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BJÖRK, YOUTUBE E A REALIDADE VIRTUAL

É lugar comum dizer que Björk é um dos ícones culturais mais importantes do século 20. Gostando ou não de suas músicas, as suas pesquisas artísticas, de linguagem, de experimentação e tecnologia não têm como passar desapercebidas. Com seu posicionamento de artista transmídia, ela desafiou e segue desbravando e desestruturando o status quo musical. Como lembra Ali Prando, em seu texto no site do MIS, “A artista, que se confessa fascinada com o uso da tecnologia, é aclamada pela crítica especializada por combinar diversos gêneros musicais, como música eletrônica, jazz, trip hop, folk e ethereal wave, mantendo-se eternamente inclassificável.”

Cultura Pop

Quando falamos de cultura pop, os valores éticos e estéticos contemporâneos aparecem de formas diferentes, mas são sempre muito importantes para que possamos entender onde estamos, e, talvez (por que não?), para onde vamos.

“Sempre acostumados a nos admirar com cada evolução musical e artística que Björk nos apresenta – que são, de fato, pequenas grandes revoluções –, não nos damos conta de que ela, na mesma medida em que nos traz todas essas novidades, também oferece uma questão ligeiramente perturbadora: para onde vai o futuro?”– *Zeca Camargo

*Trecho do texto produzido por Zeca Camargo para um folder especial que se transforma em um pôster, com textos também de Björk e Cleber Papa (diretor cultural do MIS).

A Exposição de Björk no Brasil

Björk Digital é um projeto de realidade virtual de Björk em colaboração com alguns dos maiores artistas visuais do mundo, como Andrew Thomas Huang e Jesse Kanda. A exposição-instalação traz ao Brasil seis trabalhos da artista, extraídos de seu penúltimo álbum, Vulnicura**, lançado em 2015: Stonemilker, Black Lake, Mouth Mantra, Quicksand, Family e Notget. Além dos seis vídeos, Björk Digital apresenta o projeto educativo Biophilia e uma sala de cinema onde o público confere diversos clipes da carreira da artista feitos por gênios do videoclipe como Michel Gondry e Spike Jonze. A mostra, que estreou em Sydney (Austrália) em 2016 e já rodou o mundo, passando por Tóquio, Barcelona, Cidade do México, Londres, entre outras cidades, foi apresentada pela primeira vez no Brasil em São Paulo, onde esteve até 18 de agosto, e agora segue para o Rio de Janeiro, Belo Horizonte e Brasília.

Segundo a própria artista escreve no programa da exposição: “[…] pareceu natural invadir o circo particular que é a realidade virtual com um material como este: Vulnicura é o primeiro álbum meu que insistiu para que as músicas seguissem uma ordem cronológica. Depois que elas foram escritas, ficou claro que eu involuntariamente tinha esbarrado na narrativa de uma tragédia grega. A realidade virtual não é apenas uma continuidade natural do videoclipe, mas tem um potencial dramatúrgico ainda mais íntimo, ideal para esta jornada emocional”.

Quando Raimo Benedetti, artista e pesquisador, professor do curso “O Pré-Cinema e o YouTube”, conta sobre os Panoramas, começa nos dizendo que essas imensas estruturas são uma mídia morta, mas que a vontade de viver uma narrativa imersiva ainda é forte no imaginário das pessoas. E então, somos levados a entender como as sensações provocadas pela imersão da realidade virtual ou da realidade aumentada seguem confundindo nossos horizontes e percepções.

Imagens que pulam aos nossos olhos, nos envolvem e nos fazem sentir transportados para outro lugar. Assim eram os Panoramas, imagens gigantescas, que envolviam e deixaram boquiabertas as pessoas no final do século XIX. Hoje, a realidade virtual faz conosco a mesma coisa. Ficamos muitas vezes perdidos em um “labirinto confuso”, às vezes enjoados, mas sempre admirados.

Assim como nossos antepassados desbravadores e experimentadores, Björk testa, experimenta, propõe. A mostra é dividida em seis áreas compostas por realidade virtual e elementos audiovisuais imersivos que demandam a interação dos visitantes. Em muitos momentos, a tecnologia ainda deixa a desejar, como no caso do peso dos óculos, que depois de um tempo começam a incomodar.

björk: stonemilker (360 degree virtual reality)

Na primeira parte da exposição, cada grupo de visitantes entra em salas com bancos e óculos de realidade virtual para assistir sentados aos clipes. O primeiro deles é Stonemilker (em português, “Alguém que tira leite de pedra”), que a artista fez meses antes de sua separação, com apenas uma paisagem de praia e a atuação de Björk se movendo entre as cenas. Existe uma versão em 360º disponível no YouTube, mas a sensação gerada pela realidade virtual é mais intensa e bem interessante.

björk: black lake

O segundo vídeo vai na mesma frequência apresentando o clipe de Black Lake, filmado em locação na Islândia pelo premiado diretor Andrew Thomas Huang. O filme, que estreou em 2015, tem dez minutos de duração e foi encomendado pelo Museu de Arte Moderna de Nova York em. O clipe, feito meses após a separação da cantora, é muito melancólico, refletindo ideias de dor, perecimento e renascimento.

Em uma terceira sala, dois vídeos são rodados na sequência. O primeiro é o clipe da música “Quicksand”, dirigido por Warren Du Preez & Nick Thornton Jones, uma viagem psicodélica, cheia de cores e poesia.

bjork: mouth mantra

O segundo clipe, “Mouth Mantra”, é uma viagem surreal dentro (literalmente) da boca da cantora, que Björk fez quando precisou de uma cirurgia na garganta, e foi dirigido por Jesse Kanda. Fazendo um paralelo com o Cinema das atrações, não existe aqui uma narrativa. As imagens em si não são lineares, mas imersivas e provocadoras de sensações.

bjork: family

A experiência interativa segue para uma sala com mais dois vídeos em sequência, agora de pé. Para “Family”, o visitante é equipado com controles remotos que, com os óculos de RV se transformam em mãos. Apertando os botões, os controles tremem e seus braços virtuais passam a se mover e serem rodeados por fios que saem de uma grande vulva.

bjork: notget

Em seguida entra “Notget”, dirigido por Warren Du Preez & Nick Thornton Jones, uma Björk gigante dança rodeada de luzes e chega a atravessar seu corpo.

No MIS, em São Paulo, o segundo andar da exposição foi dividido em duas salas: Biophilia e Cinema. A primeira trazia uma área educativa baseada no álbum Biophilia (2011), com tablets permitindo a composição de músicas e a exploração da relação entre o mundo natural e a tecnologia. A segunda sala apresentava dezenas de clipes da carreira da artista remasterizados em alta definição, como Armyof Me (Michel Gondry), It’s Oh So Quiet (Spike Jonze) eAll Is Full of Love (Chris Cunningham), incluindo o seu videoclipe mais recente Tabula Rasa (Tobias Gremmler).

**Vulnicura videos – LISTA

Imagem de destaque retirada do site oficial da exposição Björk Digital no MIS
Créditos: Avatar Family VR | Imagem: Andrew Thomas Huang

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NEGÓCIOS COM PROPÓSITO PODEM AUMENTAR A LUCRATIVIDADE

Quando o lucro é aliado a um propósito

Você já ouviu falar em negócios sociais? O termo foi cunhado na década de 1970 pelo economista Muhammad Yunus. Ganhador do Prêmio Nobel da Paz, em 2006, ele é o fundador do Yunus Social Business Global Initiatives, um fundo de investimento sem fins lucrativos que transforma doações filantrópicas em investimentos em negócios sociais. A iniciativa tem uma unidade brasileira, a Yunus Negócios Sociais Brasil.

Desde a década de 1990, os negócios sociais foram ganhando cada vez mais adeptos no mundo, sobretudo nos EUA e na Europa. Segundo estimativa do banco de investimento JPMorgan Chase, os negócios sociais devem movimentar US$ 1 trilhão no mundo todo até 2020 – R$ 50 bilhões somente no Brasil. “Negócios sociais são empresas que têm como foco principal servir a base da pirâmide. O impacto social é o foco central do trabalho, mas, para isto, elas utilizam mecanismos de mercado, como a venda de produtos. Pode ser uma empresa que visa o lucro, no entanto, que tenha como sua atividade principal resolver um problema social”, explica Renato Kiyama, Gerente da Aceleradora de Impacto da Artemisia, em entrevista à Exame. A Artemisia é uma organização sem fins lucrativos, pioneira na disseminação e no fomento de negócios de impacto social no Brasil, que já acelerou mais de 100 negócios e já ofereceu capacitação para outros 300.

Negócios que tendem a crescer cada vez mais

A startup de compras on-line Welight é um exemplo. Criado em 2016, o negócio é um misto de empresa social e ONG e atua em três ferramentas: site, aplicativo e plug-in. Ao fazer uma compra pelo site ou pelo aplicativo da startup em uma das mil lojas parceiras da iniciativa, a Welight repassa entre 0,5% e 15% do valor do produto adquirido. Parte deste dinheiro vai para um dos 30 projetos sociais listados pelo site dedicados a questões de gênero, educação, combate à fome, meio ambiente, entre outras. A Welight fica com cerca de 10% do total arrecadado com as comissões para se manter. Todo o processo é auditável e fica disponível para os clientes. “Todas as relações de consumo podem ser uma geração de impacto social escalável. A ideia é globalizar a operação, já que desafios humanitários e ambientais existem em todos os lugares”, explica Pedro Paulo Lins e Silva, um dos criadores da iniciativa, em entrevista ao Draft.

Oportunidades não faltam

Outra iniciativa bastante interessante é a da Signa, que é atualmente uma das principais referências de educação online para surdos. Criada há dois anos, a startup oferece mais de 20 cursos, já atendeu mais de 1.300 alunos e tem um faturamento mensal de R$ 40 mil. A próxima etapa da empresa é abrir espaço para que os próprios alunos criem novos cursos (uma maneira da startup aumentar o portfólio de cursos e oferecer aos estudantes uma nova fonte de renda) e expandir a proposta para outros países. “O empreendedorismo é a resposta para melhorar a sociedade”, afirma Randall Kempner, diretor executivo da Aspen Network of Development Entrepreneurs (Ande), rede global de apoio a negócios de impacto social.

A iniciativa conta com 280 integrantes em todo o mundo e auxilia empreendedores em 150 países emergentes. Em entrevista à revista Pequenas Empresas e Grandes Negócios, ele explica que o Brasil ainda está descobrindo o potencial dos negócios sociais. Um estudo realizado pela Ande, em 2016, conseguiu identificar apenas 29 investidores de impacto locais, com US$ 177 milhões para investir, a maioria na região Sudeste. Ainda assim, ele espera que o levantamento deste ano irá apresentar um crescimento no número de adeptos ao modelo. “Eu gostaria que as grandes companhias percebessem que investir em negócios sociais pode ser uma grande oportunidade. Você tem a possibilidade de lucrar e causar impacto social nas áreas em que atua. Então, vá atrás disso, explore diferentes caminhos.”

Como criar novos modelos de negócios para o design no Brasil e pensar outras economias?

A FIA {oficina de artesãs} nasceu da vontade de repensar os laços entre mercado, artesãos, designers e consumidores.

Refletindo sobre formatos de comercialização tradicionais e em como minimizar os custos em toda a cadeia do artesanato para que o artesão pudesse ser mais valorizado, o projeto foi idealizado a partir de conversas durante oficinas ministradas na Casa da Economia Solidária pela designer Celina Hissa, diretora da marca Catarina Mina, para artesãs de Sobral (Ceará). 

Ao final das oficinas, com uma mini coleção criada e peças-piloto prontas para serem reproduzidas, veio à tona o principal desafio: como fazer com que aquelas peças, tão bonitas, feitas com tanto carinho e vontade chegassem até o consumidor final? E mais: como fazer com que as pessoas que se dedicaram ao artesanato – e que reinventaram seus processos – pudessem se sentir encorajadas, confiantes e seguras, inclusive financeiramente, com aquilo que produziram?

Juntas, Celina Hissa, Silvana Parente, do IADH, e Lívia Salomoni, especialista em marketing e comunicação, decidiram entrar no Catarse, mas de uma forma diferente. Por meio do financiamento coletivo, conseguiram 222 apoiadores e, em um mês, fizeram uma pré-venda de quase R$ 40.000,00. Assim foi dado o start financeiro para a primeira coleção. Hoje, a Fia tem uma pop-up no site da Catarina Mina, marca da designer Celina Hissa, que, em conjunto com a oficina de artesãs, criou coleções para marcas como a Neon e já fecharam parceria com a OppaDesign.

Segundo Eloisa Artuso, professora do curso online de Design Sustentável da Escola São Paulo, “O futuro da moda e do design precisam refletir a nova consciência de uma era em que designers e consumidores estão verdadeiramente preocupados com a pegada ecológica e social dos produtos. Precisamos finalmente entender que as coisas devem ser vistas a partir de outra perspectiva: onde ‘ser’ é mais importante do que ‘ter’. As mentes criativas podem combinar inovação e sustentabilidade para transformar comportamentos culturais e levar o consumo a um patamar de melhor qualidade para então conseguirmos fechar a equação de um planeta finito.”

#escolasaopaulo #descubra #reinvente #viva

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CULTURA TAMBÉM É NEGÓCIO

Em 2017, a exposição Queermuseu: Cartografias da Diferença na Arte Brasileira se transformou em assunto nacional ao ser retirada às pressas do Centro Cultural Santander, em Porto Alegre, em resposta a fortes críticas de grupos conservadores que viram nas obras apologia a pedofilia e zoofilia. Os contrários à mostra também chamavam atenção para o fato dela ter recebido R$ 800 mil via Lei Rouanet, um dinheiro, segundo eles, mau empregado.

Composta por 223 obras da década de 1950 até a atualidade de mais 80 artistas (como Lygia Clark, Leonilson e Adriana Varejão), a mostra buscava refletir sobre como o que é considerado estranho e fora do padrão da sociedade pode contribuir com a arte. “Para tratar do impacto cultural conceitual, artístico e histórico da palavra queer, trago obras que não são queer. Que são formalistas, que não têm nenhuma relação com questões de gênero e sexualidade”, afirmou o curador Gaudêncio Fidelis, em entrevista ao UOL. “Tanto que a narrativa difamatória em torno da exposição foi criada a partir de cinco obras, não mais do que isso”, acrescentou.

Mesmo com a recomendação do Ministério Público do Rio Grande do Sul, que concluiu que a exposição não fazia nenhuma apologia à pedofilia, a exposição foi encerrada pelo banco quase um mês antes da data prevista, o que gerou uma carta aberta de artistas e profissionais de arte que se queixavam do “aumento do ódio, da intolerância e da violência contra a liberdade de expressão nas artes e na educação.”

Em resposta ao fechamento, mais de 1.600 se organizaram pela internet e fizeram um dos maiores financiamentos coletivos já realizados no país. A iniciativa arrecadou mais de R$ 1 milhão que foram utilizados para remontar a exposição no espaço expositivo da Escola de Artes Visuais do Parque Lage, no Rio de Janeiro (parte do valor foi aplicado em melhorias no próprio Parque). Realizada entre os meses de agosto e setembro de 2018, a mostra recebeu 40 mil visitantes. A iniciativa colocou em debate a possibilidade do crowdfunding ser uma saída para artistas e instituições viabilizarem, com o apoio do público, projetos culturais, especialmente aqueles que não conseguem patrocínio da iniciativa privada.

A realização de projetos culturais no país acontece, na maioria das vezes, por meio do apoio de empresa através da Lei de Incentivo à Cultura, mais conhecida como Lei Rouanet. Em vigor desde 1991, a lei oferece abatimento fiscal em troca do investimento privado em projetos culturais. Atualmente, representa 80% da verba investida em cultura pelo governo e funciona com base em três vertentes: o mecenato, o Fundo Nacional de Cultura (FNC) e os Fundos de Investimento Artístico (Ficarts). No entanto, o mecanismo mais aplicado é o de mecenato. O FNC, em tese, tem a função de oferecer suporte a projetos menos atraentes para o mercado, mas, por depender principalmente da verba do governo, não tem obtido bons resultados – em 2015, por exemplo, representou pouco mais de 2%, conforme aponta reportagem do Nexo sobre os acertos e erros da Lei Rouanet.

O financiamento coletivo para cultura no país já funciona de maneira eficaz com publicações de livros, pequenas exposições e produções de música, teatro e cinema, mas ainda é pouco empregado nas artes plásticas. Em países como os EUA, a maior parte do dinheiro que financia a cultura vem de pessoas físicas. O Lincoln Center, em Nova York, por exemplo, tem mais de 70% dos investimentos feitos por pessoas físicas. Os interessados podem doar de US$ 50 a US$ 30 mil. “Instituições e eventos de arte que possuem o potencial de atrair uma grande quantidade de público ou que defendem causas específicas devem estar atentos a essas oportunidades”, pontua o curador Daniel Rangel em artigo publicado na Folha de S.Paulo. “Quem sabe um dia teremos uma Bienal de São Paulo financiada inteiramente pelas pessoas. Ou a programação de um Masp, por exemplo. Isso liberaria a verba das empresas para projetos com menos apelo de marketing, propiciando maior democratização dos recursos”, acrescenta. Iniciativas de promoção à cultura são sempre bem-vindas.

É importante pontuar que a proposta é um incentivo a mais a um dos setores mais aquecidos do país atualmente: o da economia criativa. De acordo com dados do Ministério da Cultura (MinC), divulgados no primeiro semestre de 2018, as atividades culturais e criativas representam 2,6% do PIB nacional, geram um milhão de empregos diretos e englobam 200 mil empresas e instituições, o que representa mais de 10,5 bilhões em impostos diretos e tem crescimento médio anual de 9,1%. O Brasil é o segundo maior mercado de cinema da América Latina em receita e o maior em vídeo on demand, TV Paga, games (deve dobrar em receita até 2021) e música. Mais que um dos principais ativos do país, a cultura é o canal por meio do qual cada pessoa tem a oportunidade de desenvolver o senso crítico e, por consequência, se tornar um melhor profissional e um cidadão mais consciente do seu papel no mundo.

Na Escola São Paulo, acreditamos que a economia criativa é um agente de transformação e que, por meio dela, podemos, juntos, repensar futuros possíveis. Estamos todos conectados, e todas as nossas ações profissionais e pessoais, afetam não só nossa carreira, mas o mundo como um todo.

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PERIFERIA EMPREENDEDORA

Em 2012, inspirado pelo livro O banqueiro dos pobres, do economista Muhammad Yunus (criador do termo Negócios Sociais), o jovem Thiago Vinícius criou o Banco Comunitário União Sampaio, no Capão Redondo, bairro onde mora na periferia de São Paulo. O capital de giro inicial foi de R$ 20 mil, captados via crowdfunding. A iniciativa funciona com duas carteiras, uma produtiva e outra para consumo. A primeira opera em reais, com juros de até 2%, e segunda com o Sampaio, moeda criada pela instituição, sem juros, que é aceita por diversos estabelecimentos da zona sul paulistana. Desde sua criação, o banco já movimentou mais de R$ 1 milhão.

Presidente da Associação das Mulheres de Paraisópolis, na zona sul paulistana, Elizandra Cerqueira criou o Bistrô & Café Mãos de Marias, iniciativa que, desde 2017, oferece cursos de capacitação e empreendedorismo para mulheres do bairro. Além disso, mantém uma horta orgânica de onde as cozinheiras tiram os ingredientes para fazer os pratos vendidos no espaço (o cardápio é composto por iguarias da culinária nacional, como virado à paulista, feijoada, bobó de camarão e moqueca de peixe, entre outros). O Bistrô tem o objetivo de apoiar as mulheres de Paraisópolis – atualmente, elas representam 53% da população local e chefiam 20% das famílias do bairro.

Thiago e Elizandra integram o grupo de quase 18 milhões de empreendedores das classes C, D e E que movimentam mais de R$ 228 bilhões por ano no país, segundo o Instituto Locomotiva e o Data Favela. Segundo levantamento da consultoria Data Popular, na última década, os negócios movimentados entre os 12,5 milhões de moradores de favelas geraram R$ 68,5 bilhões de renda anual. Um mercado cada vez mais forte e diverso que tem impactado diretamente os índices econômicos nacionais. “A periferia é a base da economia solidária”, afirma Thiago, em entrevista à revista Pequenas Empresas & Grandes Negócios.

Apesar dos números expressivos, os empreendedores da periferia ainda sofrem preconceito do mercado e têm dificuldade para encontrar investidores que os auxiliem a colocar os seus projetos em prática. “Muitos acreditam que quem mora nas periferias não tem muito conhecimento. Não levam muita fé no nosso trabalho”, afirma Elizandra, em entrevista à Pequenas Empresas & Grandes Negócios.

Mesmo diante destes entraves, é cada vez maior o número de iniciativas em curso com o objetivo de auxiliar projetos empreendedores das periferias das grandes cidades brasileiras. A Artemisia é uma delas. Dentre os projetos já apoiados pela aceleradora de negócios de impacto social está a boutique Krioula, criada no Capão Redondo, em São Paulo, que vende turbantes, colares, anéis e brincos inspirados na cultura afro. “Queremos focar o nosso trabalho cada vez mais nas regiões periféricas porque potenciais não faltam”, afirma Priscila Martins, gerente de relacionamento institucional da Artemisia, em entrevista à revista Época Negócios.

O Fundo de Aceleração para o Desenvolvimento Vela (FA.VELA), de Belo Horizonte, Minas Gerais, é outro espaço que vem auxiliando empreendedores da periferia. Em entrevista ao jornal Brasil Econômico, o presidente e cofundador da iniciativa, João Souza afirma que, somente em fevereiro de 2017, 48 negócios foram gerados para garantir o crescimento e a sustentabilidade das iniciativas lideradas pelos 35 empreendedores periféricos. Atualmente, já foram acelerados 122 negócios e formados mais de 130 empreendedores. De acordo com o Fundo, 42% atuam na área de serviços, 40,3% em fabricação de alimentos/artesanato e 17,7% na área comercial. “A gente tenta fortalecer este perfil empreendedor do morador de periferia democratizando o acesso a conhecimentos e a ferramentas que o ajudam a modelar melhor esse negócio, esse projeto que ele quer tocar e pensar a médio e longo prazos”, explica Tatiana Silva, diretora de projetos do FA.VELA, em entrevista à TV Globo de Minas Gerais.

Retratar como moradores da periferia de São Paulo estão transformando a realidade de suas comunidades com iniciativas inovadoras em áreas como gastronomia, comunicação e moda é o principal objetivo do documentário Visionários da Quebrada. “Acreditamos nas mudanças estruturais vindas das margens, nos saberes das periferias e na potência das pessoas engajadas na construção de suas comunidades. É um convite para atravessarmos as pontes que já estão construídas”, explica, explica Ana Carolina, idealizadora e diretora do filme.

Em visita ao Brasil em 2019, Barack Obama causou furor e comoção, falando sobre diversidade de direitos e oportunidades.

“Se houver apenas homens que pensam da mesma forma, as lideranças acabam perdendo informações”, e aqui acrescentaríamos: se não ampliarmos nossos olhares estaremos todos perdendo grandes profissionais, empreendedores, criativos, desenvolvedores, desbravadores dessa nova economia que está nascendo.

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BERGMAN, O CINEASTA DAS ANGÚSTIAS EXISTENCIAIS

“Eu quero que o público sinta os meus filmes. Isso é muito mais importante para mim do que compreendê-los.” Era dessa maneira que o diretor Ingmar Bergman encarava a sua produção cinematográfica, uma das mais importantes do século XX. Considerado uma das principais referências do drama existêncial no cinema mundial, o realizador sueco, que completaria 100 anos em 2018, criou filmes que discutem temas como repressão sexual, moral religiosa, relacionamentos em crise, autoritarismo nas relações familiares, solidão e o sentido da vida. Parece atual, não? 

Nascido em Uppsala, um dos principais centros religiosos da Suécia, Bergman era filho de um pastor luterano, Erik Bergman, a quem o diretor descrevia como um “monstro frio” amável na igreja, mas extremamente rígido em casa. Ele os dois irmãos cresceram em um ambiente familiar bastante rigoroso e conservador. “A maior parte de nossa educação era baseada em conceitos como pecado, confissão, castigo, perdão e misericórdia, fatores concretos nas relações entre pais e filhos e com Deus”, escreveu o cineasta na autobiografia Lanterna Mágica. Os tormentos da infância foram revisitados por Bergman no filme autobiográfico Fanny e Alexander, de 1982, vencedor do Oscar de melhor filme estrangeiro, fotografia e direção de arte e a produção estrangeira com maior número de Oscars da história, ao lado de O Tigre o Dragão, do diretor Ang Lee. 

A lanterna mágica da autobiografia faz referência a um cinematógrafo que o irmão mais velho dele ganhou de presente de Natal e pelo qual Bergman trocou sua coleção de soldadinhos de chumbo. É também considerado por ele o momento em que teve início o seu interesse pela sétima arte – isso e as sessões de cinema em que ia com a avó (sem o pai saber) na mesma época. No quarto, sozinho, o diretor posicionava o cinematógrafo, projetava sobre a parede imagens de diversos objetos e ali criava suas primeiras narrativas. “Sempre que desejo posso trazer de volta o cheiro do metal aquecido, os odores do remédio contra traças e da poeira do guarda-roupa, sinto a manivela na minha mão, o tremor do retângulo na parede”, declarou certa vez.  

Sua estreia no cinema acontece em 1944 como roteirista do filme A Tortura do Desejo. A carreira como diretor começa em 1947 com Um Barco para a Índia. Dez anos depois, ele alcança sucesso mundial com os filmes O Sétimo Selo (épico ambientado no período da Peste Negra no qual foi criado um dos planos mais memoráveis do cinema em que um cavaleiro medieval, interpretado por Max Von Sydow, joga xadrez com a morte) e Morangos Silvestres, um drama estrelado por Victor Sjöström, considerado o pai do cinema sueco. Não à toa, o documentário Bergman – 100 Anos, da cineasta Jane Magnusson, lançado em 2018, tem como foco o ano de 1957.  

Ao longo de mais de 60 anos de carreira, Bergman criou filmes que revolucionaram a produção cinematográfica no mundo graças à sua iniciativa de subverter regras e acrescentar à linguagem do cinema novos elementos. Fora a abordagem de temáticas existenciais, tornaram-se características de seus filmes as narrativas fragmentadas; a habilidade de trabalhar com os contrastes entre luz e sombra; seu interesse por histórias protagonizadas por mulheres; e as tomadas tão próximas do rosto dos atores que fazem o público conseguir captar precisamente os medos e anseios dos protagonistas. “O close-up em um ator, quando corretamente iluminado, dirigido e atuado, continua sendo o auge da cinematografia. Aquele contato estranho e misterioso que você pode de repente experimentar com uma outra alma através do olhar de um ator. Um pensamento súbito, um sangue que escorre pelo rosto, as narinas trêmulas, a pele repentinamente brilhante ou o silêncio mudo. Esses para mim são alguns dos momentos mais fascinantes e incríveis que você irá experimentar.” 

Somam-se ainda outras obras-primas como Fonte da DonzelaSonata de OutonoPersona e Gritos e Sussurros (essas duas últimas as preferidas do diretor “Foi o mais longe a que cheguei”), o diretor foi premiado sete vezes no Festival de Cannes (incluindo a Palma das Palmas, prêmio inédito até hoje) e ganhou dois Ursos de Ouro no Festival de Berlim, um Leão de Ouro no Festival de Veneza e três vezes o Oscar de melhor filme estrangeiro. Seu trabalho influenciou diretores como Woody Allen (que homenageia Morangos Silvestres em Descontruindo Harry), Andrei Tarkovsky, Martin Scorsese, Pedro Almodóvar, François Ozon, Asghar Farhadi, Lars von Trier e Guilhermo del Toro. A Bravo! fez uma ótima seleção dos cinco filmes essenciais para entender a obra do diretor sueco. 

Bergman era integrante de uma geração de cineastas que buscava criar obras autorais (dos longas-metragens que dirigiu, apenas seis não são baseados em um roteiro que assinou), sérias e artísticas cujo valor não pudesse ser mensurado apenas pelo sucesso nas bilheterias. Além disso, seu objetivo era fazer filmes que falassem diretamente com o inconsciente coletivo do público. “Nenhuma outra forma de arte vai além da consciência ordinária como o cinema, que vai direto nas nossas emoções, fundo no crepúsculo da alma.”  

Fora o trabalho no cinema, o diretor também atuou no teatro, produzindo 126 espetáculos (costumava dizer que era um homem de teatro, sua primeira grande paixão), além de 39 peças de rádio e programas para a televisão. Em uma das cenas mais icônicas de o Sétimo Selo, a morte pergunta ao cavaleiro se ele nunca para de se questionar ao passo que ele responde “não, eu nunca paro”.  Bergman seguiu com seus questionamentos existenciais até 2003, quando se aposentou aos 85 anos. Ele morreu em 2007, aos 89 anos, sozinho em sua casa na Ilha de Faro, cenário de muitos de seus filmes. Muito mais que filmes “intelectuais”, ele deixou um legado de obras que nos ajudam a entender quem somos e qual é o real sentido da vida.  

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POR UM CINEMA MAIS PLURAL

Quem faz os filmes que assistimos?

Integrante da chamada economia criativa (que movimenta em torno de US$ 8 trilhões por ano), o Cinema é uma plataforma que, em tese, deveria representar em suas narrativas a diversidade que a sociedade tanto tem discutido. No entanto, ao longo da história, não tem cumprido o seu papel. Um levantamento feito pela Universidade do Sul da Califórnia (USC) identificou que, em dez anos, de 1.100 filmes produzidos em Hollywood, apenas quatro tiveram diretoras negras. Das cem melhores obras do ano de 2017, 70% dos personagens eram brancos.

A pesquisa da USC também identificou que a cada 60 homens diretores de filmes de ação, há uma mulher na mesma função. Em entrevista ao Estadão, a pesquisadora Andrea Cotrim avalia que o perfil feminino do audiovisual estadunidense está submetido aos homens, sobretudo quando se trata de mulheres negras. “A questão da dominação da mulher negra no cinema ainda é um fetiche para boa parte de um público que a vê como atrevida, briguenta ou sensual. E a hipersensualização dessas atrizes está a serviço do imaginário masculino”, afirma ela, autora da tese O sensível (não) partilhado: a violência poética e política da (ir)representação do negro em Hollywood.

O cenário é classificado pela cientista social Stacy Smith como uma “epidemia da invisibilidade”. O termo é apresentado por ela em 2016 em um TED talk sobre como as mulheres são historicamente subrepresentadas nas produções de Hollywood. Fundadora e diretora da Annenberg Inclusion Initiative e responsável pela pesquisa da USC, ela também fala na palestra sobre a “inclusion rider”, cláusula que artistas podem pedir para ser incluída em seus contratos e que exige cotas de diversidade na composição de elenco e equipe da produção.

Na visão dela, a iniciativa é uma das ações que podem ser empregadas pela indústria para mudar a atual realidade. Ganhadora do Oscar de Melhor Atriz em 2018, a atriz Frances McDormand citou o termo em seu discurso e reforçou a importância da diversidade em sua declaração no Globo de Ouro, logo após ser premiada como Melhor Atriz. “Confie em mim, as mulheres nesta sala hoje à noite não estão aqui para a comida. Estamos aqui para o trabalho. Obrigada.”

Recentemente, o estúdio Warner anunciou que vai aplicar o “inclusion rider” em toda a extensão da empresa, incluindo as produções de HBO e Turner. O filme Just Mercy, com Michael B. Jordan no papel principal, já será rodado dentro desta proposta. Em evento da Television Critics Association (TCA), produtoras de séries televisivas de sucesso como American Horror Story, The Americans e Scandal pediram publicamente a adoção de cotas de gênero nas produções.

Cenário nacional

A falta de representatividade também é uma realidade nas produções audiovisuais brasileiras. Dos 142 longas-metragens lançados em 2016, 75,4% foram dirigidos por homens brancos, segundo dados de uma pesquisa da Comissão de Gênero e Diversidade da Agência Nacional de Cinema (Ancine) divulgada no início deste ano. Nenhuma destas produções foi dirigida ou teve como roteirista uma mulher negra. “Ter 0% de mulheres negras na direção ou no roteiro é assustador. É uma discriminação forte e palpável, porque existem diretoras e roteiristas negras, mas elas não estão sendo chamadas”, avalia Luana Rufino, superintendente de Análise de Mercado da Ancine e coordenadora da pesquisa, em entrevista ao El País.

O levantamento também analisou o elenco de 97 filmes que foram lançados em 2016 (827 atores e atrizes) e identificou que as mulheres aparecem em 40,6% (mesmo sendo a maioria da população brasileira – 51%) e os negros estão presentes em apenas 13,4% (apesar de representarem 54% da população). Em 42% dos filmes, não houve nenhum ator negro ou pardo. “Me surpreendeu o fato de o elenco principal ter tão pouca representação negra. Isso significa que a população brasileira não está se enxergando no audiovisual”, analisa Rufino na reportagem do El País.

Para mudar este cenário, a Ancine incluiu cotas para diretores negros e indígenas e para cineastas mulheres no edital do Concurso Produção para Cinema 2018. Do orçamento de R$ 100 milhões do edital, 35% ficou reservado para propostas com diretoras mulheres (incluindo transexuais e travestis) e pelo menos 10% para iniciativas de diretores negros e indígenas. Além da proposta do governo, há em curso outras iniciativas que buscam trazer mais diversidade para o nosso cinema, o segundo maior mercado consumidor da América Latina em receita, segundo dados do Ministério da Cultura (MinC).

Um exemplo é a Maria Produtora, empresa focada em criar conteúdo negro e feminino sobre a cultura nacional para cinema e TV. Um dos projetos em desenvolvimento é um longa-metragem sobre a escritora negra Carolina Maria de Jesus. “A gente tem muitas histórias negras que não foram contadas e passaram batidas nos livros didáticos. Elas têm que estar nas telas, até porque o racismo não atinge só os negros, mas também os brancos pelo apagamento cultural”, afirma a atriz Maria Gal, fundadora da iniciativa, em entrevista ao Estadão.

Segundo a Cool Hunter Sabina Deweik, o caráter único é o que diferencia. “A diversidade não é momentânea, não é tema de nicho, ela permite a inclusão de quem ficou a parte durante muito tempo. É o ponto de partida para ficarmos mais perto das pessoas e do consumidor.”

O cinema, assim como outros setores da economia criativa, deve se pautar na criação de obras que reflitam pluralidade cultural que há no mundo. Como diz Stacy Smith em seu TED talk, o público precisa e merece mais e se fizermos algo em prol disso, hoje garantiremos que a nova geração de espectadores assista na grande tela narrativas que nós não pudemos ver. Mais igualitárias, mais reais. Com um cinema plural, todos (mercado e público) saem ganhando.

#escolasaopaulo #descubra #reinvente #viva

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POR TRÁS DOS FIGURINOS

Figurinos são importantes como ferramenta em processos criativos, seja no audiovisual, seja no teatro. Além de ajudarem os atores no processo de criação dos personagens, eles também apresentam ao público informações essenciais sobre aquelas pessoas em cena. Figurinista há mais de 30 anos, Marichilene Artisevskis afirma que a construção do seu trabalho leva em consideração dados ligados às histórias dos espetáculos e elementos que não necessariamente têm relação com as obras, mas que alimentam a sua criatividade.  A gente bateu um papo com ela para entender um pouco mais sobre o processo de desenvolvimento dos figurinos e a importância das referências no trabalho de criação no teatro: 

ESCOLA SÃO PAULO: O Mal Entendido, um dos espetáculos nos quais você trabalhou, é inspirado em uma história real que aconteceu em Belgrado, na década de 1930, e a montagem, embora não especifique o local onde se passa a história, buscou trazer à tona para o palco esse ambiente. Qual o peso do figurino neste processo?  

Marichilene: O teatro não tem muito essa função de caracterizar figurinos de época, porque o cinema já faz isso lindamente. No palco a discussão é muito maior, mesmo quando se trata de obras clássicas. Você as olha sob as perspectivas do hoje. Em O Mal Entendido, os figurinos não fazem referência à época em que a história se passa, mas sim a particularidades de cada personagem. Decidimos que os três personagens principais (mãe, filha e criado) apresentariam característica de habitantes de um lugar frio que parou no tempo. O figurino em si sugere algo antigo, mas não é. É uma mistura de coisas, na verdade. Todos os personagens estão com o corpo bastante coberto, usando luvas e casacos, justamente para caracterizar pouca exposição ao sol e transmitir a ideia de isolamento e de poucas referências de mundo.

ESCOLA SÃO PAULO: Quais foram as principais referências para criação do figurino deste espetáculo?  

Marichilene: Como figurinista, as minhas referências vem de diversos lugares: moda, cinema, arte. A criação para cada personagem é muito particular. A Marta (a filha), por exemplo, a personagem principal do espetáculo, tem várias características pessoais que me ajudaram a desenhar o figurino dela, como o desejo de ver o mar (que me fez mergulhar no universo dos marinheiros), e uma inocência quase infantil. Por isso, as roupas dela têm tons de azul e ela utiliza sapatos de boneca. 
ESCOLA SÃO PAULO: Quanto tempo é preciso para definir e criar cada uma das peças apresentadas em cena?  

Marichilene: Geralmente é um processo longo que envolve a participação direta nos ensaios. A primeira coisa que eu faço é uma pesquisa de imagem para abrir o olhar e entender o universo da obra. Neste processo, eu entro em contato com as mais diversas referências possíveis. Nem todas eu uso, mas todas de alguma forma alimentam a minha criatividade. Neste espetáculo, eu fui fazendo provas nos atores durante os ensaios para entender o que funcionava em cada personagem, mudando o que não funcionava em cena. Este processo é necessário porque faz com que os atores e a direção da peça se apropriem daquele figurino a ponto dele quase não ser notado em cena de tão integrado que está ao espetáculo.

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MAGIA DA MÚSICA

Por Denise Lagrotta, do time da HumansCanFly e colunista da Escola São Paulo

“Música dá alma para o universo, asas para a mente, voo para a imaginação, e vida para tudo” – Platão

A vida é permeada pela música. Ela nos permite sonhar, vibrar, relaxar, focar, imaginar. Também nos motiva, nos diverte, nos emociona. Mas vai muito além disso.

Escritos de mais de 4000 anos na China, Índia e Egito relatam que a música era utilizada para o bem estar, elevação espiritual e fins terapêuticos. No Ocidente, a palavra música nasceu na Grécia  — onde “Mousikê” significava “A Arte das Musas” — e era considerada um fenômeno de origem divina, ligada à magia e à mitologia.

Albert Einstein tinha uma forte ligação com a música. Para ele “a música e a pesquisa em física originam-se de fontes diferentes, mas são intimamente relacionadas e ligadas por um fio comum, que é o desejo de exprimir o desconhecido”.

Para o compositor Philip Glass, música é troca, diálogo, compartilhamento.

musicoterapia trouxe benefícios à ex-ginasta Lais Souza após o grave acidente que lhe retirou  movimentos de braços e pernas. Ela chegou a perder a capacidade de respirar e revelou que os exercícios de canto a fizeram melhorar muito.

Estudos recentes apontam que a música ajuda no tratamento de Alzheimer e de outras doenças neurológicas. Pelo conteúdo emocional, a música alcança determinadas áreas cerebrais que ativam áreas da memória.

O neurologista Oliver Sacks escreveu sobre este fenômeno no livro Musicophilia: Tales of Music and Brain. Ele diz que esses pacientes perdem sua autobiografia, mas ao ouvirem a trilha sonora de uma época anterior eles podem recuperar não só a memória dos próprios sons, como também os eventos que lhe são inerentes, propiciando momentos de prazer e paz.

A Organização Music & Memory — dedicada a ajudar os idosos a se conectar à música, incluindo a coleta de iPods usados para doação – traz o registro da história comovente do paciente Henry, que ganha vida quando escuta músicas de sua juventude.

O compositor Robert Alexander transforma dados científicos de satélites espaciais em sons que agradam aos ouvidos e ajudam a fazer descobertas. Ele acredita que há alguns fenômenos que podem ser entendidos diretamente e intuitivamente pela análise visual, já outros fazem mais sentido se ouvidos.

Um experimento desenvolvido pelo brasileiro Eduardo Miranda pode transformar em realidade os sonhos de milhares de músicos profissionais e amadores. Trata-se do projeto de neurotecnologia musical que “lê pensamentos” com a ajuda de uma espécie de touca que capta ondas cerebrais e promete transformá-los em música, mudando completamente o processo tradicional de composição.

A música também tem o poder de transformação, como o exemplo inspirador da orquestra que nasceu do lixo.

Podemos encontrar inúmeras razões para traduzir o alcance da música na nossa vida. Mas a música transcende à razão.

Via IDEAPLEX

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SIMON PORTE JACQUEMUS, A MODA COMO UM FILME FRANCÊS

Simon Porte Jacquemus nasceu em Salon-de-Provence, a 50 km de Marselha, na Provence, sul da França. Aos 18 anos, se mudou para Paris com o objetivo de estudar moda e estagiar em uma grande Maison. Uma tragédia, contudo, mudou completamente os seus planos: após um mês na Cidade Luz, ele perdeu a mãe em um acidente de carro e decidiu largar tudo.


Para superar a dor, fez do seu desejo de se expressar por meio da moda um importante aliado. “Poucos dias depois do enterro, transformei minha dor em força, em vez de fraqueza, e comecei a criar. É por isso que consegui tocar as pessoas. Mesmo que as minhas primeiras coleções não tivessem uma linha precisa, havia a emoção”, explica em entrevista à revista Elle.

De volta à Paris, sem recursos ou contatos importantes, mas com uma vontade imensa de criar, fez a primeira coleção e aconteceu. Hoje, aos 27 anos, Jacquemus é um dos nomes mais importantes da moda na atualidade, a esperança da moda francesa, nas palavras de Adrian Jofe, diretor executivo da Comme des Garçons, elogiado por críticos e adorado pelas influencers do street style internacional e por personalidades como Rihanna, Solange, Beyoncé, Miley Cyrus, Selena Gomes, Kendall Jenner e Kim Kardashian.   

Cada uma de suas coleções conta a história de uma mulher francesa e começam com A ou O, numa alusão ao filme O Desprezo, do cineasta franco-suíço Jean-Luc Godard. “Sempre fui obcecado por essa história. É tão francesa. Les Santons de Provence (Os Bibelôs da Provence), L’Amour d’un Gitan (O Amor de um Cigano). Minhas coleções são sempre pensadas como um filme francês”, pontua, também em entrevista à revista Elle.  

Além do cinema, seu trabalho tem como inspiração a sua mãe. La Bomba, a coleção Primavera 2018 da sua marca, por exemplo, tem inspiração na cultura espanhola, mas bebe, e muito, do lifestyle sulista dela, região da França em que, nas palavras dele, as mulheres “são mais simples e sorridentes”. O vídeo de divulgação, filmado nas Ilhas Canárias, mostra modelos curtindo um dia ensolarado em uma paradisíaca vila espanhola, em um clima leve e sensual totalmente conectado com o mood da sua marca. “A Jacquemus é solar. Tem uma luz nela”, afirma.

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OLIVIERO TOSCANI, O PROVOCADOR

Foi em uma época em que publicidade e política pouco se misturavam que ele inscreveu seu nome na história como um fotógrafo criativo, ousado e, acima de tudo, polêmico. Impossível pensar em fotografia entre os anos 80 e 90 sem se lembrar do nome de Oliviero Toscani. Diretor de arte da marca de roupas italiana Benetton por 18 anos, ele assinou campanhas controversas sobre temas delicados, como racismoreligião direitos humanos, que transformaram a publicidade no mundo. 

 
Em 1991, ele apostou na ideia da tolerância e da diversidade cultural e trabalhou com modelos negros, brancos e  asiáticos (uma das imagens mais marcantes é a de uma mulher negra amamentando um bebê branco). No ano seguinte, causou polêmica com a Igreja Católica ao trazer uma imagem de uma freira sendo beijada por um padre (até hoje uma de suas fotografias mais conhecidas).   


Em 1993, abordou a importância da conscientização para o HIV e a exclusão social sofrida por pessoas soropositivas. Uma das imagens da campanha, que trazia o ativista David Kirby, em seu leito de morte, cercado por sua família, causou uma comoção no mundo inteiro. “As pessoas gostam de uma realidade agradável, não querem ver a realidade tal como ela é. As pessoas dizem que as minhas fotos são ‘chocantes’, mas ‘chocante’ é a realidade que elas preferiam não ver”, afirmou ementrevista ao jornal O Observador.   

Toscani nasceu em Milão, no ano de 1942, e cresceu em uma Itália em reconstrução após a Segunda Guerra Mundial. Influenciado pelo pai, Fedele Toscani, que era fotógrafo do jornal Corriere della Sera, começou a fazer os seus primeiros registros na adolescência. Formou-se em fotografia na tradicional escola de artes visuais Kunstgewerbeschule, de Zurique, e iniciou a carreira fazendo editorais para as principais revistas de moda da Itália, como VogueElle e Harpers Bazaar. Na década de 1970, trabalhou com Andy Warhol

Com o tempo, o seu trabalho começou a chamar a atenção de marcas como Chanel, Valentino e ele logo migrou para o universo da publicidade no qual faria o seu nome. Após quase 20 anos, Toscani deixou a Benetton (após uma polêmica campanha envolvendo imagens de prisioneiros) e levou seu estilo de fotografar para outras marcas e realizou alguns projetos pessoais. “Eu conto uma história com imagens relacionadas ao momento da história em que estou inserido”, disse em entrevista ao The Guardian.

Em 2005, assinou a campanha da Ra Re, na qual dois homens apareciam se beijando e se tocando. O trabalho gerou polêmica com o Instituto italiano de Autodisciplina Publicitária (IAP), que tentou proibir a veiculação da propaganda. Dois anos depois, o fotógrafo realizou uma campanha contra a anorexia para a marca No-l-ita, que trouxe imagens da modelo e atriz francesa Isabelle Caro, que sofria da doença desde os 13 anos. Acusado de sensacionalista, Toscani se posicionou: “Há anos me ocupo do problema de anorexia. Quem são os responsáveis? No geral, os meios de comunicação, a televisão, a moda. Eu quis despertar as pessoas para as consequências desta doença que atinge cada vez mais manequins.”

Em 2017, o fotógrafo foi convidado a retomar o antigo posto na Benetton, após um hiato de 17 anos, como parte de uma estratégia de reposição da marca no mercado, que em 2017 perdeu 46 milhões de euros. Aos 75 anos, Toscani segue em atividade e com a consciência do impacto do seu trabalho. “Lembram-se de alguma campanha publicitária da Zara nos anos 90? Lembram-se de algum editorial de moda da Vogue dos anos 80? Vá lá, façam um esforço. Então não se lembram de nada? E da Benetton? De quantas imagens se lembram?”, provocou na coletiva de imprensa de anúncio do seu retorno.   

Fotos: Campanha “United Colors of Benetton”.