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O PROFISSIONAL SLASH

Por Sabina Deweik  

Em minhas palestras e cursos, eu exponho as minhas concepções sobre o futuro a partir das análises de comportamento e de consumo que realizo cotidianamente. O que faço me dá abertura para estudar inúmeros assuntos que estão sob o enorme “guarda-chuva” chamado de futuro, mas aqui vou discutir um pouco a respeito de como eu construí o meu presente quando ainda ele ainda era um futuro e sobre uma reflexão que tangenciou a discussão sobre o futuro do trabalho.  

CHAMADO DE ALMA

Há anos atrás me joguei em um aprendizado transformacional chamado coaching ontológico. Na época não tinha a menor ideia onde aquela estrada me levaria e nem tão claro o porque de tê-la escolhido. Só fui. Fiquei me perguntando se não seria melhor ter feito todo aquele investimento em um mega blaster curso de inovação já que durante mais de 15 anos havia me dedicado inteiramente ao meu trabalho como caçadora de tendências e pesquisadora de comportamento.  
Apesar da minha decisão, não deixei de ser uma caçadora de tendências full time, pois meu pensamento e meu olhar são de uma caçadora de tendências e essas são ferramentas que não são simplesmente desligáveis, elas sempre estão ali, trabalhando e criando insights de inovação. Pensando nisso que decidi gravar um curso online de Cool Hunting com a Escola São Paulo no qual divido com os alunos quais ferramentas são essas e como eu as opero para ser um profissional em constante atualização.  

Foi apenas quando terminei todo o processo, diga-se de passagem me “viraram do avesso”, é que entendi o que havia me mobilizado nessa direção. Entendi que houve um chamado de alma por criar e dar um sentido maior a minha existência. Diz-se na antroposofia que é na virada deste setênio (contagem de 7 em sete anos), aos 42 anos, que vamos em busca de aprendermos com as nossas escolhas e estamos prontos para encarar a vida com mais sabedoria e espiritualidade.  

Foi exatamente aos 42 anos que me joguei nessa formação. Depois, entendi profundamente que aquilo que me move na vida é compreender o comportamento humano. Como caçadora de tendências, do ponto de vista social, detectar como os comportamentos humanos se manifestam em tendências. Como coach ontológico, olhando para os comportamentos humanos individuais e como eles se expressam nas histórias de vida.  


OS SLASH/BARRA, BARRA, BARRA

A angustia de não saber me definir: jornalista de formação, palestrante, educadora, caçadora de tendências, pesquisadora e também coach ontológico, deu lugar a um entendimento voltado ao futuro das profissões. Foi aí que percebi que a inquietação de não saber me colocar em uma única caixa não era meramente uma angústia pessoal. Era um fenômeno social chamado Slash Career ou Carreiras Slash.  

Os profissionais chamados Slash (termo popularizado pela escritora nova iorquina Marci Alboher em seu livro “Uma Pessoa/ Múltiplas Carreiras: O Guia das Carreiras Slash”), são aqueles que precisam da barra para poder responder à pergunta: Qual sua profissão? Aqui no Brasil conhecido como o “profissional barra, barra, barra”.  

É um modelo híbrido que reflete, em certa medida, a necessidade das pessoas de realizar todo o seu potencial, com diferentes formas de atuação. Em meu caso, refletiu-se em meu potencial ser expresso com várias atuações: em inovação mas também em acompanhar seres humanos a abrir novas perspectivas para viver com mais bem estar e coerência.  

O fenômeno de ter várias carreiras simultaneamente está ganhando cada vez mais adeptos por conta da flexibilização do mercado e da busca por propósito no mundo profissional. Segundo a autora Marci Alboher, pessoas com carreiras Slash são aquelas que tem múltiplos fluxos de renda simultaneamente de diferentes carreiras.  

Muitas pessoas tendem a confundir um estilo de vida Slash com o trabalho em tempo parcial. Uma diferença fundamental é que, em uma carreira Slash, todo trabalho é conectado de um jeito ou de outro com os outros. Há um efeito de cruzamento e todos eles desempenham um papel no planejamento geral de carreira. A maioria das pessoas opta por uma carreira de Slash porque não consegue encontrar um único emprego satisfatório. O Slash permite experimentar, encontrar uma direção e aprimorar habilidades diferentes.  

A própria autora Marci expandiu sua carreira original como advogada ao negociar um acordo de trabalho flexível, que lhe permitia viajar e buscar outras carreiras como jornalista / autor, palestrante e coach de escritores aspirantes. Hoje, ela se identifica como líder de autora / palestrante / líder sem fins lucrativos, embora muitas vezes conte com sua experiência em direito e jornalismo.  

Um dado curioso é que ter múltiplas carreiras ao mesmo estava associada a profissões mais criativas como fotógrafo/escritor porém, atualmente, principalmente com a geração dos millennials, o fenômeno tem se tornado mainstream também com carreiras mais tradicionais. É que para essa geração, o trabalho não é apenas uma fonte de renda mas também uma esfera de realização pessoal. A sharing economy e o crescimento da tecnologia também proporcionaram um aumento desse tipo de atuação como por exemplo motorista de uber/ host do airbnb/blogger/youtuber.  

PORQUE SE TORNAR UM PROFISSIONAL SLASH?

Ter uma carreira não linear não fazia parte do pensamento de emprego há vinte anos atrás. Os empregadores até penalizavam carreiras não lineares em seus processos de recrutamento. Hoje, as organizações buscam maior agilidade e flexibilidade em termos de modelos de emprego. No futuro próximo, as organizações tenderão a contratar funcionários em tempo parcial, remotos e flexíveis.  

Do ponto de vista pessoal, poder abraçar diferentes paixões e talentos, dá a possibilidade de assumir múltiplas identidades. Não é preciso abrir mão do que você ama em nome do trabalho. Sem falar nas múltiplas fontes de renda e na possibilidade de equilibrar vida pessoal e profissional, unindo hobbies com a profissão como por exemplo um jornalista, que é coach mas também é músico como freelancer.  

Se você também já é ou se sente híbrido provavelmente você já está vivendo no futuro. E se formos mais a fundo, o gênio da renascença Leonardo da Vinci, já vivia desta forma. Ele era artista/ inventor/ pintor/ escultor/ desenhista/ cientista/ engenheiro/ anatomista/ matemático/ arquiteto/ botânico/ poeta/ músico. Imaginem desconsiderar uma das barras? Da Vinci provavelmente não expressaria todo o seu potencial e seu talento e não seria essa referência na história da humanidade. E você? Quais talentos você ainda não expressou? O que te impede de se tornar um profissional slash?


#escolasaopaulo #descubra #reinvente #viva

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CULTURA E CIDADANIA À MESA

Cada um tem uma receita para se sentir bem à mesa: a presença de amigos e familiares, a experiência de comer algo novo, a certeza de ingerir um alimento saudável e natural. Há quem queira alimentar corpo e alma. Ou apenas manter o bom funcionamento da máquina humana.

COMER O QUÊ?

O filme apresenta o cotidiano de uma série de personagens ligados ao mundo da alimentação, de chefs consagrados a produtores rurais, passando por especialistas em nutrição, economia e gastronomia, que apresentam à atriz e nutricionista Graziela Mantoanelli as diversas dimensões e possibilidades da boa alimentação.

Com direção de Leonardo Brant, COMER O QUÊ? serve ao público um banquete de sabores, imagens, reflexões e emoções, de maneira leve e despretensiosa. Afeto, saúde, cultura, indústria e educação formam equações possíveis entre desfrute e cuidado, consciência e espontaneidade, equilíbrio e bem estar.

“Eu não entendo a cozinha como arte, mas como expressão artística. A cozinha confere ao autor a possibilidade de se expressar através da arte. Essa expressão artística é incontestável”, diz o chef Alex Atala no filme, que também traz depoimentos da chef Helena Rizzo, da nutricionista e apresentadora de TV Bela Gil, do professor de Educação Física e consultor Marcio Atalla, do ator e produtor de alimentos orgânicos Marcos Palmeira, do secretário de Política Agrícola do Ministério da Agricultura, André Nassar, do jornalista especializado em gastronomia Josimar Melo e da ativista chef e nutricionista Neka Menna Barreto, entre outros.

O DIRETOR

“Nos últimos 20 anos eu estive envolvido com pesquisa cultural. De uns tempos para cá, me dei conta de que aquilo que eu estava pesquisando, sobretudo política e mercado cultural, tinha muito pouco efeito na vida das pessoas. Então passei a me envolver com questões culturais mais cotidianas, que têm a ver com todos nós. E comida é um desses temas”, conta Brant.

Para ele, as nossas escolhas em relação à alimentação dizem muito sobre quem somos, as relações que desejamos manter com as pessoas ao nosso redor e com o planeta. O diretor acredita que os hábitos alimentares de uma sociedade são determinantes em seu modelo político e econômico. “Revelam também como é a nossa relação interior, com o corpo, saúde, cultura e espiritualidade”.

A COLABORAÇÃO

O filme foi produzido pela Deusdará Filmes, empresa de Brant, e pela Gaia Oficina de Cultura. Contou com a realização do Ministério da Cultura, por meio da Lei de Federal de Incentivo e patrocínio da Alelo.

Com a colaboração de Caio Amon e Graziela Mantoanelli, Brant buscou personagens que misturassem diferentes realidades, visões e percepções a respeito da alimentação. “A ideia por trás dessa curadoria é tirar a alimentação do campo do certo e do errado, nos libertar um pouco dos dogmas e dos regimes fechados. A ideia é pensar na autonomia que cada um tem de escolher o seu próprio jeito de alimentar, e fazer relações mais amplas, com o modelo econômico e social”, explica o diretor.

A MOBILIZAÇÃO SOCIAL

Alimentação também é política, e a partir dela é possível dialogar sobre temas como agronegócio, formas de sociabilidade a partir da comida, a incorporação de paisagens brasileiras à mesa, alimentos orgânicos, diversidade, saúde e muitos outros.

COMER O QUÊ? aborda essas questões de forma descontraída, pela própria fala dos entrevistados, e estimula o debate.

Como parte de uma iniciativa de mobilização realizada pela Taturana Mobilização Social, o filme já circulou por cidades como Belém, Brasília, Fortaleza, Niterói e São Paulo em sessões especiais de pré-lançamento, e foi exibido gratuitamente em universidades, equipamentos públicos e cineclubes.

Depois do lançamento oficial, o filme voltou para esse circuito, e está disponível para exibição em centros culturais, escolas, coletivos, cineclubes, universidades e qualquer outro equipamento de interesse público.

Para fazer parte da rede de exibidores, basta acessar a página do filme e se cadastrar.

#escolasãopaulo #descubra #reinvente #viva

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O FUTURO É FEMININO

Por Sabina Deweik

O nome deste post faz referência a uma campanha de conscientização a respeito dos direitos das mulheres que vem tomando força no mundo todo. Elas reivindicam a correção de atrasos sociais, institucionais e constitucionais, a fim de finalmente alcançar uma sociedade equitária em oportunidades para homens e mulheres. Mas a campanha também nos leva a refletir a respeito de quais valores queremos imprimir no mundo, afinal o ser feminino está vinculado à diversas questões cotidianas que, se valorizadas, caminharemos para uma nova sociedade com novas perspectivas.

O PASSADO É MASCULINO

Há muitos anos a humanidade está vivendo uma era de valores masculinos. Em todas as esferas de nossa vida aprendemos a competitividade, o individualismo, a ação, o foco em resultados, os resultados a qualquer custo, a racionalidade. Esta forma de viver e enxergar o mundo e as coisas está dando espaço à emocionalidade, à colaboração, à intuição, ao cuidado, à empatia — valores esses ligados ao feminino. E aqui não entra em questão o gênero masculino ou feminino, mas de uma forma de ser, viver, trabalhar e perceber o nosso entorno de maneira distinta.

Se pensarmos no mundo do trabalho, fica fácil entender o quanto nos movemos até agora segundo padrões do masculino. No mundo organizacional, por exemplo, as habilidades até então requisitadas em um colaborador eram sua capacidade analítica e seu poder de gerar números e resultados. Até mesmo a competição foi super- valorizada. A mentalidade era: tenho que ser melhor que meu colega porque posso não receber a tão desejada promoção. Ou ainda: Se ele/ela se der bem eu não vou me dar bem.

FALHAMOS. E AGORA?

Aprendemos inúmeros valores herdados da Revolução Industrial. Adam Smith, em 1776, escreveu em A Riqueza das Nações: “Individualismo é Bom para toda a sociedade” ou “O consumo é a única finalidade e o único propósito de toda produção”. Esse modelo foi incorporado por nós como a única lógica vigente. Um modelo social e econômico impondo sucesso como uma forma para atingir a felicidade ou ainda a ideia de que mais é melhor. Um modelo no qual o fazer sozinho, o não compartilhar fazem parte da lógica. Um modelo que nos distanciou das emoções, da consciência, do sentido maior. O resultado: uma população com altos índices de depressão, suicídio, burn out, estresse, ansiedade.

De acordo com uma pesquisa da Organização Mundial da Saúde (OMS), a depressão será até 2020, o maior motivo de afastamento do trabalho no mundo. No Brasil, cerca de 5,8% da população tem a doença, o que faz do país o campeão de casos na América Latina. Os índices demonstram que algo neste sistema está falhando. O aumento de bens de consumo e produtividade não é proporcional ao aumento de felicidade e bem-estar.

NOVOS VALORES EMERGENTES

Mas a boa notícia é que a antiga lógica está começando a ser revisitada, dando lugar a uma série de valores emergentes que apontam a bússola para outra direção. Se pensarmos nos modelos de negócios mais inovadores de hoje, desde Spotify, Netflix, Waze, Google, Airbnb, Uber e outros, há sempre a lógica do compartilhar, de gerar experiência para o usuário, de democratizar o uso e levar a um número cada vez maior de pessoas a se beneficiar do serviço/produto. Sem falar que nenhum deles trabalha com um bem físico, nem possui nada. Essa é uma mudança de mentalidade importante. Passar da posse ao acesso. Vamos desfazendo a necessidade de pagar pela propriedade de algo para ter a experiência com algo.

Segundo Jeremy Rifkin em seu livro A Era do Acesso, “A transformação do capitalismo industrial para cultural está desafiando muitas de nossas suposições básicas sobre o que constitui a sociedade humana. As antigas instituições fundadas nas relações com propriedade, nas trocas de mercado e no acúmulo de bens materiais estão sendo arrancadas lentamente para dar lugar a uma era em que a cultura se torna o recurso comercial mais importante, o tempo e a atenção se tornam a posse mais valiosa e a própria vida de cada indivíduo se torna o melhor mercado”.

UM NOVO SER HUMANO

Esse tipo de relação está dando lugar a um ser humano diferente, com um novo significado do ser, em detrimento do ter. Essa prerrogativa está sendo impulsionada pelas novas gerações, principalmente a geração Y, nascida entre fins dos anos 70 e início dos anos 90, e a geração Z, nascidos entre o fim de 1992 a 2010. Esses jovens começaram a trazer à tona o conceito de propósito no trabalho. Para eles, assim como para a geração Z, o “fazer” precisa fazer sentido.

Quando nos perguntamos pelo sentido das coisas, estamos acessando uma maior consciência. Depois de muito tempo de resultados, de racionalidade, de ação, passamos a dar espaço para nossas emoções, dentro e fora do mundo corporativo. Nos permitimos, por exemplo, falar de empatia no mundo do trabalho.

O MASCULINO RESSIGNIFICADO

O masculino também está sendo ressignificado e hoje sua única função não é prover, mas cuidar, exercer outros papéis. Esses papéis ainda não estão consolidados, mas aos poucos sendo discutidos em inúmeras instâncias. No universo do consumo, as marcas já estão incorporando esses novos conceitos. A Axe por exemplo, por mais de uma década, realizava campanhas nas quais as mulheres perdiam a cabeça e controlavam seus impulsos sexuais quando confrontadas com as fragrâncias da marca. Mas há dois anos, a estratégia é outra. Desmascarando estereótipos e com mais inclusão, a marca retratou homens usando sua confiança e sabedoria, não necessariamente as fragrâncias, para conquistar mulheres.

UMA ERA MAIS FEMININA

A busca pelo conhecimento, a valorização do silêncio, da natureza, a valorização de técnicas de colaboração, de autoconhecimento como CNV (Comunicação Não Violenta), Mindfulness, Yoga ou o crescimento do coaching como ferramenta de desenvolvimento humano apontam para o mesmo lugar: a emergência de uma era mais feminina. O livro Liderança Shakti dos indianos Nilima Bhat, criadora dessa filosofia, e Raj Sisodia, líder do movimento “Capitalismo Consciente”, fala desta transição de paradigma:

“Tanto os homens quanto as mulheres foram condicionados a valorizar características de liderança que tradicionalmente são consideradas masculinas: hierárquica, individualista e militar”, dizem eles. “Nós reanimamos um arquétipo feminino de liderança: regenerador, cooperativo, criativo e empático”, acrescentam os autores.

No curso Os Novos Paradigmas do Futuro e as Tendências Emergentes da Escola São Paulo, exponho detalhes desta e de muitas outras novas formas de se comportar e de ser em sociedade. Nesse conteúdo, explico e faço análises de cases e movimentos de transformação, mostrando os prováveis próximos passos das pessoas, do mercado e das relações estabelecidas por eles.

POR QUE O FEMININO?

O feminino é circular, emocional, intuitivo, colaborativo, empático, compassivo, flexível, adaptável, acolhedor, solidário, multidisciplinar. O feminino permite um encontro genuíno com o eu, com a consciência de si, do outro, do mundo. Independente de gênero, o que o mundo precisa é trazer esses valores do feminino para todas as esferas e domínios da vida. Reconhecer o feminino em si, é reconhecer nossos valores mais humanos. É um antídoto para muitos anos de desconexão e não consciência.

#escolasaopaulo #descubra #reinvente #viva

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O FOMO E OS NOVOS PARADIGMAS

Por Sabina Deweik

A sociedade contemporânea ocidental conta com inúmeras vantagens em relação às gerações anteriores. A tecnologia nunca foi tão avançada, a inovação e a criatividade nunca foram tão valorizadas. Mas junto dessas benesses, as nossas relações com as coisas e pessoas também mudaram. O tempo se acelerou, nos isolamos no mundo digital e doenças relacionadas aos novos hábitos, como a ansiedade e a depressão, se intensificaram e se “espalharam”. Por conta disso, é importante entendermos o que está acontecendo conosco.

O FOMO

Em um mundo repleto de novos comportamentos e mudanças, fica difícil radiografar a realidade e direcionar a bússola que nos dá a rota para saber, por exemplo, como empreender, como falar com o consumidor, quais estratégias usar em seu negócio, o que é preciso para que uma marca seja relevante. Vivemos o tempo todo uma espécie de FOMO (sigla em inglês que quer dizer Fear of Missing Out), a crescente síndrome da contemporaneidade na qual estamos o tempo todo com a sensação de que não sabemos o que escolher porque parece que sempre estamos perdendo uma enormidade de oportunidades.

Estudando, observando e captando tendências e comportamentos aprendemos a olhar não apenas para os movimentos passageiros mas também para aqueles que tem uma maior duração. Como caçadores de tendências, acompanhamos muitas vezes os chamados “Trend Reports” (relatórios de tendências) e percebemos que na realidade o que é apresentado como um novo movimento, é apenas a evolução de um comportamento manifestado de outra forma. Por isso, ao invés de falar apenas de tendências, olhamos para os chamados Paradigmas do Futuro.

As tendências podem causar o tal do FOMO. São tantos os novos comportamentos que uma empresa, uma marca, pode ficar perdida e não saber o que escolher para aplicar em seu negócio. Já os paradigmas são a certeza de que um movimento pode durar 20 anos. É aí que sentimos o JOMO (Joy of Missing Out), que prega justamente a alegria de não escolher todas as opções.

OS PARADIGMAS

Os Paradigmas são novas forças que direcionarão o mercado e a sociedade: são novos parâmetros culturais, comerciais, “empreendedoriais” que estão trazendo uma mudança radical na construção do futuro. Eles representam as novas direções. São linhas guia para o desenvolvimento de todas as estratégias e projetos de empresas, instituições e consumidores. Um paradigma é uma mudança no imaginário coletivo mundial, uma nova consciência global da qual marcas, instituições, organizações ou indivíduos não podem escapar. Diferente de uma macro tendência, os paradigmas tem um núcleo de estabilidade maior, portanto tem uma duração no tempo também maior. Os paradigmas perduram por até 20 anos ao passo que as macro tendências tem uma vigência de 6 ou 7 anos.

Os paradigmas apresentados abaixo são fruto de mais de 20 anos de observação e monitoramento de comportamentos em diferentes setores (são baseados na experiência com o renomado instituto de pesquisa de tendências e consultoria estratégica Future Concept Lab, com sede em Milão). Eles representam as chaves de leitura para compreender as tendências e suas evoluções no tempo. É como uma moldura, um frame que enquadra múltiplos comportamentos que conversam com o mesmo impulso. O conhecimento dos paradigmas nos dá a possibilidade de entendimento de inúmeros comportamentos. Sendo assim, para um único paradigma, podem existir inúmeras tendências coexistindo.

Como afirma Francesco Morace no livro O que é o Futuro, os paradigmas não são apenas dimensões descritivas e analíticas , mas sim dimensões conceituais e geradoras por meio das quais é possível imaginar projetos e produtos voltados para o futuro. Então vamos comigo conhecer essas 4 forças que trazem clareza e foco: Crucial & Sustainable, Trust & Sharing, Quick & Deep, , Unique & Universal.

CRUCIAL & SUSTAINABLE

Esse paradigma diz respeito ao tema da sustentabilidade que está moldando o futuro do nosso planeta e de todos os consumidores do mundo.

O Crucial & Sustainable é “Voltar às origens, protegendo ao longo do tempo tudo aquilo que nos circunda: nosso patrimônio econômico, ambiental e, ao mesmo tempo, também social e cultural. Redescobrir a importância dos recursos essenciais, que demonstram ter um papel decisivo em nossas vidas”, diz Francesco Morace no livro O que é o futuro?

Dica: Se uma empresa quer se manter relevante nos próximos 20 anos ela precisa refletir em como sua marca pode pensar no coletivo maior. Essa era de transição é definida pela busca dos sentidos e do propósito. As marcas podem ser disruptivas mas também com um impacto social. Se uma marca pensa e age na era industrial, ela está em um tempo diferente do que vive o seu consumidor”.

Um exemplo é a Tesla que faz carros elétricos com custo baixo e está mudando a mobilidade urbana e impactando o planeta positivamente. O erro está em ver o negócio como uma fábrica gigante de produzir produtos ao invés de cuidar de sistemas humanos reais.

QUICK & DEEP

Esse paradigma diz respeito à qualidade do futuro que estará cada vez mais em sintonia com a ideia de respeito pelas pessoas normais, pelos consumidores em busca de experiências felizes, sem perseguir a quimera do luxo. A capacidade de ser rápido, oportuno e acessível deverá ser conciliada com a ideia de felicidade e profundidade de experiência.

Dica: Acessibilidade com qualidade. O futuro pede pelo cruzamento destas duas dimensões. Um bom exemplo é a o serviço Rent The Runway que recentemente anunciou uma parceria com o varejista de itens para casa West Welm. A partir da ideia de que a casa costumava ser um lugar privado, mas agora é um lugar público, ou seja os interiores são hoje flexíveis e instagramáveis, é possível combinar qualidade e rapidez. A parceria responde às mudanças de comportamento dos Millennials que usam produtos de interiores para ter controle criativo sobre espaços alugados. Já que os Millennials e a Gen Z estão constantemente postando fotos de si mesmos em suas casas no Instagram, há uma necessidade de mudança dos interiores sem um custo alto. O serviço atende essa necessidade Quick & Deep.

TRUST & SHARING

O futuro é caracterizado por uma relação muito mais próxima e de confiança, não só com a marca, mas também com toda a empresa em seu complexo orgânico. As grandes empresas terão um novo papel de liderança e responsabilidade social e cultural muito além de seu produto. O compartilhamento irá encontrar a sua importância entre o real e o virtual e a explosão de novas tecnologias e a acelerada afirmação das redes sociais tem papel relevante na transparência da mensagem.

O paradigma Trust & Sharing, segundo Francesco Morace no libro O que é o Futuro?, “redefine uma cadeia de valor que toma forma atravessando todos os setores da sociedade e do mercado: a reciprocidade das relações repropõe uma economia das “não equivalências”, regenerando uma relação baseada na lealdade e no compartilhamento entre as pessoas, instituições, empresas e consumidores”.

Dica: Com a possibilidade de compartilharmos cada vez mais, torna-se essencial o item confiança e transparência. A Yellow é um ótimo exemplo de Trust & Sharing — os patinetes compartilhados que tomaram conta das ciclovias, calçadas e ruas em uma grande parte das capitais brasileiras. O serviço vai crescer ainda mais: a Uber, por exemplo, pretende chegar ao mercado brasileiro com bicicletas e patinetes ainda neste ano. O modelo é apostar na confiança. Os patinetes ficam soltos nas ruas e o usuário desbloqueia seu uso pelo app. A localização é compartilhada no aplicativo para saber onde está o veículo. Depois que você usa, outra pessoa pode utilizar o patinete. Um modelo cada vez mais crescente de pensar os negócios desafiando o antigo sistema do fazer individual e da propriedade privada.

UNIQUE & UNIVERSAL

Esse paradigma diz respeito a capacidade de produzir e comunicar uma identidade única e distinta, inclusiva e não exclusiva, fundada na dimensão cultural de sua história, de sua identidade. Em um mundo global, torna-se essencial negócios ou pessoas que assumem seu caráter único, sua personalidade, sua maneira única de ser e se expressar no mundo seja como marcar ou como ser humano. A diversidade constitui a condição do sucesso dos negócios no futuro.

Dica: O caráter único é o que diferencia. A diversidade não é momentânea, não é tema de nicho, ela permite a inclusão de quem ficou a parte durante muito tempo. É o ponto de partida para ficarmos mais perto das pessoas e do consumidor. Um exemplo é o reposicionamento da Mattel, fabricante da famosa boneca Barbie que nos anos 80 refletia um modelo de consumo aspiracional, com uma única boneca magra, alta, loira. Trazendo o novo paradigma, a Mattel trabalha hoje com uma gama de bonecas com diferentes biotipos para se comunicar com essa nova geração.

No curso de Cool Hunting da Escola São Paulo, eu explico as minhas metodologias para fazer análises ricas da realidade e no curso Os Novos Paradigmas do Futuro e as Tendências Emergentes, também da Escola São Paulo, conto todos os detalhes desses novos movimentos, seus desdobramentos e muitas outras informações a respeito do que veremos emergir nos próximos anos.

#escolasaopaulo #descubra #reinvente #viva

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BJÖRK, YOUTUBE E A REALIDADE VIRTUAL

É lugar comum dizer que Björk é um dos ícones culturais mais importantes do século 20. Gostando ou não de suas músicas, as suas pesquisas artísticas, de linguagem, de experimentação e tecnologia não têm como passar desapercebidas. Com seu posicionamento de artista transmídia, ela desafiou e segue desbravando e desestruturando o status quo musical. Como lembra Ali Prando, em seu texto no site do MIS, “A artista, que se confessa fascinada com o uso da tecnologia, é aclamada pela crítica especializada por combinar diversos gêneros musicais, como música eletrônica, jazz, trip hop, folk e ethereal wave, mantendo-se eternamente inclassificável.”

Cultura Pop

Quando falamos de cultura pop, os valores éticos e estéticos contemporâneos aparecem de formas diferentes, mas são sempre muito importantes para que possamos entender onde estamos, e, talvez (por que não?), para onde vamos.

“Sempre acostumados a nos admirar com cada evolução musical e artística que Björk nos apresenta – que são, de fato, pequenas grandes revoluções –, não nos damos conta de que ela, na mesma medida em que nos traz todas essas novidades, também oferece uma questão ligeiramente perturbadora: para onde vai o futuro?”– *Zeca Camargo

*Trecho do texto produzido por Zeca Camargo para um folder especial que se transforma em um pôster, com textos também de Björk e Cleber Papa (diretor cultural do MIS).

A Exposição de Björk no Brasil

Björk Digital é um projeto de realidade virtual de Björk em colaboração com alguns dos maiores artistas visuais do mundo, como Andrew Thomas Huang e Jesse Kanda. A exposição-instalação traz ao Brasil seis trabalhos da artista, extraídos de seu penúltimo álbum, Vulnicura**, lançado em 2015: Stonemilker, Black Lake, Mouth Mantra, Quicksand, Family e Notget. Além dos seis vídeos, Björk Digital apresenta o projeto educativo Biophilia e uma sala de cinema onde o público confere diversos clipes da carreira da artista feitos por gênios do videoclipe como Michel Gondry e Spike Jonze. A mostra, que estreou em Sydney (Austrália) em 2016 e já rodou o mundo, passando por Tóquio, Barcelona, Cidade do México, Londres, entre outras cidades, foi apresentada pela primeira vez no Brasil em São Paulo, onde esteve até 18 de agosto, e agora segue para o Rio de Janeiro, Belo Horizonte e Brasília.

Segundo a própria artista escreve no programa da exposição: “[…] pareceu natural invadir o circo particular que é a realidade virtual com um material como este: Vulnicura é o primeiro álbum meu que insistiu para que as músicas seguissem uma ordem cronológica. Depois que elas foram escritas, ficou claro que eu involuntariamente tinha esbarrado na narrativa de uma tragédia grega. A realidade virtual não é apenas uma continuidade natural do videoclipe, mas tem um potencial dramatúrgico ainda mais íntimo, ideal para esta jornada emocional”.

Quando Raimo Benedetti, artista e pesquisador, professor do curso “O Pré-Cinema e o YouTube”, conta sobre os Panoramas, começa nos dizendo que essas imensas estruturas são uma mídia morta, mas que a vontade de viver uma narrativa imersiva ainda é forte no imaginário das pessoas. E então, somos levados a entender como as sensações provocadas pela imersão da realidade virtual ou da realidade aumentada seguem confundindo nossos horizontes e percepções.

Imagens que pulam aos nossos olhos, nos envolvem e nos fazem sentir transportados para outro lugar. Assim eram os Panoramas, imagens gigantescas, que envolviam e deixaram boquiabertas as pessoas no final do século XIX. Hoje, a realidade virtual faz conosco a mesma coisa. Ficamos muitas vezes perdidos em um “labirinto confuso”, às vezes enjoados, mas sempre admirados.

Assim como nossos antepassados desbravadores e experimentadores, Björk testa, experimenta, propõe. A mostra é dividida em seis áreas compostas por realidade virtual e elementos audiovisuais imersivos que demandam a interação dos visitantes. Em muitos momentos, a tecnologia ainda deixa a desejar, como no caso do peso dos óculos, que depois de um tempo começam a incomodar.

björk: stonemilker (360 degree virtual reality)

Na primeira parte da exposição, cada grupo de visitantes entra em salas com bancos e óculos de realidade virtual para assistir sentados aos clipes. O primeiro deles é Stonemilker (em português, “Alguém que tira leite de pedra”), que a artista fez meses antes de sua separação, com apenas uma paisagem de praia e a atuação de Björk se movendo entre as cenas. Existe uma versão em 360º disponível no YouTube, mas a sensação gerada pela realidade virtual é mais intensa e bem interessante.

björk: black lake

O segundo vídeo vai na mesma frequência apresentando o clipe de Black Lake, filmado em locação na Islândia pelo premiado diretor Andrew Thomas Huang. O filme, que estreou em 2015, tem dez minutos de duração e foi encomendado pelo Museu de Arte Moderna de Nova York em. O clipe, feito meses após a separação da cantora, é muito melancólico, refletindo ideias de dor, perecimento e renascimento.

Em uma terceira sala, dois vídeos são rodados na sequência. O primeiro é o clipe da música “Quicksand”, dirigido por Warren Du Preez & Nick Thornton Jones, uma viagem psicodélica, cheia de cores e poesia.

bjork: mouth mantra

O segundo clipe, “Mouth Mantra”, é uma viagem surreal dentro (literalmente) da boca da cantora, que Björk fez quando precisou de uma cirurgia na garganta, e foi dirigido por Jesse Kanda. Fazendo um paralelo com o Cinema das atrações, não existe aqui uma narrativa. As imagens em si não são lineares, mas imersivas e provocadoras de sensações.

bjork: family

A experiência interativa segue para uma sala com mais dois vídeos em sequência, agora de pé. Para “Family”, o visitante é equipado com controles remotos que, com os óculos de RV se transformam em mãos. Apertando os botões, os controles tremem e seus braços virtuais passam a se mover e serem rodeados por fios que saem de uma grande vulva.

bjork: notget

Em seguida entra “Notget”, dirigido por Warren Du Preez & Nick Thornton Jones, uma Björk gigante dança rodeada de luzes e chega a atravessar seu corpo.

No MIS, em São Paulo, o segundo andar da exposição foi dividido em duas salas: Biophilia e Cinema. A primeira trazia uma área educativa baseada no álbum Biophilia (2011), com tablets permitindo a composição de músicas e a exploração da relação entre o mundo natural e a tecnologia. A segunda sala apresentava dezenas de clipes da carreira da artista remasterizados em alta definição, como Armyof Me (Michel Gondry), It’s Oh So Quiet (Spike Jonze) eAll Is Full of Love (Chris Cunningham), incluindo o seu videoclipe mais recente Tabula Rasa (Tobias Gremmler).

**Vulnicura videos – LISTA

Imagem de destaque retirada do site oficial da exposição Björk Digital no MIS
Créditos: Avatar Family VR | Imagem: Andrew Thomas Huang

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NEGÓCIOS COM PROPÓSITO PODEM AUMENTAR A LUCRATIVIDADE

Quando o lucro é aliado a um propósito

Você já ouviu falar em negócios sociais? O termo foi cunhado na década de 1970 pelo economista Muhammad Yunus. Ganhador do Prêmio Nobel da Paz, em 2006, ele é o fundador do Yunus Social Business Global Initiatives, um fundo de investimento sem fins lucrativos que transforma doações filantrópicas em investimentos em negócios sociais. A iniciativa tem uma unidade brasileira, a Yunus Negócios Sociais Brasil.

Desde a década de 1990, os negócios sociais foram ganhando cada vez mais adeptos no mundo, sobretudo nos EUA e na Europa. Segundo estimativa do banco de investimento JPMorgan Chase, os negócios sociais devem movimentar US$ 1 trilhão no mundo todo até 2020 – R$ 50 bilhões somente no Brasil. “Negócios sociais são empresas que têm como foco principal servir a base da pirâmide. O impacto social é o foco central do trabalho, mas, para isto, elas utilizam mecanismos de mercado, como a venda de produtos. Pode ser uma empresa que visa o lucro, no entanto, que tenha como sua atividade principal resolver um problema social”, explica Renato Kiyama, Gerente da Aceleradora de Impacto da Artemisia, em entrevista à Exame. A Artemisia é uma organização sem fins lucrativos, pioneira na disseminação e no fomento de negócios de impacto social no Brasil, que já acelerou mais de 100 negócios e já ofereceu capacitação para outros 300.

Negócios que tendem a crescer cada vez mais

A startup de compras on-line Welight é um exemplo. Criado em 2016, o negócio é um misto de empresa social e ONG e atua em três ferramentas: site, aplicativo e plug-in. Ao fazer uma compra pelo site ou pelo aplicativo da startup em uma das mil lojas parceiras da iniciativa, a Welight repassa entre 0,5% e 15% do valor do produto adquirido. Parte deste dinheiro vai para um dos 30 projetos sociais listados pelo site dedicados a questões de gênero, educação, combate à fome, meio ambiente, entre outras. A Welight fica com cerca de 10% do total arrecadado com as comissões para se manter. Todo o processo é auditável e fica disponível para os clientes. “Todas as relações de consumo podem ser uma geração de impacto social escalável. A ideia é globalizar a operação, já que desafios humanitários e ambientais existem em todos os lugares”, explica Pedro Paulo Lins e Silva, um dos criadores da iniciativa, em entrevista ao Draft.

Oportunidades não faltam

Outra iniciativa bastante interessante é a da Signa, que é atualmente uma das principais referências de educação online para surdos. Criada há dois anos, a startup oferece mais de 20 cursos, já atendeu mais de 1.300 alunos e tem um faturamento mensal de R$ 40 mil. A próxima etapa da empresa é abrir espaço para que os próprios alunos criem novos cursos (uma maneira da startup aumentar o portfólio de cursos e oferecer aos estudantes uma nova fonte de renda) e expandir a proposta para outros países. “O empreendedorismo é a resposta para melhorar a sociedade”, afirma Randall Kempner, diretor executivo da Aspen Network of Development Entrepreneurs (Ande), rede global de apoio a negócios de impacto social.

A iniciativa conta com 280 integrantes em todo o mundo e auxilia empreendedores em 150 países emergentes. Em entrevista à revista Pequenas Empresas e Grandes Negócios, ele explica que o Brasil ainda está descobrindo o potencial dos negócios sociais. Um estudo realizado pela Ande, em 2016, conseguiu identificar apenas 29 investidores de impacto locais, com US$ 177 milhões para investir, a maioria na região Sudeste. Ainda assim, ele espera que o levantamento deste ano irá apresentar um crescimento no número de adeptos ao modelo. “Eu gostaria que as grandes companhias percebessem que investir em negócios sociais pode ser uma grande oportunidade. Você tem a possibilidade de lucrar e causar impacto social nas áreas em que atua. Então, vá atrás disso, explore diferentes caminhos.”

Como criar novos modelos de negócios para o design no Brasil e pensar outras economias?

A FIA {oficina de artesãs} nasceu da vontade de repensar os laços entre mercado, artesãos, designers e consumidores.

Refletindo sobre formatos de comercialização tradicionais e em como minimizar os custos em toda a cadeia do artesanato para que o artesão pudesse ser mais valorizado, o projeto foi idealizado a partir de conversas durante oficinas ministradas na Casa da Economia Solidária pela designer Celina Hissa, diretora da marca Catarina Mina, para artesãs de Sobral (Ceará). 

Ao final das oficinas, com uma mini coleção criada e peças-piloto prontas para serem reproduzidas, veio à tona o principal desafio: como fazer com que aquelas peças, tão bonitas, feitas com tanto carinho e vontade chegassem até o consumidor final? E mais: como fazer com que as pessoas que se dedicaram ao artesanato – e que reinventaram seus processos – pudessem se sentir encorajadas, confiantes e seguras, inclusive financeiramente, com aquilo que produziram?

Juntas, Celina Hissa, Silvana Parente, do IADH, e Lívia Salomoni, especialista em marketing e comunicação, decidiram entrar no Catarse, mas de uma forma diferente. Por meio do financiamento coletivo, conseguiram 222 apoiadores e, em um mês, fizeram uma pré-venda de quase R$ 40.000,00. Assim foi dado o start financeiro para a primeira coleção. Hoje, a Fia tem uma pop-up no site da Catarina Mina, marca da designer Celina Hissa, que, em conjunto com a oficina de artesãs, criou coleções para marcas como a Neon e já fecharam parceria com a OppaDesign.

Segundo Eloisa Artuso, professora do curso online de Design Sustentável da Escola São Paulo, “O futuro da moda e do design precisam refletir a nova consciência de uma era em que designers e consumidores estão verdadeiramente preocupados com a pegada ecológica e social dos produtos. Precisamos finalmente entender que as coisas devem ser vistas a partir de outra perspectiva: onde ‘ser’ é mais importante do que ‘ter’. As mentes criativas podem combinar inovação e sustentabilidade para transformar comportamentos culturais e levar o consumo a um patamar de melhor qualidade para então conseguirmos fechar a equação de um planeta finito.”

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CULTURA TAMBÉM É NEGÓCIO

Em 2017, a exposição Queermuseu: Cartografias da Diferença na Arte Brasileira se transformou em assunto nacional ao ser retirada às pressas do Centro Cultural Santander, em Porto Alegre, em resposta a fortes críticas de grupos conservadores que viram nas obras apologia a pedofilia e zoofilia. Os contrários à mostra também chamavam atenção para o fato dela ter recebido R$ 800 mil via Lei Rouanet, um dinheiro, segundo eles, mau empregado.

Composta por 223 obras da década de 1950 até a atualidade de mais 80 artistas (como Lygia Clark, Leonilson e Adriana Varejão), a mostra buscava refletir sobre como o que é considerado estranho e fora do padrão da sociedade pode contribuir com a arte. “Para tratar do impacto cultural conceitual, artístico e histórico da palavra queer, trago obras que não são queer. Que são formalistas, que não têm nenhuma relação com questões de gênero e sexualidade”, afirmou o curador Gaudêncio Fidelis, em entrevista ao UOL. “Tanto que a narrativa difamatória em torno da exposição foi criada a partir de cinco obras, não mais do que isso”, acrescentou.

Mesmo com a recomendação do Ministério Público do Rio Grande do Sul, que concluiu que a exposição não fazia nenhuma apologia à pedofilia, a exposição foi encerrada pelo banco quase um mês antes da data prevista, o que gerou uma carta aberta de artistas e profissionais de arte que se queixavam do “aumento do ódio, da intolerância e da violência contra a liberdade de expressão nas artes e na educação.”

Em resposta ao fechamento, mais de 1.600 se organizaram pela internet e fizeram um dos maiores financiamentos coletivos já realizados no país. A iniciativa arrecadou mais de R$ 1 milhão que foram utilizados para remontar a exposição no espaço expositivo da Escola de Artes Visuais do Parque Lage, no Rio de Janeiro (parte do valor foi aplicado em melhorias no próprio Parque). Realizada entre os meses de agosto e setembro de 2018, a mostra recebeu 40 mil visitantes. A iniciativa colocou em debate a possibilidade do crowdfunding ser uma saída para artistas e instituições viabilizarem, com o apoio do público, projetos culturais, especialmente aqueles que não conseguem patrocínio da iniciativa privada.

A realização de projetos culturais no país acontece, na maioria das vezes, por meio do apoio de empresa através da Lei de Incentivo à Cultura, mais conhecida como Lei Rouanet. Em vigor desde 1991, a lei oferece abatimento fiscal em troca do investimento privado em projetos culturais. Atualmente, representa 80% da verba investida em cultura pelo governo e funciona com base em três vertentes: o mecenato, o Fundo Nacional de Cultura (FNC) e os Fundos de Investimento Artístico (Ficarts). No entanto, o mecanismo mais aplicado é o de mecenato. O FNC, em tese, tem a função de oferecer suporte a projetos menos atraentes para o mercado, mas, por depender principalmente da verba do governo, não tem obtido bons resultados – em 2015, por exemplo, representou pouco mais de 2%, conforme aponta reportagem do Nexo sobre os acertos e erros da Lei Rouanet.

O financiamento coletivo para cultura no país já funciona de maneira eficaz com publicações de livros, pequenas exposições e produções de música, teatro e cinema, mas ainda é pouco empregado nas artes plásticas. Em países como os EUA, a maior parte do dinheiro que financia a cultura vem de pessoas físicas. O Lincoln Center, em Nova York, por exemplo, tem mais de 70% dos investimentos feitos por pessoas físicas. Os interessados podem doar de US$ 50 a US$ 30 mil. “Instituições e eventos de arte que possuem o potencial de atrair uma grande quantidade de público ou que defendem causas específicas devem estar atentos a essas oportunidades”, pontua o curador Daniel Rangel em artigo publicado na Folha de S.Paulo. “Quem sabe um dia teremos uma Bienal de São Paulo financiada inteiramente pelas pessoas. Ou a programação de um Masp, por exemplo. Isso liberaria a verba das empresas para projetos com menos apelo de marketing, propiciando maior democratização dos recursos”, acrescenta. Iniciativas de promoção à cultura são sempre bem-vindas.

É importante pontuar que a proposta é um incentivo a mais a um dos setores mais aquecidos do país atualmente: o da economia criativa. De acordo com dados do Ministério da Cultura (MinC), divulgados no primeiro semestre de 2018, as atividades culturais e criativas representam 2,6% do PIB nacional, geram um milhão de empregos diretos e englobam 200 mil empresas e instituições, o que representa mais de 10,5 bilhões em impostos diretos e tem crescimento médio anual de 9,1%. O Brasil é o segundo maior mercado de cinema da América Latina em receita e o maior em vídeo on demand, TV Paga, games (deve dobrar em receita até 2021) e música. Mais que um dos principais ativos do país, a cultura é o canal por meio do qual cada pessoa tem a oportunidade de desenvolver o senso crítico e, por consequência, se tornar um melhor profissional e um cidadão mais consciente do seu papel no mundo.

Na Escola São Paulo, acreditamos que a economia criativa é um agente de transformação e que, por meio dela, podemos, juntos, repensar futuros possíveis. Estamos todos conectados, e todas as nossas ações profissionais e pessoais, afetam não só nossa carreira, mas o mundo como um todo.

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PERIFERIA EMPREENDEDORA

Em 2012, inspirado pelo livro O banqueiro dos pobres, do economista Muhammad Yunus (criador do termo Negócios Sociais), o jovem Thiago Vinícius criou o Banco Comunitário União Sampaio, no Capão Redondo, bairro onde mora na periferia de São Paulo. O capital de giro inicial foi de R$ 20 mil, captados via crowdfunding. A iniciativa funciona com duas carteiras, uma produtiva e outra para consumo. A primeira opera em reais, com juros de até 2%, e segunda com o Sampaio, moeda criada pela instituição, sem juros, que é aceita por diversos estabelecimentos da zona sul paulistana. Desde sua criação, o banco já movimentou mais de R$ 1 milhão.

Presidente da Associação das Mulheres de Paraisópolis, na zona sul paulistana, Elizandra Cerqueira criou o Bistrô & Café Mãos de Marias, iniciativa que, desde 2017, oferece cursos de capacitação e empreendedorismo para mulheres do bairro. Além disso, mantém uma horta orgânica de onde as cozinheiras tiram os ingredientes para fazer os pratos vendidos no espaço (o cardápio é composto por iguarias da culinária nacional, como virado à paulista, feijoada, bobó de camarão e moqueca de peixe, entre outros). O Bistrô tem o objetivo de apoiar as mulheres de Paraisópolis – atualmente, elas representam 53% da população local e chefiam 20% das famílias do bairro.

Thiago e Elizandra integram o grupo de quase 18 milhões de empreendedores das classes C, D e E que movimentam mais de R$ 228 bilhões por ano no país, segundo o Instituto Locomotiva e o Data Favela. Segundo levantamento da consultoria Data Popular, na última década, os negócios movimentados entre os 12,5 milhões de moradores de favelas geraram R$ 68,5 bilhões de renda anual. Um mercado cada vez mais forte e diverso que tem impactado diretamente os índices econômicos nacionais. “A periferia é a base da economia solidária”, afirma Thiago, em entrevista à revista Pequenas Empresas & Grandes Negócios.

Apesar dos números expressivos, os empreendedores da periferia ainda sofrem preconceito do mercado e têm dificuldade para encontrar investidores que os auxiliem a colocar os seus projetos em prática. “Muitos acreditam que quem mora nas periferias não tem muito conhecimento. Não levam muita fé no nosso trabalho”, afirma Elizandra, em entrevista à Pequenas Empresas & Grandes Negócios.

Mesmo diante destes entraves, é cada vez maior o número de iniciativas em curso com o objetivo de auxiliar projetos empreendedores das periferias das grandes cidades brasileiras. A Artemisia é uma delas. Dentre os projetos já apoiados pela aceleradora de negócios de impacto social está a boutique Krioula, criada no Capão Redondo, em São Paulo, que vende turbantes, colares, anéis e brincos inspirados na cultura afro. “Queremos focar o nosso trabalho cada vez mais nas regiões periféricas porque potenciais não faltam”, afirma Priscila Martins, gerente de relacionamento institucional da Artemisia, em entrevista à revista Época Negócios.

O Fundo de Aceleração para o Desenvolvimento Vela (FA.VELA), de Belo Horizonte, Minas Gerais, é outro espaço que vem auxiliando empreendedores da periferia. Em entrevista ao jornal Brasil Econômico, o presidente e cofundador da iniciativa, João Souza afirma que, somente em fevereiro de 2017, 48 negócios foram gerados para garantir o crescimento e a sustentabilidade das iniciativas lideradas pelos 35 empreendedores periféricos. Atualmente, já foram acelerados 122 negócios e formados mais de 130 empreendedores. De acordo com o Fundo, 42% atuam na área de serviços, 40,3% em fabricação de alimentos/artesanato e 17,7% na área comercial. “A gente tenta fortalecer este perfil empreendedor do morador de periferia democratizando o acesso a conhecimentos e a ferramentas que o ajudam a modelar melhor esse negócio, esse projeto que ele quer tocar e pensar a médio e longo prazos”, explica Tatiana Silva, diretora de projetos do FA.VELA, em entrevista à TV Globo de Minas Gerais.

Retratar como moradores da periferia de São Paulo estão transformando a realidade de suas comunidades com iniciativas inovadoras em áreas como gastronomia, comunicação e moda é o principal objetivo do documentário Visionários da Quebrada. “Acreditamos nas mudanças estruturais vindas das margens, nos saberes das periferias e na potência das pessoas engajadas na construção de suas comunidades. É um convite para atravessarmos as pontes que já estão construídas”, explica, explica Ana Carolina, idealizadora e diretora do filme.

Em visita ao Brasil em 2019, Barack Obama causou furor e comoção, falando sobre diversidade de direitos e oportunidades.

“Se houver apenas homens que pensam da mesma forma, as lideranças acabam perdendo informações”, e aqui acrescentaríamos: se não ampliarmos nossos olhares estaremos todos perdendo grandes profissionais, empreendedores, criativos, desenvolvedores, desbravadores dessa nova economia que está nascendo.

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ECONOMIA CRIATIVA NOS ESPAÇOS PÚBLICOS

A potência da economia criativa

No dia 16 de junho de 2018, Beyoncé e Jay-Z lançaram de surpresa o videoclipe de Apeshit, música que compõe Everything is Love, primeiro álbum gravado a quatro mãos pelo casal. Em 48 horas, o vídeo se tornou notícia em todo o mundo e superou 13 milhões de reproduções no YouTube, isso em meio à Copa do Mundo. À parte o inegável poder de atração do chamado casal real da música pop, chamou a atenção do público e da imprensa mundial o local escolhido para a gravação do videoclipe: o Museu do Louvre. “Eles visitaram o Louvre quatro vezes nos últimos dez anos. Na última vez, em maio de 2018, nos propuseram esta ideia. Os prazos eram muito curtos, mas o projeto convenceu rapidamente o Louvre, porque sua proposta demonstrava um verdadeiro vínculo com o museu e com as obras que os tinham marcado”, explicou um porta-voz do museu, o maior da Europa, ao jornal EL PAÍS.

O vídeo de Apeshit apresenta 17 obras de arte renomadas (pinturas e esculturas) como O casamento em Caná, de Veronese, a A balsa da Medusa, de Géricault, A Coroação de Napoleão, de Jacques-Louis David, Vênus de Milo (100 a.C.), A Grande Esfinge de Tânis (2686-2160 a.C) A Balsa da Medusa, de Théodore Géricault, e Mona Lisa, de Leonardo da Vinci. O enorme sucesso da produção fez com que o Louvre abrisse ao público (quase um mês depois) um tour guiado com a sequência de obras que aparecem no videoclipe. O percurso tem duração de 1h30.

Esta é a segunda vez que o Louvre organiza uma mostra inspirada em um artista pop. A primeira foi motivada pela música Smile Mona Lisa, do rapper will.i.am. A iniciativa tem como foco principal atrair, ampliar e formar público (desde os atentados de 2015, o museu viu diminuir em 13% o número de visitantes – 70% dos frequentadores do museu são turistas. Mas, além disso, representa também uma tendência entre museus e outras instituições de arte no mundo: se abrir a novas estratégicas para se manter atualizado e, principalmente, vivo.

A abertura de museus para desfiles de moda e gravação de filmes e videoclipes é uma delas. “Falta dinheiro, e os edifícios públicos servem para arrecadá-lo“, explica, Sophie Rastoin Sandoz, chefe pela agência parisiense L’Invitation, em entrevista ao EL PAÍS. A instituição é responsável por encontrar locações em toda a Europa para filmagens e evento de marcas de luxo, bancos, seguradoras e agências de comunicação. Em 2014, o Louvre recebia pouco mais de cem rodagens. Em 2017, foram 500, quase metade das realizadas na capital francesa. “O clipe no Louvre, um baluarte da cultura ocidental, representa uma abertura da cultura europeia e da cultura parisiense – da tradição – ao campo pop”, analisa o curador geral do Museu Brasileiro da Escultura (MuBE) e professor da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP) Cauê Alvez em entrevista ao G1.

E a economia criativa no Brasil…

Para além das questões econômicas, a iniciativa do Louvre mostra também o quanto é possível ser inventivo no universo da economia criativa e como os setores que a compõem podem trabalhar em conjunto por um mesmo objetivo (e não de maneira isolada e em nichos específicos). Um movimento que está em curso também no Brasil. O antigo Ministério da Cultura (MinC) e a Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos (Apex-Brasil), por exemplo, realizaram em novembro de 2018, o Mercado das Indústrias Criativas do Brasil (MicBR), evento que teve justamente o objetivo de estimular a integração de todos os setores culturais e criativos brasileiros.

Entre os países emergentes, o Brasil é considerado um dos maiores mercados para a economia criativa (somos o maior mercado de vídeo on demand, tv paga, música e games da América Latina, segundo dados da consultoria PwC, por exemplo). “As atividades culturais e criativas já representam 2,6% do PIB brasileiro, geram 1 milhão de empregos diretos e englobam mais de 200 mil empresas e instituições. Há um vasto potencial de crescimento e isso passa também pela internacionalização dos nossos talentos e da nossa valiosa produção cultural”, afirmou durante o evento o ex-ministro da Cultura, Sérgio Sá Leitão, hoje Secretário Estadual de Cultura e Economia Criativa do Estado de São Paulo. Quanto mais fortalecido e diverso for o setor, mais impactante (e interessante) serão as iniciativas. Viva a criatividade!

Criatividade para usar espaços

Esse movimento internacional de tornar os espaços cada vez mais democráticos e aproximar o público de museus e instituições culturais, também já acontece no Brasil.

Os arquitetos Mila Strauss e Marcos Paulo Caldeira, nossos professores no curso online de Arquitetura e Urbanismo, defendem a ideia de espaços multifuncionais, ou seja, uma área só atendendo vários usos. Acreditam que usar o mesmo imóvel para diversas funções, principalmente imóveis públicos, faz parte de um processo de urbanização que as grandes metrópoles precisam passar.

“Quanto maior o número de funções ou de utilizações você inventar para aquela metragem quadrada dentro de uma metrópole, mais você otimizará sua receita”, conta Marcos Paulo Caldeira, no curso online.

Os dois arquitetos foram convidados, alguns anos atrás, para participar da revitalização de um espaço em cima do túnel da Avenida 9 de Julho, que era um espaço quase que invisível – o Mirante 9 de Julho, que na época era um espaço quase que residual. Hoje, depois de revitalizado, é um espaço aberto ao público, com atividades culturais e um café, e voltou a ser um ponto turístico da cidade. Durante o processo, Mila e Marcos tinham uma questão em mente: como devolver esse espaço para a cidade, tornando-o um espaço seguro, onde as pessoas frequentassem? Estudaram muito a história dele, um mirante que, desde o início, já tinha a característica de ser utilizado para contemplar o centro da cidade. Tentaram potencializar essa atividade. Foram muitos estudos e pesquisas para entender a população local, como a cidade poderia ativar esse espaço e usá-lo de forma a integrar todos os usos que estavam nesse lugar – pessoas que passavam pela 9 de Julho, moradores locais, pessoas que usavam a Avenida Paulista, e as que usavam o MASP.

O ícone abandonado foi retomado e agora constrói uma nova história, já cheia de expectativas. As mudanças no Mirante incluem visual moderno, balcões de madeira construídos em cada lado, infraestrutura usada como restaurante e café. Durante o dia, o Mirante 9 de Julho é aberto como ponto de encontro para trabalho, reuniões e palestras. Existe um coworking de uso livre, sem taxas, que disponibiliza internet, mesa, espaço, comida boa e café para quem precisa.

Descendo uma escadaria de 1932 em espiral, bem estreita, encontrada durante as obras da reforma, você encontra a chamada Galeria Vertigem, outro pequeno espaço expositivo. Um espaço onde diferentes iniciativas podem dialogar: arte urbana, projetos musicais, exibições de filmes ao ar livre e feiras independentes, com curadoria do produtor cultural Akin Bicudo. Um lugar que celebra um novo momento de resgate da cidade e ocupação dos espaços públicos.

A ideia dos envolvidos no projeto é fazer com que o Mirante seja um suporte artístico, especialmente dedicado a performance. Ainda recebe feiras independentes, mostras de arte urbana, intervenções culturais de grupos de dança e música e sessões de cinema ao ar livre. Abriga o projeto “Mercado Efêmero”; que dá oportunidade a chefs que ainda não possuem seus próprios estabelecimentos poderem usufruir da estrutura. Os pratos do restaurante custam no máximo R$ 25 e toda a programação cultural é gratuita.

• As imagens contidas nesse post são de divulgação do videoclipe Apeshit!

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GLAUBER, O CINEASTA PENSADOR

Contestador e revolucionário, Glauber Rocha é uma das figuras mais emblemáticas do cinema nacional. Integrante do Cinema Novo, importante movimento da década de 1960 que ia de encontro às produções de Hollywood e pautava-se em temas políticos e sociais, ele buscava retratar em seus filmes o espírito de seu tempo e criar um cinema com estética genuinamente brasileira. Nascido em Vitória da Conquista, na Bahia, em 1939, foi em Salvador que Glauber, adolescente, teve seu primeiro contato com o cinema, por meio do Clube de Cinema da Bahia no qual ele assistia a filmes do neorrealismo da Itália e clássicos do cinema mundial.  

Com o lema “uma câmera na mão e uma ideia na cabeça” e a proposta de fazer um cinema autoral, ele criou a chamada “estética da fome”, uma adequação da linguagem cinematográfica à escassez de recursos no Brasil. “É uma estética que rompe de forma bem nítida com a tradição do cinema clássico e sua linguagem, as regras de montagem, de composição dos planos, de encenação. Tudo isso para montar um cinema dentro de condições precárias de produção”, explica Ismail Xavier, teórico de cinema e professor emérito da Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo (USP), em entrevista ao Nexo. “Isso leva a uma diferente noção de montagem que passa a incluir a ideia de descontinuidade, uma forma mais agressiva de compor a cena, uma forma completamente distinta de dirigir os atores, dando maior espaço para o improviso, para relações tensas entre câmera e ator e construindo toda uma dramaturgia”, completa.   

Por conta das características experimentais e inovadoras, suas obras são, até hoje, lidas por algumas pessoas como difíceis e complexas. “Esse tipo de experimentação fez do cinema dele algo sofisticado e que, ao mesmo tempo, traduz nas imagens e nos sons a visceralidade, a brutalidade que caracteriza a violência colonial da qual nasceu o Brasil. Ele queria produzir a violência esteticamente, sem fazer dela um espetáculo à la Hollywood”, analisa Jair Fonseca, professor de Literatura e Cinema da Universidade Federal de Santa Catarina, em entrevista ao DW. Ao longo de sua carreira, Glauber dirigiu nove longa-metragens, alguns premiados em importantes festivais da Europa, como o de Cannes. 

Dentre suas obras mais famosas estão Terra em Transe (que retrata a instabilidade política do país na época e que completou 50 anos em 2017)Deus e o Diabo na Terra do Sol (que tem o sertão como cenário, explora a cultura do Nordeste e mistura linguagens como teatro e ópera) e O Dragão da Maldade Contra o Santo Guerreiroprodução que tem fãs famosos, como o cineasta italo-americano Martin Scorsese (os dois diretores eram amigos). “É o filme que eu vivo revendo e continuo mostrando às pessoas, se eu acho que elas merecem (risos). Às vezes, elas não merecem, pois certas pessoas são como zumbis, não têm sentimentos ou coisa parecida. Eu não sei, acho que é bom mostrá-lo para as pessoas que possam ser ajudadas no seu trabalho. Mesmo até se elas rejeitarem o filme, pois já é algum tipo de reação. Melhor do que vem sendo apresentado ultimamente. Eu fico indo e voltando com ‘O Dragão’ e a música não sai da minha cabeça e além do mais, eu o conheço de ponta a ponta”, disse o diretor em entrevista à Folha de S.Paulo.  

Mais do que uma revolução estética e autoral, Glauber buscou retratar em seus filmes as inquietudes do Brasil (e da América Latina) de sua época e utilizar o cinema como plataforma para questionar problemas políticos e sociais e propor mudanças. “A obra do Glauber foi talvez a que estabeleceu o padrão de exigência mais alto na conjugação entre experimentação estética radical, esforço de pensar os impasses da experiência social brasileira e de intervir também no debate político do seu tempo. Nessa conjugação, nenhuma obra de cinema no Brasil foi tão longe”, analisa Mateus Araújo, professor da Universidade de São Paulo (USP), em entrevista ao Nexo.  

“Eu não faço um cinema convencional. Quer dizer, o meu tipo de filme é uma coisa que sai .… de um outro espaço, e não obedece muito as leis da dramaturgia convencional, de modo que as pessoas ficam chocadas”, declarou Glauber, certa vez. Sua produção, contudo, não ficou datada e segue hoje mais atual e oportuna do que nunca. O cineasta faleceu em 1981, aos 42 anos, no Rio de Janeiro.