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DESIGNERS PODEM MUDAR O MUNDO

Como o design de produtos e serviços pode nos ajudar a transformar a forma como vivemos e consumimos.

Por Carolina Bastos, colaboradora da Escola São Paulo  

Para onde estamos indo como sociedade? Estamos tomando decisões conscientes, ou estamos apenas seguindo o fluxo de um comportamento irresponsável, nos eximindo de nossas responsabilidades e nos autodestruindo?  

Essas perguntas já faziam sentido em 2019, quando nem eu e nem você que lê esse texto agora poderíamos imaginar que 2020 seria um ano de acontecimentos tão avassaladores. Além das questões humanitárias e de saúde, em algumas semanas, milhões de pessoas ao redor do mundo tiveram que mudar a maneira como trabalham, estudam, se alimentam, se divertem, convivem, consomem… enfim… vivem. E o que os designers podem, devem e estão fazendo com isso?  

Conhecer e entender o Design Sustentável, nos dá a certeza de que é possível transformar todo um sistema por meio de ações concretas, utilizando ferramentas e processos de desenvolvimento de produtos e serviços que nos respeitem como espécie, e que também respeitem nossa casa, nosso planeta. Durante essa pandemia, ficou mais evidente que nossas escolhas diárias tem um impacto coletivo muito grande. O que e como vamos lidar com o que descobrimos é o que pode (e provavelmente vai) moldar o nosso futuro e das próximas gerações.

O lixo é um erro de design

Nessa fase de isolamento social, muito tem se falado sobre nossa alimentação, como muitas pessoas estão re-descobrindo a cozinha e como podemos usar essa oportunidade para fazer escolhas mais saudáveis e conscientes. Além disso, fica mais claro que consumimos embalagens demais, plástico demais e que isso não faz nenhum sentido.  

No livro “Daily Bread: What Kids Eat Around the World, usando como exemplo nossas ações mais cotidianas, o fotógrafo americano Gregg Segal fotografou crianças ao redor do mundo, com diferentes perfis, ao lado de todo o lixo que produziram em uma semana. Apesar da beleza das imagens, é chocante ver mais uma vez como, infelizmente, estamos destruindo nosso planeta. Segal mostra que, ao contrário dos alimentos embalados e processados ​​consumidos principalmente nos países desenvolvidos, ainda existem diversas bolhas de culturas tradicionais em cada continente, que comem, em grande parte, da mesma maneira como tem feito há centenas de anos. No Mediterrâneo, por exemplo, as pessoas gastam uma parcela maior de sua renda em produtos frescos, em vez de encher seus congeladores com alimentos cheios de conservantes e embalagens plásticas. Comparando as imagens, é possível ver claramente questões sobre saúde e sustentabilidade e o livro serve como catalisador para questionarmos cada vez mais nossas escolhas.

Há alguns dias, outro projeto de Segal, o 7 Days of Garbage”, foi selecionado para a 7ª edição do Tokyo International Photography Competition, e estará na exposição “Turbulence”, que trata das causas e efeitos das mudanças climáticas e segundo ele: “será realizada em Tóquio, Taipei, Dublin e Brooklyn assim que retornarmos à (relativa) normalidade.”.

Segundo relatório da Ellen MacArthur Foundation, “The New Plastics Economy: catalysing action“: Quarenta anos após o lançamento do primeiro símbolo universal de reciclagem, apenas 14% das embalagens de plástico são recolhidas para reciclagem a nível global […] Dado o crescimento projetado na produção, em um cenário de negócios, em 2050, os oceanos poderiam conter mais plásticos do que peixes (em peso)”

No Brasil, apesar do aumento da demanda nos últimos anos, apenas 13% de todos os resíduos sólidos urbanos produzidos são destinados para a reciclagem, de acordo com levantamento do Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada). Segundo estudo do Ibope Inteligência, 66% dos brasileiros sabem pouco ou nada sobre coleta seletiva, 75% não separam os materiais recicláveis, 39% não separam o lixo orgânico do inorgânico e 56% não utilizam serviço de coleta seletiva.  

Segundo a Abrelpe (Associação Brasileira de Empresas de Limpeza Pública e Resíduos Especiais) a quantidade de resíduos domiciliares ao longo deste período de pandemia será de 15 a 25% maior, e na área de resíduos hospitalares o crescimento será de 10 a 20 vezes.  

Qual futuro você quer alcançar?

É urgente adotarmos uma postura mais consciente em relação à maneira como consumimos e desenvolvemos nossos produtos e serviços. Se antes falhamos como sociedade, especialmente nesse sentido, agora temos a oportunidade de fazer diferente e garantir um futuro melhor para nós e para as futuras gerações.  

A inovação e a colaboração podem ajudar a desenvolver ainda mais nossa aprendizagem coletiva e se tornar um chamado à ação para a criação de novos elos e valores dentro das esferas de produção e consumo. Mas, para tornar essa transição bem sucedida, é crucial saber onde queremos chegar e o que queremos alcançar. Qual futuro você quer alcançar? (Eloisa Artuso)

Segundo Eloisa Artuso, designer e nossa professora de Design Sustentável, “a responsabilidade social e ambiental do designer claramente não se limita apenas aos produtos, as embalagens também representam uma enorme parcela dos impactos causados pelo modelo de desenvolvimento econômico e produção industrial global, e devem ser repensadas urgentemente. Está na hora de uma reformulação radical na maneira como as embalagens são pensadas, produzidas e utilizadas. Mas para isso, é imprescindível um esforço concertado envolvendo a indústria, o governo, o terceiro setor e a sociedade civil, para promover ações coletivas e setoriais para reduzir as pegadas de carbono, água e resíduos dos produtos e suas embalagens, e impulsionar a criação de um valor compartilhado. Apoiar a utilização inteligente de recursos, produções eficientes e processos de reutilização e reciclagem, proporcionará crescimento econômico, benefícios sociais e criará novas oportunidades de negócios.”

Aqui na escola, nós acreditamos que a economia criativa é um agente de transformação e que, por meio dela, podemos, juntos, repensar futuros possíveis. Estamos todos conectados, e todas as nossas ações profissionais e pessoais afetam não só nossa carreira, mas o mundo como um todo. Sabemos que a decisão particular transforma o coletivo, e que nesse momento, podemos juntos ressignificar nosso modo de estar no mundo.  

Termino citando o designer dinamarquês Nille Juul-Sørensen:
“Não é sobre como será o futuro. Mas como será o futuro que nós estamos desenhando.”.

#FiqueEmCasa. Fique bem.  


#escolasaopaulo #descubra #reinvente #viva  #FiqueEmCasa com a Escola São Paulo! #ContinueEmCasa#VaiDarTudoCerto

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BJÖRK, YOUTUBE E A REALIDADE VIRTUAL

É lugar comum dizer que Björk é um dos ícones culturais mais importantes do século 20. Gostando ou não de suas músicas, as suas pesquisas artísticas, de linguagem, de experimentação e tecnologia não têm como passar desapercebidas. Com seu posicionamento de artista transmídia, ela desafiou e segue desbravando e desestruturando o status quo musical. Como lembra Ali Prando, em seu texto no site do MIS, “A artista, que se confessa fascinada com o uso da tecnologia, é aclamada pela crítica especializada por combinar diversos gêneros musicais, como música eletrônica, jazz, trip hop, folk e ethereal wave, mantendo-se eternamente inclassificável.”

Cultura Pop

Quando falamos de cultura pop, os valores éticos e estéticos contemporâneos aparecem de formas diferentes, mas são sempre muito importantes para que possamos entender onde estamos, e, talvez (por que não?), para onde vamos.

“Sempre acostumados a nos admirar com cada evolução musical e artística que Björk nos apresenta – que são, de fato, pequenas grandes revoluções –, não nos damos conta de que ela, na mesma medida em que nos traz todas essas novidades, também oferece uma questão ligeiramente perturbadora: para onde vai o futuro?”– *Zeca Camargo

*Trecho do texto produzido por Zeca Camargo para um folder especial que se transforma em um pôster, com textos também de Björk e Cleber Papa (diretor cultural do MIS).

A Exposição de Björk no Brasil

Björk Digital é um projeto de realidade virtual de Björk em colaboração com alguns dos maiores artistas visuais do mundo, como Andrew Thomas Huang e Jesse Kanda. A exposição-instalação traz ao Brasil seis trabalhos da artista, extraídos de seu penúltimo álbum, Vulnicura**, lançado em 2015: Stonemilker, Black Lake, Mouth Mantra, Quicksand, Family e Notget. Além dos seis vídeos, Björk Digital apresenta o projeto educativo Biophilia e uma sala de cinema onde o público confere diversos clipes da carreira da artista feitos por gênios do videoclipe como Michel Gondry e Spike Jonze. A mostra, que estreou em Sydney (Austrália) em 2016 e já rodou o mundo, passando por Tóquio, Barcelona, Cidade do México, Londres, entre outras cidades, foi apresentada pela primeira vez no Brasil em São Paulo, onde esteve até 18 de agosto, e agora segue para o Rio de Janeiro, Belo Horizonte e Brasília.

Segundo a própria artista escreve no programa da exposição: “[…] pareceu natural invadir o circo particular que é a realidade virtual com um material como este: Vulnicura é o primeiro álbum meu que insistiu para que as músicas seguissem uma ordem cronológica. Depois que elas foram escritas, ficou claro que eu involuntariamente tinha esbarrado na narrativa de uma tragédia grega. A realidade virtual não é apenas uma continuidade natural do videoclipe, mas tem um potencial dramatúrgico ainda mais íntimo, ideal para esta jornada emocional”.

Quando Raimo Benedetti, artista e pesquisador, professor do curso “O Pré-Cinema e o YouTube”, conta sobre os Panoramas, começa nos dizendo que essas imensas estruturas são uma mídia morta, mas que a vontade de viver uma narrativa imersiva ainda é forte no imaginário das pessoas. E então, somos levados a entender como as sensações provocadas pela imersão da realidade virtual ou da realidade aumentada seguem confundindo nossos horizontes e percepções.

Imagens que pulam aos nossos olhos, nos envolvem e nos fazem sentir transportados para outro lugar. Assim eram os Panoramas, imagens gigantescas, que envolviam e deixaram boquiabertas as pessoas no final do século XIX. Hoje, a realidade virtual faz conosco a mesma coisa. Ficamos muitas vezes perdidos em um “labirinto confuso”, às vezes enjoados, mas sempre admirados.

Assim como nossos antepassados desbravadores e experimentadores, Björk testa, experimenta, propõe. A mostra é dividida em seis áreas compostas por realidade virtual e elementos audiovisuais imersivos que demandam a interação dos visitantes. Em muitos momentos, a tecnologia ainda deixa a desejar, como no caso do peso dos óculos, que depois de um tempo começam a incomodar.

björk: stonemilker (360 degree virtual reality)

Na primeira parte da exposição, cada grupo de visitantes entra em salas com bancos e óculos de realidade virtual para assistir sentados aos clipes. O primeiro deles é Stonemilker (em português, “Alguém que tira leite de pedra”), que a artista fez meses antes de sua separação, com apenas uma paisagem de praia e a atuação de Björk se movendo entre as cenas. Existe uma versão em 360º disponível no YouTube, mas a sensação gerada pela realidade virtual é mais intensa e bem interessante.

björk: black lake

O segundo vídeo vai na mesma frequência apresentando o clipe de Black Lake, filmado em locação na Islândia pelo premiado diretor Andrew Thomas Huang. O filme, que estreou em 2015, tem dez minutos de duração e foi encomendado pelo Museu de Arte Moderna de Nova York em. O clipe, feito meses após a separação da cantora, é muito melancólico, refletindo ideias de dor, perecimento e renascimento.

Em uma terceira sala, dois vídeos são rodados na sequência. O primeiro é o clipe da música “Quicksand”, dirigido por Warren Du Preez & Nick Thornton Jones, uma viagem psicodélica, cheia de cores e poesia.

bjork: mouth mantra

O segundo clipe, “Mouth Mantra”, é uma viagem surreal dentro (literalmente) da boca da cantora, que Björk fez quando precisou de uma cirurgia na garganta, e foi dirigido por Jesse Kanda. Fazendo um paralelo com o Cinema das atrações, não existe aqui uma narrativa. As imagens em si não são lineares, mas imersivas e provocadoras de sensações.

bjork: family

A experiência interativa segue para uma sala com mais dois vídeos em sequência, agora de pé. Para “Family”, o visitante é equipado com controles remotos que, com os óculos de RV se transformam em mãos. Apertando os botões, os controles tremem e seus braços virtuais passam a se mover e serem rodeados por fios que saem de uma grande vulva.

bjork: notget

Em seguida entra “Notget”, dirigido por Warren Du Preez & Nick Thornton Jones, uma Björk gigante dança rodeada de luzes e chega a atravessar seu corpo.

No MIS, em São Paulo, o segundo andar da exposição foi dividido em duas salas: Biophilia e Cinema. A primeira trazia uma área educativa baseada no álbum Biophilia (2011), com tablets permitindo a composição de músicas e a exploração da relação entre o mundo natural e a tecnologia. A segunda sala apresentava dezenas de clipes da carreira da artista remasterizados em alta definição, como Armyof Me (Michel Gondry), It’s Oh So Quiet (Spike Jonze) eAll Is Full of Love (Chris Cunningham), incluindo o seu videoclipe mais recente Tabula Rasa (Tobias Gremmler).

**Vulnicura videos – LISTA

Imagem de destaque retirada do site oficial da exposição Björk Digital no MIS
Créditos: Avatar Family VR | Imagem: Andrew Thomas Huang

#escolasaopaulo #descubra #reinvente #viva

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CULTURA TAMBÉM É NEGÓCIO

Em 2017, a exposição Queermuseu: Cartografias da Diferença na Arte Brasileira se transformou em assunto nacional ao ser retirada às pressas do Centro Cultural Santander, em Porto Alegre, em resposta a fortes críticas de grupos conservadores que viram nas obras apologia a pedofilia e zoofilia. Os contrários à mostra também chamavam atenção para o fato dela ter recebido R$ 800 mil via Lei Rouanet, um dinheiro, segundo eles, mau empregado.

Composta por 223 obras da década de 1950 até a atualidade de mais 80 artistas (como Lygia Clark, Leonilson e Adriana Varejão), a mostra buscava refletir sobre como o que é considerado estranho e fora do padrão da sociedade pode contribuir com a arte. “Para tratar do impacto cultural conceitual, artístico e histórico da palavra queer, trago obras que não são queer. Que são formalistas, que não têm nenhuma relação com questões de gênero e sexualidade”, afirmou o curador Gaudêncio Fidelis, em entrevista ao UOL. “Tanto que a narrativa difamatória em torno da exposição foi criada a partir de cinco obras, não mais do que isso”, acrescentou.

Mesmo com a recomendação do Ministério Público do Rio Grande do Sul, que concluiu que a exposição não fazia nenhuma apologia à pedofilia, a exposição foi encerrada pelo banco quase um mês antes da data prevista, o que gerou uma carta aberta de artistas e profissionais de arte que se queixavam do “aumento do ódio, da intolerância e da violência contra a liberdade de expressão nas artes e na educação.”

Em resposta ao fechamento, mais de 1.600 se organizaram pela internet e fizeram um dos maiores financiamentos coletivos já realizados no país. A iniciativa arrecadou mais de R$ 1 milhão que foram utilizados para remontar a exposição no espaço expositivo da Escola de Artes Visuais do Parque Lage, no Rio de Janeiro (parte do valor foi aplicado em melhorias no próprio Parque). Realizada entre os meses de agosto e setembro de 2018, a mostra recebeu 40 mil visitantes. A iniciativa colocou em debate a possibilidade do crowdfunding ser uma saída para artistas e instituições viabilizarem, com o apoio do público, projetos culturais, especialmente aqueles que não conseguem patrocínio da iniciativa privada.

A realização de projetos culturais no país acontece, na maioria das vezes, por meio do apoio de empresa através da Lei de Incentivo à Cultura, mais conhecida como Lei Rouanet. Em vigor desde 1991, a lei oferece abatimento fiscal em troca do investimento privado em projetos culturais. Atualmente, representa 80% da verba investida em cultura pelo governo e funciona com base em três vertentes: o mecenato, o Fundo Nacional de Cultura (FNC) e os Fundos de Investimento Artístico (Ficarts). No entanto, o mecanismo mais aplicado é o de mecenato. O FNC, em tese, tem a função de oferecer suporte a projetos menos atraentes para o mercado, mas, por depender principalmente da verba do governo, não tem obtido bons resultados – em 2015, por exemplo, representou pouco mais de 2%, conforme aponta reportagem do Nexo sobre os acertos e erros da Lei Rouanet.

O financiamento coletivo para cultura no país já funciona de maneira eficaz com publicações de livros, pequenas exposições e produções de música, teatro e cinema, mas ainda é pouco empregado nas artes plásticas. Em países como os EUA, a maior parte do dinheiro que financia a cultura vem de pessoas físicas. O Lincoln Center, em Nova York, por exemplo, tem mais de 70% dos investimentos feitos por pessoas físicas. Os interessados podem doar de US$ 50 a US$ 30 mil. “Instituições e eventos de arte que possuem o potencial de atrair uma grande quantidade de público ou que defendem causas específicas devem estar atentos a essas oportunidades”, pontua o curador Daniel Rangel em artigo publicado na Folha de S.Paulo. “Quem sabe um dia teremos uma Bienal de São Paulo financiada inteiramente pelas pessoas. Ou a programação de um Masp, por exemplo. Isso liberaria a verba das empresas para projetos com menos apelo de marketing, propiciando maior democratização dos recursos”, acrescenta. Iniciativas de promoção à cultura são sempre bem-vindas.

É importante pontuar que a proposta é um incentivo a mais a um dos setores mais aquecidos do país atualmente: o da economia criativa. De acordo com dados do Ministério da Cultura (MinC), divulgados no primeiro semestre de 2018, as atividades culturais e criativas representam 2,6% do PIB nacional, geram um milhão de empregos diretos e englobam 200 mil empresas e instituições, o que representa mais de 10,5 bilhões em impostos diretos e tem crescimento médio anual de 9,1%. O Brasil é o segundo maior mercado de cinema da América Latina em receita e o maior em vídeo on demand, TV Paga, games (deve dobrar em receita até 2021) e música. Mais que um dos principais ativos do país, a cultura é o canal por meio do qual cada pessoa tem a oportunidade de desenvolver o senso crítico e, por consequência, se tornar um melhor profissional e um cidadão mais consciente do seu papel no mundo.

Na Escola São Paulo, acreditamos que a economia criativa é um agente de transformação e que, por meio dela, podemos, juntos, repensar futuros possíveis. Estamos todos conectados, e todas as nossas ações profissionais e pessoais, afetam não só nossa carreira, mas o mundo como um todo.

#escolasaopaulo #descubra #reinvente #viva

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ECONOMIA CRIATIVA NOS ESPAÇOS PÚBLICOS

A potência da economia criativa

No dia 16 de junho de 2018, Beyoncé e Jay-Z lançaram de surpresa o videoclipe de Apeshit, música que compõe Everything is Love, primeiro álbum gravado a quatro mãos pelo casal. Em 48 horas, o vídeo se tornou notícia em todo o mundo e superou 13 milhões de reproduções no YouTube, isso em meio à Copa do Mundo. À parte o inegável poder de atração do chamado casal real da música pop, chamou a atenção do público e da imprensa mundial o local escolhido para a gravação do videoclipe: o Museu do Louvre. “Eles visitaram o Louvre quatro vezes nos últimos dez anos. Na última vez, em maio de 2018, nos propuseram esta ideia. Os prazos eram muito curtos, mas o projeto convenceu rapidamente o Louvre, porque sua proposta demonstrava um verdadeiro vínculo com o museu e com as obras que os tinham marcado”, explicou um porta-voz do museu, o maior da Europa, ao jornal EL PAÍS.

O vídeo de Apeshit apresenta 17 obras de arte renomadas (pinturas e esculturas) como O casamento em Caná, de Veronese, a A balsa da Medusa, de Géricault, A Coroação de Napoleão, de Jacques-Louis David, Vênus de Milo (100 a.C.), A Grande Esfinge de Tânis (2686-2160 a.C) A Balsa da Medusa, de Théodore Géricault, e Mona Lisa, de Leonardo da Vinci. O enorme sucesso da produção fez com que o Louvre abrisse ao público (quase um mês depois) um tour guiado com a sequência de obras que aparecem no videoclipe. O percurso tem duração de 1h30.

Esta é a segunda vez que o Louvre organiza uma mostra inspirada em um artista pop. A primeira foi motivada pela música Smile Mona Lisa, do rapper will.i.am. A iniciativa tem como foco principal atrair, ampliar e formar público (desde os atentados de 2015, o museu viu diminuir em 13% o número de visitantes – 70% dos frequentadores do museu são turistas. Mas, além disso, representa também uma tendência entre museus e outras instituições de arte no mundo: se abrir a novas estratégicas para se manter atualizado e, principalmente, vivo.

A abertura de museus para desfiles de moda e gravação de filmes e videoclipes é uma delas. “Falta dinheiro, e os edifícios públicos servem para arrecadá-lo“, explica, Sophie Rastoin Sandoz, chefe pela agência parisiense L’Invitation, em entrevista ao EL PAÍS. A instituição é responsável por encontrar locações em toda a Europa para filmagens e evento de marcas de luxo, bancos, seguradoras e agências de comunicação. Em 2014, o Louvre recebia pouco mais de cem rodagens. Em 2017, foram 500, quase metade das realizadas na capital francesa. “O clipe no Louvre, um baluarte da cultura ocidental, representa uma abertura da cultura europeia e da cultura parisiense – da tradição – ao campo pop”, analisa o curador geral do Museu Brasileiro da Escultura (MuBE) e professor da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP) Cauê Alvez em entrevista ao G1.

E a economia criativa no Brasil…

Para além das questões econômicas, a iniciativa do Louvre mostra também o quanto é possível ser inventivo no universo da economia criativa e como os setores que a compõem podem trabalhar em conjunto por um mesmo objetivo (e não de maneira isolada e em nichos específicos). Um movimento que está em curso também no Brasil. O antigo Ministério da Cultura (MinC) e a Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos (Apex-Brasil), por exemplo, realizaram em novembro de 2018, o Mercado das Indústrias Criativas do Brasil (MicBR), evento que teve justamente o objetivo de estimular a integração de todos os setores culturais e criativos brasileiros.

Entre os países emergentes, o Brasil é considerado um dos maiores mercados para a economia criativa (somos o maior mercado de vídeo on demand, tv paga, música e games da América Latina, segundo dados da consultoria PwC, por exemplo). “As atividades culturais e criativas já representam 2,6% do PIB brasileiro, geram 1 milhão de empregos diretos e englobam mais de 200 mil empresas e instituições. Há um vasto potencial de crescimento e isso passa também pela internacionalização dos nossos talentos e da nossa valiosa produção cultural”, afirmou durante o evento o ex-ministro da Cultura, Sérgio Sá Leitão, hoje Secretário Estadual de Cultura e Economia Criativa do Estado de São Paulo. Quanto mais fortalecido e diverso for o setor, mais impactante (e interessante) serão as iniciativas. Viva a criatividade!

Criatividade para usar espaços

Esse movimento internacional de tornar os espaços cada vez mais democráticos e aproximar o público de museus e instituições culturais, também já acontece no Brasil.

Os arquitetos Mila Strauss e Marcos Paulo Caldeira, nossos professores no curso online de Arquitetura e Urbanismo, defendem a ideia de espaços multifuncionais, ou seja, uma área só atendendo vários usos. Acreditam que usar o mesmo imóvel para diversas funções, principalmente imóveis públicos, faz parte de um processo de urbanização que as grandes metrópoles precisam passar.

“Quanto maior o número de funções ou de utilizações você inventar para aquela metragem quadrada dentro de uma metrópole, mais você otimizará sua receita”, conta Marcos Paulo Caldeira, no curso online.

Os dois arquitetos foram convidados, alguns anos atrás, para participar da revitalização de um espaço em cima do túnel da Avenida 9 de Julho, que era um espaço quase que invisível – o Mirante 9 de Julho, que na época era um espaço quase que residual. Hoje, depois de revitalizado, é um espaço aberto ao público, com atividades culturais e um café, e voltou a ser um ponto turístico da cidade. Durante o processo, Mila e Marcos tinham uma questão em mente: como devolver esse espaço para a cidade, tornando-o um espaço seguro, onde as pessoas frequentassem? Estudaram muito a história dele, um mirante que, desde o início, já tinha a característica de ser utilizado para contemplar o centro da cidade. Tentaram potencializar essa atividade. Foram muitos estudos e pesquisas para entender a população local, como a cidade poderia ativar esse espaço e usá-lo de forma a integrar todos os usos que estavam nesse lugar – pessoas que passavam pela 9 de Julho, moradores locais, pessoas que usavam a Avenida Paulista, e as que usavam o MASP.

O ícone abandonado foi retomado e agora constrói uma nova história, já cheia de expectativas. As mudanças no Mirante incluem visual moderno, balcões de madeira construídos em cada lado, infraestrutura usada como restaurante e café. Durante o dia, o Mirante 9 de Julho é aberto como ponto de encontro para trabalho, reuniões e palestras. Existe um coworking de uso livre, sem taxas, que disponibiliza internet, mesa, espaço, comida boa e café para quem precisa.

Descendo uma escadaria de 1932 em espiral, bem estreita, encontrada durante as obras da reforma, você encontra a chamada Galeria Vertigem, outro pequeno espaço expositivo. Um espaço onde diferentes iniciativas podem dialogar: arte urbana, projetos musicais, exibições de filmes ao ar livre e feiras independentes, com curadoria do produtor cultural Akin Bicudo. Um lugar que celebra um novo momento de resgate da cidade e ocupação dos espaços públicos.

A ideia dos envolvidos no projeto é fazer com que o Mirante seja um suporte artístico, especialmente dedicado a performance. Ainda recebe feiras independentes, mostras de arte urbana, intervenções culturais de grupos de dança e música e sessões de cinema ao ar livre. Abriga o projeto “Mercado Efêmero”; que dá oportunidade a chefs que ainda não possuem seus próprios estabelecimentos poderem usufruir da estrutura. Os pratos do restaurante custam no máximo R$ 25 e toda a programação cultural é gratuita.

• As imagens contidas nesse post são de divulgação do videoclipe Apeshit!

#escolasaopaulo #descubra #reinvente #viva

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GLAUBER, O CINEASTA PENSADOR

Contestador e revolucionário, Glauber Rocha é uma das figuras mais emblemáticas do cinema nacional. Integrante do Cinema Novo, importante movimento da década de 1960 que ia de encontro às produções de Hollywood e pautava-se em temas políticos e sociais, ele buscava retratar em seus filmes o espírito de seu tempo e criar um cinema com estética genuinamente brasileira. Nascido em Vitória da Conquista, na Bahia, em 1939, foi em Salvador que Glauber, adolescente, teve seu primeiro contato com o cinema, por meio do Clube de Cinema da Bahia no qual ele assistia a filmes do neorrealismo da Itália e clássicos do cinema mundial.  

Com o lema “uma câmera na mão e uma ideia na cabeça” e a proposta de fazer um cinema autoral, ele criou a chamada “estética da fome”, uma adequação da linguagem cinematográfica à escassez de recursos no Brasil. “É uma estética que rompe de forma bem nítida com a tradição do cinema clássico e sua linguagem, as regras de montagem, de composição dos planos, de encenação. Tudo isso para montar um cinema dentro de condições precárias de produção”, explica Ismail Xavier, teórico de cinema e professor emérito da Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo (USP), em entrevista ao Nexo. “Isso leva a uma diferente noção de montagem que passa a incluir a ideia de descontinuidade, uma forma mais agressiva de compor a cena, uma forma completamente distinta de dirigir os atores, dando maior espaço para o improviso, para relações tensas entre câmera e ator e construindo toda uma dramaturgia”, completa.   

Por conta das características experimentais e inovadoras, suas obras são, até hoje, lidas por algumas pessoas como difíceis e complexas. “Esse tipo de experimentação fez do cinema dele algo sofisticado e que, ao mesmo tempo, traduz nas imagens e nos sons a visceralidade, a brutalidade que caracteriza a violência colonial da qual nasceu o Brasil. Ele queria produzir a violência esteticamente, sem fazer dela um espetáculo à la Hollywood”, analisa Jair Fonseca, professor de Literatura e Cinema da Universidade Federal de Santa Catarina, em entrevista ao DW. Ao longo de sua carreira, Glauber dirigiu nove longa-metragens, alguns premiados em importantes festivais da Europa, como o de Cannes. 

Dentre suas obras mais famosas estão Terra em Transe (que retrata a instabilidade política do país na época e que completou 50 anos em 2017)Deus e o Diabo na Terra do Sol (que tem o sertão como cenário, explora a cultura do Nordeste e mistura linguagens como teatro e ópera) e O Dragão da Maldade Contra o Santo Guerreiroprodução que tem fãs famosos, como o cineasta italo-americano Martin Scorsese (os dois diretores eram amigos). “É o filme que eu vivo revendo e continuo mostrando às pessoas, se eu acho que elas merecem (risos). Às vezes, elas não merecem, pois certas pessoas são como zumbis, não têm sentimentos ou coisa parecida. Eu não sei, acho que é bom mostrá-lo para as pessoas que possam ser ajudadas no seu trabalho. Mesmo até se elas rejeitarem o filme, pois já é algum tipo de reação. Melhor do que vem sendo apresentado ultimamente. Eu fico indo e voltando com ‘O Dragão’ e a música não sai da minha cabeça e além do mais, eu o conheço de ponta a ponta”, disse o diretor em entrevista à Folha de S.Paulo.  

Mais do que uma revolução estética e autoral, Glauber buscou retratar em seus filmes as inquietudes do Brasil (e da América Latina) de sua época e utilizar o cinema como plataforma para questionar problemas políticos e sociais e propor mudanças. “A obra do Glauber foi talvez a que estabeleceu o padrão de exigência mais alto na conjugação entre experimentação estética radical, esforço de pensar os impasses da experiência social brasileira e de intervir também no debate político do seu tempo. Nessa conjugação, nenhuma obra de cinema no Brasil foi tão longe”, analisa Mateus Araújo, professor da Universidade de São Paulo (USP), em entrevista ao Nexo.  

“Eu não faço um cinema convencional. Quer dizer, o meu tipo de filme é uma coisa que sai .… de um outro espaço, e não obedece muito as leis da dramaturgia convencional, de modo que as pessoas ficam chocadas”, declarou Glauber, certa vez. Sua produção, contudo, não ficou datada e segue hoje mais atual e oportuna do que nunca. O cineasta faleceu em 1981, aos 42 anos, no Rio de Janeiro.  

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PAULO MENDES DA ROCHA É TEMA DE DOCUMENTÁRIO

Criador de obras importantes como o Museu Brasileiro da Escultura (Mube) e o Museu da Língua Portuguesa e o arquiteto brasileiro mais premiado da história, Paulo Mendes da Rocha é tema do documentário Tudo é Projeto, que deverá chegar aos cinemas no segundo semestre de 2018. Produzido pela Olé Produções, o filme apresenta uma conversa franca e descontraída entre Mendes da Rocha e sua filha, Joana Mendes da Rocha (que divide a direção do filme com Patrícia Robano), sobre sua vida e, principalmente, sua emblemática obra.

Natural de Vitória, Espírito Santo, Paulo Archias Mendes da Rocha formou-se na Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Presbiteriana Mackenzie de São Paulo, em 1954, e desenvolveu uma prestigiada carreira acadêmica, a partir da década de 1960, na Universidade de São Paulo (USP) – na qual se aposentou em 1999. Conhecido como “arquiteto-cidadão”, é um dos mais renomados arquitetos modernistas brasileiros e criou obras que se tornaram referência em arquitetura brutalista no mundo. É também um dos principais representantes da chamada Escola Paulista, que defendia uma arquitetura crua, limpa, clara e socialmente responsável.

Premiado com o Pritzker (considerado o Nobel da arquitetura e a maior honraria para os profissionais da área), em 2006, já dividiu o troféu norte-americano Gordon Bunshaft com Oscar Niemeyer (1907-2012), em 1988, e, ao longo de 2016, foi reconhecido em três importantes premiações internacionais: o Leão de Ouro da Bienal de Arquitetura de Veneza, o Prêmio Imperial do Japão e o Royal Gold Medal, do Institute British of Architects (Riba).

Neste ano, foi laureado com a Medalha de Mérito Cultural, um condecoração concedida pelo Ministério da Cultura do governo de Portugal a indivíduos ou grupos, nacionais e estrangeiros, pela dedicação a atividades de impacto cultural – ele foi o segundo arquiteto a receber o prêmio (o primeiro foi Álvaro Siza Vieira, em 2009). Além disso, inspirou uma exposição no Mube, em São Paulo, que buscou traçar um paralelo entre a arte e o seu trabalho.

Aos 88 anos, Paulo Mendes da Rocha segue em plena atividade. Um de seus últimos trabalhos foi a museografia do Museu Nacional dos Coches, em Lisboa, que abriga a maior coleção de carruagens do mundo.

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À LA GARÇONNE APRESENTA COLEÇÃO INSPIRADA EM CLÁSSICOS DO CINEMA NOS ANOS 80 E 90

Personagens de filmes como E.T. – O Extraterrestre, Tubarão, Brinquedo Assassino, Jurassic Park e De Volta para o Futuro, clássicos dos anos 1980 e 1990, marcaram o desfile da coleção 1 de 2018 da À La Garçonne, marca de Fábio Souza e Alexandre Herchcovitch. Fora da SPFW desde 2017, quando resolveram seguir um cronograma à parte do calendário coletivo, os dois estilistas realizaram o evento na Biblioteca Mário de Andrade, no centro de São Paulo, para imprensa e alguns convidados.

“Há muito tempo eu venho fazendo desfiles em lugares públicos porque percebo que poucas pessoas conhecem essas locações. Fiz um desfile no Theatro Municipal com a minha marca e depois outro no mesmo lugar com a À La Garçonne, fiz na Praça das Artes, no saguão de entrada da Prefeitura de São Paulo e agora na Biblioteca Mario de Andrade, um lugar que sempre quis usar”, contou Alexandre, em entrevista ao site Glamurama.

Por realizar o evento durante o horário normal de funcionamento da biblioteca, a marca optou por um desfile em silêncio – no entanto, a trilha sonora, assinada por Max Blum, está disponível na Apple Music a quem estiver interessado com o nomeÀ La Garçonne Coleção 01-2018. A quinta coleção da brand contou com 63 looks entre peças festivas com jaquetas oversized acolchoadas e alfaiataria Príncipe de Gales com renda. As criações são resultado de parcerias com marcas como Vans, Hope, The North Face, New Era, Hering, Dickies, entre outras, além de licenciamento com filmes da Universal – que estamparam camisetas, jaquetas, moletons e bolsas em formato de lancheira dos anos 80.

“Não é uma coleção temática. São roupas que a gente tem vontade de usar, de ver por aí, é um mix. Na À La Garçonne, a coleção vira a cada ano. Quero que o meu cliente sinta que ele não comprou um produto perecível, é mais slow”, explicou Fábio Souza, em entrevista ao jornal Diário do Nordeste. Como já é característica da marca, o casting do desfile foi formado por modelos e “não modelos” e foi aberto com performance da atriz e escritora Fernanda Young, que interpretou uma bibliotecária que pedia silêncio ao público.

Herchcovitch assumiu o comando da À La Garçonne em 2016, quando se desligou da marca que leva seu nome e que ele fundou há 25 anos. Aos 45 anos, o estilista se reinventou na marca do marido, que antes vendia móveis e objetos antigos restaurados. Juntos, Alexandre e Fábio criam peças que seguem o conceito de streetwear couture, que valoriza o vestuário do dia a dia (moletom, jeans e camiseta de algodão) mesclado com tecidos fluidos e modelagens elaboradas.

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CONHEÇA O FAROL SANTANDER

Símbolo da transformação de São Paulo em metrópole

Um dos prédios mais icônicos de São Paulo, o Edifício Altino Arantes, antigo prédio do Banco do Estado de São Paulo (Banespa), popularmente conhecido pelos paulistanos como Banespão, é um ótimo programa para quem tem interesse em conhecer um pouco mais sobre a história da capital.

Projetado pelo arquiteto Plínio Botelho do Amaral, o prédio foi inspirado na arquiteturaartdecódo Empire StateBuilding de Nova York e começou a ser construído em 1939, ficando pronto em 1947. Símbolo da transformação da cidade em metrópole, o edifício foi estrategicamente instalado entre as ruas São Bento, XV de Novembro e Direita, região conhecida na época como o centro financeiro da capital.

Com 161 metros de altura e 35 andares, o prédio foi considerado a maior construção de concreto armado do mundo e por quase 20 anos foi o maior edifício da cidade – o título foi perdido em 1960 para o Condomínio Mirante do Vale, no Vale do Anhangabaú, e seus 170 metros. Adotado pelos paulistanos, o Banespão se tornou um cartão-postal da capital, não apenas pela sua magnitude, mas principalmente pelo seu mirante, que proporcionava uma visão panorâmica da cidade que crescia velozmente ao seu redor.

No ano 2000, o banco Santander comprou o Banespa e adquiriu o imóvel para o seu patrimônio. Em 2014, a construção foi tombada pelo Conselho de Defesa do Patrimônio Histórico, Arqueológico, Artístico e Turístico do Estado de São Paulo (Condephaat) e, no ano seguinte, foi fechada para uma reforma que durou dois anos. O prédio foi reaberto em janeiro de 2018com o nome de Farol Santander e a proposta de ser um espaço de cultura, entretenimento e lazer.

MEMÓRIA, ARTE, LAZER E EMPREENDEDORISMO

Dos 35 andares do edifício, 11 agora estão abertos para visitação. O tour é dividido em quatro eixos: memória, arte, lazer e empreendedorismo. Ao adentrar o prédio, os visitantes dão de cara com um lustre de cristal de 13 metros e uma tonelada, presente no edifício desde 1988, que foi totalmente restaurado. No segundo andar, é possível conferir um vídeo sobre a história do prédio e algumas projeções. Já no terceiro, há um painel interativo sobre a história do dinheiro brasileiro, dos réis do período imperial até o real dos nossos dias.

No quarto andar, fica uma exposição permanente do artista Vik Muniz, com sete painéis com retratos do prédio produzidos à base de dez toneladas de sucata entulhos de obras do prédio. No quinto andar, é possível ver móveis e alguns objetos originais utilizados nos escritórios do antigo Banespa nas décadas de 1940 e 1950. Boa parte do acervo foi produzida pelo Liceu de Artes e Ofícios, uma das mais tradicionais escolas da cidade.

No oitavo andar, são realizadas palestras quinzenais, aos sábados, coordenadas pela Garimpo de Soluções, enquanto que no 21º andar foi instalada uma pista de skate, projetada pelo campeão mundial Bob Burnquist, que conta com um percurso de street e estrutura para iniciantes e avançados. Os andares 22 e 23 são dedicados à arte e abrigam, por uma temporada de quatro meses, obras de dois artistas (um nacional e o outro estrangeiro) sempre sobre o mesmo tema. A curadoria dos espaços é feita pelo empresário Facundo Guerra, que emprega o conceito da arte imersiva (que permite ao visitante interagir com as obras).

No 25º andar, foi instalado um loft de 350 metros quadrados com vista panorâmica criado pelo Triptyque, o premiado escritório de arquitetura. Com capacidade para abrigar até cinco pessoas(em caso de hospedagem) ou 50 (em caso de evento), o imóvel está aberto para hospedagem. Os valores e as reservas estãonoAirbnb.

O mirante, a mais tradicional atração do prédio, está localizado no 26º andar. No local, foram instaladas placas de vidro para garantir a segurança dos visitantes. De lá é possível ter uma visão de 360 graus da cidade e observar pontos como o Pico do Jaraguá, a Avenida Paulista e até a Serra do Mar. A área agora conta também com uma unidade do Suplicy Cafés Especiais, que oferece almoço executivo, drinques e brunch no fim de semana. Um passeio imperdível que promove um encontro entre a São Paulo do passado com a cidade de hoje.

SERVIÇO

O QUE: Farol Santander
ENDEREÇO: Rua João Brícola, 24, centro
HORÁRIO DE FUNCIONAMENTO: Terça a domingo, das 9h às 20h
VALOR DO INGRESSO: De R$ 15 a R$ 20, dependendo dos espaços que o visitante deseja conhecer
MAIS INFORMAÇÕES: www.farolsantander.com.br

Imagens de divulgação

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A OCUPAÇÃO DOS ESPAÇOS PÚBLICOS

São Paulo tem vivido um momento interessante enquanto cidade: a ocupação dos espaços públicos. Reconhecida historicamente como um local no qual as pessoas viviam apenas para trabalhar e fazer dinheiro, a cidade foi, durante décadas, pensada no individual e nunca no coletivo. Não à toa, a ampliação e a melhoria dos sistemas de transporte coletivo nunca foi uma prioridade, ao passo que a criação de avenidas sim. Uma cidade pensada para carros e não para pessoas.

O cenário começou a mudar nos últimos anos, motivado principalmente por uma demanda da população e incentivado por artistas e ativistas que entendem que são as pessoas que dão sentido e vida a uma cidade. “Pessoas nas ruas tornam as cidades seguras”, analisa o multi-artista Felipe Morozini, um dos grandes incentivadores desse fenômeno urbano.

Ele é o criador do premiado projeto de intervenção urbana Jardim Suspenso da Babilônia que, em 2010, desenhou dezenas de flores com cal por todo o Minhocão, deu voz a um desejo da população, chamou a atenção das autoridades e iniciou um debate para transformar o espaço em uma área de lazer. “O Parque Minhocão só pode ser chamado de parque devido a este fenômeno de ocupação urbana. Como pode um lugar que não oferece nenhum atrativo de conforto ser tão importante afetivamente para uma população? Por que resolveram usar o elevado como lazer? Como esta ocupação aconteceu e quais são seus pontos positivos para cidade?”, questiona. “Ao contrário de projetos como o High Line, de Nova York, aqui em São Paulo são as pessoas que estão ocupando e ditando o que vai ser feito, não é a Prefeitura com a iniciativa privada que vai fazer daqui um lugar turístico”, acrescenta.

Morozini reforça que a ideia de ocupação dos espaços públicos é um assunto recente, de pouco mais de cinco anos, e que reflete um momento vivenciado na cidade, uma mudança de comportamento. Um novo jeito de pensar, de viver e de conviver. “Antes, quando eu convidava as pessoas para vir tomar sol no Minhocão, me chamavam de louco. Hoje, acham super legal e vem todo mundo, trazem os filhos, amigos deixam as bicicletas dos filhos na minha casa. Tem muita gente pensando nessa cidade, nessa nova cidade, que não é “carro-dependente”. Novas alternativas de mobilidade, de locomoção”, afirma.

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CINCO PRÉDIOS DE REFERÊNCIA ARQUITETÔNICA QUE VOCÊ PRECISA CONHECER EM SÃO PAULO

Reconhecida como a maior cidade do país e uma das grandes metrópoles do mundo, São Paulo tem na arquitetura (e também na não-arquitetura) uma de suas características mais marcantes, composta por estilos diversos que vão do Clássico ao Moderno e do Pós-moderno ao Contemporâneo. Para a arquiteta Manoela Beneti, a composição da cidade é muitas vezes caótica, mas possui pontos altos e muito expressivos em alguns exemplares arquitetônicos. Ela selecionou cinco prédios que, na opinião dela, exemplificam bem essa essência arquitetônica paulistana e valem a pena conhecer:

MASP

“Projetado por Lina Bo Bardi na década de 1950, o Museu de Arte de São Paulo é um marco da Arquitetura Moderna brasileira. Com 11 mil metros quadrados, a construção demandou tecnologia de grandes pontes para segurar os dois andares suspensos que compõem o prédio. Em seu grande vão livre de 74 metros – reconhecido como o maior da América Latina – se dá a mágica de sua arquitetura. É naquele grande vazio, ocupado por pessoas, sejam elas passantes, em atividades culturais, comerciais ou em manifestações populares, que acontece um verdadeiro respiro urbano e uma ponte visual com a Avenida Nove de Julho.”

SESC POMPEIA

“Também projetado por Lina Bo Bardi na década de 1970 e desde 2015 tombado pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) como Patrimônio Cultural, o espaço é palco para shows, exposições e outras atividades artísticas importantes. Entre suas grandes qualidades está o fato de ser um complexo requalificado. Originalmente um complexo fabril abandonado (terreno de uma antiga fábrica de tambores da década de 1930), a área foi revitalizada e ressignificada, algo fundamental sob o ponto de vista da sustentabilidade e da vitalidade do tecido urbano ao redor. A intervenção/projeto de Lina, considerada uma iniciativa de vanguarda na época e ainda hoje pouco replicada, promoveu uma transformação estupenda e criou um conjunto que é uma das principais referências de lazer e cultura da cidade. Ali podemos ver camadas históricas diferentes, bem como camadas de técnicas construtivas distintas e soluções pitorescas, como as incríveis “janelas-buraco” criadas pela arquiteta. Não à toa, o prédio foi eleito em 2016 pelo jornal britânico “The Guardian” como uma das dez melhores construções e estruturas em concreto do mundo.”

COPAN

“Um ícone de São Paulo, cujo desenho curvo se destaca das linhas retas do entorno e traz leveza à massa do centro, atraindo os olhares. Dos grandes exemplos de arquitetura moderna e de convivência coletiva, recebe e articula milhares de pessoas, ajudando muito no povoamento do Centro, que passa por processo de esvaziamento há algumas décadas, não só em São Paulo, como em outras cidades brasileiras – ou seja, é vital para o ecossistema da capital. Projetado na década de 1950 por Oscar Niemeyer, o Copan está registrado no Guinness Book como o maior prédio residencial do mundo e é a maior estrutura em concreto armado do Brasil. Composto por seis blocos, 35 andares, 1.160 apartamentos, conta com diversas lojas e galerias e mais de cinco mil habitantes, de diferentes idades, perfis e classes sociais. Visitá-lo é uma experiência de grande riqueza antropológica, arquitetônica e urbana.”

SESC 24 DE MAIO

“Projetado pelo arquiteto Paulo Mendes da Rocha e instalado no centro da cidade, no antigo prédio da rede Mesbla, o complexo arquitetônico tem 13 andares, um teatro no subsolo e uma piscina enorme, de 625 m², no terraço com vista panorâmica. Inaugurada em 2017, a obra é um importante símbolo do processo de revitalização do Centro vivenciado pela cidade nos últimos anos. Entre suas grandes qualidades está o sistema de circulações com rampas que, como diz o próprio Paulo Mendes da Rocha, funcionam como uma extensão da rua e promovem um ritmo de passeio por São Paulo. A iniciativa capta o fluxo de pedestres para dentro do prédio, de maneira generosa e convidativa, como a cidade e as pessoas tanto necessitam.”

MUBE

“Também concebido pelo arquiteto Paulo Mendes da Rocha e inaugurado em 1995, o prédio do Museu Brasileiro da Escultura possui uma característica fundamental para a arquitetura bem inserida na cidade. Seu desenho fala mais de espaço do que de prédio. Os espaços típicos de um museu estão abaixo do nível do piso da praça aberta, que é avistada da rua e realçada pelo grande pórtico composto por uma longa viga. Hoje, cercado por grades, o prédio originalmente foi concebido por esse grande arquiteto sem nenhum tipo de contenção e, com toda generosidade, oferecido para a cidade. Considerada um dos destaques da arquitetura brutalista mundial, a obra conta com um jardim idealizado por Burle Marx e recebe exposições, além de abrigar uma feira nos finais de semana.”

Visitar estes prédios é uma maneira interessante e leve de conhecer e entender melhor São Paulo, uma cidade de tantos contrastes e diversas camadas históricas. Viva essa experiência!