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Como podemos começar a (re)desenhar nosso futuro

O que a pandemia do coronavírus pode nos dizer sobre a maneira como temos conduzido os negócios?

Por Eloisa Artuso*

*Designer, diretora educacional do Fashion Revolution Brasil e nossa professora de Design Sustentável. Com um trabalho fundamentado no espaço onde sustentabilidade, cultura e educação se fundem com o design, se dedica a projetos que incentivam profundas transformações na indústria da moda. Siga @eloartuso

Vivemos em uma emergência climática, enquanto a indústria da moda é considerada uma das maiores poluidoras do mundo, além de responsável por uma exploração crescente de trabalhadores em sua cadeia de fornecimento. No entanto, marcas e varejistas ainda não estão assumindo responsabilidade suficiente pelos salários e condições de trabalho em suas fábricas e fornecedores, pelos impactos ambientais dos materiais e processos que utilizam ou por como seus produtos afetam a saúde das pessoas, animais e planeta.

Junto a isso, em meio à crise trazida pela propagação global da covid-19, gostaria de trazer uma reflexão: o que a pandemia do coronavírus pode nos dizer sobre a maneira como temos conduzido os negócios?

Primeiro, precisamos reconhecer que a ideia de desenvolvimento e progresso que conhecemos está nos conduzindo para um fim cada vez mais crítico, insustentável e talvez irreversível. Continuar vivendo na crença de crescimento infinito em um planeta finito é uma ilusão trazida por um sistema econômico centrado no homem, que desconsidera completamente a natureza e nossa intrínseca relação de vida com ela. A natureza não é nossa, não podemos fazer com ela o que quisermos, ela é a nossa casa e nós somos ela.

Recentemente, a diretora executiva do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente declarou que a humanidade estava pressionando demais o mundo natural, com consequências nocivas, e alertou que não cuidar do planeta significa não cuidar de nós mesmos e que o coronavírus é um “claro tiro de advertência”. A destruição dos sistemas naturais tem que acabar agora.

Empowerment to help others. Making masks for those in need. Image created by Guilherme Santiago. Submitted for United Nations Global Call Out To Creatives – help stop the spread of COVID-19

Está na hora de ser melhor do que o de costume, nossos modelos de produção e consumo, assim com as diretrizes políticas e econômicas imperantes, não são nem de perto o suficiente para lidar com uma pandemia ou com a crise climática que bate a nossa porta. Definitivamente, precisamos mudar.

Neste momento, estou em quarentena, recebendo uma enxurrada de informações e atualizações constantes, 24 horas por dia, assim como você, sobre a pandemia global, suas vítimas e suas desastrosas consequências. As notícias giram em torno, basicamente, de duas grandes esferas, a ciência da saúde e a ciência econômica, que por sua vez, parecem ter se tornado dois polos em combate.

Em meio a contradições, guiadas por líderes governamentais claramente perdidos mediante à crise e muitas vezes completamente irresponsáveis em suas tomadas de decisões como, por exemplo, as ações negligentes do nosso governo federal, que colocam toda a população brasileira em alto risco ao tratar com descaso as orientações impostas pela OMS (Organização Mundial da Saúde) e pelo próprio Ministério da Saúde.

No entanto, o sistema econômico que se defende aqui, ainda se baseia em um modelo de produção e consumo que surgiu das condições e da mentalidade do século XIX, portanto, completamente incapaz de resolver os desafios que enfrentamos hoje. Schumacher, um influente economista do Reino Unido defendia, já no início da década de 70, uma “economia como se as pessoas importassem”, ou seja, uma economia que coloca as pessoas e a natureza acima do lucro. Esse é o pensamento econômico que o mundo (ainda que tardiamente) precisa agora.

Todos os sinais já foram dados, não nos cabe mais adiar essa mudança de paradigma, precisamos de novas e mais avançadas economias, que façam jus à realidade em que vivemos, que sejam adequadas a 2020 e sustentáveis. Economias aptas a dar suporte e respeitar a capacidade regenerativa do sistema natural e garantir uma vida digna e o bem-estar das pessoas. Precisamos de um sistema resiliente, inclusivo, igualitário, equitativo e sustentável, baseado na abundância – e não na escassez dos recursos naturais – que gere valor para as pessoas e para o planeta.

Ao mesmo tempo, sabemos que crises como a causada pelo coronavírus e a climática afetam muito mais profundamente as populações vulneráveis. A prevenção do coronavírus, assim como a proteção contra catástrofes do clima, é um luxo para grande parte das pessoas no Brasil e no mundo, muitas das quais não têm sequer acesso à água limpa, a um sistema de saúde eficaz ou a condições dignas de trabalho, estudo e moradia. Assim como a maioria das pessoas na cadeia de fornecimento global da moda é vulnerável e carece, por exemplo, de licença saúde, assistência médica adequada ou qualquer tipo de estrutura que as permite enfrentar situações drásticas como essas.


Mas a natureza tem seu tempo e está no mostrando que ele é agora. Ao final da crise do coronavírus, os governos certamente tentarão reaquecer suas economias fomentando a volta das produções em grande escala e incentivando as pessoas a consumirem em maiores proporções, o que aumentará muito (entre outros problemas) as emissões de carbono, a exploração do trabalho e dos recursos naturais ao redor do mundo. Tudo isso implicará ainda no retrocesso de acordos tramitando entre os países e da luta contra a catástrofe climática iminente, se não agirmos antes. Nesse sentido, o coronavírus também poderá piorar uma situação que já está bastante complicada.

O que o mundo, e a indústria da moda, precisam hoje é de uma mudança real e sistêmica. Uma mudança capaz de acabar com a exploração das pessoas e do planeta. Este ano, uma das mensagens-chave do Fashion Revolution é a promoção das ações coletivas e está claro que, mais do que nunca, devemos unir forças, porque juntos somos mais barulhentos, mais poderosos e temos muito mais chances de provocar transformações quando trabalhamos em colaboração.

Share kindness. Image created by João Pedro Costa. Submitted for United Nations Global Call Out To Creatives – help stop the spread of COVID-19.

Qual futuro você quer alcançar?

Desde que o movimento começou, em 2013, usamos nossa voz coletiva para reunir comunidades, oferecer apoio, compartilhar conhecimento e pensar criativamente sobre soluções para situações desafiadoras, pois nossa missão é mudar radicalmente a maneira como a moda é pensada, produzida e consumida. Lutamos por uma indústria da moda que conserva e restaura o meio ambiente e valoriza as pessoas acima do crescimento e do lucro. Então, agora queremos pedir para que você traga seu ativismo para casa e transforme suas ações diárias: conserte, doe, revenda, aprenda um trabalho manual, visite seu guarda-roupa: observe as etiquetas, analise os detalhes das peças, pesquise as marcas.

Ajude a proteger sua economia local: compre de empresas próximas, especialmente as pequenas; compre cartões-presente e pague antecipadamente por serviços futuros; apoie pessoas cujas atividades e eventos tenham sido cancelados por meio de compras e assinaturas online; doe dinheiro a uma causa ou organização que assista grupos vulneráveis, essas são as dicas de Donnie Maclurcan, diretor executivo do Post Growth Institute.

Ele ainda recomenda, caso você tenha um negócio: implemente o trabalho remoto (quando possível); garanta licença saúde paga, horários flexíveis, bônus antecipados e os empregos pelos próximos meses e, se preciso, reduza a proporção salarial de cima para baixo; rejeite o racismo e tenha paciência extra com ineficiências. Isso dará às pessoas segurança e uma melhor capacidade de lidar com as demandas do trabalho e da família.

Podemos usar esse momento para fazer um balanço e permitir que o presente nos torne mais bem preparados e comprometidos com um futuro sustentável. Vamos criar juntos o mundo que queremos após a crise. Acompanhe nossas redes @fash_rev_brasil e faça parte da revolução!

*Texto originalmente publicado no Blog do Fashion Revolution

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DESIGNERS PODEM MUDAR O MUNDO

Como o design de produtos e serviços pode nos ajudar a transformar a forma como vivemos e consumimos.

Por Carolina Bastos, colaboradora da Escola São Paulo  

Para onde estamos indo como sociedade? Estamos tomando decisões conscientes, ou estamos apenas seguindo o fluxo de um comportamento irresponsável, nos eximindo de nossas responsabilidades e nos autodestruindo?  

Essas perguntas já faziam sentido em 2019, quando nem eu e nem você que lê esse texto agora poderíamos imaginar que 2020 seria um ano de acontecimentos tão avassaladores. Além das questões humanitárias e de saúde, em algumas semanas, milhões de pessoas ao redor do mundo tiveram que mudar a maneira como trabalham, estudam, se alimentam, se divertem, convivem, consomem… enfim… vivem. E o que os designers podem, devem e estão fazendo com isso?  

Conhecer e entender o Design Sustentável, nos dá a certeza de que é possível transformar todo um sistema por meio de ações concretas, utilizando ferramentas e processos de desenvolvimento de produtos e serviços que nos respeitem como espécie, e que também respeitem nossa casa, nosso planeta. Durante essa pandemia, ficou mais evidente que nossas escolhas diárias tem um impacto coletivo muito grande. O que e como vamos lidar com o que descobrimos é o que pode (e provavelmente vai) moldar o nosso futuro e das próximas gerações.

O lixo é um erro de design

Nessa fase de isolamento social, muito tem se falado sobre nossa alimentação, como muitas pessoas estão re-descobrindo a cozinha e como podemos usar essa oportunidade para fazer escolhas mais saudáveis e conscientes. Além disso, fica mais claro que consumimos embalagens demais, plástico demais e que isso não faz nenhum sentido.  

No livro “Daily Bread: What Kids Eat Around the World, usando como exemplo nossas ações mais cotidianas, o fotógrafo americano Gregg Segal fotografou crianças ao redor do mundo, com diferentes perfis, ao lado de todo o lixo que produziram em uma semana. Apesar da beleza das imagens, é chocante ver mais uma vez como, infelizmente, estamos destruindo nosso planeta. Segal mostra que, ao contrário dos alimentos embalados e processados ​​consumidos principalmente nos países desenvolvidos, ainda existem diversas bolhas de culturas tradicionais em cada continente, que comem, em grande parte, da mesma maneira como tem feito há centenas de anos. No Mediterrâneo, por exemplo, as pessoas gastam uma parcela maior de sua renda em produtos frescos, em vez de encher seus congeladores com alimentos cheios de conservantes e embalagens plásticas. Comparando as imagens, é possível ver claramente questões sobre saúde e sustentabilidade e o livro serve como catalisador para questionarmos cada vez mais nossas escolhas.

Há alguns dias, outro projeto de Segal, o 7 Days of Garbage”, foi selecionado para a 7ª edição do Tokyo International Photography Competition, e estará na exposição “Turbulence”, que trata das causas e efeitos das mudanças climáticas e segundo ele: “será realizada em Tóquio, Taipei, Dublin e Brooklyn assim que retornarmos à (relativa) normalidade.”.

Segundo relatório da Ellen MacArthur Foundation, “The New Plastics Economy: catalysing action“: Quarenta anos após o lançamento do primeiro símbolo universal de reciclagem, apenas 14% das embalagens de plástico são recolhidas para reciclagem a nível global […] Dado o crescimento projetado na produção, em um cenário de negócios, em 2050, os oceanos poderiam conter mais plásticos do que peixes (em peso)”

No Brasil, apesar do aumento da demanda nos últimos anos, apenas 13% de todos os resíduos sólidos urbanos produzidos são destinados para a reciclagem, de acordo com levantamento do Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada). Segundo estudo do Ibope Inteligência, 66% dos brasileiros sabem pouco ou nada sobre coleta seletiva, 75% não separam os materiais recicláveis, 39% não separam o lixo orgânico do inorgânico e 56% não utilizam serviço de coleta seletiva.  

Segundo a Abrelpe (Associação Brasileira de Empresas de Limpeza Pública e Resíduos Especiais) a quantidade de resíduos domiciliares ao longo deste período de pandemia será de 15 a 25% maior, e na área de resíduos hospitalares o crescimento será de 10 a 20 vezes.  

Qual futuro você quer alcançar?

É urgente adotarmos uma postura mais consciente em relação à maneira como consumimos e desenvolvemos nossos produtos e serviços. Se antes falhamos como sociedade, especialmente nesse sentido, agora temos a oportunidade de fazer diferente e garantir um futuro melhor para nós e para as futuras gerações.  

A inovação e a colaboração podem ajudar a desenvolver ainda mais nossa aprendizagem coletiva e se tornar um chamado à ação para a criação de novos elos e valores dentro das esferas de produção e consumo. Mas, para tornar essa transição bem sucedida, é crucial saber onde queremos chegar e o que queremos alcançar. Qual futuro você quer alcançar? (Eloisa Artuso)

Segundo Eloisa Artuso, designer e nossa professora de Design Sustentável, “a responsabilidade social e ambiental do designer claramente não se limita apenas aos produtos, as embalagens também representam uma enorme parcela dos impactos causados pelo modelo de desenvolvimento econômico e produção industrial global, e devem ser repensadas urgentemente. Está na hora de uma reformulação radical na maneira como as embalagens são pensadas, produzidas e utilizadas. Mas para isso, é imprescindível um esforço concertado envolvendo a indústria, o governo, o terceiro setor e a sociedade civil, para promover ações coletivas e setoriais para reduzir as pegadas de carbono, água e resíduos dos produtos e suas embalagens, e impulsionar a criação de um valor compartilhado. Apoiar a utilização inteligente de recursos, produções eficientes e processos de reutilização e reciclagem, proporcionará crescimento econômico, benefícios sociais e criará novas oportunidades de negócios.”

Aqui na escola, nós acreditamos que a economia criativa é um agente de transformação e que, por meio dela, podemos, juntos, repensar futuros possíveis. Estamos todos conectados, e todas as nossas ações profissionais e pessoais afetam não só nossa carreira, mas o mundo como um todo. Sabemos que a decisão particular transforma o coletivo, e que nesse momento, podemos juntos ressignificar nosso modo de estar no mundo.  

Termino citando o designer dinamarquês Nille Juul-Sørensen:
“Não é sobre como será o futuro. Mas como será o futuro que nós estamos desenhando.”.

#FiqueEmCasa. Fique bem.  


#escolasaopaulo #descubra #reinvente #viva  #FiqueEmCasa com a Escola São Paulo! #ContinueEmCasa#VaiDarTudoCerto

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MUNDO EM TRANSIÇÃO

Por Sabina Deweik, professora da Escola São Paulo dos cursos de “Cool Hunting” e “Os Novos Paradigmas do Futuro e as Tendências Emergentes” 

O mundo está vivendo um grande período de transição no qual antigos valores e estruturas já não dão mais conta do fluxo da vida. Nas famílias, nos indivíduos, na política, nas empresas e organizações, no significado do que é ter sucesso nos dias de hoje, tudo vêm sendo questionado e desconstruído. “Estamos em um estado de interregno, entre uma etapa em que tínhamos certezas e outra em que a velha forma de atuar já não funciona. Não sabemos o que vai substituir isso. As certezas foram abolidas”, diz o sociólogo Zygmunt Bauman. 

O QUE HERDAMOS 

Nós herdamos um modelo da Revolução Industrial. Um modelo que primou pelo individualismo, pela produção em massa, pelo avanço a qualquer custo do homem sobre a natureza. De lá para cá, a ideia de competitividade, resultado, foco e individualidade só se intensificou. Desde então, a relação das pessoas com o ato de consumir vem se intensificando exponencialmente bem como a ideia de que trabalhar e ser feliz são departamentos distintos. O homem chegou a acreditar no lema “você é o que você consome”. Status, ostentação visibilidade, marca, imagem, principalmente a partir da década de 80 passaram as ser valores vigentes. 

Diante de tais fatos, bem como a grande crise social, econômica e ambiental que vivemos, passando pelo problema dos refugiados, terrorismo, o aparecimento das chamadas doenças modernas como síndrome do pânico, ansiedade e distúrbios alimentares, às grandes mudanças climáticas advindas da poluição, destruição de habitats, superpopulação humana, sobre-exploração dos recursos naturais — o homem começa a se dar conta que algo está ruindo neste sistema. 

NOVA DIREÇÃO 

Alguns indícios apontam para essa nova direção. O empreendedorismo, por exemplo sofreu um boom nos últimos anos, a palavra startup se popularizou e o número de pessoas empreendendo por oportunidade é cada vez maior. ARevolução Digital que se iniciou com a popularização da internet, e as revoluções pós digitais que caracterizam o momento presente e os anos subsequentes começaram a modificar radicalmente não só nossa relação com as tecnologias, como também com trabalho, educação e até mesmo nossos valores mais intrínsecos. Podemos então prever transformações profundas em todos os sistemas que ancoram a economia e o mundo hoje. As redes sociais mudaram a forma como as pessoas protestam e a exigência de transparência. 

Por conta de novas gerações que nasceram na era digital, a educação como conhecemos hoje também está com os dias contados. O objetivo da educação não será ensinar coisas, porque as coisas já estão na internet, estão por todos os lugares, estão nos livros. A educação será um facilitador para ensinar a pensar e criar na criança essa curiosidade. Quanto ao modelo trabalho de 8 horas por dia dentro das empresas, este, também se tornará cada vez mais distante, dando lugar a novas dinâmicas de espaço e novas configurações de emprego.  

A LÓGICA É SE REINVENTAR 

Dentro dessa lógica, precisaremos nos reinventar todos os dias, reinventar nossas carreiras, e nossos modelos de negócio. O lucro, antes prioritariamente financeiro, passa a ser reavaliado por ângulos que ressignificam o conceito de sucesso. Alteram-se os critérios para o que seria uma pessoa ou um negócio bem-sucedido, colocando em pauta outras motivações compensatórias: realização de propósito, desenvolvimento pessoal, satisfação criativa. 

A diminuição do consumismo, a internet sendo utilizada para descentralizar o poder de empresas, governos e instituições, o movimento crescente de pessoas produzindo seus próprios bens ou comprando de pequenos produtores, a colaboração, o compartilhamento e o crescimento da indústria criativa são alguns dos paradigmas que tem sustentado a nova economia.  

Sem falar na emergência de uma nova consciência coletiva, desde o movimento biker, que faz crescer odesinteresse de um jovem por ter um carro, até a economia colaborativa com modelos de negócios como o Uber eAirbnb, além do crowdfunding, modelo que permite que ideias inovadoras sejam implementadas à partir de um financiamento coletivo ou até mesmo o surgimento de formas de trabalhar e viver coletivas como o co-working e o co-housing. 

Urge sabermos de onde vêm os alimentos que comemos, cresce o consumo de orgânicos, aparecem projetos de upcycling, na gastronomia fala-se de slow food, no consumo fala-se de lowsumerism (baixo consumo), o consumidor quer saber que o que consumimos respeita um ciclo sustentável e por isso cresce também o ato da compra como um ato social. É fundamental compreender os novos valores para entrar em sintonia com esse novo mundo 

OS MILLENIALS 

Vale dizer, que na década de 90, o advento da internet e das novas tecnologias impulsionou ainda mais a mudança comportamental. Nascia naquele momento uma nova geração, que presenciou de perto novidades do mundo digital nunca antes vistas até então. Nasciam os e-mails, as ferramentas de busca e, principalmente, a possibilidade de interação com outras pessoas sem sair de casa. Formava-se ali a chamada Geração Y, ou Millennials, uma geração mais autocentrada e egoísta, porém, de maneira antagônica, adepta por compartilhar informações pelas redes sociais. Rapidez, instantaneidade, flexibilidade e não linearidade de pensamento caracterizam este grupo, que passou a influenciar outras gerações com suas habilidades e sua vontade de trabalhar por projetos com propósito. Geração que está contestando o mundo corporativo e ressignificando o que é trabalho, família, sucesso, profissão, relações.  

O FUTURO DO TRABALHO 

Raymond Kurzweil, inventor, futurista e idealizador da Singularity University aponta que a evolução tecnológica acontece em um ritmo exponencial e uma vez que cada tecnologia serve de suporte para o desenvolvimento da próxima chegará o momento em que atravessaremos uma fronteira onde a velocidade do avanço tecnológico será maior do que a capacidade dos seres humanos de acompanhar a sua mudança.  

Estudos apontam que 40% das empresas não sobreviverão a Revolução Digital, o número de funcionários das empresas será cada vez menor e em 2030 existirá uma empresa para cada 10 pessoas. Vivemos um momento de transição e entender para onde o mundo está caminhando tornou-se premissa para continuar a caminhada. 

Na Escola São Paulo, ofereço um curso online chamado Os Novos Paradigmas do Futuro e as Tendências Emergentes, onde indico quais são esses movimentos que estão se efetivando ou ainda se efetivarão nas próximas décadas e como eles podem ser utilizados para que você trabalhe estrategicamente a sua criatividade de forma a colocá-la à serviço da inovação, o que, no mercado, é um diferencial competitivo. 

MINDFUL REVOLUTION 

Inicia-se uma nova revolução, batizada pela Revista Time como Mindful Revolution ou a revolução do auto-conhecimento. O ser humano começa a se voltar para a essência depois de muito tempo de exterioridade. Com a popularização de técnicas orientais milenares como yoga e meditação, a valorização do silêncio, a ideia de espiritualidade desassociada do esoterismo ou do misticismo, o digital detox e o fim da glamurização do workaholic, começamos a vislumbrar um futuro diferente. A mudança é radical. 

E você, como tem se conectado com essa transição? Quais são as mudanças necessárias para que encontre mais sentido na sua existência? Qual a verdadeira jóia da tua alma? 

#escolasaopaulo #descubra #reinvente #viva 

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A NOVA MODA É SUSTENTÁVEL

A seguir, a atualização sobre a semana do Fashion Revolution em abril de 2020, publicada no Instagram:

Marcas, indústrias e varejistas: participem da Semana Fashion Revolution Digital!

O Fashion Revolution não irá realizar nenhuma atividade presencial em abril, mas enquanto marca ou indústria você pode seguir engajado nas nossas campanhas, principalmente revelando como os trabalhadores da sua rede estão amparados neste momento de crise e quais têm sido suas políticas perante isso. ??Por ser um momento complexo para todos, vamos fortalecer a coletividade, atentar para os mais vulneráveis e garantir o bem-estar de nossas comunidades. Suas principais ativações durante a Semana Fashion Revolution podem ser algumas das sugestões na sequência de imagens do post!

Para ler mais e descobrir outras formas de se envolver – durante a Semana e além – veja a publicação completa no site!

#fashionrevolution #quemfezminhasroupas #doquesãofeitasminhasroupas

A MODA

Ao longo de muitos anos a indústria da moda se manteve isolada da sociedade em geral como parte de sua própria proposta de se colocar enquanto algo para poucos. Por muito tempo, se criticou esse isolamento a partir de diversos ângulos, desde elitismo até questões trabalhistas. Felizmente, os novos ventos do comportamento social nos trouxeram uma era de valorização da transparência enquanto paradigma e hoje a situação é diferente.

Mais do que nunca, hoje temos muitos agentes e órgãos interessados em fazer dessa indústria (de extrema importância para a economia mundial) um bom setor para se trabalhar, independentemente da posição na cadeia de produção, e fazer da moda um dos pivôs da mudança de valores do sistema capitalista, reconhecendo na sustentabilidade o único caminho para uma sociedade mais justa.

A MODA E O FASHION REVOLUTION

A moda é uma força a ser considerada. Ela inspira, provoca, conduz e cativa. O Fashion Revolution acredita no poder de transformação positiva da moda, e tem como principais objetivos  conscientizar sobre os impactos socioambientais do setor, celebrar as pessoas por trás das roupas, incentivar a transparência e fomentar a sustentabilidade.

O movimento foi criado após um conselho global de profissionais da moda se sensibilizar com o desabamento do edifício Rana Plaza em Bangladesh, que causou a morte de 1.134 trabalhadores da indústria de confecção e deixou mais de 2.500 feridos. A tragédia aconteceu no dia 24 de abril de 2013, e as vítimas  trabalhavam para marcas globais, em condições análogas à escravidão.

#QUEMFEZMINHASROUPAS

A campanha #QuemFezMinhasRoupas surgiu para aumentar a conscientização sobre o verdadeiro custo da moda e seu impacto no mundo, em todas as fases do processo de produção e consumo. Realizado inicialmente no dia 24 de abril, o Fashion Revolution Day ganhou força e hoje tornou-se a Fashion Revolution Week, que conta com atividades promovidas por núcleos voluntários, em mais de 100 países.

Queremos tornar a moda uma força para o bem!

SEMANA FASHION REVOLUTION BRASIL

No Brasil, o movimento atua há 5 anos. Durante a Semana Fashion Revolution, e ao longo do ano em eventos pontuais, realizamos ações, rodas de conversa, exibições de filmes e workshops, que promovem mudanças de mentalidade e comportamento em consumidores, empresas e profissionais da moda.

Ficamos muito felizes com o crescimento do movimento, que hoje está estabelecido como Instituto Fashion Revolution Brasil e trabalha em parceria com diversos atores.

A Semana Fashion Revolution 2019 envolveu aproximadamente 25 mil pessoas em 50 cidades do Brasil e contou com mais de 230 voluntários, 48 representantes locais, 55 embaixadores em 114 escolas e universidades, comprometidos com a organização de 815 eventos. Para se ter uma ideia, em 2018 foram realizados 733 eventos, e em 2017, 225. Além disso, aproximadamente 500 marcas de vestuário se engajaram na campanha.

Queremos mostrar ao mundo que a mudança é possível, através do engajamento de todos! A conscientização é o primeiro passo para que poderosas transformações sejam concretizadas. Vamos criar conexões e exigir práticas mais sustentáveis e transparentes na indústria da moda?

No curso Design Sustentável da Escola São Paulo, Eloisa Artuso mostra as suas conexões estabelecidas com marcas e iniciativas para tornar seus processos produtivos mais sustentáveis. Ela ensina como podemos atuar para projetarmos uma sociedade econômica, social e ambientalmente viável. Com uma visão de mundo integrada e uma riqueza de cases de redução de impactos sobre o planeta como um todo, o conteúdo do curso se alinha aos Objetivos do Desenvolvimento Sustentável da ONU.

Participe de nossa campanha nas redes sociais, em qualquer momento do ano:

1 – Faça uma selfie com a etiqueta da marca que está vestindo

2 – Pergunte na legenda: @nomedamarca  #QuemfezMinhasRoupas? #FashionRevolution

3 – Poste e faça parte dessa revolução!

“O Fashion Revolution promete ser uma das poucas campanhas verdadeiramente globais a surgir neste século”, diz Lola Young, criadora do Grupo Parlamentar de Todos os Partidos sobre Ética e Sustentabilidade na Moda no Reino Unido.

A co-fundadora do movimento, Orsola de Castro, completa: “Nós queremos que você pergunte: ‘Quem fez minhas roupas?’. Essa ação irá incentivar as pessoas a imaginarem o “fio condutor” do vestuário, passando pelo costureiro até chegar no agricultor que cultivou o algodão que dá origem aos tecidos. Esperamos iniciar um processo de descoberta, aumentando a conscientização de que a compra é apenas o último passo de uma longa jornada que envolve centenas de pessoas, e realçando a força de trabalho invisível por trás das roupas que vestimos”.

CONTATOS

  • Para dúvidas, saber como participar e ver o que esta acontecendo em sua cidade, escreva para a Dandara Valadares no email:

fashionrevolution.br@gmail.com

  • Para apresentar projetos, propostas ou convites, escreva para a nossa diretora executiva Fernanda Simon no email:

brasil@fashionrevolution.org 

  • Marcas, industrias e empresas podem escrever para a Bárbara Poerner, nossa articuladora no email:

frd.comunicacao@gmail.com

  • Faculdades e projetos educacionais podem escrever para a nossa diretora educacional,  Eloisa Artuso:

frd.educacional@gmail.com

  • Mídia e veículos de divulgação, escreva para a nossa assessora de comunicação, Giovanna Campos:

frd.assessoria2@gmail.com

CRÉDITOS TEXTO:
https://www.fashionrevolution.org/south-america/brazil/

#escolasãopaulo #descubra #reinvente #viva

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VIRADA SUSTENTÁVEL – DIA 2

Temos que ser resilientes, para poder nos transformar e pensar de forma mais holística e sistêmica. As cidades precisam estar preparadas, os seres humanos precisam se preparar para o que estamos causando ou para o que pode vir como consequência do que estamos causando.

Clique aqui para para ler sobre o que vimos e sobre nossas impressões do dia 22, o dia anterior!

Mobilidade mais Humana

O objetivo do painel “Mobilidade mais Humana” foi despertar mais humanidade na mobilidade em nossas cidades, especificamente em São Paulo. Ouvimos muito sobre os problemas da mobilidade urbana relacionados aos modais de transporte, estruturas viárias e fluxo de veículos, tempo de locomoção, mas pouco discutimos sobre um elemento que está no centro dessa questão: o ser humano, com suas necessidades de deslocamento com mais qualidade de vida. Neste painel, Carolina Padilha, sócia do Carona a Pé, Cid Torquato, Secretário Municipal da Pessoa com Deficiência de São Paulo e Mauro Calliari, da ONG Cidadeapé discutiram o conceito humano da mobilidade.

A apresentação começou com um vídeo, onde Diogo Faro foi à procura dos bons exemplos de mobilidade em Lisboa – e não encontrou!! Mas foi um excelente exemplo do que enfrentamos também por aqui.

Carolina, ao apresentar o projeto “Carona a Pé”, um projeto que vem sendo implantado em escolas, conta que o projeto começou de uma inquietação ao perceber como cada aluno ia para sua escola, para cumprir a mesma carga horária, cada um dentro de sua própria bolha, seus carros. Como professora, sabe a importância de se andar a pé, e o quanto podemos aprender durante deslocamentos a pé e observar a cidade sob um outro ângulo. Quando temos uma cidade com crianças circulando, temos uma cidade em equilíbrio. Uma cidade pronta para abraçar crianças é uma cidade pronta para abraçar qualquer um, atende todos os outros setores. Além de resolver outros problemas como evasão escolar, obesidade, sedentarismo, isolamento social e o congestionamento nas entradas das escolas. Poupar a criança da cidade não é protegê-la, como muitos pensam. O projeto propõe sensibilizar e capacitar a comunidade escolar que mora próxima para percorrerem juntos o trajeto de ida e/ou de volta da escola em pequenos grupos, em um horário pré-estabelecido, seguindo uma rota determinada, construindo uma nova relação com a cidade onde vivem.

 “Calçada, calçada, calçada!”

Cid Torquato, cadeirante, inicia sua fala nos inquietando: “Não tenho deficiência, a cidade que me faz pensar assim”. Relaciona diversidade e sustentabilidade como conceitos interligados e fundamentais para os desafios humanos e ambientais. Contou como tem trabalhado junto à Prefeitura de São Paulo nesse olhar cuidadoso às calçadas, pois, além de uma questão estrutural, a situação em que elas se encontram hoje representa um problema de saúde pública, já que 100 mil acidentes são reportados anualmente, e custam por volta de 600 milhões de reais aos hospitais públicos.

Pensando nisso, a gestão Bruno Covas concebeu o Programa Municipal de Calçadas, que pretende investir R$ 400 milhões até o final de 2020, requalificando 1,5 milhão de metros quadrados de calçadas públicas e privadas prioritárias em todas as regiões da cidade. Cid, em sua fala, pede que os cidadãos usem o número 156 para relatar problemas, elogios e novas ideias, pois o trabalho deles se baseia muito no resultado dessas ligações. Ele conta parecer uma briga sem fim, mas garante que vive pelos corredores da prefeitura com um mantra, inspirado na pamonha: “Calçada, calçada, calçada!”.

Mauro Calliari aponta todos os lugares onde encontramos humanos nas cidades se locomovendo – nas ruas, nas calçadas, nos carros, nos ônibus, nos metrôs, nos helicópteros… mas “humano” é a maneira em que essas pessoas conseguem se locomover, o quanto elas conseguem se locomover e, principalmente, o que sobra para a cidade quando elas se locomovem, ou seja, nas escolhas do transporte, o que a cidade resulta disso. Nos entrega algumas sugestões e tentativas de traduzir o “humano”, como aproveitar que existe um novo paradigma no mundo, o da apropriação, onde as pessoas mudaram a maneira de ver as cidades, onde a cidade modernista, construída para o deslocamento de carros não é mais aquilo que nos satisfaz e passamos a nos apropriar de espaços públicos, criando novos espaços que eram mal aproveitados. Dentre outras, chamou a atenção para a tecnologia, e como ela deve ser acolhida – não podemos mais ir contra aplicativos de compartilhamento, bicicletas e patinetes, ônibus elétricos, temos que aprender rapidamente e montar políticas públicas em cima disso. Cidade não deveria ser um lugar de passagem, mas de permanência.

Cidades Resilientes

Espaços como o Mirante Nove de Julho, que foi recuperado e hoje tem um papel importante na região da Avenida Paulista, são a prova de que a arquitetura e o urbanismo são fundamentais para tornar as cidades mais seguras e ainda geram novos significados para espaços esquecidos. Para os arquitetos Mila Strauss e Marcos Paulo Caldeira, professores do curso de Arquitetura e Urbanismo da Escola São Paulo, é preciso otimizar os espaços urbanos através de uma arquitetura mais holística.

No painel “Soluções Sistêmicas para Cidades Resilientes, a jornalista Monica Picavea nos apresentou o movimento das Cidades em Transição, que foi criado pelo inglês Rob Hopkins com o objetivo de transformar as cidades em modelos sustentáveis, menos dependentes do petróleo, mais integradas à natureza e mais resistentes a crises externas, tanto econômicas como ecológicas. Percebeu que com o fim do petróleo barato, as pessoas não conseguiriam mais morar longe dos grandes centros urbanos, dificultaria o deslocamento dos alimentos, e que temos de pensar em uma vida que gaste menos energia. E só quem pode resolver esse problema é quem nos colocou nesse problema – a nossa sociedade! Segundo ela, precisamos parar de pensar em nosso CNPJ e passar a pensar em nosso CPF, pois é um movimento que deve ser feito por todos, unidos, em um momento de descoberta sobre o que viemos fazer no mundo afinal.

Eu reciclo, tu reciclas, ele…

Nós reciclamos, vós…

Eles não reciclam!

Gabriela Reis, gerente de marketing na eureciclo, empresa líder em logística reversa de embalagens pós consumo na América Latina, acredita que consumidor, empresas e governos precisam começar a atuar em conjunto para resolver a questão dos lixos espalhados em lixões, aterros sanitários e mares, problemas que estamos criando juntos há muito tempo. No Brasil, 90% do lixo é coletado, uma taxa que se equipara à países mais desenvolvidos, porém, apenas 3% dos resíduos recicláveis coletados são realmente destinados à reciclagem. Todos o restante é desperdiçado enquanto potencial de retorno ao ciclo produtivo. Diante desse cenário, o selo eureciclo surge para solucionar dois problemas: a destinação final das embalagens pós-consumo e a marginalização dos agentes da cadeia.

Aline Cavalcante, que trabalha em São Paulo com mobilidade urbana e o uso da bicicleta, buscou tratar a palavra resiliência, que acreditamos ser o ponto chave de todo o movimento sustentável que estamos passando. Cidades resilientes são cidades resistentes, capazes de suportar crises, colapsos, problemas naturais ou provocados pelo homem. Como construir cidades resistentes aos problemas que surgirão, já que vivemos em um país 85% urbano? Problemas que nós mesmos provocamos, como poluição das águas, do ar, resíduos, etc, frutos da nossa experiência como seres humanos na cidade. Sofremos efeitos na cidade que não estavam previstos e precisamos estar preparados para que não se tornem transtornos. Um desafio que só depende da gente. Criamos esse problema, temos que resolver. E podemos. Juntos.

#VireSuaCidade #escolasãopaulo #descubra #reinvente #viva

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O PLÁSTICO NO FUTURO

A imagem é chocante: uma gigantesca camada de lixo plástico boiando no oceano, reflexo direto dos nossos hábitos de consumo e descarte, um sinal claro de que devemos rever urgentemente nossas atitudes. O registro é da chamada Grande Mancha de Lixo do Pacífico, uma área descoberta na segunda metade da década de 1980, localizada entre a costa ocidental dos EUA e o Havaí, que acumula resíduos levados pelas correntes marítimas, muitos deles plástico.

De acordo com levantamento da fundação holandesa The Ocean Cleanup, a mancha tem cerca de 80 mil toneladas de plásticos descartados em uma área quase duas vezes e meia maior que o território da França. O estudo coletou 1,2 milhão de amostras e selecionou 50 itens com data de fabricação legível. O resultado? Havia plástico de 1977 e das décadas de 1980 e 1990. Além disso, a pesquisa identificou que a maior parte do 1,8 trilhão de peças presentes na mancha é composta por pedaços pequenos que medem menos de meio centímetro. “Um relatório de 2016 da Organização das Nações Unidas (ONU) estima que mais de 800 espécies marinhas e costeiras são afetadas pela ingestão desses plásticos”, explica a pesquisadora Daniela Gadens Zanetti, da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), em entrevista à revista Planeta. “Além disso, esses resíduos têm um efeito adverso nas indústrias de pesca, navegação e turismo. O relatório da ONU avalia o custo da poluição causada por detritos marinhos em US$ 13 bilhões”, acrescenta.

Muito além do canudinho

No ano de 2014, foram fabricadas 311 milhões de toneladas de plástico. Caso não mudemos os rumos, em 2050, serão produzidas 1,124 bilhão de toneladas. Uma quantidade gigantesca de plástico que demorará anos para desaparecer. Plásticos usados em embalagens de água e refrigerantes, por exemplo, levam até 200 anos para se decompor. Já os utilizados na fabricação de talheres e cartões de crédito de seis meses a dois anos. “Bactérias e fungos que decompõem os materiais não tiveram tempo de desenvolver enzimas para degradar a substância”, explica a engenheira química Marilda Keico Taciro, do Instituto de Pesquisas Tecnológicas (IPT), em entrevista à revista Superinteressante. “Com a evolução, os microorganismos devem se adaptar, mas isso pode levar milhões de anos”, acrescenta o biólogo José Gregório Cabrera Gomes, também do IPT, na mesma publicação.

Nossos números assustam

Segundo dados do estudo feito pelo Fundo Mundial para a Natureza (WWF) o volume de plástico que chega aos oceanos anualmente é de aproximadamente 10 milhões de toneladas, o equivalente a 23 mil aviões Boeing 747 pousando nos mares e oceanos todos os anos.

Nesse ranking, o Brasil é o 4º maior produtor de lixo plástico do mundo, atrás apenas de Estados Unidos, China e Índia. Esse número foi divulgado no relatório “Solucionar a Poluição Plástica – Transparência e Responsabilização” apresentado na Assembleia das Nações Unidas para o Meio Ambiente (UNEA-4) em Nairóbi, no Quênia, em março de 2019.

Além disso, segundo esse mesmo estudo, somos um dos países que menos reciclam no mundo. No caso do plástico, reciclamos 145.043 toneladas, ou seja, apenas 1,2%, bem abaixo da média mundial, que é de 9%.

Veja mais alguns números:

  • Cada brasileiro produz 1 kg de lixo plástico por semana
  • O Brasil produz 11.355.220 milhões de toneladas de lixo plástico por ano
  • 2,4 milhões de toneladas de plástico são descartadas de forma irregular
  • 7,7 milhões de toneladas ficam em aterros sanitários

Alternativas em curso

Já temos no mercado um plástico biodegradável chamado PHB que vira pó em seis meses nos aterros sanitários. Mas a sua fabricação custa até cinco vezes mais que os plásticos comuns e, portanto, ainda o torna inviável na prática (atualmente, ele responde por apenas 1% do total de plástico vendido no mundo). Recentemente, os engenheiros chilenos Roberto Astete e Cristian Olivares anunciaram a criação de sacolas plásticas e de tecido solúveis em água e que não contamina, uma vez que não levam petróleo em sua composição. “Nosso produto deriva de uma pedra calcária que não causa danos ao meio ambiente”, assegurou Astete, diretor-geral da empresa SoluBag, conforme reportagem do portal UOL. “É como fazer pão”, acrescenta. “Para fazer pão é preciso farinha e outros ingredientes. Nossa farinha é de álcool de polivinil e outros componentes, aprovados pela FDA (agência americana reguladora de alimentos, medicamentos, cosméticos, aparelhos médicos, produtos biológicos e derivados sanguíneos), que nos permitiu ter uma matéria-prima para fazer diferentes produtos.”

Após a diluição dos produtos, o que fica na água é carbono, elemento que não afeta a sua qualidade. A iniciativa inovadora ganhou o prêmio SingularityU Chile Summit 2018 como empreendimento catalizador de mudança e rendeu aos inventores um estágio no Vale do Silício em setembro de 2018. A proposta ainda está em estágio inicial e não pode ser considerada uma solução definitiva para a questão.

Nada se perde, tudo se renova

O mal causado pelo plástico nos oceanos é um problema real e urgente que mobilizou a opinião pública e governos e fez com que diversas empresas apresentassem ações visando não apenas a redução do consumo de plástico, como também a readequação da sua cadeia produtiva para esta finalidade. Baseando-se na lógica da economia circular, essas empresas estão se adequando para produzir de maneira modular, de modo a reaproveitar ao máximo os elementos que compõem o seu processo de produção e gerar menos impacto ao meio ambiente. Nada se perde, tudo se renova.

A cervejaria dinamarquesa Carlsberg anunciou recentemente que irá colar as latinhas ao invés de utilizar o invólucro de plástico em seus conjuntos de seis unidades. A cola utilizada no processo é uma espécie de goma de mascar que não gruda nos dedos. A expectativa da empresa é reduzir em até 76% o plástico utilizado (uma economia de 1,2 mil toneladas de plástico por ano). Batizada de Snap Pack, a novidade entrou em vigor em setembro no Reino Unido e na Noruega e deverá chegar em breve nos demais mercados de atuação da marca.

O mercado da moda também está se transformando, pressionado por consumidores mais conscientes. Em parceria com a organização Parley for the Oceans, a Adidas lançou pares de tênis feitos com plástico retirado dos oceanos (cada par utiliza 11 garrafas de plástico que são transformadas em uma espécie de fibra). A novidade rendeu mais de um milhão de vendas e se desdobrou na fabricação de camisas de futebol (adquiridas por times como Real Madrid e Flamengo). A empresa pretende, até 2024, produzir produtos apenas com plástico retirado dos mares.

Reconhecida pelo seu foco em ações sustentáveis, a designer Stella McCartney anunciou a utilização de plástico dos oceanos em suas criações graças, também, a uma parceria com a Parley for the Oceans. “Quando eu era mais nova, couro era sinônimo de luxo, e as pessoas não aceitavam que eu não usasse couro nas minhas peças. O couro é mais barato do que outros produtos alternativos, é menos interessante, menos moderno. Será que um plástico reciclado será pensado como luxo algum dia? Se as pessoas perceberem que viver por mais tempo neste planeta é um luxo, então sim, essa é a minha ideia de luxo”, declarou a estilista em entrevista ao The New York Times.

Até 2020, a Starbucks vai deixar de usar canudos de plástico substituindo-os por materiais menos poluentes. A empresa também vai passar a utilizar copos que não demandem o uso do objeto plástico. O objetivo da rede é que mais de um bilhão de canudos deixem de ser usados por ano graças à medida. Vale lembrar que o tempo de decomposição de um canudo plástico é de 500 anos. Empresas como Nestlé e PepsiCo também estão sendo pressionadas por seus investidores a implementarem ações semelhantes.

Design Circular

Eloisa Artuso, designer, pesquisadora e diretora educacional do Fashion Revolution Brasil, desenvolve seu trabalho baseado no lugar onde sustentabilidade, cultura e comunicação se fundem com o design.

O designer sustentável tem um papel crucial na implementação de novos processos e sistemas mais sustentáveis. Ele enxerga a sustentabilidade como uma possibilidade criativa, e não limitadora. Traz para sua prática um olhar ativista. Se entende como criador de mensagens, como um propulsor e propagador de novos modelos de produção e de consumo, em um papel muito importante no desenho de novos futuros e de futuros mais sustentáveis.

Segundo Eloisa, o papel do designer vai muito além do que criar produtos. Vê o designer num papel de criar novos sistemas, novos processos e novos futuros onde estes produtos estarão incluídos.

Em nosso curso online de Design Sustentável, ela traz o design como um dos agentes de transformação da situação que enfrentamos, utilizando as 5 ferramentas para o design circular: design para longevidade, design para serviços, design para reuso, design para desmontagem e design para recuperação.

“É o dever de cada um de nós garantir que a busca pela prosperidade material não comprometa nosso meio ambiente. As escolhas que fazemos hoje definirão nosso futuro coletivo. As escolhas podem não ser fáceis. Mas através da conscientização, da tecnologia e de uma parceria global genuína, tenho certeza de que podemos fazer as escolhas certas.”

Primeira ministra da Índia, Narendra Modi

#escolasaopaulo #descubra #reinvente #viva

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TENDÊNCIAS NA ALIMENTAÇÃO

O futuro da alimentação

Até 2100, alcançaremos a marca de 11 bilhões de habitantes no mundo. Uma estimativa expressiva que aumentará em cerca de 30% a demanda por alimentos. Um cenário complexo que gera um importante questionamento: como será a nossa alimentação no futuro? A pergunta apresenta uma série de hipóteses. Parte dos especialistas acredita que os alimentos do futuro deverão ser cada vez mais nutritivos e sustentáveis. A tendência, segundo eles, é que cada vez mais consumidores se interessem em conhecer de perto a cadeia produtiva dos alimentos que consomem no dia a dia e exijam uma postura sustentável de seus produtores.

Valorizando o consumo local

Além disso, movimentos como o Eat Local, que incentivam o consumo de alimentos orgânicos produzidos localmente em prol da economia da região, devem crescer ainda mais, ampliando a transformação das cidades em diversas zonas agrícolas produtivas – atualmente há uma série de empresas especializadas em transformar espaços ociosos, como os telhados de prédios, por exemplo, em áreas para cultivo de hortaliças e frutas. “Tento consumir produtos que sejam mais locais. Algo considerado natural, mas que viaja da Argentina a um país distante, não me convence”, analisa Jennifer Morgan, diretora executiva do Greenpeace International, em reportagem da revista Época Negócios.

Fazendas verticais

O processo de agricultura indoor, que consiste no cultivo de vegetais e hortaliças em ambientes fechados e controlados por inteligência artificial, é outra proposta que tende a crescer nos próximos anos. O Massachusetts Institute of Technology (MIT), por exemplo, uma das instituições de tecnologia mais respeitadas do mundo, está investindo em versões individuais do que os especialistas chamam de food computer (computador de comida) que pode transformar qualquer pessoa em um fazendeiro em sua própria casa.

Comida sob demanda

Ainda no campo da tecnologia, o design de alimentos é mais uma tendência que deve ficar cada vez mais forte tendo como foco o desenvolvimento de pesquisas alinhadas aos desejos e necessidades dos novos consumidores. Comida sob demanda. A Bayer, por exemplo, desenvolveu uma variedade de melancia menor, sem sementes e com mais nutrientes que as tradicionais. Enquanto uma melancia convencional pesa em média 15 quilos, a criação da Bayer tem um peso médio de 6 a 8 quilos. “Isso facilita o transporte e armazenagem, bem como evita o desperdício do alimento”, afirma Guilherme Hungueria, especialista de marketing da Unidade de Sementes e Hortaliças da Bayer em entrevista ao Planproject. “O produto ainda é mais saudável, já que contém o dobro de antioxidantes que a melancia convencional, além de possuir um sabor e uma doçura inigualáveis”, acrescenta. A empresa também lançou a Dulciana, uma cebola que não faz chorar pelo fato de apresentar menos ardência que o vegetal convencional.

Alimento como prevenção

Nesse sentido, há também pesquisas focadas no desenvolvimento de alimentos produzidos especificamente para prevenir doenças ou atender as necessidades nutricionais de grupos específicos. Estes estudos defendem que cada pessoa passaria a comer os alimentos que a deixam mais saudável, levando em consideração a sua genética e o seu histórico de doenças. Alimento como prevenção. “Não é mais a mesma comida para todo mundo. Temos de individualizar produtos de acordo com o que o corpo precisa com base na idade ou no sexo, por exemplo. Há muitos parâmetros”, explica a chefe da Nestlé na Alemanha, Beatriz Guillaume-Grabner, em entrevista ao site DW. A proposta da maior empresa de alimentação do mundo é lançar produtos que consigam cada vez mais levar micronutrientes, como zinco e magnésio, para os consumidores.

Quando a soja vira bife

A redução no consumo de carne também tende a se fortalecer nos próximos anos com o desenvolvimento de técnicas e de empresas que ofereçam opções nutritivas e deliciosas de alimentos sem o envolvimento de animais. Exemplos dessa dinâmica são as empresas Impossible Foods, que vende “carne” produzida a partir de plantas em mais de 500 restaurantes nos EUA, e Beyond Meat, que desde 2013 produz “carne” e “frango” feitos de planta.

Reduzir o desperdício de alimentos

também é uma outra tendência que deve crescer. Em um futuro não tão distante, teremos mais empresas como a ResQ, plataforma on-line com atuação na Europa que vende as sobras de cafés e restaurantes. Só para se ter uma ideia, a iniciativa já evitou que 100 mil porções fossem jogadas no lixo.

Entendendo o futuro

Marcas que produzem ou comercializem alimentos devem estar atentas ao que o consumidor vem buscando, e ao que ele tende a buscar. Sabina Deweik, no curso online “Os Novos Paradigmas do Futuro e as Tendências Emergentes”, apresenta os 4 grandes paradigmas que nortearão para onde a sociedade caminhará nos próximos 20 anos. E um dos temas abordados por ela é diretamente relacionado ao que estamos discutindo nesse texto, como o Paradigma Unique & Universal, onde:

  • a antinomia entre o local e o global será deixada permanentemente para trás;
  • será reconhecido o valor dos produtos únicos e locais;
  • produtos locais serão transformados em opções globais;
  • o caráter distintivo das origens e dos processos será comunicado de modo mais transparente;
  • as mídias sociais serão usadas a fim de criar novas lógicas de distribuição e de comunicação, dando aos produtos locais uma melhor oportunidade de se afirmarem no mercado global;
  • customizado, personalizado, distinto passam a ser conceitos relevantes.

Com propostas tão diversas em curso (de alimentos cada vez mais orgânicos e naturais a opções geneticamente modificadas), podemos concluir que o futuro da alimentação será diverso e dependerá do caminho escolhido por cada consumidor. Escolhas distintas e individuais para responder a uma mesma questão. Com qual proposta você mais se identifica?

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COMO SE TORNAR UMA REFERÊNCIA NO MERCADO PENSANDO EM ECONOMIA CIRCULAR

Como a economia circular está ajudando na gestão de resíduos

Considerada uma das mais interessantes e inovadoras maneiras de lidar com o planeta desenvolvidas nas últimas décadas (sob uma dinâmica na qual crescimento econômico e bem-estar não estão ligados a consumo exacerbado e extrema utilização dos recursos naturais), a economia circular tem sido cada vez mais adotada como ferramenta para gestão de nossos resíduos, uma das grandes questões da atualidade.

Segundo levantamento da Associação Brasileira de Empresas de Limpeza Pública e Resíduos Especiais (Abrelpe), o Brasil produz 79,9 milhões de toneladas de lixo por ano, em média. De acordo com o Plano Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS), cerca de 30% de todo o lixo produzido no Brasil tem potencial de reciclagem, mas apenas 3% de fato é reaproveitado. “As pessoas estão percebendo que podemos fazer mais. Estamos em uma transição em que a gestão de resíduo deixa de ser gestão de lixo e passa a ser gestão de recursos.

É pensar aberto: como é que hoje a maior rede de hospedagem do mundo é Airbnb? Ou que existam grandes empresas de transporte urbano como a Uber e Cabify, que não são proprietárias de frota? São esses conceitos que precisamos trazer para a gestão de resíduos. É a criatividade que precisamos despertar, não só em cada um, mas despertar no próprio governo, em parceria com iniciativa privada, para oferecer esses tipos de solução”, explica Carlos Silva Filho, presidente da Associação Brasileira de Empresas de Limpeza Pública e Resíduos Especiais (Abrelpe), em entrevista ao Estadão.

Iniciativas de sucesso pensando em economia circular

Um exemplo desta mudança de comportamento do mercado é a Ecozinha, projeto criado em Brasília por alguns restaurantes logo após a aprovação da uma que lei que transfere para estabelecimentos comerciais a responsabilidade da destinação dos resíduos produzidos. A iniciativa instalou caçambas e coletores para a separação do lixo reciclável nos restaurantes (resíduos posteriormente recolhidos pelo Sistema de Limpeza Urbana). Como o Distrito Federal não possui espaços para o descarte de vidro, o projeto firmou parceria com a ONG Green Ambiental que faz a coleta e o transporte para usinas de reciclagem em São Paulo. Para cuidar do lixo orgânico, composteiras foram instaladas em um pátio alugado para uso comum e o adubo ali produzido é destinado para agricultores locais. Em resumo, o lixo produzido nos restaurantes é utilizado na produção dos alimentos que serão comprados e consumidos nos restaurantes. Um círculo extremamente positivo que beneficia diversos personagens da cadeia produtiva. “A gestão de resíduos começa no início da cadeia, usando menos recursos para fazer seu produto. Economia circular não é só reciclagem: é já produzir de maneira modular para, na hora que tiver problema, é só fazer manutenção, trocar peça, não precisa de um novo produto”, explica Davi Bomtempo, Gerente Executivo de Meio Ambiente e Sustentabilidade da Confederação Nacional da Indústria (CNI), também em entrevista ao Estadão.

Imitando a natureza

Lançada em setembro de 2018, a ZEG Ambiental é uma empresa brasileira que desenvolveu um reator que transforma resíduos em gás sem poluir o ar com fumaça ou fuligem, por exemplo. “Imitamos a natureza. Ela decompõe os materiais orgânicos e os transforma em querogênio, que depois é transformado em óleo e gás. Só que esse processo demora milhões de anos, com sobreposição de camadas promovendo uma atmosfera com ausência de oxigênio. A gente faz exatamente isso, só que dentro de um reator”, explica André Tchernobilsky, sócio-fundador da empresa, em entrevista ao Jornal GGN.

O reator tem capacidade de converter até 50 toneladas de sólidos/dia e base seca em fonte de energia. Tchernobilsky explica que o equipamento trabalha com temperaturas acima de 1 mil graus, que facilita a quebra da cadeia molecular dos resíduos. O gás produzido pode ser diretamente injetado no sistema de Geração Distribuída criando energia renovável. A Nexa, empresa do setor mineral, é a primeira a fazer uso da iniciativa substituindo o uso de combustível fóssil (gás natural e óleo) por resíduos em seu processo produtivo. “O que nós já percebemos, e está acontecendo com muito volume, é uma procura para apresentarmos projetos que sejam economicamente e ambientalmente sustentáveis, e percebemos [essa movimentação de] fundos e parceiros locais, brasileiros e também organismos internacionais procurando bons projetos para que a gente possa criar essa economia circular positiva”, afirma Daniel Rossi, presidente da ZEG.

Um outro olhar para inovação

A HP é outra empresa que está tentando adequar sua cadeia produtiva à economia circular. Por meio da operação integrada com as empresas fornecedoras Flextronics e Sinctronics, a multinacional consegue reutilizar em seu processo de produção o plástico que já esteve nas impressoras e nos cartuchos. De acordo com Judy Glazer, diretora global de sustentabilidade da marca, mais de 7,7 milhões de produtos da marca foram fabricados no país com conteúdo reciclado. “Estamos no processo de tornar o processo produtivo muito mais circular do que linear. Temos a aspiração de nos tornarmos uma companhia lixo zero, com decisões que possam direcionar o negócio e ter um impacto positivo de longo prazo. Outra meta é eliminar o uso de matérias-primas virgens no processo produtivo”, afirma em entrevista à Folha de S. Paulo. “É uma aspiração, um objetivo de longo prazo que vai provocar a inovação. Temos um longo caminho, mas colocar isso como meta é um invocativo poderoso. Queremos chegar a 100% de uso de materiais reciclados e de origem renovável nos produtos”, acrescenta.

Para entender melhor sobre economia circular

No curso online de Design Sustentável, Eloisa Artuso reforça que, para conseguirmos transformar um sistema linear em circular, precisamos trazer novas abordagens para os negócios, levando em consideração a longevidade dos produtos, os impactos deles e dos processos de produção, e o fim da vida útil deles, como eles serão descartados e reinseridos em novos ciclos de produção. Para isso, é preciso que tenhamos um olhar sobre o sistema todo, e que passemos a criar novas parcerias entre marcas e designers, com vários atores da indústria, para que esses ciclos comecem a se fechar de uma forma harmônica. Para calcular e mitigar o impacto social e ambiental dos produtos e serviços, ela traz conceitos como ACV (Análise de Ciclo de Vida), Cradle to Cradle e Logística Reversa, pensamentos e propostas que devem estar com as marcas ao lançar um produto ou serviço.

Todos estes exemplos só comprovam o quanto a economia circular é mobilizadora enquanto modelo de desenvolvimento econômico, industrial e social. Mais do que isso, mostram que é possível mantermos uma relação produtiva, equilibrada e saudável com o planeta.

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AINDA HÁ ESCRAVOS POR TRÁS DAS ROUPAS

Bolivianos resgatados na Grande São Paulo costurando por R$ 1 a peça reforçam a mensagem que ainda há muito o que se fazer

Em algumas palestras, eu começo perguntando qual a primeira palavra que vem à cabeça quando se pensa em moda. Em diferentes turmas, o resultado é quase o mesmo, as pessoas pensam em glamour, roupas, desfiles, compras e negócios.

Duas coisas sempre me espantam: a maneira como fomos nos distanciando do verdadeiro significado das nossas roupas, algo tão próximo de nós, e como ninguém nunca fala a palavra vida. Eu vejo vida por trás das roupas.

Costurar, bordar, cortar e tingir são trabalhos nobres, que exigem habilidades manuais, saberes tradicionais e minuciosos. Quando olhamos para a história da moda, vemos certos momentos em que os alfaiates eram extremamente valorizados, como pelo Rei Luís XV, conhecido como Rei Sol, criador do salto alto e da sazonalidade.ADVERTISING

Assim como o artesanal mais fino da Alta-Costura (Haute-couture, termo protegido juridicamente para determinadas empresas que atendem certos padrões de costura). Mas em qual momento esse profissional passou a ser explorado?

A indústria têxtil foi um dos setores líderes durante a Revolução Industrial, com uma representativa força feminina de trabalho. Contudo, a chegada das máquinas às fábricas não levou à uma melhora na maneira como os trabalhadores eram tratados e valorizados.

Por volta de 1850, na Inglaterra, surgiu o termo sweatshop, fábricas têxteis ou de confecção caracterizadas por oferecerem trabalhos precários, jornadas exaustivas, baixos pagamentos e ambientes insalubres.

As sweatshops rapidamente se espalharam pelo mundo, em cidades como Nova York, por exemplo, empregando principalmente mulheres, migrantes que vinham do campo e imigrantes.

Claro que essa corrida por alta produção à custa do suor humano não poderia resultar em algo positivo. No dia 25 de março de 1911, um desastre marcou a história: um grande incêndio na fábrica da Triangle Shirtwaist, em Nova York, causou a morte de mais de 100 mulheres.

O acidente foi o ponto inicial da organização das mulheres para a criação de sindicatos trabalhistas essenciais na luta e garantia de seus direitos e segurança.

Ainda assim, o modelo de produção “mais por menos” seguiu sendo adotado em diversas partes do mundo, e deslocado, principalmente, para países asiáticos onde as leis são mais precárias. Consequentemente, acidentes na indústria da moda continuam acontecendo, inclusive em fábricas de grandes marcas globais.

A tragédia do Rana Plaza, prédio que abrigava confecções e desabou em 2013 em Bangladesh, matando mais de mil pessoas e deixando outras 2 mil feridas, foi o estopim para o surgimento do movimento global Fashion Revolution.

Como contraponto ao cenário de exploração, o Fashion Revolution surgiu alinhado à uma crescente demanda por marcas e produtos mais transparentes, éticos e sustentáveis.

Com um trabalho intenso, a disseminação de sua mensagem principal, o questionamento e valorização de quem faz nossas roupas, se espalhou por mais de 100 países, ganhando força e destaque, inclusive no Brasil.

Este ano, no mesmo mês do Dia Nacional do Combate ao Trabalho Escravo, dia 28 de janeiro, duas notícias nos provam que a revolução da moda ainda tem um longo caminho para atingir seu objetivo.

Em Carapicuíba, na Grande São Paulo, 33 bolivianos foram resgatados vivendo em condições precárias e costurando por R$ 1 a peça, e em Bangladesh mulheres trabalhavam 16 horas por dia em condições análogas à escravidão para costurar camisetas com frases de empoderamento feminino para uma campanha do grupo Spicy Girls com a organização Comic Relief.

A mudança só será efetiva quando for pensada de forma sistêmica. Por isso, na campanha de 2019 a Semana Fashion Revolution trabalhará em cima de três pilares fundamentais para transformações radicais na maneira como as roupas são pensadas, feitas e consumidas: ativações sociais para incentivar mudanças culturais, como comportamento de consumo e mudanças de hábitos; exigir que as marcas mostrem suas cadeias de fornecedores de maneira mais humana, contando histórias e mostrando como o trabalhador está sendo valorizado, para aproximar quem compra de quem faz; e, no âmbito público, em tempos de tantos retrocessos políticos, o engajamento se torna fundamental para entender como podemos incentivar melhorias e novas políticas públicas para proteger e valorizar o trabalhador do setor.

O caminho é longo e exige união dos atores. Mas o mais importante é entender que todos fazemos parte da solução e temos nela um papel fundamental. Eu sigo acreditando que o mundo está em evolução constante e que, mesmo com o clima de escuridão que estamos atravessando, há luz no fim do túnel. A moda é minha ferramenta de transformação. Espero que, através da roupa, indivíduos e comunidades sejam atingidas positivamente.

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POR QUE TRANSPARÊNCIA IMPORTA PARA A INDÚSTRIA DA MODA?

Gigante na indústria têxtil, Brasil ganha Índice de Transparência da Moda

Quando o edifício Rana Plaza desabou há cinco anos em Bangladesh, matando e ferindo milhares de trabalhadores, as pessoas tiveram que vasculhar os escombros à procura das etiquetas das roupas para descobrir quais marcas estavam ligadas às cinco confecções do prédio.

Em alguns casos, levou semanas para as marcas deliberarem sobre como suas etiquetas foram encontradas entre os escombros e que tipo de contratos de compra elas tinham com aqueles fornecedores. Muitas marcas que estavam sendo fornecidas pelas confecções dentro do Rana Plaza não sabiam que suas peças estavam sendo produzidas lá.

Atualmente, a grande maioria das marcas e varejistas não possui fábricas próprias, o que dificulta o monitoramento ou controle das condições de trabalho ao longo de uma cadeia de fornecimento altamente globalizada. Isso, às vezes, pode ser usado como uma desculpa para que as empresas se esquivem da responsabilidade sobre sua produção.

Uma marca pode fazer um pedido de produção para um fornecedor, que divide o pedido e subcontrata o trabalho com outras fábricas. Mas a subcontratação não autorizada faz com que os trabalhadores se tornem invisíveis na cadeia de fornecimento e pode abrir espaço para a violação dos direitos humanos e degradação ambiental.

Logo após o desastre do Rana Plaza, ficou muito claro que a indústria da moda precisava de mudanças urgentes e transformadoras. O primeiro passo para essa mudança implica em dar muito mais transparência e visibilidade sobre as relações comerciais com fornecedores, condições de trabalho e impactos ambientais ao longo de toda a cadeia.

Os consumidores não querem comprar roupas feitas por pessoas que trabalhem em perigo, sendo exploradas e mal remuneradas em ambientes poluídos.

Porém, simplesmente não há informação suficiente disponível sobre as roupas que usamos. O Fashion Revolution trabalha para mudar esse cenário exigindo mais transparência da indústria da moda – o Índice de Transparência da Moda é uma das ferramentas criadas para auxiliar nesse sentido.

Quando estamos munidos de mais informações – de melhor qualidade e credibilidade – sobre os impactos sociais e ambientais das roupas que compramos, somos capazes de fazer escolhas de compras mais conscientes. Dessa forma, entendemos que a transparência constrói confiança nos consumidores em relação às marcas.

Maior transparência e responsabilização também significa que os problemas podem ser resolvidos e as soluções podem ser encontradas mais rapidamente ao longo da cadeia de fornecimento.

A primeira edição do Índice de Transparência da Moda Brasil foi elaborada pelas equipes do Fashion Revolution global e Fashion Revolution Brasil e contou com a parceria técnica do Centro de Estudos em Sustentabilidade da Fundação Getulio Vargas (FGVces).

Para o Fashion Revolution, transparência significa a divulgação pública de dados e informações confiáveis, compreensíveis e comparáveis sobre as políticas, práticas e impactos de marcas e varejistas em relação aos seus trabalhadores, às comunidades e ao meio ambiente ao longo de toda a cadeia de valor.

O Índice de Transparência da Moda existe globalmente desde 2016 e chegou ao Brasil em 2018 para revisar e classificar 20 das maiores marcas que operam em território nacional.

O Brasil é um dos principais polos têxteis do mundo e representa o quarto maior parque produtivo de confecção, empregando 1,479 milhão de funcionários diretos, dos quais 75% são mulheres.

O país é ainda a maior Cadeia Têxtil completa do Ocidente, que contempla desde a produção das fibras, como o algodão, passando por fiação, tecelagem, beneficiamento, confecção e varejo, até as passarelas.

Reforçando sua relevância como um dos principais atores do setor, o Brasil é o primeiro país a ter uma edição nacional do Índice de Transparência da Moda, enfatizando a necessidade de aprofundar as discussões locais sobre a importância da transparência na construção de uma indústria da moda com melhores práticas.

Mas ainda são muitas as empresas que não abrem suas informações. Entre as 20 empresas revisadas no Índice brasileiro, 8 (40%) obtiveram resultado de 0%. A pontuação média das marcas foi de 17%, onde apenas 2 pontuaram acima de 50% e nenhuma alcançou mais de 60%.

É importante lembrar que transparência é um meio para a mudança e não um fim. Ela funciona como uma valiosa ferramenta para orientar as empresas a uma cultura de autoanálise e prestação de contas, levando a mudanças na forma como os negócios são conduzidos e, consequentemente, traz melhorias nas condições de trabalho e práticas socioambientais ao longo de toda a indústria.

Portanto, divulgar informações publicamente pode trazer benefícios significativos e de longo prazo para as empresas, gerar melhores resultados para os trabalhadores, mitigar impactos sociais e ambientais e facilitar o acesso a informação aos consumidores.

Baixe o Índice de Transparência da Moda Brasil 2018 aqui e acesse o site para saber mais sobre o Fashion Revolution.

Por Eloisa Artuso

Eloisa Artuso é designer, pesquisadora, diretora educacional do Fashion Revolution Brasil e professora de Design Sustentável.