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VIRADA SUSTENTÁVEL – DIA 2

Temos que ser resilientes, para poder nos transformar e pensar de forma mais holística e sistêmica. As cidades precisam estar preparadas, os seres humanos precisam se preparar para o que estamos causando ou para o que pode vir como consequência do que estamos causando.

Clique aqui para para ler sobre o que vimos e sobre nossas impressões do dia 22, o dia anterior!

Mobilidade mais Humana

O objetivo do painel “Mobilidade mais Humana” foi despertar mais humanidade na mobilidade em nossas cidades, especificamente em São Paulo. Ouvimos muito sobre os problemas da mobilidade urbana relacionados aos modais de transporte, estruturas viárias e fluxo de veículos, tempo de locomoção, mas pouco discutimos sobre um elemento que está no centro dessa questão: o ser humano, com suas necessidades de deslocamento com mais qualidade de vida. Neste painel, Carolina Padilha, sócia do Carona a Pé, Cid Torquato, Secretário Municipal da Pessoa com Deficiência de São Paulo e Mauro Calliari, da ONG Cidadeapé discutiram o conceito humano da mobilidade.

A apresentação começou com um vídeo, onde Diogo Faro foi à procura dos bons exemplos de mobilidade em Lisboa – e não encontrou!! Mas foi um excelente exemplo do que enfrentamos também por aqui.

Carolina, ao apresentar o projeto “Carona a Pé”, um projeto que vem sendo implantado em escolas, conta que o projeto começou de uma inquietação ao perceber como cada aluno ia para sua escola, para cumprir a mesma carga horária, cada um dentro de sua própria bolha, seus carros. Como professora, sabe a importância de se andar a pé, e o quanto podemos aprender durante deslocamentos a pé e observar a cidade sob um outro ângulo. Quando temos uma cidade com crianças circulando, temos uma cidade em equilíbrio. Uma cidade pronta para abraçar crianças é uma cidade pronta para abraçar qualquer um, atende todos os outros setores. Além de resolver outros problemas como evasão escolar, obesidade, sedentarismo, isolamento social e o congestionamento nas entradas das escolas. Poupar a criança da cidade não é protegê-la, como muitos pensam. O projeto propõe sensibilizar e capacitar a comunidade escolar que mora próxima para percorrerem juntos o trajeto de ida e/ou de volta da escola em pequenos grupos, em um horário pré-estabelecido, seguindo uma rota determinada, construindo uma nova relação com a cidade onde vivem.

 “Calçada, calçada, calçada!”

Cid Torquato, cadeirante, inicia sua fala nos inquietando: “Não tenho deficiência, a cidade que me faz pensar assim”. Relaciona diversidade e sustentabilidade como conceitos interligados e fundamentais para os desafios humanos e ambientais. Contou como tem trabalhado junto à Prefeitura de São Paulo nesse olhar cuidadoso às calçadas, pois, além de uma questão estrutural, a situação em que elas se encontram hoje representa um problema de saúde pública, já que 100 mil acidentes são reportados anualmente, e custam por volta de 600 milhões de reais aos hospitais públicos.

Pensando nisso, a gestão Bruno Covas concebeu o Programa Municipal de Calçadas, que pretende investir R$ 400 milhões até o final de 2020, requalificando 1,5 milhão de metros quadrados de calçadas públicas e privadas prioritárias em todas as regiões da cidade. Cid, em sua fala, pede que os cidadãos usem o número 156 para relatar problemas, elogios e novas ideias, pois o trabalho deles se baseia muito no resultado dessas ligações. Ele conta parecer uma briga sem fim, mas garante que vive pelos corredores da prefeitura com um mantra, inspirado na pamonha: “Calçada, calçada, calçada!”.

Mauro Calliari aponta todos os lugares onde encontramos humanos nas cidades se locomovendo – nas ruas, nas calçadas, nos carros, nos ônibus, nos metrôs, nos helicópteros… mas “humano” é a maneira em que essas pessoas conseguem se locomover, o quanto elas conseguem se locomover e, principalmente, o que sobra para a cidade quando elas se locomovem, ou seja, nas escolhas do transporte, o que a cidade resulta disso. Nos entrega algumas sugestões e tentativas de traduzir o “humano”, como aproveitar que existe um novo paradigma no mundo, o da apropriação, onde as pessoas mudaram a maneira de ver as cidades, onde a cidade modernista, construída para o deslocamento de carros não é mais aquilo que nos satisfaz e passamos a nos apropriar de espaços públicos, criando novos espaços que eram mal aproveitados. Dentre outras, chamou a atenção para a tecnologia, e como ela deve ser acolhida – não podemos mais ir contra aplicativos de compartilhamento, bicicletas e patinetes, ônibus elétricos, temos que aprender rapidamente e montar políticas públicas em cima disso. Cidade não deveria ser um lugar de passagem, mas de permanência.

Cidades Resilientes

Espaços como o Mirante Nove de Julho, que foi recuperado e hoje tem um papel importante na região da Avenida Paulista, são a prova de que a arquitetura e o urbanismo são fundamentais para tornar as cidades mais seguras e ainda geram novos significados para espaços esquecidos. Para os arquitetos Mila Strauss e Marcos Paulo Caldeira, professores do curso de Arquitetura e Urbanismo da Escola São Paulo, é preciso otimizar os espaços urbanos através de uma arquitetura mais holística.

No painel “Soluções Sistêmicas para Cidades Resilientes, a jornalista Monica Picavea nos apresentou o movimento das Cidades em Transição, que foi criado pelo inglês Rob Hopkins com o objetivo de transformar as cidades em modelos sustentáveis, menos dependentes do petróleo, mais integradas à natureza e mais resistentes a crises externas, tanto econômicas como ecológicas. Percebeu que com o fim do petróleo barato, as pessoas não conseguiriam mais morar longe dos grandes centros urbanos, dificultaria o deslocamento dos alimentos, e que temos de pensar em uma vida que gaste menos energia. E só quem pode resolver esse problema é quem nos colocou nesse problema – a nossa sociedade! Segundo ela, precisamos parar de pensar em nosso CNPJ e passar a pensar em nosso CPF, pois é um movimento que deve ser feito por todos, unidos, em um momento de descoberta sobre o que viemos fazer no mundo afinal.

Eu reciclo, tu reciclas, ele…

Nós reciclamos, vós…

Eles não reciclam!

Gabriela Reis, gerente de marketing na eureciclo, empresa líder em logística reversa de embalagens pós consumo na América Latina, acredita que consumidor, empresas e governos precisam começar a atuar em conjunto para resolver a questão dos lixos espalhados em lixões, aterros sanitários e mares, problemas que estamos criando juntos há muito tempo. No Brasil, 90% do lixo é coletado, uma taxa que se equipara à países mais desenvolvidos, porém, apenas 3% dos resíduos recicláveis coletados são realmente destinados à reciclagem. Todos o restante é desperdiçado enquanto potencial de retorno ao ciclo produtivo. Diante desse cenário, o selo eureciclo surge para solucionar dois problemas: a destinação final das embalagens pós-consumo e a marginalização dos agentes da cadeia.

Aline Cavalcante, que trabalha em São Paulo com mobilidade urbana e o uso da bicicleta, buscou tratar a palavra resiliência, que acreditamos ser o ponto chave de todo o movimento sustentável que estamos passando. Cidades resilientes são cidades resistentes, capazes de suportar crises, colapsos, problemas naturais ou provocados pelo homem. Como construir cidades resistentes aos problemas que surgirão, já que vivemos em um país 85% urbano? Problemas que nós mesmos provocamos, como poluição das águas, do ar, resíduos, etc, frutos da nossa experiência como seres humanos na cidade. Sofremos efeitos na cidade que não estavam previstos e precisamos estar preparados para que não se tornem transtornos. Um desafio que só depende da gente. Criamos esse problema, temos que resolver. E podemos. Juntos.

#VireSuaCidade #escolasãopaulo #descubra #reinvente #viva

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VIRADA SUSTENTÁVEL – DIA 1

A Virada Sustentável é um movimento de mobilização para a sustentabilidade que organiza o maior festival sobre o tema no Brasil. Começou em 2011, em São Paulo, e já realizou edições nas cidades do Rio de Janeiro, Porto Alegre, Salvador, Manaus, entre outras.
A concepção temática da Virada Sustentável é, atualmente, baseada e totalmente concebida a partir nos 17 Objetivos do Desenvolvimento Sustentável (ODS) definidos pela ONU, que são também os princípios que orientam a programação do festival em todas as cidades.
Participamos de parte da programação que aconteceu na Unibes, em São Paulo, nos dias 22 e 23 de agosto.

4ª Revolução Industrial e Gestão de Resíduos

Antonis Mavropoulos, em sua palestra “4ª Revolução Industrial e Gestão de Resíduos”, problematizou a relação que existe entre reciclagem e economia circular. Acredita que não devemos considerar a reciclagem como o caminho para a economia circular, pois perdemos tempo e dinheiro com ela, quando teríamos de avançar nas outras partes da cadeia (utilizar matérias-primas renováveis ​​ou biodegradáveis, projetar com responsabilidade para estender o ciclo de vida atual de um produto – reparando, atualizando e revendendo -, produzir com consciência, criar mais plataformas de compartilhamento e pensar em novos modelos de negócios como um todo).

Ele propõe novos modelos de negócios em que a mentalidade dos governos e marcas precisa ser diferente, uma vez que estes entendem tudo sobre o mercado financeiro, mas não sobre seus impactos sociais e ambientais. Ainda medimos progresso de forma errada, pelo PIB, o que, de novo, deixa como foco a questão financeira, e não a ambiental e a social. O reuso, por exemplo, não é medido no PIB, bem como o prolongamento da vida útil de um produto.

Segundo o fundador e CEO da D-Waste e Presidente da ISWA, o futuro do nosso planeta está na conexão entre Economia Circular e Indústria 4.0. Isso determinará se estamos indo em direção a um planeta com ou sem desperdício. A Economia Circular ou será digitalizada ou não prevalecerá.

A 4ª revolução industrial apenas acelerará o esgotamento de recursos e criará problemas mais complexos e danos mais irreversíveis se não caminhar de mãos dadas com a economia circular. Porém, tanto a indústria 4.0, como a economia circular, demandam mudanças radicais nos modelos, culturas e políticas de negócios a fim de entregar todos os resultados prometidos. Sem essas mudanças, tanto a indústria 4.0, como a economia circular, acelerarão o esgotamento de recursos e aprofundarão a desigualdade.Vivemos em uma nova sociedade, que leva ao surgimento de uma nova economia.

Economia circular do plástico

O jornalista e editor Caco De Paula, moderador do painel “Economia Circular do Plástico”, inicia sua fala comentando como o plástico, que mudou completamente a vida das pessoas em vários aspectos por muitos anos, passa hoje pelo problema no fechamento do ciclo, pois temos que pensar em uma nova forma de lidar com essa matéria-prima. E, ao se tornar um bem de consumo, temos uma série de “contratos sociais” que ainda não estão bem estabelecidos, envolvendo fabricantes, consumidores e governos. Algo que está em construção no mundo inteiro, não só no Brasil. Estamos praticando um exercício de virada, em que personagens da cadeia estão vivendo experiências, criando soluções e financiando pesquisas em busca de alternativas mais sustentáveis.

Nesse painel, presenciamos uma discussão aberta e informativa sobre os desafios e tendências da economia circular do plástico, com participação de representantes de grandes empresas da cadeia produtiva em nível global: Fabiana Quiroga, diretora de reciclagem da Braskem, Mariana Bazzoni de Werna Mendes, gerente de sustentabilidade da AMBEV, e César Sanches, diretor de sustentabilidade do Valgroup. Os representantes das três empresas têm como desafio suas áreas sustentáveis, investindo sempre em inovação como forma de garantir maiores facilidades para a reciclagem desse material. Consideram ser necessário criar um outro modelo de negócio, pois, no caso de outras matérias-primas, como o alumínio, o próprio produto reciclado financia o processo, o que está longe de acontecer com o plástico.

Fabiana Quiroga acredita que a questão do plástico deva passar por uma mudança comportamental de todos os setores da cadeia, desde a fabricação da matéria-prima, a transformação, a empresa de produção de bens de consumo e, no final, o consumidor em si. Todos os setores devem oferecer soluções sustentáveis para a sociedade e pensarem juntos em uma mudança comportamental.

Fabiana contou também como a Braskem se empenha todos os dias para melhorar a vida das pessoas por meio de soluções sustentáveis da química e do plástico, engajados na cadeia de valor para o fortalecimento da economia circular. Entre algumas ações, entregam conhecimento aos clientes no melhor aproveitamento da matéria-prima e em uma produção que facilite a reciclagem (quanto mais tipos de plásticos colocarem em uma embalagem, por exemplo, mais complexa sua reciclagem). Quando fala de mudança, chamou a atenção para a importância do design, em como pensar a melhor forma do design desse produto para que possa ser usado o máximo possível e, ao final, não tornar-se um resíduo, mas uma nova matéria-prima.

A designer, pesquisadora e doutora em Comunicação e Semiótica, Mônica Moura, autora do livro Faces do Design, define design como “ter e desenvolver um plano, um projeto, significa designar. É trabalhar com a intenção, com o cenário futuro, executando a concepção e o planejamento daquilo que virá a existir”.

Em nosso curso Design Sustentável, com Eloisa Artuso, além de trazer ferramentas sustentáveis aos designers, trazemos conhecimento e responsabilidade à todos os profissionais que estão pensando em suas marcas e negócios, sendo eles designers de produtos ou não.

Mariana Bazzoni de Werna Mendes conta como a AMBEV se posiciona frente às demandas da sociedade em prol da sustentabilidade, caminhando além das expectativas do consumidor sobre a reciclagem em si, repensando seu posicionamento acima das provocações que vem recebendo do consumidor. A AMBEV tem uma missão de conseguir transportar as expectativas do consumidor para o restante da cadeia, sendo inventiva, criativa e com muito diálogo entre todos os setores. Para ela, a visão de circularidade é ter diversos atores trabalhando em outros aspectos além do uso e descarte, como gerar valor em cima daquilo que normalmente não parece ter mais. Lixo é dinheiro, e temos que gerar valor e oportunidades para ele com inovação e novas ações.

César Sanches percebe que a economia circular gerará uma série de oportunidades para empreendedores, professores, pesquisadores. Novas tecnologias, automação, robótica, inteligência artificial, tudo isso vai se desenvolver, e cabe a nós usar os materiais e essas tecnologias de forma a criar uma sociedade melhor. Numa visão otimista, acredita que o ser humano, se observarmos ao longo de toda a sua história, já entendeu que a economia linear chegou ao seu limite e que podemos aproveitar todo esse conhecimento acumulado por séculos e transformá-lo em economia circular, sustentável. Não é uma obra concluída, mas está sendo feita.

Economia circular do alumínio

No painel “Reciclagem | Os desafios da profissionalização, geração de renda e consumo consciente”, Eunice Lima, diretora de comunicação e relações governamentais da Novelis, Estevão Braga, gerente de sustentabilidade da Ball, Cristiano Cardoso, da Cooperativa Recifavela, e Nina Marcucci, coordenadora de conteúdo do Menos 1 Lixo, discutiram como as empresas e as cooperativas têm buscado soluções  para aumentar a rentabilidade, melhorar a gestão e, consequentemente, a qualidade de vida das pessoas envolvidas no ciclo produtivo do alumínio.
Eunice Lima contou que o Brasil é o maior reciclador de alumínio do mundo, por ser um negócio altamente rentável. Temos um índice de 97,3% de reciclagem de latas de alumínio com 600 mil pessoas envolvidas no processo. A Sua reciclagem consome 95% menos energia elétrica, quando comparado à produção do alumínio a partir do minério, reduz em 95% a emissão de gazes de efeito estufa, além de ser um material infinitamente reciclável. Seu sucesso se dá pela estruturação da reciclagem do alumínio como negócio; investimento industrial em capacidade de reciclagem; as indústrias absorvem todo o material coletado (existe comprador garantido); valor agregado da sucata, que remunera atividades de coleta e transporte; logística reversa organizada; e valor compartilhado em todos os elos da cadeia. Não enfrenta os desafios de outros materiais como vidro, plástico etc.
Um processo que hoje é uma oportunidade de renda e já se tornou um novo modelo de negócio. Ponto para o alumínio.

Jogando luz no lixo invisível

Em uma cidade como São Paulo, o sistema de recolhimento, tratamento e destinação dos resíduos custa bilhões de reais todos os anos e envolve milhares de pessoas, incluindo toda a economia informal gerada pelos catadores e suas famílias, peças fundamentais no processo da reciclagem. Mas tudo isso não é suficiente se cada um de nós, cidadãos, não tomarmos consciência sobre nossas opções de consumo de produtos e a destinação dos resíduos que inevitavelmente são gerados. Para refletir sobre como essas questões estão todas interligadas, o painel “Jogando Luz no Lixo Invisível” reuniu uma roda de conversa com diferentes olhares sobre experiências de manejo sustentável de resíduos com Patrícia Lorena, CEI e Founder da Inurbe, Larissa Kroeff, cofundadora da Meu Copo Eco, e João Bourroul, do Pimp My Carroça. 
Patrícia Lorena nos apresentou dados como o de São Paulo ser responsável por 12% do PIB brasileiro e produzir, aproximadamente, 8% dos resíduos do país – 19 mil toneladas por dia, quantidade que encheria 140 aviões cargueiros 747-8F, os quais, se enfileirados, ligariam a Avenida Paulista ao aeroporto de Congonhas! Acumulando essa quantidade por três dias, encheríamos o Estádio do Pacaembu.

Lamenta a relação que os paulistanos têm com os resíduos – tratam de manter suas casas limpas, mas entendem a rua como responsabilidade alheia, sem perceber suas responsabilidades individuais em manter a cidade limpa e conservada.
Larissa Kroeff trouxe uma reflexão sobre o lixo produzido nos eventos, e percebeu uma oportunidade de negócio criando o projeto “Meu Copo Eco”. No Brasil, o custo do lixo se divide com o de saúde e o de educação nas gestões municipais – 97% do lixo geram custo por meio da coleta e manutenção dos aterros sanitários, enquanto que apenas 3% geram receita às cooperativas de reciclagem. “E se fosse o contrário?”, questiona ela.
João Bourroul, além de nos contar do trabalho dele com os catadores nos projetos Pimp My Carroça e Cataki, empoderando e trazendo autoestima a esses atores praticamente invisíveis da cadeia, nos presenteou com o testemunho de um catador, que veio para relatar os problemas que enfrentam no dia a dia, como a logística e a falta de respeito.

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#VireSuaCidade #escolasaopaulo #descubra #reinvente #viva

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SOBRE O QUE AS PESSOAS ESTÃO FALANDO?

Por Carolina Bastos, curadora de conteúdo da Escola São Paulo

Sobre o que as pessoas estão falando? Pensando? Se questionando?

Nosso mindset está realmente mudando?

BlastU

Estivemos essa semana dentro da segunda edição do BlastU, acompanhando painéis, workshops e debates sobre empreendedorismo, inovação e tecnologia.

Quando ouvimos pessoas como Sérgio Leitão, do Instituto Escolhas, conversando com Oskar Metsalvat, da Osklen, sobre as mudanças e as quebras de paradigmas que estamos vivendo e outras que ainda precisamos viver, sinto uma verdadeira euforia. Porque não estamos sozinhos!

Quando cheguei na Escola São Paulo, há dois anos, esses mesmos assuntos e pensamentos já estavam no nosso radar. Mas eu realmente não via tantos eventos desse porte e com tanta gente interessante falando sobre possibilidades e ações que já estão acontecendo e que precisam urgentemente acontecer.

Quando marcas começam a se posicionar, como o caso da Osklen, que tem isso em seu DNA desde o começo, vejo uma força enorme de transformação se movimentando, engolindo antigos preconceitos e desbravando espaços fundamentais.

Educação

Aqui no Brasil, a educação tem um lugar vergonhoso na nossa vida. Apenas 10% da população tem acesso a um ensino digno, e, mesmo assim, ainda aquém do que vemos ao redor do mundo.

Quando Priscila Cruz, do Todos Pela Educação, nos conta dados concretos, como por exemplo, o impacto econômico que uma transformação na educação poderia causar, impulsionando em 2 pontos percentuais o crescimento de nosso PIB caso as metas que tanto discutimos fossem atingidas, fica na minha cabeça uma pergunta recorrente: como não estamos investindo melhor nisso? Sem contar as transformações que reverberariam dessa ação, como inclusão, diminuição da violência, entre tantos outros benefícios. E digo mais, porque quando falamos de investimento em educação de base, até o ensino médio, nossos valores, como país, são altos, mas pelos resultados, nossa administração dessas verbas anda bem equivocada. Claro que existem exceções, mas elas deveriam ser a regra. E, infelizmente, não estou aqui comentando nenhuma grande novidade.

Claudio Sassaki, o cofundador e presidente da plataforma de educação online Geekie, participou com Ricardo A. Madeira (Tuneduc), André Barrence (Google for Startups) e Paulo Batista (Alicerce Educação) de uma conversa inspiradora sobre “Educação Transformacional”, onde ele deixou claro que, em sua opinião, o caminho para melhorar a aprendizagem passa necessariamente pelo professor, e que “o uso de inteligência artificial para os alunos aprenderem sem os professores tem um impacto limitado”.

Segundo ele, sua empresa está trabalhando, por exemplo, em tecnologias que ajudem esses profissionais a economizarem tempo e a organizar tarefas em pequenos grupos de estudantes dentro da sala de aula.

Transformação digital

Com a transformação digital, como vamos lidar com tanto déficit? Com tanto desemprego?
Enquanto grande parte dos setores desaparecerão, em alguns setores estratégicos e que irão crescer nos próximos anos, sobram vagas, já que não existem profissionais qualificados para as mesmas.

E então, claro, me vem a pergunta, aquela que não quer calar, e que sei que está também na cabeça de muitas outras pessoas: como me preparar? O que preciso aprender, desenvolver? O que eu quero realmente transformar para termos um mundo possível para nós e para as próximas gerações?

Eventos como a BlastU, onde discute-se inovação e novas formas de fazer as coisas, fica claro que existem soluções, tanto tecnológicas quanto humanas, muito melhores do que as que usualmente são aplicadas a produtos e serviços que consumimos.

Economia criativa

A economia criativa, nossa área de atuação e pesquisa, tem se desenvolvido de maneira exponencial, e mesmo que essa palavra já esteja parecendo um pouco gasta, ela vai seguir aparecendo para nós, porque a velocidade das transformações nunca mais será a mesma. Se isso será bom ou ruim? Me parece que cabe a cada um de nós, nesse caso, fazer do seu limão uma limonada.

A palavra mais ouvida em todos os espaços era propósito. Por que fazemos o que fazemos? De médicos, cientistas, economistas, ativistas, educadores à publicitários e empreendedores… todos ali estavam falando sobre significado e direcionamento de energia para algo em que possamos realmente acreditar. Para mim, o sentimento comum era: “precisamos nos conectar e encontrar novos caminhos”.

Ficou muito claro que os que estavam ali compartilhando suas experiências, incluindo erros e acertos, estavam de peito aberto mostrando: “vejam o que eu sonhei, desenvolvi, participei, etc… e como foi possível chegar até aqui, olha tudo que deu errado, ou que ainda está dando, mas não quero desistir”.

Diversidade

Falou-se também de diversidade e inclusão, em conversas como a de Patrícia Villela, do Humanitas360 e Carolina Mellone Etlin, advogada, em um painel sobre “Empreendedorismo atrás e além das grades”, um tema pouco visto em eventos como esse. Ponto para a organização do evento.

Tracy Francis (a sócia da consultoria McKinsey) conversou com Carolina Videira (Turma do Jiló, associação que promove a educação inclusiva), e lembrou que ainda há desigualdade salarial, que a parcela de mulheres em cargos de liderança nas empresas ainda é muito menor que a dos homens e que é preciso que os homens se conscientizem e ajudem a mudar esse cenário.

Foi também lindo de ver a conversa entre nosso professor Marcelo Rosenbaum e Biraci Brasil, líder Yawanawa, falando com sinceridade e muita propriedade sobre oportunidades de novos negócios na floresta Amazônica, baseadas em saberes ancestrais, juntando inovação ao respeito pela tradição e a cultura de nossos índios.

Enfim, nesses dois dias de evento, não conseguimos ver tudo, claro, mas a amostragem foi positiva. Segundo os organizadores, o objetivo era disponibilizar ferramentas para os empreendedores e conectá-los a empresas e mentores. Conseguiram? Acho que em alguns dos painéis que acompanhei a empatia e a vontade de fazer parte de uma transformação na nossa sociedade era mais profunda do que o conteúdo, mas, mesmo assim, o evento me deixou com a sensação de que as pessoas e empresas estão cada vez mais entendendo o que e para onde precisamos ir. Juntos.

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COMO A TECNOLOGIA PODE TORNAR AS CIDADES MAIS EFICIENTES?

A relação da humanidade com a tecnologia sempre foi conflituosa. Ao mesmo tempo em que a encarávamos como uma aliada para tornar o nosso dia a dia mais ágil e prático, também a enxergávamos como uma potencial ameaça (seremos substituídos por robôs?). Nos últimos anos, contudo, ela tem sido encarada como uma maneira de tornar as cidades cada vez mais eficientes. Um relatório recente elaborado pelo McKinsey Global Institute (MGI) concluiu que as tecnologias inteligentes podem ajudar as cidades a melhorar entre 10% e 30% alguns índices importantes de qualidade de vida, como redução de emissões de carbono, agilidade no deslocamento e redução de incidentes criminais.

Vidas podem ser salvas

Otimizando as centrais de atendimento e auxiliando no deslocamento no trânsito, por exemplo, a tecnologia pode reduzir entre 20 e 35% o tempo de resposta das chamadas emergenciais em casos de acidentes de carro ou incêndios, o que significa mais chances de salvar vidas. Um exemplo prático: graças a 8.200 megafones instalados na Cidade do México, seus 20 milhões de habitantes conseguiram ser alertados a tempo sobre o terremoto que atingiu o município em setembro de 2017, o maior registrado em um século. Instalado na costa do Pacífico há 20 anos, o sistema lança uma onda que aciona alarmes em escolas, escritórios e outros prédios da capital mexicana, dando aos habitantes o tempo de um minuto para saírem dos prédios antes do início dos tremores. O aplicativo SkyAlert também foi lançado com este objetivo, mas não funcionou durante o abalo sísmico – ainda que seja uma importante aliada, a tecnologia também falha.

Mapeamento para aumentar a segurança

Embora não possa, isoladamente, solucionar a criminalidade de uma cidade, a tecnologia pode ajudar a reduzir entre 30% e 40% os incidentes de assalto, roubo de carros e furtos, segundo o levantamento do MGI. Tudo graças ao mapeamento em tempo real das situações e, claro, ao policiamento preventivo. Contudo, este monitoramento deve ser feito com bastante cautela de modo a não interferir no direito de ir e vir dos cidadãos e a não contribuir na criminalização e no isolamento de alguns bairros e comunidades – muito antes de ser uma questão tecnológica, a criminalidade, de uma maneira geral, é fruto de desigualdades sociais.

Ainda segundo o estudo, até o ano de 2025, as cidades que fizerem o uso de aplicativos de mobilidade inteligente têm o potencial de reduzir os tempos de deslocamento entre 15 e 20% em média. Isso significa uma economia de 15 minutos por dia em uma cidade de trânsito intenso, por exemplo. Além disso, a tecnologia pode ajudar as equipes técnicas responsáveis a resolverem problemas de atraso e falhas com mais agilidade e orientar os motoristas a optarem por rotas mais rápidas.

No âmbito da saúde, a tecnologia pode reduzir em mais de 5% o índice de doenças em crianças, levando em consideração uma cidade em desenvolvimento, por exemplo, baixando as taxas de mortalidade infantil. Em cidades mais desenvolvidas, já existem sistemas que, por meio de dispositivos digitais, realizam exames que são posteriormente encaminhados para avaliação médica – tudo à distância. As avaliações ajudam o paciente e o médico a saberem quando uma intervenção é necessária, evitando complicações e internações.

Um exemplo prático de como a tecnologia pode contribuir com a saúde das populações é o data_labe. Criada no Rio de Janeiro, a iniciativa ajuda moradores da periferia da cidade a sugerirem políticas públicas que melhorem a realidade de suas comunidades. As propostas são feitas a partir da análise e do cruzamento de dados públicos. Por meio da iniciativa, por exemplo, a doula Vitória Lourenço identificou que as grávidas que mais morriam na cidade eram moradoras da periferia, jovens, negras e com baixo nível de escolaridade. Sua pesquisa serviu de base para o projeto de ampliação das Casas de Parto, lei apresentada pela vereadora Marielle Franco – assassinada em março de 2018.

Internet das coisas

Integrante da incubadora da Coppe, na Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), a startup criada pelo engenheiro Sergio Rodrigues combina tecnologias como internet das coisas e inteligência artificial para ajudar a solucionar problemas das cidades. Em parceria com o Ministério do Planejamento, a empresa desenvolveu o projeto Sigelu Aedes com o objetivo de contribuir nas ações de enfrentamento do mosquito Aedes aegypti. “No primeiro ano do projeto, aumentamos de duas mil para 200 mil vistorias. Deste total, seis mil tiveram focos comprovados”, afirma Rodrigues em entrevista à revista Pequenas Empresas e Grandes Negócios.

A tecnologia também tem sido utilizada para combater o déficit habitacional das grandes cidades no mundo. Atualmente, os edifícios são pensados e construídos como no século passado, mas iniciativas como construções modulares e bairros integrados tecnologicamente estão se tornando cada vez mais comuns, conforme aponta artigo da consultoria CB Insights. Neste novo cenário em desenvolvimento, até empresas de tecnologia como Google e Facebook têm se mostrado presentes, conforme reportagem da revista Época Negócios. A primeira investiu entre US$ 25 milhões e US$ 30 milhões em 300 unidades habitacionais modulares no bairro de Moffett Field, na Califórnia, e iniciou em 2017 a construção de um empreendimento com cerca de 10 mil unidades. Já a segunda vai construir em seu campus 1.500 apartamentos planejados (além de estabelecimentos e parques) voltados para seus funcionários e também para o público.

Para além da dualidade vilã x heroína, devemos encarar a tecnologia como nossa aliada na construção de cidades mais eficientes para todos os seus moradores, facilitando o seu dia a dia e, principalmente, fortalecendo os laços em comunidade. Afinal, não podemos esquecer que não é a inteligência artificial que faz uma cidade, mas sim os seus habitantes.

Arquitetura como agente de transformação

O Projeto de revitalização do Mirante Nove de Julho é um ótimo exemplo de como a tecnologia pode tornar a cidade mais inteligente, com soluções simples e relativamente baratas. Após a reforma, o espaço é ocupado por um café, feiras e eventos, e como nos conta Mila Strauss, arquiteta e nossa professora do curso online de Arquitetura e Urbanismo, responsável junto com Marcos Paulo Caldeira, pela reforma e recuperação da primeira fase do Mirante:

“O Mirante Nove de Julho é um exemplo onde a internet funciona como um ator muito importante. No pavilhão que foi reformado, encontra-se internet disponível. Tem muita gente que passa o dia trabalhando lá, ou desce para consultar alguma coisa. E é assim que as empresas que estão lá conseguiram engajar muitas atividades: através da internet. Esses usos novos, que são as bases das cidades inteligentes (tecnologia e a sustentabilidade), vão ativar muito espaços que estavam ociosos, de uma forma democrática e dinâmica. E ficamos muito felizes (e animados!) em poder fazer parte disso”.

#escolasaopaulo #descubra #reinvente #viva

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NEGÓCIOS COM PROPÓSITO PODEM AUMENTAR A LUCRATIVIDADE

Quando o lucro é aliado a um propósito

Você já ouviu falar em negócios sociais? O termo foi cunhado na década de 1970 pelo economista Muhammad Yunus. Ganhador do Prêmio Nobel da Paz, em 2006, ele é o fundador do Yunus Social Business Global Initiatives, um fundo de investimento sem fins lucrativos que transforma doações filantrópicas em investimentos em negócios sociais. A iniciativa tem uma unidade brasileira, a Yunus Negócios Sociais Brasil.

Desde a década de 1990, os negócios sociais foram ganhando cada vez mais adeptos no mundo, sobretudo nos EUA e na Europa. Segundo estimativa do banco de investimento JPMorgan Chase, os negócios sociais devem movimentar US$ 1 trilhão no mundo todo até 2020 – R$ 50 bilhões somente no Brasil. “Negócios sociais são empresas que têm como foco principal servir a base da pirâmide. O impacto social é o foco central do trabalho, mas, para isto, elas utilizam mecanismos de mercado, como a venda de produtos. Pode ser uma empresa que visa o lucro, no entanto, que tenha como sua atividade principal resolver um problema social”, explica Renato Kiyama, Gerente da Aceleradora de Impacto da Artemisia, em entrevista à Exame. A Artemisia é uma organização sem fins lucrativos, pioneira na disseminação e no fomento de negócios de impacto social no Brasil, que já acelerou mais de 100 negócios e já ofereceu capacitação para outros 300.

Negócios que tendem a crescer cada vez mais

A startup de compras on-line Welight é um exemplo. Criado em 2016, o negócio é um misto de empresa social e ONG e atua em três ferramentas: site, aplicativo e plug-in. Ao fazer uma compra pelo site ou pelo aplicativo da startup em uma das mil lojas parceiras da iniciativa, a Welight repassa entre 0,5% e 15% do valor do produto adquirido. Parte deste dinheiro vai para um dos 30 projetos sociais listados pelo site dedicados a questões de gênero, educação, combate à fome, meio ambiente, entre outras. A Welight fica com cerca de 10% do total arrecadado com as comissões para se manter. Todo o processo é auditável e fica disponível para os clientes. “Todas as relações de consumo podem ser uma geração de impacto social escalável. A ideia é globalizar a operação, já que desafios humanitários e ambientais existem em todos os lugares”, explica Pedro Paulo Lins e Silva, um dos criadores da iniciativa, em entrevista ao Draft.

Oportunidades não faltam

Outra iniciativa bastante interessante é a da Signa, que é atualmente uma das principais referências de educação online para surdos. Criada há dois anos, a startup oferece mais de 20 cursos, já atendeu mais de 1.300 alunos e tem um faturamento mensal de R$ 40 mil. A próxima etapa da empresa é abrir espaço para que os próprios alunos criem novos cursos (uma maneira da startup aumentar o portfólio de cursos e oferecer aos estudantes uma nova fonte de renda) e expandir a proposta para outros países. “O empreendedorismo é a resposta para melhorar a sociedade”, afirma Randall Kempner, diretor executivo da Aspen Network of Development Entrepreneurs (Ande), rede global de apoio a negócios de impacto social.

A iniciativa conta com 280 integrantes em todo o mundo e auxilia empreendedores em 150 países emergentes. Em entrevista à revista Pequenas Empresas e Grandes Negócios, ele explica que o Brasil ainda está descobrindo o potencial dos negócios sociais. Um estudo realizado pela Ande, em 2016, conseguiu identificar apenas 29 investidores de impacto locais, com US$ 177 milhões para investir, a maioria na região Sudeste. Ainda assim, ele espera que o levantamento deste ano irá apresentar um crescimento no número de adeptos ao modelo. “Eu gostaria que as grandes companhias percebessem que investir em negócios sociais pode ser uma grande oportunidade. Você tem a possibilidade de lucrar e causar impacto social nas áreas em que atua. Então, vá atrás disso, explore diferentes caminhos.”

Como criar novos modelos de negócios para o design no Brasil e pensar outras economias?

A FIA {oficina de artesãs} nasceu da vontade de repensar os laços entre mercado, artesãos, designers e consumidores.

Refletindo sobre formatos de comercialização tradicionais e em como minimizar os custos em toda a cadeia do artesanato para que o artesão pudesse ser mais valorizado, o projeto foi idealizado a partir de conversas durante oficinas ministradas na Casa da Economia Solidária pela designer Celina Hissa, diretora da marca Catarina Mina, para artesãs de Sobral (Ceará). 

Ao final das oficinas, com uma mini coleção criada e peças-piloto prontas para serem reproduzidas, veio à tona o principal desafio: como fazer com que aquelas peças, tão bonitas, feitas com tanto carinho e vontade chegassem até o consumidor final? E mais: como fazer com que as pessoas que se dedicaram ao artesanato – e que reinventaram seus processos – pudessem se sentir encorajadas, confiantes e seguras, inclusive financeiramente, com aquilo que produziram?

Juntas, Celina Hissa, Silvana Parente, do IADH, e Lívia Salomoni, especialista em marketing e comunicação, decidiram entrar no Catarse, mas de uma forma diferente. Por meio do financiamento coletivo, conseguiram 222 apoiadores e, em um mês, fizeram uma pré-venda de quase R$ 40.000,00. Assim foi dado o start financeiro para a primeira coleção. Hoje, a Fia tem uma pop-up no site da Catarina Mina, marca da designer Celina Hissa, que, em conjunto com a oficina de artesãs, criou coleções para marcas como a Neon e já fecharam parceria com a OppaDesign.

Segundo Eloisa Artuso, professora do curso online de Design Sustentável da Escola São Paulo, “O futuro da moda e do design precisam refletir a nova consciência de uma era em que designers e consumidores estão verdadeiramente preocupados com a pegada ecológica e social dos produtos. Precisamos finalmente entender que as coisas devem ser vistas a partir de outra perspectiva: onde ‘ser’ é mais importante do que ‘ter’. As mentes criativas podem combinar inovação e sustentabilidade para transformar comportamentos culturais e levar o consumo a um patamar de melhor qualidade para então conseguirmos fechar a equação de um planeta finito.”

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CULTURA TAMBÉM É NEGÓCIO

Em 2017, a exposição Queermuseu: Cartografias da Diferença na Arte Brasileira se transformou em assunto nacional ao ser retirada às pressas do Centro Cultural Santander, em Porto Alegre, em resposta a fortes críticas de grupos conservadores que viram nas obras apologia a pedofilia e zoofilia. Os contrários à mostra também chamavam atenção para o fato dela ter recebido R$ 800 mil via Lei Rouanet, um dinheiro, segundo eles, mau empregado.

Composta por 223 obras da década de 1950 até a atualidade de mais 80 artistas (como Lygia Clark, Leonilson e Adriana Varejão), a mostra buscava refletir sobre como o que é considerado estranho e fora do padrão da sociedade pode contribuir com a arte. “Para tratar do impacto cultural conceitual, artístico e histórico da palavra queer, trago obras que não são queer. Que são formalistas, que não têm nenhuma relação com questões de gênero e sexualidade”, afirmou o curador Gaudêncio Fidelis, em entrevista ao UOL. “Tanto que a narrativa difamatória em torno da exposição foi criada a partir de cinco obras, não mais do que isso”, acrescentou.

Mesmo com a recomendação do Ministério Público do Rio Grande do Sul, que concluiu que a exposição não fazia nenhuma apologia à pedofilia, a exposição foi encerrada pelo banco quase um mês antes da data prevista, o que gerou uma carta aberta de artistas e profissionais de arte que se queixavam do “aumento do ódio, da intolerância e da violência contra a liberdade de expressão nas artes e na educação.”

Em resposta ao fechamento, mais de 1.600 se organizaram pela internet e fizeram um dos maiores financiamentos coletivos já realizados no país. A iniciativa arrecadou mais de R$ 1 milhão que foram utilizados para remontar a exposição no espaço expositivo da Escola de Artes Visuais do Parque Lage, no Rio de Janeiro (parte do valor foi aplicado em melhorias no próprio Parque). Realizada entre os meses de agosto e setembro de 2018, a mostra recebeu 40 mil visitantes. A iniciativa colocou em debate a possibilidade do crowdfunding ser uma saída para artistas e instituições viabilizarem, com o apoio do público, projetos culturais, especialmente aqueles que não conseguem patrocínio da iniciativa privada.

A realização de projetos culturais no país acontece, na maioria das vezes, por meio do apoio de empresa através da Lei de Incentivo à Cultura, mais conhecida como Lei Rouanet. Em vigor desde 1991, a lei oferece abatimento fiscal em troca do investimento privado em projetos culturais. Atualmente, representa 80% da verba investida em cultura pelo governo e funciona com base em três vertentes: o mecenato, o Fundo Nacional de Cultura (FNC) e os Fundos de Investimento Artístico (Ficarts). No entanto, o mecanismo mais aplicado é o de mecenato. O FNC, em tese, tem a função de oferecer suporte a projetos menos atraentes para o mercado, mas, por depender principalmente da verba do governo, não tem obtido bons resultados – em 2015, por exemplo, representou pouco mais de 2%, conforme aponta reportagem do Nexo sobre os acertos e erros da Lei Rouanet.

O financiamento coletivo para cultura no país já funciona de maneira eficaz com publicações de livros, pequenas exposições e produções de música, teatro e cinema, mas ainda é pouco empregado nas artes plásticas. Em países como os EUA, a maior parte do dinheiro que financia a cultura vem de pessoas físicas. O Lincoln Center, em Nova York, por exemplo, tem mais de 70% dos investimentos feitos por pessoas físicas. Os interessados podem doar de US$ 50 a US$ 30 mil. “Instituições e eventos de arte que possuem o potencial de atrair uma grande quantidade de público ou que defendem causas específicas devem estar atentos a essas oportunidades”, pontua o curador Daniel Rangel em artigo publicado na Folha de S.Paulo. “Quem sabe um dia teremos uma Bienal de São Paulo financiada inteiramente pelas pessoas. Ou a programação de um Masp, por exemplo. Isso liberaria a verba das empresas para projetos com menos apelo de marketing, propiciando maior democratização dos recursos”, acrescenta. Iniciativas de promoção à cultura são sempre bem-vindas.

É importante pontuar que a proposta é um incentivo a mais a um dos setores mais aquecidos do país atualmente: o da economia criativa. De acordo com dados do Ministério da Cultura (MinC), divulgados no primeiro semestre de 2018, as atividades culturais e criativas representam 2,6% do PIB nacional, geram um milhão de empregos diretos e englobam 200 mil empresas e instituições, o que representa mais de 10,5 bilhões em impostos diretos e tem crescimento médio anual de 9,1%. O Brasil é o segundo maior mercado de cinema da América Latina em receita e o maior em vídeo on demand, TV Paga, games (deve dobrar em receita até 2021) e música. Mais que um dos principais ativos do país, a cultura é o canal por meio do qual cada pessoa tem a oportunidade de desenvolver o senso crítico e, por consequência, se tornar um melhor profissional e um cidadão mais consciente do seu papel no mundo.

Na Escola São Paulo, acreditamos que a economia criativa é um agente de transformação e que, por meio dela, podemos, juntos, repensar futuros possíveis. Estamos todos conectados, e todas as nossas ações profissionais e pessoais, afetam não só nossa carreira, mas o mundo como um todo.

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O PLÁSTICO NO FUTURO

A imagem é chocante: uma gigantesca camada de lixo plástico boiando no oceano, reflexo direto dos nossos hábitos de consumo e descarte, um sinal claro de que devemos rever urgentemente nossas atitudes. O registro é da chamada Grande Mancha de Lixo do Pacífico, uma área descoberta na segunda metade da década de 1980, localizada entre a costa ocidental dos EUA e o Havaí, que acumula resíduos levados pelas correntes marítimas, muitos deles plástico.

De acordo com levantamento da fundação holandesa The Ocean Cleanup, a mancha tem cerca de 80 mil toneladas de plásticos descartados em uma área quase duas vezes e meia maior que o território da França. O estudo coletou 1,2 milhão de amostras e selecionou 50 itens com data de fabricação legível. O resultado? Havia plástico de 1977 e das décadas de 1980 e 1990. Além disso, a pesquisa identificou que a maior parte do 1,8 trilhão de peças presentes na mancha é composta por pedaços pequenos que medem menos de meio centímetro. “Um relatório de 2016 da Organização das Nações Unidas (ONU) estima que mais de 800 espécies marinhas e costeiras são afetadas pela ingestão desses plásticos”, explica a pesquisadora Daniela Gadens Zanetti, da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), em entrevista à revista Planeta. “Além disso, esses resíduos têm um efeito adverso nas indústrias de pesca, navegação e turismo. O relatório da ONU avalia o custo da poluição causada por detritos marinhos em US$ 13 bilhões”, acrescenta.

Muito além do canudinho

No ano de 2014, foram fabricadas 311 milhões de toneladas de plástico. Caso não mudemos os rumos, em 2050, serão produzidas 1,124 bilhão de toneladas. Uma quantidade gigantesca de plástico que demorará anos para desaparecer. Plásticos usados em embalagens de água e refrigerantes, por exemplo, levam até 200 anos para se decompor. Já os utilizados na fabricação de talheres e cartões de crédito de seis meses a dois anos. “Bactérias e fungos que decompõem os materiais não tiveram tempo de desenvolver enzimas para degradar a substância”, explica a engenheira química Marilda Keico Taciro, do Instituto de Pesquisas Tecnológicas (IPT), em entrevista à revista Superinteressante. “Com a evolução, os microorganismos devem se adaptar, mas isso pode levar milhões de anos”, acrescenta o biólogo José Gregório Cabrera Gomes, também do IPT, na mesma publicação.

Nossos números assustam

Segundo dados do estudo feito pelo Fundo Mundial para a Natureza (WWF) o volume de plástico que chega aos oceanos anualmente é de aproximadamente 10 milhões de toneladas, o equivalente a 23 mil aviões Boeing 747 pousando nos mares e oceanos todos os anos.

Nesse ranking, o Brasil é o 4º maior produtor de lixo plástico do mundo, atrás apenas de Estados Unidos, China e Índia. Esse número foi divulgado no relatório “Solucionar a Poluição Plástica – Transparência e Responsabilização” apresentado na Assembleia das Nações Unidas para o Meio Ambiente (UNEA-4) em Nairóbi, no Quênia, em março de 2019.

Além disso, segundo esse mesmo estudo, somos um dos países que menos reciclam no mundo. No caso do plástico, reciclamos 145.043 toneladas, ou seja, apenas 1,2%, bem abaixo da média mundial, que é de 9%.

Veja mais alguns números:

  • Cada brasileiro produz 1 kg de lixo plástico por semana
  • O Brasil produz 11.355.220 milhões de toneladas de lixo plástico por ano
  • 2,4 milhões de toneladas de plástico são descartadas de forma irregular
  • 7,7 milhões de toneladas ficam em aterros sanitários

Alternativas em curso

Já temos no mercado um plástico biodegradável chamado PHB que vira pó em seis meses nos aterros sanitários. Mas a sua fabricação custa até cinco vezes mais que os plásticos comuns e, portanto, ainda o torna inviável na prática (atualmente, ele responde por apenas 1% do total de plástico vendido no mundo). Recentemente, os engenheiros chilenos Roberto Astete e Cristian Olivares anunciaram a criação de sacolas plásticas e de tecido solúveis em água e que não contamina, uma vez que não levam petróleo em sua composição. “Nosso produto deriva de uma pedra calcária que não causa danos ao meio ambiente”, assegurou Astete, diretor-geral da empresa SoluBag, conforme reportagem do portal UOL. “É como fazer pão”, acrescenta. “Para fazer pão é preciso farinha e outros ingredientes. Nossa farinha é de álcool de polivinil e outros componentes, aprovados pela FDA (agência americana reguladora de alimentos, medicamentos, cosméticos, aparelhos médicos, produtos biológicos e derivados sanguíneos), que nos permitiu ter uma matéria-prima para fazer diferentes produtos.”

Após a diluição dos produtos, o que fica na água é carbono, elemento que não afeta a sua qualidade. A iniciativa inovadora ganhou o prêmio SingularityU Chile Summit 2018 como empreendimento catalizador de mudança e rendeu aos inventores um estágio no Vale do Silício em setembro de 2018. A proposta ainda está em estágio inicial e não pode ser considerada uma solução definitiva para a questão.

Nada se perde, tudo se renova

O mal causado pelo plástico nos oceanos é um problema real e urgente que mobilizou a opinião pública e governos e fez com que diversas empresas apresentassem ações visando não apenas a redução do consumo de plástico, como também a readequação da sua cadeia produtiva para esta finalidade. Baseando-se na lógica da economia circular, essas empresas estão se adequando para produzir de maneira modular, de modo a reaproveitar ao máximo os elementos que compõem o seu processo de produção e gerar menos impacto ao meio ambiente. Nada se perde, tudo se renova.

A cervejaria dinamarquesa Carlsberg anunciou recentemente que irá colar as latinhas ao invés de utilizar o invólucro de plástico em seus conjuntos de seis unidades. A cola utilizada no processo é uma espécie de goma de mascar que não gruda nos dedos. A expectativa da empresa é reduzir em até 76% o plástico utilizado (uma economia de 1,2 mil toneladas de plástico por ano). Batizada de Snap Pack, a novidade entrou em vigor em setembro no Reino Unido e na Noruega e deverá chegar em breve nos demais mercados de atuação da marca.

O mercado da moda também está se transformando, pressionado por consumidores mais conscientes. Em parceria com a organização Parley for the Oceans, a Adidas lançou pares de tênis feitos com plástico retirado dos oceanos (cada par utiliza 11 garrafas de plástico que são transformadas em uma espécie de fibra). A novidade rendeu mais de um milhão de vendas e se desdobrou na fabricação de camisas de futebol (adquiridas por times como Real Madrid e Flamengo). A empresa pretende, até 2024, produzir produtos apenas com plástico retirado dos mares.

Reconhecida pelo seu foco em ações sustentáveis, a designer Stella McCartney anunciou a utilização de plástico dos oceanos em suas criações graças, também, a uma parceria com a Parley for the Oceans. “Quando eu era mais nova, couro era sinônimo de luxo, e as pessoas não aceitavam que eu não usasse couro nas minhas peças. O couro é mais barato do que outros produtos alternativos, é menos interessante, menos moderno. Será que um plástico reciclado será pensado como luxo algum dia? Se as pessoas perceberem que viver por mais tempo neste planeta é um luxo, então sim, essa é a minha ideia de luxo”, declarou a estilista em entrevista ao The New York Times.

Até 2020, a Starbucks vai deixar de usar canudos de plástico substituindo-os por materiais menos poluentes. A empresa também vai passar a utilizar copos que não demandem o uso do objeto plástico. O objetivo da rede é que mais de um bilhão de canudos deixem de ser usados por ano graças à medida. Vale lembrar que o tempo de decomposição de um canudo plástico é de 500 anos. Empresas como Nestlé e PepsiCo também estão sendo pressionadas por seus investidores a implementarem ações semelhantes.

Design Circular

Eloisa Artuso, designer, pesquisadora e diretora educacional do Fashion Revolution Brasil, desenvolve seu trabalho baseado no lugar onde sustentabilidade, cultura e comunicação se fundem com o design.

O designer sustentável tem um papel crucial na implementação de novos processos e sistemas mais sustentáveis. Ele enxerga a sustentabilidade como uma possibilidade criativa, e não limitadora. Traz para sua prática um olhar ativista. Se entende como criador de mensagens, como um propulsor e propagador de novos modelos de produção e de consumo, em um papel muito importante no desenho de novos futuros e de futuros mais sustentáveis.

Segundo Eloisa, o papel do designer vai muito além do que criar produtos. Vê o designer num papel de criar novos sistemas, novos processos e novos futuros onde estes produtos estarão incluídos.

Em nosso curso online de Design Sustentável, ela traz o design como um dos agentes de transformação da situação que enfrentamos, utilizando as 5 ferramentas para o design circular: design para longevidade, design para serviços, design para reuso, design para desmontagem e design para recuperação.

“É o dever de cada um de nós garantir que a busca pela prosperidade material não comprometa nosso meio ambiente. As escolhas que fazemos hoje definirão nosso futuro coletivo. As escolhas podem não ser fáceis. Mas através da conscientização, da tecnologia e de uma parceria global genuína, tenho certeza de que podemos fazer as escolhas certas.”

Primeira ministra da Índia, Narendra Modi

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A FACULDADE DO FUTURO

No atual mercado de trabalho, todo conhecimento é válido

Em um mercado de trabalho cada vez mais concorrido, qualificação profissional (diploma universitário) é um quesito indispensável, correto? Não necessariamente, ao menos para as mais importantes empresas de tecnologia do mundo, como Google, Apple e IBM. A informação consta em um levantamento feito pelo site de busca de empregos Glassdoor. Além das gigantes de tecnologia, figuram na listagem empresas como Hilton, Whole Foods, Starbucks e Bank of America.

Não que elas desconsiderem a formação tradicional ao contratarem seus colaboradores, muito pelo contrário. Mas, cada vez mais, estão ampliando o seu leque de análise e considerando a qualificação de profissionais sem diploma universitário em seus processos seletivos. A mudança de comportamento tem uma motivação prática: o número de vagas no setor é superior à quantidade de candidatos. Além disso, o desenvolvimento de setores como o de Tecnologia tem motivado o desenvolvimento de novas habilidades e a criação de “novos empregos”.

Um outro modelo de formação

A vice-presidente de talentos da IBM, Joanna Daley, declarou ao site CNBC Make it que, em 2017, cerca de 15% das contratações de sua empresa nos EUA não têm graduação de quatro anos. Segundo ela, em vez de olhar exclusivamente para candidatos que foram para a faculdade, a IBM agora avalia também os candidatos que têm experiência prática por meio de bootcamps (programas de ensino imersivo que focam nas habilidades mais relevantes de determinada área), outros empregos ou mesmo por esforço próprio. Na visão da empresa, cursos livres ou vocacionais e a experiência adquirida no trabalho muitas vezes são mais eficazes do que o conhecimento adquirido em quatro anos de universidade, por exemplo.

De acordo com levantamento da Associação de Controle e Auditoria de Sistemas de Informação dos EUA (Information Systems Audit and Control Association, em inglês), 55% dos recrutadores da área consideram a experiência prática a qualificação mais importantes. “Os ‘novos empregos’ não apenas trazem candidatos que constroem habilidades através de outros campos de conhecimento, mas também profissionais mais velhos ou aposentados que retornam ao mercado de trabalho”, afirma Joanna.

Seres humanos excepcionais

Em 2004, o então vice-presidente de Recursos Humanos da Google, Laszlo Bock, declarou em entrevista ao The New York Times que a companhia priorizava a capacidade cognitiva geral do candidato, não o seu quociente de inteligência. “É a capacidade de aprender. É a capacidade de processar na hora. É a capacidade de reunir diferentes tipos de informações”, disse. “Quando você olha para pessoas que não fazem faculdade e, mesmo assim, fazem o seu caminho no mundo, elas são seres humanos excepcionais. E devemos fazer tudo o que pudermos para encontrar essas pessoas. Muitas faculdades não cumprem o que prometem. Você gera uma tonelada de dívidas e dúvidas, você não aprende as coisas mais úteis para a sua vida. É [apenas] uma adolescência prolongada”, acrescentou.

A Escola São Paulo pensando no futuro

A Escola São Paulo é, desde 2006, um espaço democrático de compartilhamento de experiências e de conhecimento, a favor de iniciativas que promovam o diálogo e o respeito às diferenças e que contribuam para que a gente possa viver em uma sociedade mais justa, respeitosa e generosa. Não acreditamos em verdades absolutas. A nossa proposta é fazer um convite à reflexão. A partir dessa responsabilidade procuramos profissionais atuantes no mercado e produzimos cursos com conteúdos que a gente tem curiosidade em estudar e acredita que são relevantes e que vão acrescentar alguma coisa na vida das pessoas.

Em um mundo em constante transformação como o nosso, um diploma de graduação já não é garantia de sucesso. No atual mercado de trabalho, mais importante que um certificado acadêmico é o conhecimento adquirido por cada profissional, seja pelos métodos tradicionais ou por vias menos convencionais.

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TENDÊNCIAS NA ALIMENTAÇÃO

O futuro da alimentação

Até 2100, alcançaremos a marca de 11 bilhões de habitantes no mundo. Uma estimativa expressiva que aumentará em cerca de 30% a demanda por alimentos. Um cenário complexo que gera um importante questionamento: como será a nossa alimentação no futuro? A pergunta apresenta uma série de hipóteses. Parte dos especialistas acredita que os alimentos do futuro deverão ser cada vez mais nutritivos e sustentáveis. A tendência, segundo eles, é que cada vez mais consumidores se interessem em conhecer de perto a cadeia produtiva dos alimentos que consomem no dia a dia e exijam uma postura sustentável de seus produtores.

Valorizando o consumo local

Além disso, movimentos como o Eat Local, que incentivam o consumo de alimentos orgânicos produzidos localmente em prol da economia da região, devem crescer ainda mais, ampliando a transformação das cidades em diversas zonas agrícolas produtivas – atualmente há uma série de empresas especializadas em transformar espaços ociosos, como os telhados de prédios, por exemplo, em áreas para cultivo de hortaliças e frutas. “Tento consumir produtos que sejam mais locais. Algo considerado natural, mas que viaja da Argentina a um país distante, não me convence”, analisa Jennifer Morgan, diretora executiva do Greenpeace International, em reportagem da revista Época Negócios.

Fazendas verticais

O processo de agricultura indoor, que consiste no cultivo de vegetais e hortaliças em ambientes fechados e controlados por inteligência artificial, é outra proposta que tende a crescer nos próximos anos. O Massachusetts Institute of Technology (MIT), por exemplo, uma das instituições de tecnologia mais respeitadas do mundo, está investindo em versões individuais do que os especialistas chamam de food computer (computador de comida) que pode transformar qualquer pessoa em um fazendeiro em sua própria casa.

Comida sob demanda

Ainda no campo da tecnologia, o design de alimentos é mais uma tendência que deve ficar cada vez mais forte tendo como foco o desenvolvimento de pesquisas alinhadas aos desejos e necessidades dos novos consumidores. Comida sob demanda. A Bayer, por exemplo, desenvolveu uma variedade de melancia menor, sem sementes e com mais nutrientes que as tradicionais. Enquanto uma melancia convencional pesa em média 15 quilos, a criação da Bayer tem um peso médio de 6 a 8 quilos. “Isso facilita o transporte e armazenagem, bem como evita o desperdício do alimento”, afirma Guilherme Hungueria, especialista de marketing da Unidade de Sementes e Hortaliças da Bayer em entrevista ao Planproject. “O produto ainda é mais saudável, já que contém o dobro de antioxidantes que a melancia convencional, além de possuir um sabor e uma doçura inigualáveis”, acrescenta. A empresa também lançou a Dulciana, uma cebola que não faz chorar pelo fato de apresentar menos ardência que o vegetal convencional.

Alimento como prevenção

Nesse sentido, há também pesquisas focadas no desenvolvimento de alimentos produzidos especificamente para prevenir doenças ou atender as necessidades nutricionais de grupos específicos. Estes estudos defendem que cada pessoa passaria a comer os alimentos que a deixam mais saudável, levando em consideração a sua genética e o seu histórico de doenças. Alimento como prevenção. “Não é mais a mesma comida para todo mundo. Temos de individualizar produtos de acordo com o que o corpo precisa com base na idade ou no sexo, por exemplo. Há muitos parâmetros”, explica a chefe da Nestlé na Alemanha, Beatriz Guillaume-Grabner, em entrevista ao site DW. A proposta da maior empresa de alimentação do mundo é lançar produtos que consigam cada vez mais levar micronutrientes, como zinco e magnésio, para os consumidores.

Quando a soja vira bife

A redução no consumo de carne também tende a se fortalecer nos próximos anos com o desenvolvimento de técnicas e de empresas que ofereçam opções nutritivas e deliciosas de alimentos sem o envolvimento de animais. Exemplos dessa dinâmica são as empresas Impossible Foods, que vende “carne” produzida a partir de plantas em mais de 500 restaurantes nos EUA, e Beyond Meat, que desde 2013 produz “carne” e “frango” feitos de planta.

Reduzir o desperdício de alimentos

também é uma outra tendência que deve crescer. Em um futuro não tão distante, teremos mais empresas como a ResQ, plataforma on-line com atuação na Europa que vende as sobras de cafés e restaurantes. Só para se ter uma ideia, a iniciativa já evitou que 100 mil porções fossem jogadas no lixo.

Entendendo o futuro

Marcas que produzem ou comercializem alimentos devem estar atentas ao que o consumidor vem buscando, e ao que ele tende a buscar. Sabina Deweik, no curso online “Os Novos Paradigmas do Futuro e as Tendências Emergentes”, apresenta os 4 grandes paradigmas que nortearão para onde a sociedade caminhará nos próximos 20 anos. E um dos temas abordados por ela é diretamente relacionado ao que estamos discutindo nesse texto, como o Paradigma Unique & Universal, onde:

  • a antinomia entre o local e o global será deixada permanentemente para trás;
  • será reconhecido o valor dos produtos únicos e locais;
  • produtos locais serão transformados em opções globais;
  • o caráter distintivo das origens e dos processos será comunicado de modo mais transparente;
  • as mídias sociais serão usadas a fim de criar novas lógicas de distribuição e de comunicação, dando aos produtos locais uma melhor oportunidade de se afirmarem no mercado global;
  • customizado, personalizado, distinto passam a ser conceitos relevantes.

Com propostas tão diversas em curso (de alimentos cada vez mais orgânicos e naturais a opções geneticamente modificadas), podemos concluir que o futuro da alimentação será diverso e dependerá do caminho escolhido por cada consumidor. Escolhas distintas e individuais para responder a uma mesma questão. Com qual proposta você mais se identifica?

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COMO SE TORNAR UMA REFERÊNCIA NO MERCADO PENSANDO EM ECONOMIA CIRCULAR

Como a economia circular está ajudando na gestão de resíduos

Considerada uma das mais interessantes e inovadoras maneiras de lidar com o planeta desenvolvidas nas últimas décadas (sob uma dinâmica na qual crescimento econômico e bem-estar não estão ligados a consumo exacerbado e extrema utilização dos recursos naturais), a economia circular tem sido cada vez mais adotada como ferramenta para gestão de nossos resíduos, uma das grandes questões da atualidade.

Segundo levantamento da Associação Brasileira de Empresas de Limpeza Pública e Resíduos Especiais (Abrelpe), o Brasil produz 79,9 milhões de toneladas de lixo por ano, em média. De acordo com o Plano Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS), cerca de 30% de todo o lixo produzido no Brasil tem potencial de reciclagem, mas apenas 3% de fato é reaproveitado. “As pessoas estão percebendo que podemos fazer mais. Estamos em uma transição em que a gestão de resíduo deixa de ser gestão de lixo e passa a ser gestão de recursos.

É pensar aberto: como é que hoje a maior rede de hospedagem do mundo é Airbnb? Ou que existam grandes empresas de transporte urbano como a Uber e Cabify, que não são proprietárias de frota? São esses conceitos que precisamos trazer para a gestão de resíduos. É a criatividade que precisamos despertar, não só em cada um, mas despertar no próprio governo, em parceria com iniciativa privada, para oferecer esses tipos de solução”, explica Carlos Silva Filho, presidente da Associação Brasileira de Empresas de Limpeza Pública e Resíduos Especiais (Abrelpe), em entrevista ao Estadão.

Iniciativas de sucesso pensando em economia circular

Um exemplo desta mudança de comportamento do mercado é a Ecozinha, projeto criado em Brasília por alguns restaurantes logo após a aprovação da uma que lei que transfere para estabelecimentos comerciais a responsabilidade da destinação dos resíduos produzidos. A iniciativa instalou caçambas e coletores para a separação do lixo reciclável nos restaurantes (resíduos posteriormente recolhidos pelo Sistema de Limpeza Urbana). Como o Distrito Federal não possui espaços para o descarte de vidro, o projeto firmou parceria com a ONG Green Ambiental que faz a coleta e o transporte para usinas de reciclagem em São Paulo. Para cuidar do lixo orgânico, composteiras foram instaladas em um pátio alugado para uso comum e o adubo ali produzido é destinado para agricultores locais. Em resumo, o lixo produzido nos restaurantes é utilizado na produção dos alimentos que serão comprados e consumidos nos restaurantes. Um círculo extremamente positivo que beneficia diversos personagens da cadeia produtiva. “A gestão de resíduos começa no início da cadeia, usando menos recursos para fazer seu produto. Economia circular não é só reciclagem: é já produzir de maneira modular para, na hora que tiver problema, é só fazer manutenção, trocar peça, não precisa de um novo produto”, explica Davi Bomtempo, Gerente Executivo de Meio Ambiente e Sustentabilidade da Confederação Nacional da Indústria (CNI), também em entrevista ao Estadão.

Imitando a natureza

Lançada em setembro de 2018, a ZEG Ambiental é uma empresa brasileira que desenvolveu um reator que transforma resíduos em gás sem poluir o ar com fumaça ou fuligem, por exemplo. “Imitamos a natureza. Ela decompõe os materiais orgânicos e os transforma em querogênio, que depois é transformado em óleo e gás. Só que esse processo demora milhões de anos, com sobreposição de camadas promovendo uma atmosfera com ausência de oxigênio. A gente faz exatamente isso, só que dentro de um reator”, explica André Tchernobilsky, sócio-fundador da empresa, em entrevista ao Jornal GGN.

O reator tem capacidade de converter até 50 toneladas de sólidos/dia e base seca em fonte de energia. Tchernobilsky explica que o equipamento trabalha com temperaturas acima de 1 mil graus, que facilita a quebra da cadeia molecular dos resíduos. O gás produzido pode ser diretamente injetado no sistema de Geração Distribuída criando energia renovável. A Nexa, empresa do setor mineral, é a primeira a fazer uso da iniciativa substituindo o uso de combustível fóssil (gás natural e óleo) por resíduos em seu processo produtivo. “O que nós já percebemos, e está acontecendo com muito volume, é uma procura para apresentarmos projetos que sejam economicamente e ambientalmente sustentáveis, e percebemos [essa movimentação de] fundos e parceiros locais, brasileiros e também organismos internacionais procurando bons projetos para que a gente possa criar essa economia circular positiva”, afirma Daniel Rossi, presidente da ZEG.

Um outro olhar para inovação

A HP é outra empresa que está tentando adequar sua cadeia produtiva à economia circular. Por meio da operação integrada com as empresas fornecedoras Flextronics e Sinctronics, a multinacional consegue reutilizar em seu processo de produção o plástico que já esteve nas impressoras e nos cartuchos. De acordo com Judy Glazer, diretora global de sustentabilidade da marca, mais de 7,7 milhões de produtos da marca foram fabricados no país com conteúdo reciclado. “Estamos no processo de tornar o processo produtivo muito mais circular do que linear. Temos a aspiração de nos tornarmos uma companhia lixo zero, com decisões que possam direcionar o negócio e ter um impacto positivo de longo prazo. Outra meta é eliminar o uso de matérias-primas virgens no processo produtivo”, afirma em entrevista à Folha de S. Paulo. “É uma aspiração, um objetivo de longo prazo que vai provocar a inovação. Temos um longo caminho, mas colocar isso como meta é um invocativo poderoso. Queremos chegar a 100% de uso de materiais reciclados e de origem renovável nos produtos”, acrescenta.

Para entender melhor sobre economia circular

No curso online de Design Sustentável, Eloisa Artuso reforça que, para conseguirmos transformar um sistema linear em circular, precisamos trazer novas abordagens para os negócios, levando em consideração a longevidade dos produtos, os impactos deles e dos processos de produção, e o fim da vida útil deles, como eles serão descartados e reinseridos em novos ciclos de produção. Para isso, é preciso que tenhamos um olhar sobre o sistema todo, e que passemos a criar novas parcerias entre marcas e designers, com vários atores da indústria, para que esses ciclos comecem a se fechar de uma forma harmônica. Para calcular e mitigar o impacto social e ambiental dos produtos e serviços, ela traz conceitos como ACV (Análise de Ciclo de Vida), Cradle to Cradle e Logística Reversa, pensamentos e propostas que devem estar com as marcas ao lançar um produto ou serviço.

Todos estes exemplos só comprovam o quanto a economia circular é mobilizadora enquanto modelo de desenvolvimento econômico, industrial e social. Mais do que isso, mostram que é possível mantermos uma relação produtiva, equilibrada e saudável com o planeta.

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