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MODA COMO REFLEXO DA HISTÓRIA

Considerado um dos grandes nomes da moda nacional na atualidade, o estilista baiano Issac Silva cria coleções que abordam questões ligadas à ancestralidade negra. Seu último desfile na Casa de Criadores, em julho, contou apenas com modelos negras e trans na passarela e homenageou Xica Manicongo, a primeira travesti brasileira. A coleção foi composta por vestidos e conjuntos com estampas africanas em preto e branco que traziam nas etiquetas o nome da cada modelo. “Sempre em minhas coleções busco a verdade da nossa história. Exaltando a importância das mulheres e sua força e beleza”. Nesta entrevista, ele fala um pouco sobre moda, política e representatividade:
Escola São Paulo Seu desfile foi uma celebração e também um manifesto sobre identidade trans e feminismo negro. Como surgiu a ideia de fazer uma coleção com esta temática? 

Issac Silva Minhas coleções sempre falam sobre diversidade, pluralidade, este é o DNA da minha marca. Eu fiz a coleção Xica Manicongo para mostrar que desde 1591 a mulher trans está invisibilizada na nossa sociedade. Fiz o desfile para mostrar que moda é muito mais que roupa, é uma ferramenta para se falar sobre tudo. 
Escola São Paulo Qual foi a sua intenção ao colocar nas etiquetas o nome de cada modelo participante? 

Issac Silva A intenção foi homenageá-las. Cada peça que foi desfilada vai ter o nome de quem a vestiu.  

Escola São Paulo Em tempos de economia colaborativa, temas como diversidade, sustentabilidade e incentivo ao trabalho autoral estão cada vez mais em pauta. Como você enxerga estas questões no universo da moda?

Issac Silva Vejo como o futuro da moda, ela muda conforme os tempos. Eu estou bem feliz com esta grande mudança. Marcas e estilistas devem acompanhar, pois os modos das modas mudam. 
Escola São Paulo Levando em consideração os temas que você aborda em seus desfiles, podemos concluir que você enxerga a moda como uma plataforma ativa de posicionamento político e consciência social?  

Issac Silva Ela [a moda] sempre foi uma plataforma de posicionamento político e consciência social, a diferença é que as marcas não dialogavam com o seu tempo e nem com os novos tempos. No atual momento, ficou inadmissível estar na moda e invisibilizar as mulheres reais, o colorismo do Brasil. Eu sou a nova geração, o que tem de frescor, pois a moda voltou à estaca zero e, neste momento, é a hora de plantar para pode colher bons frutos nos próximos anos.

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O MUNDO TODO EM UM SÓ LUGAR

“São Paulo é como o mundo todo”, afirmou Caetano Veloso na canção Vaca Profana, lançada em 1986. Historicamente composta por imigrantes de diversas regiões do mundo, a cidade ampliou nos últimos anos a sua variedade linguística, um reflexo direto do que é considerado o maior fluxo migratório forçado da história da humanidade – de acordo com a ONU, atualmente 65 milhões de pessoas vivem em situação de refúgio no mundo.   

De acordo com pesquisa realizada pelo Observatório das Migrações em São Paulo, da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), entre os anos 2000 e 2015 foram registrados mais de 879 mil imigrantes internacionais no Brasil. Destes, quase 368 mil se estabeleceram no Estado de São Paulo vindos de 71 países (120 mil apenas na cidade de São Paulo) – a maior parte da Síria e da República Democrática do Congo.
Muitos chegam ao país foragidos de guerras civis, conflitos religiosos e em busca de melhores oportunidades. São, em sua maioria, homens, com idade entre 30 e 34 anos. Das mulheres, 55% estão desempregadas ou em empregos precários. Grande parte deles sofre para se adaptar à nova vida, seja pela barreira linguística, pela dificuldade em conseguir trabalho ou pelo preconceito que enfrentam. O documentário Cara do Mundo retrata justamente essa adaptação dos imigrantes à cidade. Produzido por estudantes da Escola de Jornalismo da Énois, o filme traz depoimentos de oito imigrantes, vindos de países como Síria, Haiti, Senegal, Bolívia e Japão, e está disponível para download no site Video Camp.

CRIANDO PONTES 
Para ajudá-los a recomeçar a vida na cidade, instituições religiosas e profissionais das mais diversas áreas se uniram e criaram projetos com o objetivo de facilitar o processo de adaptação e promover a aproximação entre os imigrantes e os moradores da capital. É o caso do Movimento Estou Refugiado, iniciativa que tem como lema “o preconceito acaba quando a compreensão começa”. Criado por Gisela Rao e Luciana Capobianco, o projeto estruturou um banco de currículos e agenda reuniões com equipes de RH de diversas empresas com o intuito de ajudar os profissionais imigrantes e se inserirem no mercado de trabalho local.

Os integrantes da iniciativa também propuseram um crowdsourcing para arrecadar bilhetes de ônibus após perceberem que muitas vezes os imigrantes perdiam oportunidades de entrevistas de trabalho pelo fato de não terem dinheiro para o transporte. A ação resultou em mais de 1.500 ofertas de emprego e mais de 500 refugiados efetivamente empregados. Além disso, o projeto está realizando entrevistas com refugiados, fazendo pesquisas, escrevendo artigos e editando vídeos, para montar uma biblioteca sobre o assunto, e abriu a Planisfério Causas, empresa social que desenvolve produtos e serviços e garante a autonomia do movimento. O primeiro serviço já está funcionando: o lava-rápido Kosukola.   Outra iniciativa que tem ajudado os imigrantes a se integrarem à cidade é o Abraço Cultural. Criado em 2015, por André Cervi e Daniel Assunção, o negócio social tem refugiados como professores de cursos de idiomas (como francês, inglês, espanhol e árabe) e cultura (dança, literatura, cinema, história, política e curiosidades). Com atuação em São Paulo e também no Rio de Janeiro, a ação promove a troca de experiências, a geração de renda e a valorização pessoal e cultural dos refugiados residentes no Brasil que em seus países atuavam como advogados, engenheiros, cineastas, professores universitários. “Não queremos ser assistencialistas. Queremos mudar paradigmas através da troca cultural e da valorização das habilidades dos refugiados”, explica André, em entrevista ao Draft.  

Todos os professores selecionados passam por um treinamento e ajudam na atualização do material didático da escola, bastante focado nas experiências culturais dos imigrantes. O projeto oferece cursos regulares, intensivos, individual e in company com aulas durante a semana e aos sábados com duração de quatro meses. “Quero quebrar o estigma da guerra e mostrar aos brasileiros que a Síria é um país com uma cultura e história muito ricas”, afirma Ali Jeratli, professor de árabe.  

Atuando em São Paulo desde 1940, na região do Glicério, no centro da cidade, a Missão Paz, da Congregação dos Missionários de São Carlos, auxilia sete mil pessoas por ano de países como Haiti, Bolívia e Peru. “Vejo que a cidade abriu caminhos para acolher bem quem vem de fora. Mas ainda sinto que é preciso fazer uma mobilização no sentido de melhorar a relação”, avalia o padre Antenor João Dalla Vecchia, em entrevista ao Estadão. “Infelizmente, ainda ocorrem manifestações de rechaço, de xenofobia, de preconceito.”
Desde 1969, o projeto mantém o Centro de Estudos Migratórios e criou, em 1970, a Casa do Migrante na qual vivem 110 pessoas em processo de adaptação à cidade. “O imigrante chega com a mala e o desejo de reorganizar sua vida, reconstruir seu futuro. É claro que necessita de um atendimento muito específico, muito particular. Oferecemos um local onde ele pode guardar suas coisas, iniciar sua trajetória e se regularizar do ponto de vista legal”, explica. 

A Missão Paz também oferece palestras sobre a cultura brasileira e auxilia na recolocação profissional dos imigrantes. “O importante é passarmos a mensagem de que as migrações vêm para acrescentar. Não podem ser entendidas como algo ruim para a cidade”, comenta. “Elas vêm para formar a nossa cultura, somam de forma positiva.” 

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NADA SE PERDE, TUDO SE RENOVA

O impacto que o consumo desenfreado provoca no mundo é uma questão discutida por ambientalistas e economistas há tempos. Desde a década de 1980, a lógica “extrair-produzir-descartar” da economia linear (o modelo econômico até hoje em vigor) tem sido questionada e suscitado debates sobre a necessidade da criação de novos modelos que sejam funcionais, demandem menos recursos naturais e gerem menos resíduos prejudiciais ao meio ambiente.  

A economia circular é uma dessas propostas. Inspirada na inteligência da natureza, em que nada se perde, mas tudo se renova, ela é voltada para os serviços com foco no desempenho e no impacto dos produtos, ao contrário da economia linear, que tem como foco a produção e a venda. “O conceito de economia circular propõe que os recursos que extraímos e produzimos sejam mantidos em circulação por meio de cadeias produtivas integradas. Assim, o destino final de um material deixa de ser uma questão de gerenciamento de resíduos, passando a fazer parte do processo de design de novos produtos”, explica o economista holandês Douwe Jan Joustra, especialista no assunto, em entrevista ao Instituto C&A

Uma animação da Fundação Ellen MacArthur, do Reino Unido, explica de uma maneira bem interessante e didática os princípios básicos da iniciativa. Joustra diz que o grande desafio de hoje é fazer com que as empresas sejam responsáveis por seus materiais e encarem os produtos, incluindo os resíduos, como seus ativos.  “O foco das empresas não deveria estar mais nos produtos apenas, mas neles e nos serviços, porque é isso o que o cliente quer. Essa é a mudança econômica real que queremos com a economia circular”, afirma em entrevista ao jornal O Globo Autor do livro Cradle to Cradle: criar e reciclar ilimitadamente, uma das referências bibliográficas no mundo sobre economia circular, Michael Braungart defende que mais que reduzir o consumo dos recursos naturais, precisamos encontrar soluções técnicas que produzam objetos que no processo de degradação possam ser reabsorvidos pela biosfera na forma de nutrientes ou reincorporados ao ciclo produtivo. “Temos de encarar os humanos como um recurso capaz de trazer benefícios para o planeta, e não como um fardo cujo impacto deve ser minimizado”, explica em entrevista à revista Época 

UMA IDEIA EM CIRCULAÇÃO 
Nos últimos anos, diversas empresas mundo afora passaram a seguir a cartilha da economia circular. Muitas por compreenderem que a economia linear não é sustentável (do ponto de vista ambiental e financeiro), mas a maioria por enxergar a lucratividade que a proposta pode trazer. De acordo com levantamento da Fundação Ellen MacArthur, a economia circular pode garantir às empresas na Europa um incremento de € 900 bilhões no faturamento até 2030. Isso tudo levando em consideração os benefícios proporcionados pelo modelo econômico: incentivo ao desenvolvimento de novas tecnologias; redução do uso de recursos naturais, economia financeira e ganho de competitividade. 

Na Dinamarca, por exemplo, o parque industrial da cidade de Kalundborg já opera no sistema de economia circular desde o início da década de 1980. Os resíduos gerados pelas atividades de uma empresa se tornam matéria-prima para outra: a água doce, usada pela refinaria de petróleo para resfriar máquinas, é vendida para a termelétrica que, por sua vez, compra os gases liberados pela refinaria, que são reaproveitados para geração de calor.  Aqui no Brasil também temos iniciativas interessantes como a da Cooperárvore, cooperativa de moda sustentável com sede Betim, Minas Gerais, que transforma sobras de cintos de segurança e aparas de tecido automotivo em acessórios, como bolsas, mochilas, chaveiros e outros produtos. Com mais de dez anos de atuação, a cooperativa já produziu mais de 230 mil peças e reutilizou 25 toneladas de itens doados por empresas automotivas que antes seriam descartados no meio ambiente.  

Há também a Votorantim, que desenvolveu uma tecnologia que substitui o coque de petróleo, usado na produção do cimento, por resíduos (pneus velhos, papel, papelão, óleos, produtos químicos, resíduos industriais e urbanos). A iniciativa é duplamente rentável para a empresa, uma vez que ela ganha dinheiro para receber lixo gerado por outras indústrias e economiza por não precisar comprar mais petróleo. “É uma unidade de negócios que ao mesmo tempo presta um serviço e produz um impacto positivo na produção do cimento, reduzindo a emissão de gases de efeito estufa”, explica André Leitão, diretor de Gestão de Resíduos na Votorantim, em entrevista à revista Época 

“Uma economia circular não se trata de ter um produto mais verde, uma empresa mais sustentável ou uma prática melhor, muito menos de ser mais sustentável do que era. Significa fazer parte de um sistema que funciona melhor e que, ao longo prazo, revela e exclui os fatores negativos desde o princípio da cadeia de valor. Na vida e no planeta, as coisas se regeneram e se restauram o tempo todo. A ideia é incluir esse princípio na economia”, analisa Luísa Santiago, representante da Fundação Ellen MacArthur no Brasil, em entrevista ao Instituto C&A 

Uma maneira mais inteligente e sustentável de viver e se relacionar com o mundo.

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MULHERES NO COMANDO

Em 2014, a executiva Paula Paschoal se descobriu grávida de repente. Hoje diretora-geral do PayPal no Brasil, na época ela atuava como diretora de Vendas e Desenvolvimento de Negócios (um cargo estratégico) e, como muitas mulheres, teve receio de que a companhia não reagisse bem ao anúncio da gravidez e que isso a prejudicasse na carreira. O chamado risco associado ao gênero. “Fiquei tensa, esperei um, dois meses. Quando cheguei no quarto mês (da gravidez), não dava mais. Eu precisava contar para meu chefe. E a resposta dele foi muito positiva. Ele disse que enxergava que eu estava indo fazer um MBA de graça, em 4 meses”, conta em entrevista ao portal IT Forum. “Voltei da licença e fui promovida. Tive certeza que estava numa empresa na qual a valorização da mulher e a importância de equilibrar vida pessoal e profissional eram levadas a sério”, acrescenta. 

Paula representa uma mudança (ainda tímida) no mercado de trabalho para as mulheres. Especialmente no segmento corporativo, elas estão sendo (finalmente) reconhecidas pelo seu trabalho e tratadas da mesma maneira que os homensA mudança é resultado direto de pressões realizadas pelas próprias profissionais e de estudos que mostram que a diversidade é algo bom e lucrativo para as companhias. Um estudo da consultoria McKinsey, divulgado neste ano, por exemplo, comprovou que ter mulheres em cargos de liderança aumenta em 21% a chance de uma empresa ter desempenho financeiro acima da média. Batizado de Delivering Through Diversity, o levantamento avaliou mais de mil empresas em 12 países. 

Foto: Paula Paschoal – Divulgação

Em contrapartida, as companhias com pouca diversidade no organograma executivo avaliadas apresentam probabilidade quase 30% menos de alcançar lucratividade acima da média. “Elas não apenas estavam fora da liderança como também se mostraram muito atrás”, analisa o comunicado oficial da pesquisa, conforme informa reportagem do Infomoney.

Apesar do avanço, o mercado de trabalho em geral ainda é bastante difícil para as mulheresNo estudo da McKinsey, até as empresas que se mostraram mais abertas à questão da diversidade no seu ambiente de trabalho possuem apenas 10% de mulheres ocupando cargos executivos. As companhias que não se pautam pela questão da diversidade têm apenas 1%. Um estudo da Organização Internacional do Trabalho (OIT), divulgado neste ano, mostrou que a participação das mulheresno mercado de trabalho no mundo ainda é menor que a dos homens. “Apesar dos avanços conquistados e dos compromissos assumidos para continuar progredindo, as perspectivas das mulheres no mundo do trabalho ainda estão longe de ser iguais às dos homens”, aponta a Diretora-Geral Adjunta de Políticas da OIT, Deborah Greenfield, em entrevista ao G1.A desigualdade salarial não prejudica apenas o desempenho das empresas, mas do mundo como um todo. Pesquisa do McKinsey Global Institute (MGI), realizada em 95 países, identificou que a economia global ganharia US$ 28 trilhões até 2025 se houvesse igualdade de gênero em todos os países. Só a América Latina teria um aumento de 10% no PIB. Segundo estimativas do Fórum Econômico Mundial, a igualdade de gêneros só será possível em 2095. Temos um longo caminho pela frente, mas iniciativas como a como a do PayPal, de respeito à diversidade e à mulher, nos dão esperanças que estamos avançando no rumo certo.  

O estudo International Business Report (IBR) – Women in Business, realizado pela Grant Thornton em 35 países, mostrou que 29% das empresas brasileiras atualmente têm mulheres em cargos de liderança. Além disso, revelou que 39% das companhias não possuem mulheres liderando equipes – em 2017, o índice era de 53%. “Os dados deste ano comprovam que as companhias estão desenvolvendo a mentalidade de querer que mais mulheres liderem. Para que os indicadores cresçam ainda mais, as companhias precisam recrutar e treinar os talentos que provavelmente já estão presentes em suas próprias organizações”, explica Madeleine Blankenstein, sócia da Grant Thornton. Vamos em frente.

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POR MAIS LÍDERES E MENOS CHEFES

Por Thiago Franzão, time da Humans Can Fly e colunista da Escola São Paulo

O caminho natural do mundo é a evolução, é o caminho da própria natureza, é a nossa natureza. Apesar de às vezes parecer que estamos em um processo retrógrado, quando olhamos ao nosso redor, ao compararmos a nossa realidade atual com épocas e eras anteriores à nossa, a evolução fica evidente, mesmo sabendo que claramente ainda temos muito a evoluir.

Esta evolução permeia tudo, pois ela é relativa ao ser humano, e a hora que o ser humano evolui ele aplica esta visão de mundo transformada em todas as suas atividades, e a liderança não está de fora.

Acredito que a grande mudança que está acontecendo nos modelos de liderança mais contemporâneos é que o foco passa a ser o ser humano, a pessoa, o indivíduo, e não somente os resultados.

É claro que ainda não vivemos em um mundo corporativo onde existam apenas líderes, temos alguns vários chefes, mas na minha opinião os “chefes” estão com um selo de validade estampado na testa. Não há mais lugar para chefes nas empresas que querem ser bem sucedidas, apenas para líderes. Chefes governam pelo medo, líderes pela inspiração e exemplo, chefes tratam seus colaboradores da forma como lhes é mais conveniente, líderes tratam seus colaboradores da forma como gostariam de ser tratados.

Veja, não estou dizendo que estamos entrando em um mundo onde vamos começar a abraçar árvores no meio de uma reunião, certamente o mundo corporativo continuará tendo uma pressão violenta por resultados como sempre teve, isso é inerente a qualquer negócio, mas creio que pessoas sendo tratadas como pessoas proporcionam resultados infinitamente melhores do que pessoas sendo tratadas como números.

O líder que eu mais admiro é o fundador da Virgin, Sir Richard Branson e o modelo de gestão que ele implementou em suas empresas é absolutamente incrível, voltado para resultado e também para pessoas. Ao ler qualquer um de seus livros ou assistir suas palestras é possível notar que o que ele transferiu para o seu modelo de gestão é o que ele genuinamente sente em relação a como as pessoas devem ser lideradas e tratadas. Uma de suas frases emblemáticas (e são várias) é  “Clientes não vem em primeiro lugar. Seus colaboradores vem em primeiro lugar, se você cuidar de seus colaboradores, eles cuidarão dos seus clientes” – eu não poderia concordar mais com esta frase. Um outro pensamento de Sir Richard é, “Seja sempre cordial e respeitoso, faça o que é correto, mantenha seus valores, seja justo em todas as situações”,sem dar margem à dúvida, Richard Bransoné de longe o líder que mais admiro e o que mais me inspira, ainda não tive oportunidade de ter contato com líderes que apresentam tanta coerência em seu discurso e suas ações.

Ter coerência é importante, hoje é legal falar que o foco de uma ou outra empresa são as pessoas, mas são mesmo? Quantas empresas têm este discurso? E quantas agem de forma coerente alinhando o discurso às suas ações? Sinto dizer… são poucas.

Para mim o papel do líder é ter em seu time, pelo menos na maior parte dele, pessoas que estão alinhadas de alguma forma com seus valores. Não quero dizer que são pessoas iguais a ele, mas sim pessoas que carregam o mesmo sentido de ética, moral, conduta e honestidade.

Para mim liderar é um treino, uma escola, sempre se aprende algo novo. A forma que sempre tentei liderar se baseia em conceitos muito simples, e eu intuitivamente já os aplicava mesmo antes de ter contato com os conceitos de Richard Branson.

#1 Queira fazer sempre o seu melhor, inspire o seu time a fazer o mesmo.

#2 Busque ser melhor que você mesmo a cada dia, não melhor que o seu concorrente ou do que a pessoa ao seu lado, focar neles vai torná-lo igual a eles e não melhor.

#3 Lidere pelo exemplo, o discurso sem estar alinhado com ações não significa nada.

#4 Busque entregar o resultado acima de tudo, com exceção de 2 coisas. Atingir resultados não pode estar acima das pessoas e nem macular os seus valores morais e éticos.

#5 Aja com seus colaboradores da mesma forma que você gostaria que seu líder agisse com você.

#6 Entenda que as pessoas são pessoas, e que os seus problemas pessoais afetam o seu desempenho, precisamos entender e gerenciar isso.

#7 Um líder muitas vezes extrapola a esfera profissional, por várias vezes já me escutei conversando com meus colaboradores sobre problemas pessoais. Na minha visão, o líder contemporâneo acaba por atuar involuntariamente nestas esferas também.

#8 Por vários motivos o mundo corporativo exige que as vezes você tome decisões que não concorda, mas nunca compactue com decisões que abalem os seus valores. Os seus valores são os bens mais preciosos que você tem, eles são a sua palavra e a sua assinatura no mundo.

#9 Pessoas vem de culturas, criações, histórias e relações muito diferentes uma das outras, cabe ao líder entender e orquestrar este conjunto para extrair o melhor de sua equipe. O líder é um maestro, que busca uma sintonia entre vários instrumentos diferentes para chegar na melhor melodia.

#10 Tenha paciência para ensinar quem com você tem a aprender, e humildade para aprender com quem tem algo a te ensinar.

#11 Dê feedbacks constantes, feedbacks positivos podem ser dados em grupo, já os negativos, sempre individualmente.

#12 Reconheça o seu time, assuma a responsabilidade pelos problemas, não “venda” a sua equipe, um líder vai na frente assumindo os riscos e nunca escondido atrás buscando se proteger dos perigos.

Essa é a maneira como tento liderar o meu time no dia a dia, e sim é claro que cometo erros e aprendo com eles, o ponto não está exatamente nos erros que cometemos, mas como os contornamos e o que buscamos como meta para evoluir.

Vejo o resultado deste modelo de liderança quando entrevisto algumas pessoas para fazer parte do meu time e elas dizem que querem essa ou aquela posição por conta de acreditar no modelo de liderança e visão da área, vejo o resultado disso quando pessoas preferem ficar na equipe ao receberem propostas financeiramente mais atrativas, vejo o resultado disso quando mesmo atolados de trabalho (e isso é comum em uma agência de publicidade, principalmente nos dias atuais) as pessoas estão dando risada, vejo o resultado disso quando enxergo nas diferenças da minha equipe uma unidade.

Há algum tempo terminei de ler um livro que me inspirou bastante, chamado “Tao te cing”- este livro foi escrito há aproximadamente 2.600 anos por um filósofo chinês chamado Lao-Tsé (que foi contemporâneo de Confucius), e ele traz um conceito muito interessante sobre como governar/liderar:

 

Governar servindo

Rios e mares demandam os vales, porque procuram os lugares baixos.

O soberano sópode governar quando o seu governo brota do interior.

Por isso o verdadeiro sábio, quando quer governar, modera as suas palavras e renuncia ao próprio ego. 

Assim ele é um verdadeiro soberano, e o seu povo não se sente humilhado.

Governa, mas ninguém se sente governado. 

Todos lhe obedecem de boa mente, e se sentem amparados e livres. 

Nada dele reclamam. Nada desejam. 

Lao-Tsé

Em resumo, liderar é simples e ao mesmo tempo complexo, simples porque se resume em fazer o melhor, fazer o que é correto, dar o exemplo, e tratar as pessoas como você gostaria de ser tratado. Complexo, pois os problemas e a pressão do dia a dia tentam nos fazer esquecer destes nobres princípios morais, ter consciência disso faz com que busquemos cada vez mais lapidar o nosso modo de liderança, alinhando-o aos nossos princípios. O mercado precisa de mais líderes e menos chefes, e automaticamente essa substituição passa a acontecer, pois é consequência da evolução natural do ser humano, desdobrada no ambiente corporativo.

Escolhi para a imagem deste post uma das cenas do antigo filme do “Rei Arthur”. Apesar de eu ter naturalmente um interesse especial pela Idade Média e pelos templários, digo que independente disto o estereótipo do verdadeiro líder para mim é o “Rei Arthur”. Embora seja um personagem mítico e lendário, as histórias arturianas revelam as atitudes de um verdadeiro líder.

Seja mais líder e menos chefe!

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EM BUSCA DA PLENITUDE DA CONSCIÊNCIA

No mundo hiperconectado e em constante transformação no qual vivemos, o estresse é umas das enfermidades mais presentes. Situações de estresse costumam liberar cortisol no organismo, hormônio que interfere diretamente no funcionamento do nosso sistema imunológico. Não à toa, a doença está associada ao desencadeamento de outras enfermidades crônicas que estão entre as que mais matam no mundo, como diabetes, obesidade e depressão.   

Além do estresse, a correria em que vivemos também nos provoca uma sensação constante de não estarmos totalmente presentes nas situações que vivenciamos. O famoso viver no modo piloto automático. “Não estamos atentos ao que fazemos em 47% do nosso tempo”, afirma Marcelo Demarzo, professor do Departamento de Medicina Preventiva da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), em entrevista ao Nexo 

Demarzo é coordenador do programa Mente Aberta, criado em 2011, o primeiro núcleo no país focado no mindfulness (ou atenção plena, em livre tradução), uma prática de meditação que tem conquistado cada vez mais adeptos no Brasil e no mundo interessados em combater o estresse e em manter-se atento ao que acontece com a própria mente e com o próprio corpo no presente, no agora. Inspirado diretamente na prática do budismo, o método foi introduzido no ocidente pelo médico norte-americano Jon Kabat-Zinn na década de 1970. Desde sua criação, inúmeros estudos foram feitos para avaliar os seus benefícios à saúde humana. Segundo reportagem da revista Superinteressante, uma das pesquisas mais abrangentes sobre o assunto analisou o impacto do programa em 93 indivíduos diagnosticados com transtorno de ansiedade – problema que afeta um terço da população mundial segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS). Cientistas do Hospital Geral de Massachusetts, nos EUA, descobriram que a técnica diminuiu drasticamente os índices de estresse e a sensação de desespero frente a problemas. 

Um estudo feito pelo Hospital Israelita Albert Einstein, a Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) e o Instituto Appana Mind revelou que uma hora e 15 minutos de ioga e meditação três vezes por semana, ao longo de dois meses, cortou pela metade a concentração de cortisol de uma turma em que a ansiedade atingia índices alarmantes, os cuidadores de doentes com Alzheimer. 

Não à toa, médicos e especialistas em saúde pública defendem a aplicação do método em tratamentos – no Reino Unido, o mindfulness já é oferecido no sistema público de saúde desde 2009. Entretanto, o crescente número de adeptos à prática transformou o mindfulness em um negócio extremamente lucrativo e criou ramificações e conceitos que, segundo especialistas, podem ser prejudiciais à saúde humana.  

 O OUTRO LADO DA MOEDA
Em 2015, o mindfulness já era um mercado avaliado em US$ 1 bilhão nos EUA, de acordo com matéria da revista Fortune. Segundo reportagem do Chicago Tribune, os aplicativos de meditação Calm e Headspace (os mais famosos) estão hoje avaliados em US$ 250 milhões. Em junho deste ano, o Headspace anunciou a intenção de buscar a aprovação do Food and Drug Administration (FDA), ligado ao Departamento de Saúde e Serviços Humanos dos Estados Unidos, para criar uma versão de seus programas prescrita por médicos.  
Atualmente, a técnica tem sido vendida pelo mercado como um processo que cura diversas doenças, algo que preocupa especialistas. “Muitas pessoas acreditam que a meditação resolve tudo instantaneamente e que não importa o que há de errado com você: ao começar a meditar tudo fica bem. E isso claramente não é o caso”, explica Sara Lazar, pesquisadora e professora de psicologia da Universidade de Harvard, em entrevista ao Chicago Tribune. Pesquisas recentes mostram que a meditação pode ter um impacto negativo em alguns casos e contribuir para o desenvolvimento de psicoses em pessoas que sofreram um trauma grave ou que têm transtorno bipolar ou esquizofrenia, por exemplo.  

Há hoje versões de mindfulness para tudo, desde passear com o cachorro até fazer sexo. Um dos ramos mais lucrativos tem relação com o aumento da produtividade no trabalho. O programa Search Inside Yourself, da Google, é um deles. A iniciativa é baseada no trabalho do ex-engenheiro da empresa Chade-Meng Tan e o transformou no atual guru das empresas. Ironicamente, um recente estudo apresentou indícios de que o mindfulness pode ter um impacto reverso quando se trata de motivação. “Esta pesquisa diz que depois de uma sessão de mindfulness as pessoas se sentem muito bem com as coisas e, portanto, não estão ansiosas para sair e vender, vender, vender. As pessoas dizem: ‘Eu fiz tudo certo, me sinto bem, trabalhei bastante hoje. Minha empresa está indo bem o suficiente’”, explica Jeff Wilson, professor de estudos religiosos na Universidade de Waterloo, no Canadá, e autor de Mindful America (publicação referência no assunto), em entrevista ao Chicago Tribune 

Os benefícios do mindfulness já estão comprovados pela ciência e vão além de se tornar uma pessoa mais inteira, calma e presente. No entanto, ao adentrar este universo é importante escolher profissionais e programas qualificados para fazer o processo de maneira segura. Acima de tudo, é importante ter consciência que mais que melhorar as relações profissionais, familiares e amorosas, o mindfulness pode nos ajudar a melhorar a nossa relação com nós mesmos – a nossa melhor e mais duradoura companhia.

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COMO OS TELHADOS VERDES E AS HORTAS URBANAS ESTÃO MUDANDO A CARA DE SÃO PAULO

É muito importante colaborarmos com o desenvolvimento sustentável do planeta e da sociedade como um todo. Afinal, nós somos as pessoas responsáveis pela transformação de hábitos alimentares e culturais. A agricultura urbana vem sendo implementada por algumas organizações sociais, comunidades e empresas como uma alternativa sustentável; construindo o conceito de qualidade de vida, respeitando e utilizando nossos recursos naturais com responsabilidade e planejamento. Além de utilizar áreas de terra desocupadas e improdutivas, promove a interação social, estimulando a produção do alimento pelos próprios consumidores. No Japão, por exemplo, devido à carência de solo fértil para plantio, grandes obras urbanas foram integradas com sistemas para cultivo de frutas e hortaliças. Também no Japão, um famoso edifício em Tóquio teve sua fachada reestruturada com um sistema de jardim vertical. Na América Latina, a principal concentração de hortas urbanas é em Cuba. 

Morar nos grandes centros urbanos não precisa ser um fator excludente de alguns bons hábitos do interior como, por exemplo, utilizar alimentos que sejam provenientes de hortas para a sua alimentação. Uma das formas para garantir que essa realidade não seja distante das grandes cidades é através da criação de hortas comunitárias. Há algumas décadas, a técnica do telhado verde vem sendo desenvolvida através de pesquisas e projetos inovadores na criação de soluções sustentáveis e consiste no plantio de árvores e plantas nas coberturas de residências e edifícios. Esse tipo de técnica tem inúmeros benefícios, como a captação de água da chuva, o tratamento de efluente (esgoto sanitário), a captação da energia solar e a atuação como um agente purificador da poluição urbana. Os Ecotelhados funcionam como um isolante térmico e absorvem 30% da água da chuva reduzindo, por exemplo, a chance de enchentes nas cidades. Ou seja, quanto mais telhados verdes, menos possibilidades de enchentes. 

Os telhados convencionais acumulam o calor e o transferem para dentro das construções. Com o telhado verde a cobertura vegetal se encarrega de dissipar ou consumir esta energia pela evapotranspiração e pela fotossíntese, reduzindo significativamente a amplitude térmica do interior do prédio. É uma ótima solução para a redução das ilhas de calor nos centros urbanos, diminuindo o consumo do ar condicionado e auxiliando no conforto térmico, o que dá maior durabilidade às construções, pois diminui a amplitude térmica. Testes realizados comparando telhados verdes com telhados comuns mostraram uma diminuição de até 15ºC dentro da edificação no verão. No inverno, o sistema conserva o calor dentro da edificação, aumentando a eficiência de aquecedores ou lareiras. Essas zonas verdes contribuem ainda para formação de um miniecossistema, atraindo diversos pássaros, borboletas, joaninhas, abelhas, etc., que foram eliminados do ambiente com o crescimento urbano. O valor do investimento para a construção de um telhado verde é em geral o mesmo que para um telhado convencional, considerando-se um telhado de boa qualidade. Ele pode ser colocado, diretamente sobre a laje impermeabilizada e com proteção anti-raízes. Se você levar em conta os benefícios de conforto térmico, retenção de água, limpeza do ar e vida útil de duas a três vezes maior, a vantagem a favor do telhado verde é grande. Aqui em São Paulo como exemplo prático desta técnica temos o telhado verde do prédio da Fundação Cásper Líbero, na Avenida Paulista. Aberta em 2016, a área de 700 metros quadrados conta com mudas de 130 árvores típicas da Mata Atlântica, como Jacarandá bico-de-pato, araçá-do-campo e embaúba, tem ajudado a reduzir o calor e melhorado a umidade do ar na região. Há também a floresta suspensa da cobertura da prefeitura, no centro da cidade. A área de 300 metros quadrados abriga árvores como palmeiras-jerivá e pau-brasil, além de pés de café e de manga, plantas medicinais e um lago com carpas.

A cobertura do Shopping Eldorado, na zona oeste, abriga uma linda e enorme horta, com mais de 1000 metros quadrados, onde crescem alfaces, manjericões, berinjelas, legumes, hortelãs e outras verduras, além de plantas medicinais. O projeto foi criado em 2012 e oferece um destino ecologicamente correto a cerca de uma tonelada de lixo orgânico gerado diariamente na praça de alimentação do shopping. Esse resto de comida se transforma em adubo para o cultivo das plantas, reduzindo a quantidade de lixo jogado em aterros sanitários.
Neste ano, o Shopping Metrô Itaquera, na zona leste, começou um projeto semelhante. Na área antes vazia da cobertura do espaço, hoje há alface, agrião e cenoura, plantados em mais de 20 caixotes. Os restos de comida da praça de alimentação (40 toneladas semanais) são transformados em adubo para a terra e os produtos orgânicos, futuramente, poderão ser consumidos por funcionários e pela comunidade local. 
Há um ano, funciona no telhado de um galpão em Paraisópolis, na zona sul, o projeto Horta na Laje em que as moradoras do bairro aprendem a cultivar legumes, verduras e frutas. Promovida pelo Instituto Stop Hunger Brasil e a Associação das Mulheres de Paraisópolis, a iniciativa já beneficiou mais de mil mulheres. De acordo com a Associação, elas são o público-alvo porque sustentam 23% das famílias da comunidade. Por meio de cursos técnicos do projeto, elas aprendem a cultivar hortaliças em vaso, reproduzem em casa e, além de uma alimentação mais saudável para si e para suas famílias, conquistam independência financeira. “Nós queremos tornar Paraisópolis uma comunidade sustentável”, afirma Davi Barreto, superintendente do Instituto Stop Hunger Brasil, em entrevista ao portal R7.  Outras iniciativas interessantes são a horta do Centro Cultural São Paulo, no centro, que produz tomate, batata doce, rúcula e banana no terraço; e as hortas implementadas nas unidades do Sesc Parque Dom Pedro II (no centro) e Campo Limpo (zona sul) – ambas cuidadas pela Pé de Feijão, um negócio social criado em 2014 que é responsável por outras quatros hortas na cidade. “Queremos transformar a relação das pessoas com a comida”, afirma a bióloga Luisa Haddad, sócia-fundadora do projeto, em entrevista à revista Veja São Paulo.

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TECNOLOGIA E HUMANIDADE

Por Danilo España, time da Humans Can Fly e colunista da Escola São Paulo

Através do teclado do meu computador digito esse texto e através da sua tela você o lê. Aqui criamos um elo de comunicação, neste momento somos ajudados pela tecnologia.

A tecnologia nos ajuda em diversas áreas, facilita processos, acelera as comunicações e gera resultados rápidos. Acontece que para tudo há um limite, e ainda que não façam tantos anos que a tecnologia atingiu um certo ápice, existem pessoas comprovando na pele que o excesso de tecnologia pode prejudicar a vida social e até mesmo a saúde.

Não só o fato de vermos famílias inteiras ou grupos de amigos em um restaurante, por exemplo, imersos, todos, em seus celulares e tablets ultramodernos sem conversar. Há também outras situações que nos mantém reféns da modernidade: ter que olhar o e-mail diversas vezes por dia, acompanhar as atualizações das redes sociais, responder centenas de mensagens e de depender de uma conexão de alta velocidade 24 horas por dia para satisfazer nossas curiosidades, buscar informações, cumprir tarefas, pagar contas, descobrir tendências, ideias, empresas, pessoas etc…

Mas como definir se a quantidade de contato que temos com a tecnologia chega a ser prejudicial?

David Backer, fundador da The School of Life deu uma palestra em São Paulo algumas semanas atrás sobre o tema Tecnologia e Humanidade e por sorte estivemos presentes para escutar o que ele tinha a dizer. Seu discurso foi sobre o quanto a tecnologia tem influenciado as relações pessoais, sociais e o quanto deixamos que ela invada nossa vida, acabando com a nossa privacidade, desrespeitando nosso ritmo psíquico, biológico e afetando até mesmo nossa saúde.

Máquinas, equipamentos, dispositivos são essenciais para sobreviver em um modelo de sociedade onde o virtual está cada dia mais próximo do real. Descobrir um limite de interação com as tecnologias é algo individual, cada um deve buscar essa equação para respeitar sua própria natureza.

Por mais que busquemos as tecnologias mais incríveis, ainda assim é o homem que as inventa, as cria, ou seja, todo potencial de sua criação está no homem. Esse encontro me fez pensar quão alta é a tecnologia do nosso próprio corpo. Possuímos a mais avançada tecnologia, a tecnologia natural, biológica, humana… ou seja, não podemos esquecer as funções que nosso corpo desempenha, a quantidade de informações que armazenamos, como conseguimos acessá-las a uma velocidade absurda, a capacidade de bilhões de cálculos, o potencial analítico que temos, auto-regulações corporais, sentimentos, emoções, razão, etc.

A tecnologia evidentemente evolui, mas e a humanidade? Estamos evoluindo nosso lado humano e tendo orgulho dessa evolução tanto quanto da tecnologia? Precisamos de um movimento que valorize as características naturais do homem, que respeite seus limites e que trabalhe dentro de um nível de tolerância individual, considerando que somos diferentes, que suportamos coisas absolutamente distintas. Os talentos também são individuais, devem ser exercitados, desenvolvidos e o tempo que nos prendemos à tecnologia muitas vezes consome esses importantes momentos. Outro importante momento que não estamos desfrutando e que nos é essencial é o ócio. David lembrou que perdemos o poder da lentidão, por exemplo, de cultivar o pensamento lento, e perdemos também a alegria da imperfeição, afinal estamos longe de sermos perfeitos seja no que for.

O que não nos damos conta é que podemos escolher o que pensar e como pensar, as imposições da atualidade dificultam esse processo, mas ainda depende de nós essa escolha.

Então que sejamos usuários da tecnologia e não seus escravos…

O mundo anda mais preocupado com o High Tech. Escrevemos recentemente uma matéria sobre isso. Hoje há uma necessidade de se recuperar o High Touch. High Touch para quem nunca ouviu falar, quer dizer a alta tecnologia do toque, do afeto, do carinho, ou seja, da humanidade. Ela sim nos toca verdadeiramente, não é fria como uma máquina que reage aos nossos estímulos por pura programação.

A naturalidade humana vem se perdendo por diversos motivos, pelo excesso do uso de tecnologias, pelos sistemas falidos que vivemos; sejam políticos, sociais ou econômicos. Por uma cultura popular globalizada em que existem apenas dois grupos de pessoas os “winners” e os “loosers”. Você é um vencedor na vida se tem dinheiro, sucesso e reconhecimento, caso contrário é um perdedor, depreciado pelos que possuem mais dinheiro.

Esses dias conversando com um amigo ele me disse: você já parou pra pensar no que significa estar “bem de vida”?

E aí parei para pensar que o “bem de vida” hoje significa “estar bem financeiramente”. É triste que assim seja, mas sou otimista e a favor do movimento humano. Quem sabe um dia estar bem de vida se torne uma expressão que tenha mais a ver com VIDA do que com dinheiro, a vida é mais do que isso. Então te convido a refletir sobre como anda pensando, e no que, para que nosso olhar e posicionamento sobre o mundo evolua e essa evolução seja mais importante do que a evolução tecnológica. Para que a expressão estar “bem de vida” signifique ter saúde, paz e estar de acordo com sua própria jornada.

A era do comportamento padrão se foi, entendemos bem o termo globalização e já experimentamos seus efeitos positivos e negativos. O acesso à informação nos permite decidir com mais base, nos traz reflexões diversas. A era da tecnologia está aí para nos servir e nos ajudar, o que vale é saber usá-la para continuarmos “bem de vida”.

Via Exame

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O FUTURO DAS PROFISSÕES: ESTAMOS PREPARADOS?

Vamos ser substituídos por robôs? Você possivelmente já fez esta pergunta ou a debateu em alguma roda de conversa. Afinal, nas últimas duas décadas, vivenciamos um período de transformações tecnológicas extremamente impactante. No campo do mercado de trabalho, a tecnologia melhorou estruturas e agilizou processos, mas também  colocou em dúvida a necessidade de muitas profissões em um futuro próximo. “As profissões não são imutáveis. Elas são um artefato que construímos para atender a um determinado conjunto de necessidades em uma sociedade industrial baseada em impressão”, explicam os pesquisadores Richard Susskind e Daniel Susskind. Autores do livro O Futuro das Profissões: Como a tecnologia vai transformar o trabalho de especialistas humanos, lançado em 2015, eles acreditam que, conforme avançarmos como sociedade tecnológica, muitos trabalhos serão extintos por não atenderem às demandas do novo modelo do mercado.  

Segundo estimativa do DaVinci Instituteconsultoria dedicada a pesquisas sobre o futuro, 2 bilhões de postos de trabalho desaparecerão até 2030. Já um levantamento da consultoria PricewaterhouseCoopers (PwC) aponta que 48% dos trabalhadores dos EUA serão substituídos por máquinas até 2027 – na Alemanha serão 35% e no Japão 21%. O relatório The Future of Jobs and Skills (O Futuro do Trabalho e das Habilidades), publicado em 2016 pelo Fórum Econômico Mundial, aposta que inteligência artificial, robótica, nanotecnologia e impressão 3D serão algumas das áreas que movimentarão o mercado do futuro. Já funções de apoio à gestão e trabalho operacional tendem a ser eliminadas total ou parcialmente. “Profissões que são muito repetitivas obviamente serão substituídas por softwares. E as que são por natureza muito humana, como serviços de cuidadores e de atendimento, tendem a ter seus valores pressionados para baixo em razão da robotização, por exemplo”, analisa Arthur Igreja, especialista da multiplataforma AAA, em entrevista ao IDGNow.

Richard e Daniel Susskind destacam que, apesar da extinção de muitos trabalhos, outras profissões serão criadas. Em sua palestra no Fórum Econômico Mundial, em 2017, Jeff Weiner, CEO do LinkedIn, destacou que 2 milhões de novos trabalhos deverão ser criados nos próximos quatro anos dentro dessa dinâmica. De acordo com uma pesquisa da consultoria McKinsey, para cada posto de trabalho eliminado pelo avanço da tecnologia, 2,4 novos serão criados, especialmente em startups. Envoltos em um cenário tão complexo e em rápida transformação, fica a dúvida: estamos preparados para este futuro já tão presente? A resposta é sim se entendermos que o novo mercado vai priorizar profissionais mais focados em desenvolver sua vida profissional como um todo do que em constituir carreira. Para entender melhor isso, precisamos fazer uma breve análise histórica da relação do homem com o trabalho nos últimos dois séculos.   

O TRABALHO ONTEM, HOJE E AMANHÃ
Há 50 anos, o objetivo de qualquer profissional era conquistar um emprego fixo e estável. Naquela época, entrava-se jovem em uma empresa e de lá só saia aposentado, em geral na mesma função. Na década de 1990, a geração X entra em cena e muda as regras do jogo. O objetivo profissional passa a ser criar currículo, mudar de cargo, ganhar mais dinheiro. Neste ponto, experiência vale muito e trocar de empresas durante a vida profissional é uma opção viável e eficaz. 

Após este período, mudanças econômicas e, principalmente, avanços tecnológicos reconfiguraram o mercado de trabalho e obrigaram empresas e profissionais a se reinventarem. É o começo da chamada era da freelancer economy, ou economia sob demanda, que vivenciamos nos dias de hoje, em que profissionais assumem o controle da própria carreira e se reinventam constantemente não apenas para atender a uma demanda de mercado, mas também em busca de uma realização pessoal. 
No futuro, a tendência, de acordo com os pesquisadores, é que deixaremos de enxergar o trabalho em termos de profissões, como médicos e advogados, por exemplo, e passaremos a entendê-lo como tarefas. Em um mundo cada vez mais tecnológico e digital, serão analisadas quais tarefas podem ser desempenhadas por máquinas, quais só podem ser feitas por seres humanos e quais podem ser feitas em conjunto, homens e máquinas (robôs ajudando médicos em cirurgias, por exemplo, algo que já é uma realidade).  

Para os especialistas, terão espaço neste novo contexto de mercado os profissionais flexíveis, criativos, críticos, empáticos, dispostos a mudar, aptos a desempenhar múltiplas tarefas e, principalmente, preparados para solucionar problemas. Habilidades que não são necessariamente adquiridas em cursos de especialização, mas que estão incutidas em cada um de nós e se desenvolvem no decorrer da vida. “Em um mundo onde o conhecimento está crescendo em velocidade exponencial, vão dar certo as pessoas que tratarem as suas profissões como grandes oportunidades aceleradas de aprendizado na teoria e na prática. Como processos de tentar, errar e aprender dinamicamente, no tempo dos acontecimentos”, analisa o cientista Silvio Meira, um dos mais importantes nomes do país ligados à inovação e ao empreendedorismo. É até irônico pensar que, em um mercado cada vez mais tecnológico, a capacidade humana (e singular) tende a ser o grande diferencial do futuro. Viva a nossa humanidade! 

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COWORKING E EMPREENDEDORISMO CONSCIENTE

Uma dobradinha cada vez mais eficaz.

Já falamos aqui no blog sobre como a tecnologia alterou para sempre a maneira como nos relacionamos com o mundo, em todos os sentidos. No campo do trabalho, ela contribuiu para a criação de tendências como a do freelancing, em que profissionais decidem abrir mão de cargos fixos em empresas e optam pelo trabalho autônomo, em busca de uma realização pessoal, ou se reinventam como prestadores de serviços independentes diante de uma demissão.  

Essa nova dinâmica de trabalho demandou a criação de ambientes mais adequados à novidade, modelos como o do coworking. O termo surgiu em 2005 nos EUA, quando o engenheiro de software Brad Neuberg criou uma comunidade de trabalho com os amigos e percebeu que a troca de ideias e experiências em grupo resultava em maior produtividade. Totalmente conectada a uma outra tendência mundial, em que o compartilhamento de informações e a troca constante são valorizados, a proposta rapidamente ganhou adesão e passou a ser reproduzida mundo afora. 
No Brasil, o conceito chegou há quase dez anos e, desde então, tem crescido de uma maneira bastante expressiva, não apenas nas capitais, mas também em cidades do interior. Segundo levantamento do site Coworking Brasil, que reúne empresas do setor, em 2017 havia 810 espaços de coworking conhecidos no Brasil, um aumento de 114% em relação a 2016.  

De uma maneira geral, os coworkings são espaços nos quais profissionais de diferentes áreas trabalham de maneira autônoma, porém dividindo o mesmo local. Inicialmente, o modelo foi adotado por profissionais das áreas de Comunicação e Direito, mas hoje em dia abarca também jovens empreendedores, profissionais liberais e até funcionários de multinacionais. Em geral, profissionais e empresas que adotam o modelo de coworking buscam flexibilidade ambientes de trabalho mais descontraídos, menos formais e mais propensos à troca de conhecimento. “[É] muito melhor do que trabalhar no isolamento de casa ou fechado em um escritório. Aqui tem o inusitado, não sabemos quem está ao lado, o que vou encontrar e isso é ótimo porque possibilita novos encontros”, disse o estrategista de marketing Wesley Silva, em entrevista ao portal R7 

Com a adesão cada vez maior de profissionais, surgiu a possibilidade de ampliação do modelo de coworking para além do âmbito do trabalho e do compartilhamento de ideias, alcançando as esferas do empreendedorismo e do impacto social. O Co labore é um exemplo dessa nova dinâmica. A iniciativa busca promover a aproximação de empreendedores criativos e sociais com potenciais investidores, um verdadeiro celeiro de novos negócios. “A Co_labore é um espaço que acolhe um coletivo de pessoas que gera um coletivo de ideias. Um coletivo de ideias que inspira estimula cada pessoa a criar seu negócio e cada negócio a evoluir. É uma nova forma de trabalhar e gerar riquezas. Esse é o jeito que encontrei de contribuir com este mundo de trabalho que está surgindo. Um mundo onde a força nasce da colaboração”, explica Antonin Bartos Filho, fundador da proposta.  

Outro exemplo interessante dessa nova vertente é o Cubo, espaço de inovação e empreendedorismo do Itaú Unibanco criado em parceria com o Redpoint eventures (um dos principais fundos de investimento do mundo). Aberto em 2015 e considerado o maior e mais relevante centro de empreendedorismo tecnológico da América Latina na atualidade, o espaço conecta empreendedores, grandes empresas, investidores e universidades com o intuito de discutir sobre tecnologia, inovação, novos modelos de negócios e novas formas de trabalhar 

Na mesma linha, temos também o Campus São Paulocriado em 2016 e, atualmente, o maior coworking do Google no mundo, com mais de 100 mil membros cadastrados. O espaço abriga dez startups a cada seis meses, mas cede espaço também para profissionais interessados em fazer uso da sua estrutura – basta fazer um cadastro gratuito no site. “Nós envolvemos nosso time com as startups e aprendemos com elas. Além de ajudar os empreendedores a entenderem nossos produtos, como tecnologia de nuvem, uso do YouTube ou nossas soluções de publicidade, a gente tem a oportunidade de saber o que eles precisam para evoluir. Com isso, podemos desenvolver o que será necessário no futuro”, explica Fernanda Caloi, gerente de programas do Campus São Paulo, em entrevista à revista Época Negócios

Outro exemplo interessante de incentivo ao empreendedorismo e à economia criativa e colaborativa em voga é o House of Food, um coworking, também instalado em São Paulo, que reúne chefes, professores, estudantes de culinária e aspirantes dispostos a pilotar um fogão industrial e criar receitas. “Aqui, as pessoas podem experimentar, testar receitas e ver o que tem ou não aceitação no mercado, se esse for o objetivo”, explica Wolfgang Menke, criador do espaço, em entrevista ao Draft. Os interessados alugam o espaço por um dia ou por uma semana, podem utilizar o staff da casa na realização de seus eventos e ficam com 100% do lucro obtido na empreitada. 

COWORKING E IMPACTO SOCIAL 
Há também diversos exemplos de coworking que buscam incentivar a realização de projetos que tragam melhorias para a sociedade ou promover atividades em prol da comunidade na qual estão inseridos. É o caso do Civi-co, o primeiro coworking do país com foco em negócios de impacto cívico-social. Inaugurado em São Paulo, em 2017, o espaço conta com startups e ONGs como a Feira Preta, a Hype60+, a Pipe Social e a RedeDots, entre outras.  

O nome Civi-co vem de civismo, da ideia de pertencimento, de cidadania. “Nosso propósito, resumindo, é tornar o Brasil mais justo. Não dá pra olhar só para o lucro. Estamos entre as dez maiores economias do mundo, mas também entre os países mais desiguais. Isso pode ser mudado. As pessoas querem mudança”, explica Ricardo Podval, um dos sócios-investidores do espaço, em entrevista ao Draft. “Queremos que o Civi-co vá além do espaço. Que crie vínculos, sinergias de trabalho e seja um caldeirão de ideias”, diz Patrícia Villela Marino, também sócia-investidora, em entrevista à revista Pequenas Empresas & Grandes Negócios
Civi-co conta ainda com uma iniciativa voltada a startups que não conseguem pagar para ficar no espaço. Batizado de Adote uma Startup, o projeto é subsidiado por empresas que queiram causar impacto social ajudando outros empreendedores sociais. Podval, que por sete anos atuou na China como business developer de uma fabricante de bens de capital, conta que sua experiência na Ásia o fez conhecer de perto o impacto da chamada Nova Economia e que a proposta de ampliação do modelo de coworking, adotado pelo Civi-co, está totalmente atrelado a este novo modelo econômico.  “Na China, hoje, parece que em cada cidade, em cada província, existe um ‘Vale do Silício’ talvez maior até do que o californiano, com mais investimentos, novas formas de trabalho, modelos de escritórios extremamente modernos…Há uma nova visão de empreendedorismo”, afirma.

No Rio de Janeiro, alguns espaços de coworking começaram a oferecer cursos, palestras, bate-papos, clube de cinema, almoço e até happy hour. O Templo, por exemplo, é um coworking que, além das estações de trabalho, funciona como um clube e transformou o seu espaço em cenário para exposições, cineclube, palestras, workshops, aulas de meditação e de ioga.  

Já o Fazedoria oferece cursos de idiomas, iluminação, cosmética natural e de conteúdos voltados mais para o dia a dia dos participantes. “A curadoria dos cursos também é feita com base no que diz o slogan daqui, do fazer acontecer, e por isso eles têm um caráter mais prático. A coisa de querer fazer e de movimentar a economia criativa faz parte do nosso DNA”, explica Marcos de Oliveira, gerente do coworking, em entrevista ao jornal O Globo 

Mantendo o espírito colaborativo, que é a essência do coworking, grande parte das atividades oferecidas nestes espaços acontecem por sugestão dos clientes (em alguns casos, são organizados por eles) e atraem um público bastante diverso, que não necessariamente frequenta os espaços no dia a dia. Provas de que a máxima “juntos somos mais” (e melhores) tem feito cada vez mais sentido.