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Como podemos começar a (re)desenhar nosso futuro

O que a pandemia do coronavírus pode nos dizer sobre a maneira como temos conduzido os negócios?

Por Eloisa Artuso*

*Designer, diretora educacional do Fashion Revolution Brasil e nossa professora de Design Sustentável. Com um trabalho fundamentado no espaço onde sustentabilidade, cultura e educação se fundem com o design, se dedica a projetos que incentivam profundas transformações na indústria da moda. Siga @eloartuso

Vivemos em uma emergência climática, enquanto a indústria da moda é considerada uma das maiores poluidoras do mundo, além de responsável por uma exploração crescente de trabalhadores em sua cadeia de fornecimento. No entanto, marcas e varejistas ainda não estão assumindo responsabilidade suficiente pelos salários e condições de trabalho em suas fábricas e fornecedores, pelos impactos ambientais dos materiais e processos que utilizam ou por como seus produtos afetam a saúde das pessoas, animais e planeta.

Junto a isso, em meio à crise trazida pela propagação global da covid-19, gostaria de trazer uma reflexão: o que a pandemia do coronavírus pode nos dizer sobre a maneira como temos conduzido os negócios?

Primeiro, precisamos reconhecer que a ideia de desenvolvimento e progresso que conhecemos está nos conduzindo para um fim cada vez mais crítico, insustentável e talvez irreversível. Continuar vivendo na crença de crescimento infinito em um planeta finito é uma ilusão trazida por um sistema econômico centrado no homem, que desconsidera completamente a natureza e nossa intrínseca relação de vida com ela. A natureza não é nossa, não podemos fazer com ela o que quisermos, ela é a nossa casa e nós somos ela.

Recentemente, a diretora executiva do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente declarou que a humanidade estava pressionando demais o mundo natural, com consequências nocivas, e alertou que não cuidar do planeta significa não cuidar de nós mesmos e que o coronavírus é um “claro tiro de advertência”. A destruição dos sistemas naturais tem que acabar agora.

Empowerment to help others. Making masks for those in need. Image created by Guilherme Santiago. Submitted for United Nations Global Call Out To Creatives – help stop the spread of COVID-19

Está na hora de ser melhor do que o de costume, nossos modelos de produção e consumo, assim com as diretrizes políticas e econômicas imperantes, não são nem de perto o suficiente para lidar com uma pandemia ou com a crise climática que bate a nossa porta. Definitivamente, precisamos mudar.

Neste momento, estou em quarentena, recebendo uma enxurrada de informações e atualizações constantes, 24 horas por dia, assim como você, sobre a pandemia global, suas vítimas e suas desastrosas consequências. As notícias giram em torno, basicamente, de duas grandes esferas, a ciência da saúde e a ciência econômica, que por sua vez, parecem ter se tornado dois polos em combate.

Em meio a contradições, guiadas por líderes governamentais claramente perdidos mediante à crise e muitas vezes completamente irresponsáveis em suas tomadas de decisões como, por exemplo, as ações negligentes do nosso governo federal, que colocam toda a população brasileira em alto risco ao tratar com descaso as orientações impostas pela OMS (Organização Mundial da Saúde) e pelo próprio Ministério da Saúde.

No entanto, o sistema econômico que se defende aqui, ainda se baseia em um modelo de produção e consumo que surgiu das condições e da mentalidade do século XIX, portanto, completamente incapaz de resolver os desafios que enfrentamos hoje. Schumacher, um influente economista do Reino Unido defendia, já no início da década de 70, uma “economia como se as pessoas importassem”, ou seja, uma economia que coloca as pessoas e a natureza acima do lucro. Esse é o pensamento econômico que o mundo (ainda que tardiamente) precisa agora.

Todos os sinais já foram dados, não nos cabe mais adiar essa mudança de paradigma, precisamos de novas e mais avançadas economias, que façam jus à realidade em que vivemos, que sejam adequadas a 2020 e sustentáveis. Economias aptas a dar suporte e respeitar a capacidade regenerativa do sistema natural e garantir uma vida digna e o bem-estar das pessoas. Precisamos de um sistema resiliente, inclusivo, igualitário, equitativo e sustentável, baseado na abundância – e não na escassez dos recursos naturais – que gere valor para as pessoas e para o planeta.

Ao mesmo tempo, sabemos que crises como a causada pelo coronavírus e a climática afetam muito mais profundamente as populações vulneráveis. A prevenção do coronavírus, assim como a proteção contra catástrofes do clima, é um luxo para grande parte das pessoas no Brasil e no mundo, muitas das quais não têm sequer acesso à água limpa, a um sistema de saúde eficaz ou a condições dignas de trabalho, estudo e moradia. Assim como a maioria das pessoas na cadeia de fornecimento global da moda é vulnerável e carece, por exemplo, de licença saúde, assistência médica adequada ou qualquer tipo de estrutura que as permite enfrentar situações drásticas como essas.


Mas a natureza tem seu tempo e está no mostrando que ele é agora. Ao final da crise do coronavírus, os governos certamente tentarão reaquecer suas economias fomentando a volta das produções em grande escala e incentivando as pessoas a consumirem em maiores proporções, o que aumentará muito (entre outros problemas) as emissões de carbono, a exploração do trabalho e dos recursos naturais ao redor do mundo. Tudo isso implicará ainda no retrocesso de acordos tramitando entre os países e da luta contra a catástrofe climática iminente, se não agirmos antes. Nesse sentido, o coronavírus também poderá piorar uma situação que já está bastante complicada.

O que o mundo, e a indústria da moda, precisam hoje é de uma mudança real e sistêmica. Uma mudança capaz de acabar com a exploração das pessoas e do planeta. Este ano, uma das mensagens-chave do Fashion Revolution é a promoção das ações coletivas e está claro que, mais do que nunca, devemos unir forças, porque juntos somos mais barulhentos, mais poderosos e temos muito mais chances de provocar transformações quando trabalhamos em colaboração.

Share kindness. Image created by João Pedro Costa. Submitted for United Nations Global Call Out To Creatives – help stop the spread of COVID-19.

Qual futuro você quer alcançar?

Desde que o movimento começou, em 2013, usamos nossa voz coletiva para reunir comunidades, oferecer apoio, compartilhar conhecimento e pensar criativamente sobre soluções para situações desafiadoras, pois nossa missão é mudar radicalmente a maneira como a moda é pensada, produzida e consumida. Lutamos por uma indústria da moda que conserva e restaura o meio ambiente e valoriza as pessoas acima do crescimento e do lucro. Então, agora queremos pedir para que você traga seu ativismo para casa e transforme suas ações diárias: conserte, doe, revenda, aprenda um trabalho manual, visite seu guarda-roupa: observe as etiquetas, analise os detalhes das peças, pesquise as marcas.

Ajude a proteger sua economia local: compre de empresas próximas, especialmente as pequenas; compre cartões-presente e pague antecipadamente por serviços futuros; apoie pessoas cujas atividades e eventos tenham sido cancelados por meio de compras e assinaturas online; doe dinheiro a uma causa ou organização que assista grupos vulneráveis, essas são as dicas de Donnie Maclurcan, diretor executivo do Post Growth Institute.

Ele ainda recomenda, caso você tenha um negócio: implemente o trabalho remoto (quando possível); garanta licença saúde paga, horários flexíveis, bônus antecipados e os empregos pelos próximos meses e, se preciso, reduza a proporção salarial de cima para baixo; rejeite o racismo e tenha paciência extra com ineficiências. Isso dará às pessoas segurança e uma melhor capacidade de lidar com as demandas do trabalho e da família.

Podemos usar esse momento para fazer um balanço e permitir que o presente nos torne mais bem preparados e comprometidos com um futuro sustentável. Vamos criar juntos o mundo que queremos após a crise. Acompanhe nossas redes @fash_rev_brasil e faça parte da revolução!

*Texto originalmente publicado no Blog do Fashion Revolution

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MUNDO EM TRANSIÇÃO

Por Sabina Deweik, professora da Escola São Paulo dos cursos de “Cool Hunting” e “Os Novos Paradigmas do Futuro e as Tendências Emergentes” 

O mundo está vivendo um grande período de transição no qual antigos valores e estruturas já não dão mais conta do fluxo da vida. Nas famílias, nos indivíduos, na política, nas empresas e organizações, no significado do que é ter sucesso nos dias de hoje, tudo vêm sendo questionado e desconstruído. “Estamos em um estado de interregno, entre uma etapa em que tínhamos certezas e outra em que a velha forma de atuar já não funciona. Não sabemos o que vai substituir isso. As certezas foram abolidas”, diz o sociólogo Zygmunt Bauman. 

O QUE HERDAMOS 

Nós herdamos um modelo da Revolução Industrial. Um modelo que primou pelo individualismo, pela produção em massa, pelo avanço a qualquer custo do homem sobre a natureza. De lá para cá, a ideia de competitividade, resultado, foco e individualidade só se intensificou. Desde então, a relação das pessoas com o ato de consumir vem se intensificando exponencialmente bem como a ideia de que trabalhar e ser feliz são departamentos distintos. O homem chegou a acreditar no lema “você é o que você consome”. Status, ostentação visibilidade, marca, imagem, principalmente a partir da década de 80 passaram as ser valores vigentes. 

Diante de tais fatos, bem como a grande crise social, econômica e ambiental que vivemos, passando pelo problema dos refugiados, terrorismo, o aparecimento das chamadas doenças modernas como síndrome do pânico, ansiedade e distúrbios alimentares, às grandes mudanças climáticas advindas da poluição, destruição de habitats, superpopulação humana, sobre-exploração dos recursos naturais — o homem começa a se dar conta que algo está ruindo neste sistema. 

NOVA DIREÇÃO 

Alguns indícios apontam para essa nova direção. O empreendedorismo, por exemplo sofreu um boom nos últimos anos, a palavra startup se popularizou e o número de pessoas empreendendo por oportunidade é cada vez maior. ARevolução Digital que se iniciou com a popularização da internet, e as revoluções pós digitais que caracterizam o momento presente e os anos subsequentes começaram a modificar radicalmente não só nossa relação com as tecnologias, como também com trabalho, educação e até mesmo nossos valores mais intrínsecos. Podemos então prever transformações profundas em todos os sistemas que ancoram a economia e o mundo hoje. As redes sociais mudaram a forma como as pessoas protestam e a exigência de transparência. 

Por conta de novas gerações que nasceram na era digital, a educação como conhecemos hoje também está com os dias contados. O objetivo da educação não será ensinar coisas, porque as coisas já estão na internet, estão por todos os lugares, estão nos livros. A educação será um facilitador para ensinar a pensar e criar na criança essa curiosidade. Quanto ao modelo trabalho de 8 horas por dia dentro das empresas, este, também se tornará cada vez mais distante, dando lugar a novas dinâmicas de espaço e novas configurações de emprego.  

A LÓGICA É SE REINVENTAR 

Dentro dessa lógica, precisaremos nos reinventar todos os dias, reinventar nossas carreiras, e nossos modelos de negócio. O lucro, antes prioritariamente financeiro, passa a ser reavaliado por ângulos que ressignificam o conceito de sucesso. Alteram-se os critérios para o que seria uma pessoa ou um negócio bem-sucedido, colocando em pauta outras motivações compensatórias: realização de propósito, desenvolvimento pessoal, satisfação criativa. 

A diminuição do consumismo, a internet sendo utilizada para descentralizar o poder de empresas, governos e instituições, o movimento crescente de pessoas produzindo seus próprios bens ou comprando de pequenos produtores, a colaboração, o compartilhamento e o crescimento da indústria criativa são alguns dos paradigmas que tem sustentado a nova economia.  

Sem falar na emergência de uma nova consciência coletiva, desde o movimento biker, que faz crescer odesinteresse de um jovem por ter um carro, até a economia colaborativa com modelos de negócios como o Uber eAirbnb, além do crowdfunding, modelo que permite que ideias inovadoras sejam implementadas à partir de um financiamento coletivo ou até mesmo o surgimento de formas de trabalhar e viver coletivas como o co-working e o co-housing. 

Urge sabermos de onde vêm os alimentos que comemos, cresce o consumo de orgânicos, aparecem projetos de upcycling, na gastronomia fala-se de slow food, no consumo fala-se de lowsumerism (baixo consumo), o consumidor quer saber que o que consumimos respeita um ciclo sustentável e por isso cresce também o ato da compra como um ato social. É fundamental compreender os novos valores para entrar em sintonia com esse novo mundo 

OS MILLENIALS 

Vale dizer, que na década de 90, o advento da internet e das novas tecnologias impulsionou ainda mais a mudança comportamental. Nascia naquele momento uma nova geração, que presenciou de perto novidades do mundo digital nunca antes vistas até então. Nasciam os e-mails, as ferramentas de busca e, principalmente, a possibilidade de interação com outras pessoas sem sair de casa. Formava-se ali a chamada Geração Y, ou Millennials, uma geração mais autocentrada e egoísta, porém, de maneira antagônica, adepta por compartilhar informações pelas redes sociais. Rapidez, instantaneidade, flexibilidade e não linearidade de pensamento caracterizam este grupo, que passou a influenciar outras gerações com suas habilidades e sua vontade de trabalhar por projetos com propósito. Geração que está contestando o mundo corporativo e ressignificando o que é trabalho, família, sucesso, profissão, relações.  

O FUTURO DO TRABALHO 

Raymond Kurzweil, inventor, futurista e idealizador da Singularity University aponta que a evolução tecnológica acontece em um ritmo exponencial e uma vez que cada tecnologia serve de suporte para o desenvolvimento da próxima chegará o momento em que atravessaremos uma fronteira onde a velocidade do avanço tecnológico será maior do que a capacidade dos seres humanos de acompanhar a sua mudança.  

Estudos apontam que 40% das empresas não sobreviverão a Revolução Digital, o número de funcionários das empresas será cada vez menor e em 2030 existirá uma empresa para cada 10 pessoas. Vivemos um momento de transição e entender para onde o mundo está caminhando tornou-se premissa para continuar a caminhada. 

Na Escola São Paulo, ofereço um curso online chamado Os Novos Paradigmas do Futuro e as Tendências Emergentes, onde indico quais são esses movimentos que estão se efetivando ou ainda se efetivarão nas próximas décadas e como eles podem ser utilizados para que você trabalhe estrategicamente a sua criatividade de forma a colocá-la à serviço da inovação, o que, no mercado, é um diferencial competitivo. 

MINDFUL REVOLUTION 

Inicia-se uma nova revolução, batizada pela Revista Time como Mindful Revolution ou a revolução do auto-conhecimento. O ser humano começa a se voltar para a essência depois de muito tempo de exterioridade. Com a popularização de técnicas orientais milenares como yoga e meditação, a valorização do silêncio, a ideia de espiritualidade desassociada do esoterismo ou do misticismo, o digital detox e o fim da glamurização do workaholic, começamos a vislumbrar um futuro diferente. A mudança é radical. 

E você, como tem se conectado com essa transição? Quais são as mudanças necessárias para que encontre mais sentido na sua existência? Qual a verdadeira jóia da tua alma? 

#escolasaopaulo #descubra #reinvente #viva