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A NOVA MODA É SUSTENTÁVEL

A seguir, a atualização sobre a semana do Fashion Revolution em abril de 2020, publicada no Instagram:

Marcas, indústrias e varejistas: participem da Semana Fashion Revolution Digital!

O Fashion Revolution não irá realizar nenhuma atividade presencial em abril, mas enquanto marca ou indústria você pode seguir engajado nas nossas campanhas, principalmente revelando como os trabalhadores da sua rede estão amparados neste momento de crise e quais têm sido suas políticas perante isso. ??Por ser um momento complexo para todos, vamos fortalecer a coletividade, atentar para os mais vulneráveis e garantir o bem-estar de nossas comunidades. Suas principais ativações durante a Semana Fashion Revolution podem ser algumas das sugestões na sequência de imagens do post!

Para ler mais e descobrir outras formas de se envolver – durante a Semana e além – veja a publicação completa no site!

#fashionrevolution #quemfezminhasroupas #doquesãofeitasminhasroupas

A MODA

Ao longo de muitos anos a indústria da moda se manteve isolada da sociedade em geral como parte de sua própria proposta de se colocar enquanto algo para poucos. Por muito tempo, se criticou esse isolamento a partir de diversos ângulos, desde elitismo até questões trabalhistas. Felizmente, os novos ventos do comportamento social nos trouxeram uma era de valorização da transparência enquanto paradigma e hoje a situação é diferente.

Mais do que nunca, hoje temos muitos agentes e órgãos interessados em fazer dessa indústria (de extrema importância para a economia mundial) um bom setor para se trabalhar, independentemente da posição na cadeia de produção, e fazer da moda um dos pivôs da mudança de valores do sistema capitalista, reconhecendo na sustentabilidade o único caminho para uma sociedade mais justa.

A MODA E O FASHION REVOLUTION

A moda é uma força a ser considerada. Ela inspira, provoca, conduz e cativa. O Fashion Revolution acredita no poder de transformação positiva da moda, e tem como principais objetivos  conscientizar sobre os impactos socioambientais do setor, celebrar as pessoas por trás das roupas, incentivar a transparência e fomentar a sustentabilidade.

O movimento foi criado após um conselho global de profissionais da moda se sensibilizar com o desabamento do edifício Rana Plaza em Bangladesh, que causou a morte de 1.134 trabalhadores da indústria de confecção e deixou mais de 2.500 feridos. A tragédia aconteceu no dia 24 de abril de 2013, e as vítimas  trabalhavam para marcas globais, em condições análogas à escravidão.

#QUEMFEZMINHASROUPAS

A campanha #QuemFezMinhasRoupas surgiu para aumentar a conscientização sobre o verdadeiro custo da moda e seu impacto no mundo, em todas as fases do processo de produção e consumo. Realizado inicialmente no dia 24 de abril, o Fashion Revolution Day ganhou força e hoje tornou-se a Fashion Revolution Week, que conta com atividades promovidas por núcleos voluntários, em mais de 100 países.

Queremos tornar a moda uma força para o bem!

SEMANA FASHION REVOLUTION BRASIL

No Brasil, o movimento atua há 5 anos. Durante a Semana Fashion Revolution, e ao longo do ano em eventos pontuais, realizamos ações, rodas de conversa, exibições de filmes e workshops, que promovem mudanças de mentalidade e comportamento em consumidores, empresas e profissionais da moda.

Ficamos muito felizes com o crescimento do movimento, que hoje está estabelecido como Instituto Fashion Revolution Brasil e trabalha em parceria com diversos atores.

A Semana Fashion Revolution 2019 envolveu aproximadamente 25 mil pessoas em 50 cidades do Brasil e contou com mais de 230 voluntários, 48 representantes locais, 55 embaixadores em 114 escolas e universidades, comprometidos com a organização de 815 eventos. Para se ter uma ideia, em 2018 foram realizados 733 eventos, e em 2017, 225. Além disso, aproximadamente 500 marcas de vestuário se engajaram na campanha.

Queremos mostrar ao mundo que a mudança é possível, através do engajamento de todos! A conscientização é o primeiro passo para que poderosas transformações sejam concretizadas. Vamos criar conexões e exigir práticas mais sustentáveis e transparentes na indústria da moda?

No curso Design Sustentável da Escola São Paulo, Eloisa Artuso mostra as suas conexões estabelecidas com marcas e iniciativas para tornar seus processos produtivos mais sustentáveis. Ela ensina como podemos atuar para projetarmos uma sociedade econômica, social e ambientalmente viável. Com uma visão de mundo integrada e uma riqueza de cases de redução de impactos sobre o planeta como um todo, o conteúdo do curso se alinha aos Objetivos do Desenvolvimento Sustentável da ONU.

Participe de nossa campanha nas redes sociais, em qualquer momento do ano:

1 – Faça uma selfie com a etiqueta da marca que está vestindo

2 – Pergunte na legenda: @nomedamarca  #QuemfezMinhasRoupas? #FashionRevolution

3 – Poste e faça parte dessa revolução!

“O Fashion Revolution promete ser uma das poucas campanhas verdadeiramente globais a surgir neste século”, diz Lola Young, criadora do Grupo Parlamentar de Todos os Partidos sobre Ética e Sustentabilidade na Moda no Reino Unido.

A co-fundadora do movimento, Orsola de Castro, completa: “Nós queremos que você pergunte: ‘Quem fez minhas roupas?’. Essa ação irá incentivar as pessoas a imaginarem o “fio condutor” do vestuário, passando pelo costureiro até chegar no agricultor que cultivou o algodão que dá origem aos tecidos. Esperamos iniciar um processo de descoberta, aumentando a conscientização de que a compra é apenas o último passo de uma longa jornada que envolve centenas de pessoas, e realçando a força de trabalho invisível por trás das roupas que vestimos”.

CONTATOS

  • Para dúvidas, saber como participar e ver o que esta acontecendo em sua cidade, escreva para a Dandara Valadares no email:

fashionrevolution.br@gmail.com

  • Para apresentar projetos, propostas ou convites, escreva para a nossa diretora executiva Fernanda Simon no email:

brasil@fashionrevolution.org 

  • Marcas, industrias e empresas podem escrever para a Bárbara Poerner, nossa articuladora no email:

frd.comunicacao@gmail.com

  • Faculdades e projetos educacionais podem escrever para a nossa diretora educacional,  Eloisa Artuso:

frd.educacional@gmail.com

  • Mídia e veículos de divulgação, escreva para a nossa assessora de comunicação, Giovanna Campos:

frd.assessoria2@gmail.com

CRÉDITOS TEXTO:
https://www.fashionrevolution.org/south-america/brazil/

#escolasãopaulo #descubra #reinvente #viva

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NEGÓCIOS COM PROPÓSITO PODEM AUMENTAR A LUCRATIVIDADE

Quando o lucro é aliado a um propósito

Você já ouviu falar em negócios sociais? O termo foi cunhado na década de 1970 pelo economista Muhammad Yunus. Ganhador do Prêmio Nobel da Paz, em 2006, ele é o fundador do Yunus Social Business Global Initiatives, um fundo de investimento sem fins lucrativos que transforma doações filantrópicas em investimentos em negócios sociais. A iniciativa tem uma unidade brasileira, a Yunus Negócios Sociais Brasil.

Desde a década de 1990, os negócios sociais foram ganhando cada vez mais adeptos no mundo, sobretudo nos EUA e na Europa. Segundo estimativa do banco de investimento JPMorgan Chase, os negócios sociais devem movimentar US$ 1 trilhão no mundo todo até 2020 – R$ 50 bilhões somente no Brasil. “Negócios sociais são empresas que têm como foco principal servir a base da pirâmide. O impacto social é o foco central do trabalho, mas, para isto, elas utilizam mecanismos de mercado, como a venda de produtos. Pode ser uma empresa que visa o lucro, no entanto, que tenha como sua atividade principal resolver um problema social”, explica Renato Kiyama, Gerente da Aceleradora de Impacto da Artemisia, em entrevista à Exame. A Artemisia é uma organização sem fins lucrativos, pioneira na disseminação e no fomento de negócios de impacto social no Brasil, que já acelerou mais de 100 negócios e já ofereceu capacitação para outros 300.

Negócios que tendem a crescer cada vez mais

A startup de compras on-line Welight é um exemplo. Criado em 2016, o negócio é um misto de empresa social e ONG e atua em três ferramentas: site, aplicativo e plug-in. Ao fazer uma compra pelo site ou pelo aplicativo da startup em uma das mil lojas parceiras da iniciativa, a Welight repassa entre 0,5% e 15% do valor do produto adquirido. Parte deste dinheiro vai para um dos 30 projetos sociais listados pelo site dedicados a questões de gênero, educação, combate à fome, meio ambiente, entre outras. A Welight fica com cerca de 10% do total arrecadado com as comissões para se manter. Todo o processo é auditável e fica disponível para os clientes. “Todas as relações de consumo podem ser uma geração de impacto social escalável. A ideia é globalizar a operação, já que desafios humanitários e ambientais existem em todos os lugares”, explica Pedro Paulo Lins e Silva, um dos criadores da iniciativa, em entrevista ao Draft.

Oportunidades não faltam

Outra iniciativa bastante interessante é a da Signa, que é atualmente uma das principais referências de educação online para surdos. Criada há dois anos, a startup oferece mais de 20 cursos, já atendeu mais de 1.300 alunos e tem um faturamento mensal de R$ 40 mil. A próxima etapa da empresa é abrir espaço para que os próprios alunos criem novos cursos (uma maneira da startup aumentar o portfólio de cursos e oferecer aos estudantes uma nova fonte de renda) e expandir a proposta para outros países. “O empreendedorismo é a resposta para melhorar a sociedade”, afirma Randall Kempner, diretor executivo da Aspen Network of Development Entrepreneurs (Ande), rede global de apoio a negócios de impacto social.

A iniciativa conta com 280 integrantes em todo o mundo e auxilia empreendedores em 150 países emergentes. Em entrevista à revista Pequenas Empresas e Grandes Negócios, ele explica que o Brasil ainda está descobrindo o potencial dos negócios sociais. Um estudo realizado pela Ande, em 2016, conseguiu identificar apenas 29 investidores de impacto locais, com US$ 177 milhões para investir, a maioria na região Sudeste. Ainda assim, ele espera que o levantamento deste ano irá apresentar um crescimento no número de adeptos ao modelo. “Eu gostaria que as grandes companhias percebessem que investir em negócios sociais pode ser uma grande oportunidade. Você tem a possibilidade de lucrar e causar impacto social nas áreas em que atua. Então, vá atrás disso, explore diferentes caminhos.”

Como criar novos modelos de negócios para o design no Brasil e pensar outras economias?

A FIA {oficina de artesãs} nasceu da vontade de repensar os laços entre mercado, artesãos, designers e consumidores.

Refletindo sobre formatos de comercialização tradicionais e em como minimizar os custos em toda a cadeia do artesanato para que o artesão pudesse ser mais valorizado, o projeto foi idealizado a partir de conversas durante oficinas ministradas na Casa da Economia Solidária pela designer Celina Hissa, diretora da marca Catarina Mina, para artesãs de Sobral (Ceará). 

Ao final das oficinas, com uma mini coleção criada e peças-piloto prontas para serem reproduzidas, veio à tona o principal desafio: como fazer com que aquelas peças, tão bonitas, feitas com tanto carinho e vontade chegassem até o consumidor final? E mais: como fazer com que as pessoas que se dedicaram ao artesanato – e que reinventaram seus processos – pudessem se sentir encorajadas, confiantes e seguras, inclusive financeiramente, com aquilo que produziram?

Juntas, Celina Hissa, Silvana Parente, do IADH, e Lívia Salomoni, especialista em marketing e comunicação, decidiram entrar no Catarse, mas de uma forma diferente. Por meio do financiamento coletivo, conseguiram 222 apoiadores e, em um mês, fizeram uma pré-venda de quase R$ 40.000,00. Assim foi dado o start financeiro para a primeira coleção. Hoje, a Fia tem uma pop-up no site da Catarina Mina, marca da designer Celina Hissa, que, em conjunto com a oficina de artesãs, criou coleções para marcas como a Neon e já fecharam parceria com a OppaDesign.

Segundo Eloisa Artuso, professora do curso online de Design Sustentável da Escola São Paulo, “O futuro da moda e do design precisam refletir a nova consciência de uma era em que designers e consumidores estão verdadeiramente preocupados com a pegada ecológica e social dos produtos. Precisamos finalmente entender que as coisas devem ser vistas a partir de outra perspectiva: onde ‘ser’ é mais importante do que ‘ter’. As mentes criativas podem combinar inovação e sustentabilidade para transformar comportamentos culturais e levar o consumo a um patamar de melhor qualidade para então conseguirmos fechar a equação de um planeta finito.”

#escolasaopaulo #descubra #reinvente #viva

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DA EXCLUSIVIDADE À INCLUSÃO: UMA NOVA VISÃO DO LUXO

Por Sabina Deweik, do time Humans Can Fly e professora e colunista da Escola São Paulo. 

Quando você pensa em luxo, o que vem a sua cabeça? Exclusividade, status, ostentação, marca? Este conceito vem passando por grandes transformações, acompanhando também as grandes mudanças de comportamento da sociedade. 

Existe hoje uma nova relação entre preço e valor. Na década de 80, por exemplo, aquilo que tinha um preço elevado, tinha um valor alto. Preço e valor tinham uma relação quase que direta, linear. Hoje, nem tudo que tem um preço elevado tem grande valor para as pessoas. Muito pelo contrário. Há experiências de grande valor que são gratuitas ou extremamente acessíveis: fazer download de suas músicas preferidas, ter conexão wi-fi, tomar uma xícara de café com seu melhor amigo ou simplesmente poder se desconectar.
Grande parte das pessoas está deixando para trás o velho conceito do que é luxo no qual o sentido era ter algo que denotava status social. O exibicionismo vai dando espaço para o consumo de luxo ligado a experiências autênticas e empáticas.  

Essa nova visão, me remeteu a um documentário que assisti recententemente: “Minimalism: a documentary about the important things” (Minimalismo: um documentário sobre as coisas importantes), disponível na Netflix. No filme, os amigos de infância Joshua Fields Millburn e Ryan Nicodemus, os personagens principais, resolvem largar uma carreira estabelecida e um cargo no qual ganhavam um salário de dois dígitos para viver com mais satisfação e menos coisas. A partir daí, escrevem um livro sobre essa experiência e partem para uma viagem pelos EUA para promover o livro. 

Há quem critique a visão de que reduzir, ter menos poder financeiro, trará mais felicidade. Porém, analisando o documentário do ponto de vista dos movimentos sociais emergentes, me dou conta da importância deste tema na atualidade.
Ao longo do filme, especialistas de diversas áreas mostram alguns motivos pelas quais povos ocidentais perpetuam o fenômeno do consumismo desenfreado: a propensão a comprar compulsivamente por conta de sentimentos positivos que este hábito proporciona, a publicidade e o barateamento de produtos, como roupas e eletrônicos. Um dos autores e pensadores que admiro muito, Gilles Lipovetsky se debruça sobre essa questão pontuando no livro A Era do Vazio os efeitos da cultura na qual estamos inseridos: “A cultura pós-moderna é voltada para o aumento do individualismo, diversificando as opções de escolha, cada vez mais opções de escolha sobre tudo em uma sociedade de consumo; levando a perda de uma visão crítica sobre os objetos e valores que estão a nossa volta”. Sobre essa questão do valor venho me questionando imensamente: Qual o valor de X na minha vida? Para que?  consumo consciente coolhuntingQuestionar-se sobre o “para que” e não sobre o “porque” de algo abre uma perspectiva de qual o real valor daquela coisa, daquela experiência para cada indivíduo. Assim, a ideia perpetuada até hoje de que os bens devem ser consumidos mais rapidamente e em maior volume vai se desconstruindo. O Lowsumerism (união das palavras em inglês “low“- baixo com “consumerism” – consumismo), tendência crescente, vêm confirmar estas novas direções. O movimento, que vem ganhando adeptos em todo o mundo, tem como proposta repensar a lógica de consumo na busca por mais consciência e equilíbrio na hora de comprar.  

Ele se instala como uma alternativa a nossa herança consumista desde a Revolução Industrial e do modelo Fordista (nome em homenagem ao criador do método, o americano Henry Ford), que disseminava a produção em série.

Desde lá, a sociedade e o ideal de consumo foi crescendo com o chamado sonho americano e o atual esgotamento do planeta.  

Por coincidência ou não, este ano de 2018, mais especificamente o dia 1 de agosto, foi considerado pela ONG Global Footprint Network, o dia da sobrecarga da terra: em apenas 212 dias de 2018, os 7,4 bilhões de habitantes do Planeta Terra esgotaram os recursos naturais de comida, água, fibra, solo e madeira disponíveis para os 365 dias do ano. Traduzindo em miúdos: a humanidade está em dívida com a natureza. De acordo com a ONG, se não mudarmos nosso padrão de consumo, antes de 2050 precisaremos de dois planetas Terra para conseguir suprir todas as nossas necessidades. Quando pensamos nesta escala de valores, nos damos conta de que o Lowsumerism não é nem mesmo uma tendência. Eu chamaria de emergência. 

No rastro do Lowsumerism surgem outros movimentos como o upcycling; o reaproveitamento de materiais antigos ou que seriam descartados e a economia do compartilhamento; a sharing economy. A era da posse dá lugar a era do acesso: Uber, Airbnb, Coworking, bicicletas compartilhadas, Spotify, Netflix. Hoje é possível alugar uma incrível bolsa de uma marca de luxo e devolvê-la para que outro use, é possível se hospedar numa casa dos sonhos por um bom custo-benefício através de ferramentas como o Airbnb ou ainda trabalhar em um local incrível e conhecer pessoas, como é o caso dos co-workings, sem precisar pagar uma fortuna por um escritório.  Você usufrui, mas não possui. O desejo de consumo não cessa, apenas você não tem mais a posse do produto. Segundo as projeções da consultoria PwC, a economia compartilhada deverá movimentar mundialmente US$ 335 bilhões até 2025 — 20 vezes mais do que se apurou em 2014, quando o setor movimentou US$ 15 bilhões.Consumo consciente empreendedorismo cool huntingNeste sentido, as novas gerações têm sido extremamente importantes para este impulsionamento e para a ressignificação do luxo, imprimindo valores como sustentabilidade, propósito, autenticidade e transparência. 

No relatório “Millennials Drive The Sharing Economy”, conduzido pelo analista da Forrester Jonathan Winkle, a taxa de uso dos Millennials em negócios compartilhados é mais do que quatro vezes maior do que a dos Baby Boomers. Os dados revelam de fato que os Millennials impulsionam a economia compartilhada, em parte porque detêm valores diferentes dos consumidores mais antigos. 

As gerações mais jovens gastam mais em experiências do que em produtos materiais. 

Sinal dos novos tempos é o evento recém lançado em junho de 2018 em Arnhem, Holanda, o State of Fashion, uma iniciativa que apoia e ativa a busca mundial por uma indústria da moda mais justa, limpa e sustentável, conectando designers, empresas, governos, instituições educacionais e consumidores de moda e têxtil. Com o tema “Buscando o Novo Luxo”, as novas definições são exploradas como resposta às urgentes demandas ecológicas e sociais de hoje: menos desperdício e poluição, mais igualdade, bem-estar e inclusão – valores muito cultuados tanto pela geração dos Millennials como pela geração z.  

É dentro deste contexto que o luxo exclusivo vem dando lugar ao luxo acessível e inclusivo. Entramos na era dos Experiential Seekers – consumidores que passam a ter valores pós-materialistas e buscam por experiências intensas e com significado. E para você o que é o verdadeiro luxo?  

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VETEMENTS

Conheça a marca símbolo da geração Y que está revolucionando o mundo da moda 

Ousada, contemporânea, conectada, jovem. Estes são alguns dos adjetivos atribuídos à Vetements, marca francesa que, nos últimos quatro anos, tem movimentado o cenário fashion mundial. E não apenas no estilo de suas criações, usadas por nomes como Rihanna, Kanye West e Kim Kardashian, mas também no modelo de negócio, focado no trabalho colaborativo e autoral. Vetements, em francês, significa roupa ou vestuário. Criada em Paris, em 2014, a Vetements é um coletivo (composto por oito profissionais) que tem Demna Gvasalia, atual diretor criativo da Balenciagacomo porta-voz e diretor criativo. Nascido em Sukhumi, na Géorgia (antiga República Soviética), em 1981, Gvasalia presenciou a queda do muro de Berlim, o estabelecimento do capitalismo (e o ingresso da Coca-Cola, da fast-fashion e de outros inúmeros elementos da cultura pop) e a eclosão de uma Guerra Civil, que o fez fugir de seu país e se estabelecer com a família na Alemanha. 

Formou-se na Bélgica, na Royal College of Art, uma das mais tradicionais escolas de arte da Europa, de onde saíram grandes nomes da moda, como Dries Van Noten e Ann Demeulemeester. Em sua trajetória profissional, trabalhou por anos com o estilista Martin Margiela e atuou como design sênior na Louis Vuitton, trabalhando com Marc Jacobs e Nicholas Ghesquière. Essa mescla política, econômica, cultural e acadêmica que o formou enquanto pessoa está bastante presente nas criações da marca, reconhecida pelo street style que mistura elementos underground e vintage com a fascinação por logotipos e estampas dos norte-americanos. “Vetements é sobre a rua”, explica Gvasalia, em entrevista ao jornal The Guardian 

E justamente por ser um reflexo das ruas, a marca se tornou objeto de desejo principalmente dos millennials (nascidos pós-1990) e da geração Z. As duas gerações compõem o Gen Exit, ou Geração Fuga, termo cunhado pela consultoria Box 1824 para explicar um fenômeno recente de jovens que, cansados da ilusão vendida pelo universo on-line, estão cada vez mais adotando hábitos analógicos – é importante pontuar que a Box 1824 também criou o conceito normcore, que teve forte contribuição na onda urban que vigora na moda atualmente e da qual a Vetements é fruto direto.  

APOSTA NO RISCO 
Inicialmente, Demna Gvasalia e seus amigos pensavam em abrir a Vetements em Londres, uma cidade mais aberta ao novo, diferente de Paris, mais conservadora e onde a moda é mais tradicional e apresenta poucas inovações. Mas o desafio e, principalmente, o risco os motivaram a apostar na Cidade Luz. “Assumir riscos é algo que me acostumei quando criança e isso está no DNA da Vetements”, explica Gvasalia. “Na moda agora, você precisa correr riscos para sobreviver”, acrescenta.

A aposta foi acertada. Sedenta por novidade, Paris se rendeu ao frescor jovial e questionador da marca. A boa aceitação da marca no mercado também foi favorecida por um movimento recente, iniciado com a Jacquemus, que tem incentivado cada vez mais o trabalho de jovens designers.  

                                 
Ao ser indicado ao prêmio promovido pela Louis Vuitton, que incentiva novos nomes do mercado, o coletivo foi ganhando cada vez mais destaque no mercado. “A França é muito conservadora culturalmente, mas parece que mais e mais pessoas estão ousando discordar de visões estabelecidas sobre a sociedade e a moda. Tentamos refletir o que sentimos que está acontecendo ao nosso redor em Paris e nos subúrbios”, contou Gvasalia à revista britânica i-D 

Para potencializar o burburinho em torno do próprio nome, a Vetements adotou estratégias de venda não convencionais como, por exemplo, não trabalhar com pedido mínimo, como é de praxe, mas com o máximo e fazer a demanda superar a oferta. A marca também firmou parceria com boutiques de sucesso, tendo assim acesso não apenas a seus clientes, como também se beneficiando da fama e tradição destes empreendimentos. 
As iniciativas deram certo e fizeram o número de postos de venda da marca dobrar em pouco tempo. Recentemente, o site Highsnobiety publicou matéria na qual afirmava que as vendas da Vetements estavam caindo vertiginosamente e que suas criações estavam ficando encalhadas nas lojasinformação posteriormente negada por Gvasalia e por compradores. “É especialmente desapontador ver alguns repórteres de moda atacando marcas jovens e independentes enquanto bajulam grandes conglomerados por causa de seus orçamentos para anúncios. Veículos sérios estão se tornando tabloides”, declarou.  

ROUPAS DESEJÁVEIS 
Embora as estratégias de negócio adotadas sejam alguns de seus diferenciais, não há dúvidas de que foram o frescor e a ousadia de suas criações que elevaram a Vetements ao status cult em que ela se encontra hoje. A sandália com salto de isqueiro, a capa de chuva com a palavra Polizei (polícia, em alemão) e a camiseta amarela com o logo da empresa de entregas alemã DHL se tornaram itens desejados pelo público fashionista, sobretudo os jovens. Entram nesta lista também as hoodies (as queridinhas de Kanye West e Rihanna) e camisetas com letras estilo death metal ou com estampas de filmes (como Titanic, por exemplo), maxicasacos, jaquetas sintéticas, jeans com lavagens vintage e peças de veludo e de couro, focadas no estilo underground.  Em todas elas, a lógica aplicada é a da desconstrução dos conceitos da moda tradicional. Os cortes e o caimento não são perfeitos, as calças apresentam tecido sobrando, os vestidos são desconstruídos, as botas têm as pernas frouxas e as combinações fogem do lugar comum. “A maneira como trabalhamos é muito intuitiva”, disse Gvasalia ao Business of Fashion. “Não há horas de trabalho e estamos apenas nos divertindo o tempo todo”, declarou em entrevista ao Neue Journal 

Embora tenha uma proposta bastante autoral, o foco da Vetements está bem distante da moda conceitual e mais próximo da vida comum. “Nosso negócio é fazer roupas que as pessoas tenham vontade de usar. Tudo o que fazemos esta à venda”. Outro diferencial da marca está na escolha dos cenários para a realização dos seus desfiles. Já teve evento da Vetements em restaurante chinês, em sex club e na Galeries Lafayette, uma das mais tradicionais lojas de departamentos de Paris. O casting escolhido pela marca também foge à regra e conta com modelos de várias idades e perfis (um dos desfiles trouxe modelos carecas, por exemplo). A Vetements também se posiciona com o conceito no gender. Por conta disso, é comum ver modelos homens desfilando roupas da coleção, teoricamente, feminina e vice-versa.  

Quebrar regras, aliás, é uma prerrogativa da marca. No desfile que realizou durante a Semana de Alta Costura de Paris, em 2017, Gvasalia e seu squad firmaram uma série de parcerias com 18 marcas de moda esporte casual como Juicy CoutureLevi’sReebok, além de Manolo Blahnik, marca referência em sapatos de luxo (beijos, Carrie!). A ideia das parcerias, é importante dizer, surgiu não apenas para romper padrões, mas também para resolver um problema de tempo e de custos. Ao aceitar o convite para desfilar em julho, a Vetements teve de antecipar a sua coleção para poder atender aos compradores de lojas de departamento e multimarcas (que geralmente renovam seu estoque de produtos durante a semana de moda de alta-costura). Dessa forma, era preciso correr contra o tempo e contar com o máximo de mão de obra possível.
Seguindo a linha slow fashion, cada vez mais em alta, a Vetements lança apenas duas coleções por ano (e não quatro, como é comum) e se posiciona contra o modus operandi da indústria fast-fashionbastante questionado. Em fevereiro de 2018, por exemplo, a marca promoveu uma campanha contra o desperdício na Harrods de Londres, uma das maiores lojas de departamento mundo. Demna Gvasalia pediu para os ingleses enviarem peças que estavam encalhadas em seus guarda-roupas. O resultado foi uma vitrine lotada de roupas velhas, uma decoração-manifesto contra o sistema.   

Mais que uma marca de moda, a Vetements é símbolo de uma geração, a dos millennials, e de um novo conceito de empreendedorismo, e de economia (cada vez mais em voga), em que todo trabalho é feito no coletivo, na colaboração, em prol de uma ideia macro e em defesa de um valor comum. Um sistema no qual o lucro é importante, mas não é o ponto fundamental. Há ganhos que não podem ser contabilizados em dinheiro.

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MODA COMO REFLEXO DA HISTÓRIA

Considerado um dos grandes nomes da moda nacional na atualidade, o estilista baiano Issac Silva cria coleções que abordam questões ligadas à ancestralidade negra. Seu último desfile na Casa de Criadores, em julho, contou apenas com modelos negras e trans na passarela e homenageou Xica Manicongo, a primeira travesti brasileira. A coleção foi composta por vestidos e conjuntos com estampas africanas em preto e branco que traziam nas etiquetas o nome da cada modelo. “Sempre em minhas coleções busco a verdade da nossa história. Exaltando a importância das mulheres e sua força e beleza”. Nesta entrevista, ele fala um pouco sobre moda, política e representatividade:
Escola São Paulo Seu desfile foi uma celebração e também um manifesto sobre identidade trans e feminismo negro. Como surgiu a ideia de fazer uma coleção com esta temática? 

Issac Silva Minhas coleções sempre falam sobre diversidade, pluralidade, este é o DNA da minha marca. Eu fiz a coleção Xica Manicongo para mostrar que desde 1591 a mulher trans está invisibilizada na nossa sociedade. Fiz o desfile para mostrar que moda é muito mais que roupa, é uma ferramenta para se falar sobre tudo. 
Escola São Paulo Qual foi a sua intenção ao colocar nas etiquetas o nome de cada modelo participante? 

Issac Silva A intenção foi homenageá-las. Cada peça que foi desfilada vai ter o nome de quem a vestiu.  

Escola São Paulo Em tempos de economia colaborativa, temas como diversidade, sustentabilidade e incentivo ao trabalho autoral estão cada vez mais em pauta. Como você enxerga estas questões no universo da moda?

Issac Silva Vejo como o futuro da moda, ela muda conforme os tempos. Eu estou bem feliz com esta grande mudança. Marcas e estilistas devem acompanhar, pois os modos das modas mudam. 
Escola São Paulo Levando em consideração os temas que você aborda em seus desfiles, podemos concluir que você enxerga a moda como uma plataforma ativa de posicionamento político e consciência social?  

Issac Silva Ela [a moda] sempre foi uma plataforma de posicionamento político e consciência social, a diferença é que as marcas não dialogavam com o seu tempo e nem com os novos tempos. No atual momento, ficou inadmissível estar na moda e invisibilizar as mulheres reais, o colorismo do Brasil. Eu sou a nova geração, o que tem de frescor, pois a moda voltou à estaca zero e, neste momento, é a hora de plantar para pode colher bons frutos nos próximos anos.

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SER CHIC É…!

Rodrigo Polack responde!   

Holly Golithtly desembarca de um táxi amarelo e para em frente à vitrine da Tiffany & Co. (a joalheria mais famosa do mundo, fundada em 1837). Nas mãos, um copo de café e um croissant, em plena Quinta Avenida, em NY. Ao som de Moonriver, a cena de abertura de Breakfast At Tiffany’s (Bonequinha de Luxo) dura apenas dois minutos, e está há 57 anos no imaginário de gerações, quando o assunto é elegância e sofisticação.   

Claro que ter Audrey Hepburn como intérprete e um look criado exclusivamente por Hubert de Givenchy, enriquece qualquer roteiro, mas o segredo não está em TUDO isso. Está na postura e na forma de andar com o longo preto sem fendas, na delicadeza ao comer o croissant (em pé e com as mãos vestidas em longas luvas) e ao destampar o copo de café.  Esses detalhes podem passar despercebidos diante de tanto glamour, mas ao meu olhar, são protagonistas e definem a palavra CHIC.   Afinal, o que é ser CHIC? Para muitas, um clássico vestido preto bem cortado + anel de brilhantes + óculos enormes Jackie O + scarpin preto, acompanhados de um bom corte de cabelo na altura dos ombros, definem esteticamente essa mulher. Sinto dizer para essas, que o “embrulho” não passa de um mero figurino, se algumas características (bem fora de moda nesse século!) não andarem juntas.   Lembra do álbum de figurinhas AMAR É, láááááá dos anos 80? Pois então, o usei como inspiração para fazer minha listinha abaixo. 

– Ser CHIC é… dar bom dia, boa tarde e boa noite no elevador.  

– Ser CHIC é… saber ouvir, mais que falar.  

– Ser CHIC é… tratar bem quem te trata bem.  

– Ser CHIC é… dizer obrigado como retribuição.  

– Ser CHIC é… não começar mensagens de WhatsApp sem um simples “Oi!”.  

– Ser CHIC é… não falar alto na mesa do restaurante.  

– Ser CHIC é… não obrigar ninguém a fazer o que não quer.  

– Ser CHIC é… não deixar vazar o som do headphone.  

– Ser CHIC é… voltar com o peso anterior do aparelho, depois de pedir para revezar na academia.  

– Ser CHIC é… gente bem humorada.  

– Ser CHIC é… olhar nos olhos.  

– Ser CHIC é … não ser racista, homofóbico, machista, sexista, xenófobo e misógino.  

– Ser CHIC é… ter bom senso.  

– Ser TRÈS CHIC é… ter educação.   

Não adianta em nada torrar seu rico dinheirinho em labels, labels e mais labels, com peças exclusivíssimas, frequentar as melhores festas e ser amigo de fulano ou coisa e tal, se você não tiver boa parte das qualidades acima. Não se iluda, está escrito em sua testa (em letras garrafais em neon pink!), e TODOS (mesmo os puxa-sacos) sabem quem você realmente é.   

Agora, se for o contrário, podemos ser grandes amigos. O mundo anda idiota demais, dando importância à gentinha, e pessoas especiais de verdade… ah, essas são realmente as mais inteligentes. Só um dado importante… Holly Golithtly, com todo seu garbo, era uma prostituta. De onde veio, com quem se relacionava e como ganhava a vida era o que menos importava. Ela sim era uma bonequinha que sabia o que é SER luxo. 

Rodrigo Polack é stylist há 15 anos, professor da Escola São Paulo no curso Styling, apresentador do programa 5 Looks, no Discovery Home & Health, ao lado de Chris Flores e colunista semanal da Revista QUEM Inspira. Clique aqui para ler a matéria original!

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NADA SE PERDE, TUDO SE RENOVA

O impacto que o consumo desenfreado provoca no mundo é uma questão discutida por ambientalistas e economistas há tempos. Desde a década de 1980, a lógica “extrair-produzir-descartar” da economia linear (o modelo econômico até hoje em vigor) tem sido questionada e suscitado debates sobre a necessidade da criação de novos modelos que sejam funcionais, demandem menos recursos naturais e gerem menos resíduos prejudiciais ao meio ambiente.  

A economia circular é uma dessas propostas. Inspirada na inteligência da natureza, em que nada se perde, mas tudo se renova, ela é voltada para os serviços com foco no desempenho e no impacto dos produtos, ao contrário da economia linear, que tem como foco a produção e a venda. “O conceito de economia circular propõe que os recursos que extraímos e produzimos sejam mantidos em circulação por meio de cadeias produtivas integradas. Assim, o destino final de um material deixa de ser uma questão de gerenciamento de resíduos, passando a fazer parte do processo de design de novos produtos”, explica o economista holandês Douwe Jan Joustra, especialista no assunto, em entrevista ao Instituto C&A

Uma animação da Fundação Ellen MacArthur, do Reino Unido, explica de uma maneira bem interessante e didática os princípios básicos da iniciativa. Joustra diz que o grande desafio de hoje é fazer com que as empresas sejam responsáveis por seus materiais e encarem os produtos, incluindo os resíduos, como seus ativos.  “O foco das empresas não deveria estar mais nos produtos apenas, mas neles e nos serviços, porque é isso o que o cliente quer. Essa é a mudança econômica real que queremos com a economia circular”, afirma em entrevista ao jornal O Globo Autor do livro Cradle to Cradle: criar e reciclar ilimitadamente, uma das referências bibliográficas no mundo sobre economia circular, Michael Braungart defende que mais que reduzir o consumo dos recursos naturais, precisamos encontrar soluções técnicas que produzam objetos que no processo de degradação possam ser reabsorvidos pela biosfera na forma de nutrientes ou reincorporados ao ciclo produtivo. “Temos de encarar os humanos como um recurso capaz de trazer benefícios para o planeta, e não como um fardo cujo impacto deve ser minimizado”, explica em entrevista à revista Época 

UMA IDEIA EM CIRCULAÇÃO 
Nos últimos anos, diversas empresas mundo afora passaram a seguir a cartilha da economia circular. Muitas por compreenderem que a economia linear não é sustentável (do ponto de vista ambiental e financeiro), mas a maioria por enxergar a lucratividade que a proposta pode trazer. De acordo com levantamento da Fundação Ellen MacArthur, a economia circular pode garantir às empresas na Europa um incremento de € 900 bilhões no faturamento até 2030. Isso tudo levando em consideração os benefícios proporcionados pelo modelo econômico: incentivo ao desenvolvimento de novas tecnologias; redução do uso de recursos naturais, economia financeira e ganho de competitividade. 

Na Dinamarca, por exemplo, o parque industrial da cidade de Kalundborg já opera no sistema de economia circular desde o início da década de 1980. Os resíduos gerados pelas atividades de uma empresa se tornam matéria-prima para outra: a água doce, usada pela refinaria de petróleo para resfriar máquinas, é vendida para a termelétrica que, por sua vez, compra os gases liberados pela refinaria, que são reaproveitados para geração de calor.  Aqui no Brasil também temos iniciativas interessantes como a da Cooperárvore, cooperativa de moda sustentável com sede Betim, Minas Gerais, que transforma sobras de cintos de segurança e aparas de tecido automotivo em acessórios, como bolsas, mochilas, chaveiros e outros produtos. Com mais de dez anos de atuação, a cooperativa já produziu mais de 230 mil peças e reutilizou 25 toneladas de itens doados por empresas automotivas que antes seriam descartados no meio ambiente.  

Há também a Votorantim, que desenvolveu uma tecnologia que substitui o coque de petróleo, usado na produção do cimento, por resíduos (pneus velhos, papel, papelão, óleos, produtos químicos, resíduos industriais e urbanos). A iniciativa é duplamente rentável para a empresa, uma vez que ela ganha dinheiro para receber lixo gerado por outras indústrias e economiza por não precisar comprar mais petróleo. “É uma unidade de negócios que ao mesmo tempo presta um serviço e produz um impacto positivo na produção do cimento, reduzindo a emissão de gases de efeito estufa”, explica André Leitão, diretor de Gestão de Resíduos na Votorantim, em entrevista à revista Época 

“Uma economia circular não se trata de ter um produto mais verde, uma empresa mais sustentável ou uma prática melhor, muito menos de ser mais sustentável do que era. Significa fazer parte de um sistema que funciona melhor e que, ao longo prazo, revela e exclui os fatores negativos desde o princípio da cadeia de valor. Na vida e no planeta, as coisas se regeneram e se restauram o tempo todo. A ideia é incluir esse princípio na economia”, analisa Luísa Santiago, representante da Fundação Ellen MacArthur no Brasil, em entrevista ao Instituto C&A 

Uma maneira mais inteligente e sustentável de viver e se relacionar com o mundo.

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POR TRÁS DOS FIGURINOS

Figurinos são importantes como ferramenta em processos criativos, seja no audiovisual, seja no teatro. Além de ajudarem os atores no processo de criação dos personagens, eles também apresentam ao público informações essenciais sobre aquelas pessoas em cena. Figurinista há mais de 30 anos, Marichilene Artisevskis afirma que a construção do seu trabalho leva em consideração dados ligados às histórias dos espetáculos e elementos que não necessariamente têm relação com as obras, mas que alimentam a sua criatividade.  A gente bateu um papo com ela para entender um pouco mais sobre o processo de desenvolvimento dos figurinos e a importância das referências no trabalho de criação no teatro: 

ESCOLA SÃO PAULO: O Mal Entendido, um dos espetáculos nos quais você trabalhou, é inspirado em uma história real que aconteceu em Belgrado, na década de 1930, e a montagem, embora não especifique o local onde se passa a história, buscou trazer à tona para o palco esse ambiente. Qual o peso do figurino neste processo?  

Marichilene: O teatro não tem muito essa função de caracterizar figurinos de época, porque o cinema já faz isso lindamente. No palco a discussão é muito maior, mesmo quando se trata de obras clássicas. Você as olha sob as perspectivas do hoje. Em O Mal Entendido, os figurinos não fazem referência à época em que a história se passa, mas sim a particularidades de cada personagem. Decidimos que os três personagens principais (mãe, filha e criado) apresentariam característica de habitantes de um lugar frio que parou no tempo. O figurino em si sugere algo antigo, mas não é. É uma mistura de coisas, na verdade. Todos os personagens estão com o corpo bastante coberto, usando luvas e casacos, justamente para caracterizar pouca exposição ao sol e transmitir a ideia de isolamento e de poucas referências de mundo.

ESCOLA SÃO PAULO: Quais foram as principais referências para criação do figurino deste espetáculo?  

Marichilene: Como figurinista, as minhas referências vem de diversos lugares: moda, cinema, arte. A criação para cada personagem é muito particular. A Marta (a filha), por exemplo, a personagem principal do espetáculo, tem várias características pessoais que me ajudaram a desenhar o figurino dela, como o desejo de ver o mar (que me fez mergulhar no universo dos marinheiros), e uma inocência quase infantil. Por isso, as roupas dela têm tons de azul e ela utiliza sapatos de boneca. 
ESCOLA SÃO PAULO: Quanto tempo é preciso para definir e criar cada uma das peças apresentadas em cena?  

Marichilene: Geralmente é um processo longo que envolve a participação direta nos ensaios. A primeira coisa que eu faço é uma pesquisa de imagem para abrir o olhar e entender o universo da obra. Neste processo, eu entro em contato com as mais diversas referências possíveis. Nem todas eu uso, mas todas de alguma forma alimentam a minha criatividade. Neste espetáculo, eu fui fazendo provas nos atores durante os ensaios para entender o que funcionava em cada personagem, mudando o que não funcionava em cena. Este processo é necessário porque faz com que os atores e a direção da peça se apropriem daquele figurino a ponto dele quase não ser notado em cena de tão integrado que está ao espetáculo.

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MODA E MÚSICA TEM A VER?

Rodrigo Polack responde! 

Hoje, logo pela manhã, ao pesquisar alguns vídeos no Youtube, me deparei com um especialíssimo — e me emocionei de imediato. Tinha a mais que absurda cantora islandesa Bjork, se apresentando no desfile de Alexander McQueen. 

Vou (tentar!) descrever a cena: o vestido era um haute couture longo, com bordados e plumas, e uma ventania de dar inveja à Beyoncé, que fazia a islandesa flutuar na passarela. As modelos, passavam por Bjork, compondo um lindo ballet de preciosismo fashion. O evento era o Fashion Rocks, o ano 1997 e a música era Bachelorette. 

Esse vídeo curto, de três minutos e meio, desencadeou uma pesquisa por outros, também icônicos para a moda, que tivessem uma relação direta com a música. Ali estava o tema da minha coluna desta semana. 

Em seguida, digitei na busca “Viktor & Rolf + Tori Amos”. Recordei do memorável, delicado e estranhamente lindo desfile de fall/winter 2005 da dupla, em Paris. A cantora Tori Amos, de cabelos vermelhos frisados e robe de seda pink, tocada um piano de calda, numa passarela escura e dramática. Quem abriu o desfile foi Lily Cole, num vestido-casaco-edredom com direito a travesseiro e muito cabelo armado. A terceira foi Carol Trentini. Raquel Zimmermann e Cintia Dicker vieram pouco depois, para completar o time das brasileiras.  Eu, que estava há apenas 2 anos na carreira de stylist, fiquei impressionado com tamanha sensibilidade. A união de imagens lindas arquitetadas com perfeição, ao som de uma trilha tão única, criaram uma espécie de atmosfera noir, digna de um sonho do Batman. Quem já assistiu a um desfile, sabe o que é a sensação gostosa de bater o pezinho ao som da batida perfeita. 

Para mim, a moda foi, é, e sempre será emocionante. Abra os olhos e deixe os ouvidos atentos, pois quando menos esperar, cores, texturas, brilhos e formas vão  formando imagens como num passe de mágica. E nem precisa ser tão entendedor do assunto. Basta ser livre para voar. 

Jean Paul Gaultier criou o corset de Madonna para a Blonde Ambition Tour, de 1990. Dentre tantas, com certeza absoluta, é a peça mais lembrada de todo o acervo da Rainha do Pop. Basta olhar para uma foto, que toda a performance vem à mente. Com coreografia, rabo de cavalo, bailarinas e afins. Claro, para quem é da época, assistiu ou leu alguma matéria sobre o assunto.  

Madonna uma vez disse, “Não sigo as tendências, as faço!”. Mas não faz sozinha. É rodeada dos melhores designers de moda (stylists e profissionais da beleza também, of course!) que dão tudo para serem os escolhidos. Com a mesma máxima da loira ambiciosa, Maria Antonieta, esposa do Rei Luis XV, em pleno século XVIII, foi a primeira rainha a entender e usar a moda como instrumento de poder.   

No MTV Awards, também de 1990, Madonna com muitas joias, penteado monumental e um vestido riquíssimo  (que deixava seu peito quase todo à mostra, em um decote pra lá de profundo), deixou o mundo extasiado com sua performance ao vivo, em homenagem à abusada Maria Antonietta. Mais uma vez, a música se rende aos encantos da moda e também da história. Lady Gaga e Beyoncé em Paparazzi, David Bowie em Life On Mars, George Michael em Freedom (ao lado de uber models como Naomi Campbell, Linda Evangelista, Cindy Crawford e Christy Turlington), nos trouxeram momentos mais que memoráveis e cheios de referências fashionistas. Vou contar um segredinho… para fazer uma edição de looks no meu trabalho, coloco músicas que tenham a ver com o mood. Se o estilo é mais romântico, já boto uma música clássica bem intense ou até uma bossa nova. Se é rocker, caio de cabeça nos Rolling Stones (minha banda favorita da vida!). Se é street, vou de hip hop e por aí vai. A música me move em tudo o que faço, inclusive nesse exato momento que estou escrevendo. E sabe qual a playlist que estou ouvindo? Uma que só tem trilhas de filmes de moda. 

Agora abra uma nova janela na sua tela e assista a cada um desses momentinhos mágicos que citei acima. Tenho certeza que você vai ficar com vontade de sair por aí desfilando um lookão, ou quem sabe, até se emocionar como eu. Ou as duas coisas. 

Rodrigo Polack é stylist há 15 anos, professor da Escola São Paulo no curso Styling, apresentador do programa 5 Looks, no Discovery Home & Health, ao lado de Chris Flores e colunista semanal da Revista QUEM Inspira. Clique aqui para ler a matéria original

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SER IGUAL É LEGAL?

Rodrigo Polack responde!

A cena é comum: você termina de se arrumar para sair, olha para o lado e se depara com as mesmas cores no look do seu boy (ou girl!). Coincidência? Não acredito. I believe in sintonia, harmonia and energia. E viva o “IA”! 

Quando estamos com alguém, ou os interesses em comum são muitos ou não dá certo. Os olhares em relação à estética podem até se divergir no início da relação, mas com o tempo (sem querer mesmo!), um entra no universo do outro. E para falar a verdade, essa troca de afinidades é um ótimo exercício e pode sim ser divertidérrimo. 

Nas inúmeras vezes em que aconteceu comigo, não pensei duas vezes e já fui trocando uma peça ou outra (como stylist, me sinto no dever de mudar e não deixar para o outro), até o meu look ficar com uma linguagem própria. E sabe o mais curioso? Mesmo com as mudanças, os dois ainda tinham unidade. Cada um na sua, mas com alguma coisa em comum. Esse é o segredo.
Por outro lado, existem casais que amam sair de par de vasos. Sabe aquela festa que 80% das pessoas se veste da mesma forma? A mesma camisa com 3 botões desabotoados, a tal calça justa com o joelho rasgado, a t-shirt italiana do momento, aquelas duas marcas de relógio, a icônica bolsa de correntes douradas, o copiado scarpin de tachas… Tudo isso são símbolos. E essas pessoas que se vestem em códigos, são as mesmas que não se importam em se vestir iguais aos outros. Mas vamos combinar o quão boring é uniforme. 

Casais gays caem nessa armadilha facilmente por um motivo mais que óbvio… o mesmo sexo. Alguns funcionam como esponja, absorvendo a imagem do outro. E não me refiro apenas às roupas. Cabelos e corpos também entram nesse “copy paste”. Quando há uma troca, pode até ser saudável. Quando apenas um estilo prevalece… cilada. 

Quem nunca se deparou com um casal totalmente descoordenado nos looks? Ela montada na renda e salto e ele de calça jeans, tênis e pólo. A impressão que dá é que não conversam nunca sobre nada. Dois estranhos que não conhecem um ao outro. Uma ajudinha a quem fica perdido na hora de se vestir, custa paciência e alguns minutos do seu precioso tempo, mas é uma superprova de amor.
Sempre me perguntei qual a piração dos pais que vestem gêmeos idênticos de forma idêntica. São pessoas diferentes, com personalidades distintas. Além de gerar uma confusão em quem não é tão íntimo da família, confunde a cabecinha dos pobres coitados, que já passam a vida tentando provar que não são a mesma pessoa. 

Lembra do boom das coleções que tinham o mesmo vestido para a mãe e para a filha? Ainda existem, mas não, também não acho legal. De duas uma, ou a mãe fica com cara de Mary Poppins, com vestido rodado, ou a filhinha usa mini saia de couro, coitada. No No No. 

Já falei isso antes por aqui, mas não custa reforçar… seja a melhor versão de você mesmo! Agora, se duas versões diferentes tiverem pontos em comum… DIN DIN DIN, O CASAL VAI BRILHAR, SIM!


Rodrigo Polack é stylist há 15 anos, professor da Escola São Paulo no curso Styling, apresentador do programa 5  Looks, no Discovery Home & Health, ao lado de Chris Flores e colunista semanal da Revista QUEM Inspira.  Clique aqui para ler a matéria original.