pessoas na cadeia de fornecimento global da moda é vulnerável e carece, por exemplo, de licença saúde, assistência médica adequada ou qualquer tipo de estrutura que as permite enfrentar situações drásticas como essas.


Mas a natureza tem seu tempo e está no mostrando que ele é agora. Ao final da crise do coronavírus, os governos certamente tentarão reaquecer suas economias fomentando a volta das produções em grande escala e incentivando as pessoas a consumirem em maiores proporções, o que aumentará muito (entre outros problemas) as emissões de carbono, a exploração do trabalho e dos recursos naturais ao redor do mundo. Tudo isso implicará ainda no retrocesso de acordos tramitando entre os países e da luta contra a catástrofe climática iminente, se não agirmos antes. Nesse sentido, o coronavírus também poderá piorar uma situação que já está bastante complicada.

O que o mundo, e a indústria da moda, precisam hoje é de uma mudança real e sistêmica. Uma mudança capaz de acabar com a exploração das pessoas e do planeta. Este ano, uma das mensagens-chave do Fashion Revolution é a promoção das ações coletivas e está claro que, mais do que nunca, devemos unir forças, porque juntos somos mais barulhentos, mais poderosos e temos muito mais chances de provocar transformações quando trabalhamos em colaboração.

Share kindness. Image created by João Pedro Costa. Submitted for United Nations Global Call Out To Creatives – help stop the spread of COVID-19.

Qual futuro você quer alcançar?

Desde que o movimento começou, em 2013, usamos nossa voz coletiva para reunir comunidades, oferecer apoio, compartilhar conhecimento e pensar criativamente sobre soluções para situações desafiadoras, pois nossa missão é mudar radicalmente a maneira como a moda é pensada, produzida e consumida. Lutamos por uma indústria da moda que conserva e restaura o meio ambiente e valoriza as pessoas acima do crescimento e do lucro. Então, agora queremos pedir para que você traga seu ativismo para casa e transforme suas ações diárias: conserte, doe, revenda, aprenda um trabalho manual, visite seu guarda-roupa: observe as etiquetas, analise os detalhes das peças, pesquise as marcas.

Ajude a proteger sua economia local: compre de empresas próximas, especialmente as pequenas; compre cartões-presente e pague antecipadamente por serviços futuros; apoie pessoas cujas atividades e eventos tenham sido cancelados por meio de compras e assinaturas online; doe dinheiro a uma causa ou organização que assista grupos vulneráveis, essas são as dicas de Donnie Maclurcan, diretor executivo do Post Growth Institute.

Ele ainda recomenda, caso você tenha um negócio: implemente o trabalho remoto (quando possível); garanta licença saúde paga, horários flexíveis, bônus antecipados e os empregos pelos próximos meses e, se preciso, reduza a proporção salarial de cima para baixo; rejeite o racismo e tenha paciência extra com ineficiências. Isso dará às pessoas segurança e uma melhor capacidade de lidar com as demandas do trabalho e da família.

Podemos usar esse momento para fazer um balanço e permitir que o presente nos torne mais bem preparados e comprometidos com um futuro sustentável. Vamos criar juntos o mundo que queremos após a crise. Acompanhe nossas redes @fash_rev_brasil e faça parte da revolução!

*Texto originalmente publicado no Blog do Fashion Revolution

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A CIDADE É VOCÊ!

Hoje em dia, mais de 50% da população mundial vive em áreas urbanas. Segundo especialistas, até 2050 esse número deve alcançar 70%. Tal cenário cria uma série de problemas (trânsito, alto custo de vida, estresse, degradação do meio ambiente) e coloca em debate o futuro das nossas cidades. A razão de tantas pessoas decidirem viver nos grandes centros urbanos está ligada à nossa ancestralidade: somos seres sociais e é em grupo que gostamos de viverE, de acordo com estudiosos do assunto, é justamente o trabalho coletivo, e principalmente o envolvimento individual, que transformará as nossas cidades em lugares melhores para se viver. “Se você quer uma cidade melhor, envolva-se. A cidade é você. Aprenda sobre as melhores políticas públicas. Engaje-se na sua vizinhança. Seja sensível, mas seja ativo”, afirma Edward Glaeser, professor de Economia da Universidade Harvard, em entrevista para a revista Época Negócios.  

Edward Glaeser – Foto: Divulgação

Autor do livro O Triunfo da Cidadeconsiderado o mais completo e atualizado estudo sobre o futuro das cidades, Glaeser  também é criador do curso on-line CitiesX: The PastPresent and Future of Urban LifeO treinamento, disponível gratuitamente nas plataformas edX e Arq.Futuromescla economia, sociologia, artes e até música para falar sobre o que constitui uma cidade, tanto nos aspectos positivos, quanto nos negativos. Nele, o professor explora os principais conceitos de desenvolvimento urbano examinando cidades do mundo todo, incluindo Londres, Rio de Janeiro, Nova York, Xangai, Mumbai e Kigali, e aborda de que maneira centros urbanos como a antiga Roma resultaram da consolidação do poder imperial e cidades como São Paulo cresceram como importantes focos de indústria. Cada disciplina traz algo que contribui com o entendimento sobre as cidades. Eu sou um economista, mas também quero entender como o Rio de Janeiro ajudou a tornar um Tom Jobim tão grande. E isso requer conhecimento sobre música. Eu quero entender como as favelas funcionam e isso requer conhecimento em sociologia. As cidades são incríveis e nós precisamos nos valer de diferentes tipos de conhecimentos para entendê-las”, explica. 

Glaeser voltou ao Brasil em 2017 especialmente para preparar e gravar algumas das aulas, entrevistando diversos interlocutores nas cidades de São Paulo e do Rio de Janeiro e conhecendo locais emblemáticos do processo de urbanização brasileiro, como a comunidade do Vidigal, no Rio de Janeiro. Sobre as favelas, por exemplo, ele coloca que elas podem ser vistas por diferentes óticas: por um lado, como uma expressão da autossuficiência e engenhosidade da população pobre, que vem paraas cidades em busca de melhores condições de vida e produz moradia barata para si. Por outro lado, a ausência de um Estado de Direito no local.  CitiesX também mergulha em questões urgentes de planejamento social e urbano, como saúde pública, transporte, zoneamento, custo de vida, crime e congestionamento e gentrificação, um tema bastante presente em São Paulo nos últimos anos. Para o professor, a melhor maneira de combater o aumento no preço dos imóveis e construir mais moradia. “A oferta é o caminho certo para tornar cidades baratas. Além disso, construir mais em áreas ricas diminui a pressão pela gentrificação em áreas pobres. Com relação a uma comunidade perder sua essência, isso envolve necessariamente ação de seus moradores. Não necessariamente se posicionando contra novos moradores, mas celebrando e mantendo a tradição viva. Centros comunitários, grupos comunitários e trocas culturais intensas, são as ferramentas para manter uma área viva”, analisa.  O docente afirma também que as novas tecnologias sozinhas não conseguem resolver os problemas das cidades: é preciso implementar políticas públicas e cita como um bom exemplo as cidades de Cingapura e BostonNa visão de Glaeser, o trânsito, a violência e a falta de planejamento são os principais problemas e desafios da capital paulista. “São Paulo seria uma cidade melhor se fosse mais vertical e os distritos comerciais não fossem apenas comerciais – mas misturassem espaços residenciais. A chave é eliminar as regulamentações que impedem a construção mais alta em locais onde esta é a solução mais valiosa”, avalia. 

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PAULO MENDES DA ROCHA É TEMA DE DOCUMENTÁRIO

Criador de obras importantes como o Museu Brasileiro da Escultura (Mube) e o Museu da Língua Portuguesa e o arquiteto brasileiro mais premiado da história, Paulo Mendes da Rocha é tema do documentário Tudo é Projeto, que deverá chegar aos cinemas no segundo semestre de 2018. Produzido pela Olé Produções, o filme apresenta uma conversa franca e descontraída entre Mendes da Rocha e sua filha, Joana Mendes da Rocha (que divide a direção do filme com Patrícia Robano), sobre sua vida e, principalmente, sua emblemática obra.

Natural de Vitória, Espírito Santo, Paulo Archias Mendes da Rocha formou-se na Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Presbiteriana Mackenzie de São Paulo, em 1954, e desenvolveu uma prestigiada carreira acadêmica, a partir da década de 1960, na Universidade de São Paulo (USP) – na qual se aposentou em 1999. Conhecido como “arquiteto-cidadão”, é um dos mais renomados arquitetos modernistas brasileiros e criou obras que se tornaram referência em arquitetura brutalista no mundo. É também um dos principais representantes da chamada Escola Paulista, que defendia uma arquitetura crua, limpa, clara e socialmente responsável.

Premiado com o Pritzker (considerado o Nobel da arquitetura e a maior honraria para os profissionais da área), em 2006, já dividiu o troféu norte-americano Gordon Bunshaft com Oscar Niemeyer (1907-2012), em 1988, e, ao longo de 2016, foi reconhecido em três importantes premiações internacionais: o Leão de Ouro da Bienal de Arquitetura de Veneza, o Prêmio Imperial do Japão e o Royal Gold Medal, do Institute British of Architects (Riba).

Neste ano, foi laureado com a Medalha de Mérito Cultural, um condecoração concedida pelo Ministério da Cultura do governo de Portugal a indivíduos ou grupos, nacionais e estrangeiros, pela dedicação a atividades de impacto cultural – ele foi o segundo arquiteto a receber o prêmio (o primeiro foi Álvaro Siza Vieira, em 2009). Além disso, inspirou uma exposição no Mube, em São Paulo, que buscou traçar um paralelo entre a arte e o seu trabalho.

Aos 88 anos, Paulo Mendes da Rocha segue em plena atividade. Um de seus últimos trabalhos foi a museografia do Museu Nacional dos Coches, em Lisboa, que abriga a maior coleção de carruagens do mundo.

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60 HORAS DE COPAN

Símbolo de arquitetura moderna e modelo de convivência urbana, Copan é tema de documentário

Considerado por especialistas como exemplo de arquitetura moderna e convivência coletiva nos grandes centros urbanos, o edifício Copan é o personagem central do documentário Copan 60 Horas. Produzido pelo canal GloboNews, com roteiro e direção da jornalista Cristina Aragão, a obra se propõe a mostrar como a arquitetura interfere na vida dos habitantes.

A ideia do projeto surgiu a partir de uma entrevista do premiado arquiteto e urbanista Paulo Mendes da Rocha à jornalista no programa Milênio. Na ocasião, ele apontou o edifício como símbolo da democracia do convívio em ambientes urbanos e da utopia social defendida pelo seu criador, Oscar Niemeyer.

Projetado na década de 1950, no centro da capital paulista, o Copan é composto por seis blocos, 35 andares, 1.160 apartamentos e mais de cinco mil habitantes, de diferentes idades, perfis e classes sociais. Para captar o cotidiano e a essência do edifício, Cristina Aragão alugou uma quitinete no 14º andar do bloco , o mais popular dos seis blocos, e permaneceu no local por 60 horas – ou dois dias e meio – com sua equipe percorrendo corredores, galerias e entrevistando moradores.

“O Copan tem uma representação simbólica muito grande. É um estilo de vida em que as pessoas acreditam que o convívio com o outro, o diferente, é possível.

As galerias do térreo permitem que o público e o privado convivam. Há uma integração entre os moradores e as pessoas de fora.” Destacou Cristina Aragão em entrevista à Folha de São Paulo

“As motivações pelas quais as pessoas escolhem morar no Copan são das mais variadas. Umas, pela vista privilegiada da cidade, outras, pela localização central, mas um ponto em comum é a arquitetura. O crise-soleil – espécie de marquise que diminui a incidência do Sol nos apartamentos, mas mantém a entrada da luz -, exerce um fascínio unânime”, completa.

Como resultado, além de informações sobre aspectos técnicos e históricos e as razões que motivam as pessoas a escolherem o prédio como moradia, o documentário conseguiu registrar curiosidades, como as sessões de meditação realizadas às seis da manhã no heliponto do edifício e um apartamento que serve de moradia temporária para alunos e professores de arquitetura de todo o país.

“É uma possibilidade de não ter limites. Eu não tenho limites visuais, meu pensamento vai aonde eu quiser” – Pedro Herz, editor, morador do Copan.

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5 EXEMPLOS DE OCUPAÇÃO DE ESPAÇOS URBANOS QUE VOCÊ PRECISA CONHECER

A ocupação dos espaços públicos em São Paulo é uma das grandes inspirações do multi-artista Felipe Morozini e também uma de suas maiores bandeiras enquanto cidadão. Morador do centro da cidade há mais de 15 anos, ele é reconhecido pelas diversas intervenções artísticas que já realizou na região chamando a atenção da população e do pode público para o tema. “As pessoas entenderam que a cidade é a extensão da casa delas e isso é um movimento mundial dos grandes centros urbanos. Para viver, você precisa ir pra rua”, afirma.

Presidente da Associação Amigos do Parque Minhocão, que batalha para que o local se transforme oficialmente em um espaço de lazer para a população,ele defende que a cidade é uma grande experiência, um grande laboratório social que só faz sentido quando tem pessoas envolvidas. “Ao contrário de outros locais do mundo, como Nova York, por exemplo, aqui em São Paulo é a população que está direcionando o caminho que a cidade vai ter. E isso é um acontecimento incrível”, reflete.

Para exemplificar esse atual momento paulistano, Morozini elencou os cinco locais que, na opinião dele, representam essa onda que tem transformado a cara dacidade e a forma dos cidadãos se relacionarem com ela. Confira a lista:

PARQUE MINHOCÃO

As pessoas ocuparam um lugar seco, sem sombra, sem segurança — mas elas estão lá. Há o fator de se criar um diálogo com a cidade em que se mora. As pessoas gostam de estar ali, elas se sentem como parte da cidade. O uso dele pelas pessoas ressignificou o lugar e fez as autoridades competentes olharem para lá e pensar: “bom, o que faremos?”. Porque era uma estrutura só para carros, mas agora, 20 mil pessoas vêm passear aqui todos os domingos. Então em vez de fechar, vamos estruturar, dar segurança, iluminação. Hoje, quando eu penso no Parque Minhocão, eu estou falando da cidade.

LARGO DA BATATA

Exemplo prático de democracia, de cidadania e de concretização social e urbana. Em atividade desde 2014, o projeto A Batata Precisa de Você, formado por moradores e frequentadores do Largo da Batata, vem promovendo ações para transformar a região, hoje árida e apenas de passagem, em um espaço de convivência e lazer permanente. Em quase três anos, já foram realizados no local conversas sobre a memória do Largo, jogos de rua, oficinas de bicicleta, de jardinagem, de fotografia, saraus, intervenções artísticas e atrações musicais. Além disso, o espaço também se transformou em um laboratório metropolitano de mobiliário urbano. Recomendo passar uma tarde para testar as cadeiras de praia instaladas no local. Garanto que você terá uma outra perspectiva de cidade.

FLORESTA DE BOLSO DO BOSQUE DA BATATA

É um ótimo de exemplo de iniciativa que está sendo protagonizada pelos cidadãos para tentar recuperar um pouco da vegetação original da região de São Paulo, por meio do plantio deárvores nativas da Mata Atlântica. Desenvolvida pelo botânico Ricardo Cardim, a técnica da Floresta de Bolso é uma solução ambiental simples e eficaz para os grandes centros urbanos, porque combate ilhas de calor, umidifica e purifica o ar, preserva espécies vegetais nativas, resgata a biodiversidade local e fornece abrigo para polinizadores e pássaros.

PRAÇA ROOSEVELT

Construída na década de 1960, entre as ruas Consolação e Augusta, a praça Roosevelt foi, durante anos, um dos espaços mais negligenciados da cidade – que sempre priorizou carros e avenidas, e não espaços de convivência. Nos últimos anos, porém, foi redescoberta e retomada pela população e hoje é uma das principais áreas de lazer do centro, frequentada por um público diversificado que vai de idosos, moradores da região, aatores (dos teatros do entorno) e skatistas. É, pra mim, um exemplo do poder do povo em tomar posse da cidade em que vive.

PAULISTA ABERTA

O projeto é um ótimo exemplo dequando o poder público e a iniciativa privada conseguem intervir para que a ocupação dos espaços públicos se torne possível. Ver a paulista fechada para carros e aberta para pedestres, skatistas, ciclistas e manifestações musicais e artísticas diversas é, na minha opinião, um dos maiores acontecimentos da cidade e um dos momentos nos quais ela se torna mais viva.

Todos estes espaços não apenas representam um desejo claro da população por mais espaços de convivência, mas também comprovam a possibilidade de pensar e de viver a cidade de uma maneira diferente, mais coletiva, colaborativa e diversa.

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CINCO PRÉDIOS DE REFERÊNCIA ARQUITETÔNICA QUE VOCÊ PRECISA CONHECER EM SÃO PAULO

Reconhecida como a maior cidade do país e uma das grandes metrópoles do mundo, São Paulo tem na arquitetura (e também na não-arquitetura) uma de suas características mais marcantes, composta por estilos diversos que vão do Clássico ao Moderno e do Pós-moderno ao Contemporâneo. Para a arquiteta Manoela Beneti, a composição da cidade é muitas vezes caótica, mas possui pontos altos e muito expressivos em alguns exemplares arquitetônicos. Ela selecionou cinco prédios que, na opinião dela, exemplificam bem essa essência arquitetônica paulistana e valem a pena conhecer:

MASP

“Projetado por Lina Bo Bardi na década de 1950, o Museu de Arte de São Paulo é um marco da Arquitetura Moderna brasileira. Com 11 mil metros quadrados, a construção demandou tecnologia de grandes pontes para segurar os dois andares suspensos que compõem o prédio. Em seu grande vão livre de 74 metros – reconhecido como o maior da América Latina – se dá a mágica de sua arquitetura. É naquele grande vazio, ocupado por pessoas, sejam elas passantes, em atividades culturais, comerciais ou em manifestações populares, que acontece um verdadeiro respiro urbano e uma ponte visual com a Avenida Nove de Julho.”

SESC POMPEIA

“Também projetado por Lina Bo Bardi na década de 1970 e desde 2015 tombado pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) como Patrimônio Cultural, o espaço é palco para shows, exposições e outras atividades artísticas importantes. Entre suas grandes qualidades está o fato de ser um complexo requalificado. Originalmente um complexo fabril abandonado (terreno de uma antiga fábrica de tambores da década de 1930), a área foi revitalizada e ressignificada, algo fundamental sob o ponto de vista da sustentabilidade e da vitalidade do tecido urbano ao redor. A intervenção/projeto de Lina, considerada uma iniciativa de vanguarda na época e ainda hoje pouco replicada, promoveu uma transformação estupenda e criou um conjunto que é uma das principais referências de lazer e cultura da cidade. Ali podemos ver camadas históricas diferentes, bem como camadas de técnicas construtivas distintas e soluções pitorescas, como as incríveis “janelas-buraco” criadas pela arquiteta. Não à toa, o prédio foi eleito em 2016 pelo jornal britânico “The Guardian” como uma das dez melhores construções e estruturas em concreto do mundo.”

COPAN

“Um ícone de São Paulo, cujo desenho curvo se destaca das linhas retas do entorno e traz leveza à massa do centro, atraindo os olhares. Dos grandes exemplos de arquitetura moderna e de convivência coletiva, recebe e articula milhares de pessoas, ajudando muito no povoamento do Centro, que passa por processo de esvaziamento há algumas décadas, não só em São Paulo, como em outras cidades brasileiras – ou seja, é vital para o ecossistema da capital. Projetado na década de 1950 por Oscar Niemeyer, o Copan está registrado no Guinness Book como o maior prédio residencial do mundo e é a maior estrutura em concreto armado do Brasil. Composto por seis blocos, 35 andares, 1.160 apartamentos, conta com diversas lojas e galerias e mais de cinco mil habitantes, de diferentes idades, perfis e classes sociais. Visitá-lo é uma experiência de grande riqueza antropológica, arquitetônica e urbana.”

SESC 24 DE MAIO

“Projetado pelo arquiteto Paulo Mendes da Rocha e instalado no centro da cidade, no antigo prédio da rede Mesbla, o complexo arquitetônico tem 13 andares, um teatro no subsolo e uma piscina enorme, de 625 m², no terraço com vista panorâmica. Inaugurada em 2017, a obra é um importante símbolo do processo de revitalização do Centro vivenciado pela cidade nos últimos anos. Entre suas grandes qualidades está o sistema de circulações com rampas que, como diz o próprio Paulo Mendes da Rocha, funcionam como uma extensão da rua e promovem um ritmo de passeio por São Paulo. A iniciativa capta o fluxo de pedestres para dentro do prédio, de maneira generosa e convidativa, como a cidade e as pessoas tanto necessitam.”

MUBE

“Também concebido pelo arquiteto Paulo Mendes da Rocha e inaugurado em 1995, o prédio do Museu Brasileiro da Escultura possui uma característica fundamental para a arquitetura bem inserida na cidade. Seu desenho fala mais de espaço do que de prédio. Os espaços típicos de um museu estão abaixo do nível do piso da praça aberta, que é avistada da rua e realçada pelo grande pórtico composto por uma longa viga. Hoje, cercado por grades, o prédio originalmente foi concebido por esse grande arquiteto sem nenhum tipo de contenção e, com toda generosidade, oferecido para a cidade. Considerada um dos destaques da arquitetura brutalista mundial, a obra conta com um jardim idealizado por Burle Marx e recebe exposições, além de abrigar uma feira nos finais de semana.”

Visitar estes prédios é uma maneira interessante e leve de conhecer e entender melhor São Paulo, uma cidade de tantos contrastes e diversas camadas históricas. Viva essa experiência!