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VIRADA SUSTENTÁVEL – DIA 2

Temos que ser resilientes, para poder nos transformar e pensar de forma mais holística e sistêmica. As cidades precisam estar preparadas, os seres humanos precisam se preparar para o que estamos causando ou para o que pode vir como consequência do que estamos causando.

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Mobilidade mais Humana

O objetivo do painel “Mobilidade mais Humana” foi despertar mais humanidade na mobilidade em nossas cidades, especificamente em São Paulo. Ouvimos muito sobre os problemas da mobilidade urbana relacionados aos modais de transporte, estruturas viárias e fluxo de veículos, tempo de locomoção, mas pouco discutimos sobre um elemento que está no centro dessa questão: o ser humano, com suas necessidades de deslocamento com mais qualidade de vida. Neste painel, Carolina Padilha, sócia do Carona a Pé, Cid Torquato, Secretário Municipal da Pessoa com Deficiência de São Paulo e Mauro Calliari, da ONG Cidadeapé discutiram o conceito humano da mobilidade.

A apresentação começou com um vídeo, onde Diogo Faro foi à procura dos bons exemplos de mobilidade em Lisboa – e não encontrou!! Mas foi um excelente exemplo do que enfrentamos também por aqui.

Carolina, ao apresentar o projeto “Carona a Pé”, um projeto que vem sendo implantado em escolas, conta que o projeto começou de uma inquietação ao perceber como cada aluno ia para sua escola, para cumprir a mesma carga horária, cada um dentro de sua própria bolha, seus carros. Como professora, sabe a importância de se andar a pé, e o quanto podemos aprender durante deslocamentos a pé e observar a cidade sob um outro ângulo. Quando temos uma cidade com crianças circulando, temos uma cidade em equilíbrio. Uma cidade pronta para abraçar crianças é uma cidade pronta para abraçar qualquer um, atende todos os outros setores. Além de resolver outros problemas como evasão escolar, obesidade, sedentarismo, isolamento social e o congestionamento nas entradas das escolas. Poupar a criança da cidade não é protegê-la, como muitos pensam. O projeto propõe sensibilizar e capacitar a comunidade escolar que mora próxima para percorrerem juntos o trajeto de ida e/ou de volta da escola em pequenos grupos, em um horário pré-estabelecido, seguindo uma rota determinada, construindo uma nova relação com a cidade onde vivem.

 “Calçada, calçada, calçada!”

Cid Torquato, cadeirante, inicia sua fala nos inquietando: “Não tenho deficiência, a cidade que me faz pensar assim”. Relaciona diversidade e sustentabilidade como conceitos interligados e fundamentais para os desafios humanos e ambientais. Contou como tem trabalhado junto à Prefeitura de São Paulo nesse olhar cuidadoso às calçadas, pois, além de uma questão estrutural, a situação em que elas se encontram hoje representa um problema de saúde pública, já que 100 mil acidentes são reportados anualmente, e custam por volta de 600 milhões de reais aos hospitais públicos.

Pensando nisso, a gestão Bruno Covas concebeu o Programa Municipal de Calçadas, que pretende investir R$ 400 milhões até o final de 2020, requalificando 1,5 milhão de metros quadrados de calçadas públicas e privadas prioritárias em todas as regiões da cidade. Cid, em sua fala, pede que os cidadãos usem o número 156 para relatar problemas, elogios e novas ideias, pois o trabalho deles se baseia muito no resultado dessas ligações. Ele conta parecer uma briga sem fim, mas garante que vive pelos corredores da prefeitura com um mantra, inspirado na pamonha: “Calçada, calçada, calçada!”.

Mauro Calliari aponta todos os lugares onde encontramos humanos nas cidades se locomovendo – nas ruas, nas calçadas, nos carros, nos ônibus, nos metrôs, nos helicópteros… mas “humano” é a maneira em que essas pessoas conseguem se locomover, o quanto elas conseguem se locomover e, principalmente, o que sobra para a cidade quando elas se locomovem, ou seja, nas escolhas do transporte, o que a cidade resulta disso. Nos entrega algumas sugestões e tentativas de traduzir o “humano”, como aproveitar que existe um novo paradigma no mundo, o da apropriação, onde as pessoas mudaram a maneira de ver as cidades, onde a cidade modernista, construída para o deslocamento de carros não é mais aquilo que nos satisfaz e passamos a nos apropriar de espaços públicos, criando novos espaços que eram mal aproveitados. Dentre outras, chamou a atenção para a tecnologia, e como ela deve ser acolhida – não podemos mais ir contra aplicativos de compartilhamento, bicicletas e patinetes, ônibus elétricos, temos que aprender rapidamente e montar políticas públicas em cima disso. Cidade não deveria ser um lugar de passagem, mas de permanência.

Cidades Resilientes

Espaços como o Mirante Nove de Julho, que foi recuperado e hoje tem um papel importante na região da Avenida Paulista, são a prova de que a arquitetura e o urbanismo são fundamentais para tornar as cidades mais seguras e ainda geram novos significados para espaços esquecidos. Para os arquitetos Mila Strauss e Marcos Paulo Caldeira, professores do curso de Arquitetura e Urbanismo da Escola São Paulo, é preciso otimizar os espaços urbanos através de uma arquitetura mais holística.

No painel “Soluções Sistêmicas para Cidades Resilientes, a jornalista Monica Picavea nos apresentou o movimento das Cidades em Transição, que foi criado pelo inglês Rob Hopkins com o objetivo de transformar as cidades em modelos sustentáveis, menos dependentes do petróleo, mais integradas à natureza e mais resistentes a crises externas, tanto econômicas como ecológicas. Percebeu que com o fim do petróleo barato, as pessoas não conseguiriam mais morar longe dos grandes centros urbanos, dificultaria o deslocamento dos alimentos, e que temos de pensar em uma vida que gaste menos energia. E só quem pode resolver esse problema é quem nos colocou nesse problema – a nossa sociedade! Segundo ela, precisamos parar de pensar em nosso CNPJ e passar a pensar em nosso CPF, pois é um movimento que deve ser feito por todos, unidos, em um momento de descoberta sobre o que viemos fazer no mundo afinal.

Eu reciclo, tu reciclas, ele…

Nós reciclamos, vós…

Eles não reciclam!

Gabriela Reis, gerente de marketing na eureciclo, empresa líder em logística reversa de embalagens pós consumo na América Latina, acredita que consumidor, empresas e governos precisam começar a atuar em conjunto para resolver a questão dos lixos espalhados em lixões, aterros sanitários e mares, problemas que estamos criando juntos há muito tempo. No Brasil, 90% do lixo é coletado, uma taxa que se equipara à países mais desenvolvidos, porém, apenas 3% dos resíduos recicláveis coletados são realmente destinados à reciclagem. Todos o restante é desperdiçado enquanto potencial de retorno ao ciclo produtivo. Diante desse cenário, o selo eureciclo surge para solucionar dois problemas: a destinação final das embalagens pós-consumo e a marginalização dos agentes da cadeia.

Aline Cavalcante, que trabalha em São Paulo com mobilidade urbana e o uso da bicicleta, buscou tratar a palavra resiliência, que acreditamos ser o ponto chave de todo o movimento sustentável que estamos passando. Cidades resilientes são cidades resistentes, capazes de suportar crises, colapsos, problemas naturais ou provocados pelo homem. Como construir cidades resistentes aos problemas que surgirão, já que vivemos em um país 85% urbano? Problemas que nós mesmos provocamos, como poluição das águas, do ar, resíduos, etc, frutos da nossa experiência como seres humanos na cidade. Sofremos efeitos na cidade que não estavam previstos e precisamos estar preparados para que não se tornem transtornos. Um desafio que só depende da gente. Criamos esse problema, temos que resolver. E podemos. Juntos.

#VireSuaCidade #escolasãopaulo #descubra #reinvente #viva

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POR UM CINEMA MAIS PLURAL

Quem faz os filmes que assistimos?

Integrante da chamada economia criativa (que movimenta em torno de US$ 8 trilhões por ano), o Cinema é uma plataforma que, em tese, deveria representar em suas narrativas a diversidade que a sociedade tanto tem discutido. No entanto, ao longo da história, não tem cumprido o seu papel. Um levantamento feito pela Universidade do Sul da Califórnia (USC) identificou que, em dez anos, de 1.100 filmes produzidos em Hollywood, apenas quatro tiveram diretoras negras. Das cem melhores obras do ano de 2017, 70% dos personagens eram brancos.

A pesquisa da USC também identificou que a cada 60 homens diretores de filmes de ação, há uma mulher na mesma função. Em entrevista ao Estadão, a pesquisadora Andrea Cotrim avalia que o perfil feminino do audiovisual estadunidense está submetido aos homens, sobretudo quando se trata de mulheres negras. “A questão da dominação da mulher negra no cinema ainda é um fetiche para boa parte de um público que a vê como atrevida, briguenta ou sensual. E a hipersensualização dessas atrizes está a serviço do imaginário masculino”, afirma ela, autora da tese O sensível (não) partilhado: a violência poética e política da (ir)representação do negro em Hollywood.

O cenário é classificado pela cientista social Stacy Smith como uma “epidemia da invisibilidade”. O termo é apresentado por ela em 2016 em um TED talk sobre como as mulheres são historicamente subrepresentadas nas produções de Hollywood. Fundadora e diretora da Annenberg Inclusion Initiative e responsável pela pesquisa da USC, ela também fala na palestra sobre a “inclusion rider”, cláusula que artistas podem pedir para ser incluída em seus contratos e que exige cotas de diversidade na composição de elenco e equipe da produção.

Na visão dela, a iniciativa é uma das ações que podem ser empregadas pela indústria para mudar a atual realidade. Ganhadora do Oscar de Melhor Atriz em 2018, a atriz Frances McDormand citou o termo em seu discurso e reforçou a importância da diversidade em sua declaração no Globo de Ouro, logo após ser premiada como Melhor Atriz. “Confie em mim, as mulheres nesta sala hoje à noite não estão aqui para a comida. Estamos aqui para o trabalho. Obrigada.”

Recentemente, o estúdio Warner anunciou que vai aplicar o “inclusion rider” em toda a extensão da empresa, incluindo as produções de HBO e Turner. O filme Just Mercy, com Michael B. Jordan no papel principal, já será rodado dentro desta proposta. Em evento da Television Critics Association (TCA), produtoras de séries televisivas de sucesso como American Horror Story, The Americans e Scandal pediram publicamente a adoção de cotas de gênero nas produções.

Cenário nacional

A falta de representatividade também é uma realidade nas produções audiovisuais brasileiras. Dos 142 longas-metragens lançados em 2016, 75,4% foram dirigidos por homens brancos, segundo dados de uma pesquisa da Comissão de Gênero e Diversidade da Agência Nacional de Cinema (Ancine) divulgada no início deste ano. Nenhuma destas produções foi dirigida ou teve como roteirista uma mulher negra. “Ter 0% de mulheres negras na direção ou no roteiro é assustador. É uma discriminação forte e palpável, porque existem diretoras e roteiristas negras, mas elas não estão sendo chamadas”, avalia Luana Rufino, superintendente de Análise de Mercado da Ancine e coordenadora da pesquisa, em entrevista ao El País.

O levantamento também analisou o elenco de 97 filmes que foram lançados em 2016 (827 atores e atrizes) e identificou que as mulheres aparecem em 40,6% (mesmo sendo a maioria da população brasileira – 51%) e os negros estão presentes em apenas 13,4% (apesar de representarem 54% da população). Em 42% dos filmes, não houve nenhum ator negro ou pardo. “Me surpreendeu o fato de o elenco principal ter tão pouca representação negra. Isso significa que a população brasileira não está se enxergando no audiovisual”, analisa Rufino na reportagem do El País.

Para mudar este cenário, a Ancine incluiu cotas para diretores negros e indígenas e para cineastas mulheres no edital do Concurso Produção para Cinema 2018. Do orçamento de R$ 100 milhões do edital, 35% ficou reservado para propostas com diretoras mulheres (incluindo transexuais e travestis) e pelo menos 10% para iniciativas de diretores negros e indígenas. Além da proposta do governo, há em curso outras iniciativas que buscam trazer mais diversidade para o nosso cinema, o segundo maior mercado consumidor da América Latina em receita, segundo dados do Ministério da Cultura (MinC).

Um exemplo é a Maria Produtora, empresa focada em criar conteúdo negro e feminino sobre a cultura nacional para cinema e TV. Um dos projetos em desenvolvimento é um longa-metragem sobre a escritora negra Carolina Maria de Jesus. “A gente tem muitas histórias negras que não foram contadas e passaram batidas nos livros didáticos. Elas têm que estar nas telas, até porque o racismo não atinge só os negros, mas também os brancos pelo apagamento cultural”, afirma a atriz Maria Gal, fundadora da iniciativa, em entrevista ao Estadão.

Segundo a Cool Hunter Sabina Deweik, o caráter único é o que diferencia. “A diversidade não é momentânea, não é tema de nicho, ela permite a inclusão de quem ficou a parte durante muito tempo. É o ponto de partida para ficarmos mais perto das pessoas e do consumidor.”

O cinema, assim como outros setores da economia criativa, deve se pautar na criação de obras que reflitam pluralidade cultural que há no mundo. Como diz Stacy Smith em seu TED talk, o público precisa e merece mais e se fizermos algo em prol disso, hoje garantiremos que a nova geração de espectadores assista na grande tela narrativas que nós não pudemos ver. Mais igualitárias, mais reais. Com um cinema plural, todos (mercado e público) saem ganhando.

#escolasaopaulo #descubra #reinvente #viva