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Como podemos começar a (re)desenhar nosso futuro

O que a pandemia do coronavírus pode nos dizer sobre a maneira como temos conduzido os negócios?

Por Eloisa Artuso*

*Designer, diretora educacional do Fashion Revolution Brasil e nossa professora de Design Sustentável. Com um trabalho fundamentado no espaço onde sustentabilidade, cultura e educação se fundem com o design, se dedica a projetos que incentivam profundas transformações na indústria da moda. Siga @eloartuso

Vivemos em uma emergência climática, enquanto a indústria da moda é considerada uma das maiores poluidoras do mundo, além de responsável por uma exploração crescente de trabalhadores em sua cadeia de fornecimento. No entanto, marcas e varejistas ainda não estão assumindo responsabilidade suficiente pelos salários e condições de trabalho em suas fábricas e fornecedores, pelos impactos ambientais dos materiais e processos que utilizam ou por como seus produtos afetam a saúde das pessoas, animais e planeta.

Junto a isso, em meio à crise trazida pela propagação global da covid-19, gostaria de trazer uma reflexão: o que a pandemia do coronavírus pode nos dizer sobre a maneira como temos conduzido os negócios?

Primeiro, precisamos reconhecer que a ideia de desenvolvimento e progresso que conhecemos está nos conduzindo para um fim cada vez mais crítico, insustentável e talvez irreversível. Continuar vivendo na crença de crescimento infinito em um planeta finito é uma ilusão trazida por um sistema econômico centrado no homem, que desconsidera completamente a natureza e nossa intrínseca relação de vida com ela. A natureza não é nossa, não podemos fazer com ela o que quisermos, ela é a nossa casa e nós somos ela.

Recentemente, a diretora executiva do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente declarou que a humanidade estava pressionando demais o mundo natural, com consequências nocivas, e alertou que não cuidar do planeta significa não cuidar de nós mesmos e que o coronavírus é um “claro tiro de advertência”. A destruição dos sistemas naturais tem que acabar agora.

Empowerment to help others. Making masks for those in need. Image created by Guilherme Santiago. Submitted for United Nations Global Call Out To Creatives – help stop the spread of COVID-19

Está na hora de ser melhor do que o de costume, nossos modelos de produção e consumo, assim com as diretrizes políticas e econômicas imperantes, não são nem de perto o suficiente para lidar com uma pandemia ou com a crise climática que bate a nossa porta. Definitivamente, precisamos mudar.

Neste momento, estou em quarentena, recebendo uma enxurrada de informações e atualizações constantes, 24 horas por dia, assim como você, sobre a pandemia global, suas vítimas e suas desastrosas consequências. As notícias giram em torno, basicamente, de duas grandes esferas, a ciência da saúde e a ciência econômica, que por sua vez, parecem ter se tornado dois polos em combate.

Em meio a contradições, guiadas por líderes governamentais claramente perdidos mediante à crise e muitas vezes completamente irresponsáveis em suas tomadas de decisões como, por exemplo, as ações negligentes do nosso governo federal, que colocam toda a população brasileira em alto risco ao tratar com descaso as orientações impostas pela OMS (Organização Mundial da Saúde) e pelo próprio Ministério da Saúde.

No entanto, o sistema econômico que se defende aqui, ainda se baseia em um modelo de produção e consumo que surgiu das condições e da mentalidade do século XIX, portanto, completamente incapaz de resolver os desafios que enfrentamos hoje. Schumacher, um influente economista do Reino Unido defendia, já no início da década de 70, uma “economia como se as pessoas importassem”, ou seja, uma economia que coloca as pessoas e a natureza acima do lucro. Esse é o pensamento econômico que o mundo (ainda que tardiamente) precisa agora.

Todos os sinais já foram dados, não nos cabe mais adiar essa mudança de paradigma, precisamos de novas e mais avançadas economias, que façam jus à realidade em que vivemos, que sejam adequadas a 2020 e sustentáveis. Economias aptas a dar suporte e respeitar a capacidade regenerativa do sistema natural e garantir uma vida digna e o bem-estar das pessoas. Precisamos de um sistema resiliente, inclusivo, igualitário, equitativo e sustentável, baseado na abundância – e não na escassez dos recursos naturais – que gere valor para as pessoas e para o planeta.

Ao mesmo tempo, sabemos que crises como a causada pelo coronavírus e a climática afetam muito mais profundamente as populações vulneráveis. A prevenção do coronavírus, assim como a proteção contra catástrofes do clima, é um luxo para grande parte das pessoas no Brasil e no mundo, muitas das quais não têm sequer acesso à água limpa, a um sistema de saúde eficaz ou a condições dignas de trabalho, estudo e moradia. Assim como a maioria das pessoas na cadeia de fornecimento global da moda é vulnerável e carece, por exemplo, de licença saúde, assistência médica adequada ou qualquer tipo de estrutura que as permite enfrentar situações drásticas como essas.


Mas a natureza tem seu tempo e está no mostrando que ele é agora. Ao final da crise do coronavírus, os governos certamente tentarão reaquecer suas economias fomentando a volta das produções em grande escala e incentivando as pessoas a consumirem em maiores proporções, o que aumentará muito (entre outros problemas) as emissões de carbono, a exploração do trabalho e dos recursos naturais ao redor do mundo. Tudo isso implicará ainda no retrocesso de acordos tramitando entre os países e da luta contra a catástrofe climática iminente, se não agirmos antes. Nesse sentido, o coronavírus também poderá piorar uma situação que já está bastante complicada.

O que o mundo, e a indústria da moda, precisam hoje é de uma mudança real e sistêmica. Uma mudança capaz de acabar com a exploração das pessoas e do planeta. Este ano, uma das mensagens-chave do Fashion Revolution é a promoção das ações coletivas e está claro que, mais do que nunca, devemos unir forças, porque juntos somos mais barulhentos, mais poderosos e temos muito mais chances de provocar transformações quando trabalhamos em colaboração.

Share kindness. Image created by João Pedro Costa. Submitted for United Nations Global Call Out To Creatives – help stop the spread of COVID-19.

Qual futuro você quer alcançar?

Desde que o movimento começou, em 2013, usamos nossa voz coletiva para reunir comunidades, oferecer apoio, compartilhar conhecimento e pensar criativamente sobre soluções para situações desafiadoras, pois nossa missão é mudar radicalmente a maneira como a moda é pensada, produzida e consumida. Lutamos por uma indústria da moda que conserva e restaura o meio ambiente e valoriza as pessoas acima do crescimento e do lucro. Então, agora queremos pedir para que você traga seu ativismo para casa e transforme suas ações diárias: conserte, doe, revenda, aprenda um trabalho manual, visite seu guarda-roupa: observe as etiquetas, analise os detalhes das peças, pesquise as marcas.

Ajude a proteger sua economia local: compre de empresas próximas, especialmente as pequenas; compre cartões-presente e pague antecipadamente por serviços futuros; apoie pessoas cujas atividades e eventos tenham sido cancelados por meio de compras e assinaturas online; doe dinheiro a uma causa ou organização que assista grupos vulneráveis, essas são as dicas de Donnie Maclurcan, diretor executivo do Post Growth Institute.

Ele ainda recomenda, caso você tenha um negócio: implemente o trabalho remoto (quando possível); garanta licença saúde paga, horários flexíveis, bônus antecipados e os empregos pelos próximos meses e, se preciso, reduza a proporção salarial de cima para baixo; rejeite o racismo e tenha paciência extra com ineficiências. Isso dará às pessoas segurança e uma melhor capacidade de lidar com as demandas do trabalho e da família.

Podemos usar esse momento para fazer um balanço e permitir que o presente nos torne mais bem preparados e comprometidos com um futuro sustentável. Vamos criar juntos o mundo que queremos após a crise. Acompanhe nossas redes @fash_rev_brasil e faça parte da revolução!

*Texto originalmente publicado no Blog do Fashion Revolution

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O PROFISSIONAL SLASH

Por Sabina Deweik  

Em minhas palestras e cursos, eu exponho as minhas concepções sobre o futuro a partir das análises de comportamento e de consumo que realizo cotidianamente. O que faço me dá abertura para estudar inúmeros assuntos que estão sob o enorme “guarda-chuva” chamado de futuro, mas aqui vou discutir um pouco a respeito de como eu construí o meu presente quando ainda ele ainda era um futuro e sobre uma reflexão que tangenciou a discussão sobre o futuro do trabalho.  

CHAMADO DE ALMA

Há anos atrás me joguei em um aprendizado transformacional chamado coaching ontológico. Na época não tinha a menor ideia onde aquela estrada me levaria e nem tão claro o porque de tê-la escolhido. Só fui. Fiquei me perguntando se não seria melhor ter feito todo aquele investimento em um mega blaster curso de inovação já que durante mais de 15 anos havia me dedicado inteiramente ao meu trabalho como caçadora de tendências e pesquisadora de comportamento.  
Apesar da minha decisão, não deixei de ser uma caçadora de tendências full time, pois meu pensamento e meu olhar são de uma caçadora de tendências e essas são ferramentas que não são simplesmente desligáveis, elas sempre estão ali, trabalhando e criando insights de inovação. Pensando nisso que decidi gravar um curso online de Cool Hunting com a Escola São Paulo no qual divido com os alunos quais ferramentas são essas e como eu as opero para ser um profissional em constante atualização.  

Foi apenas quando terminei todo o processo, diga-se de passagem me “viraram do avesso”, é que entendi o que havia me mobilizado nessa direção. Entendi que houve um chamado de alma por criar e dar um sentido maior a minha existência. Diz-se na antroposofia que é na virada deste setênio (contagem de 7 em sete anos), aos 42 anos, que vamos em busca de aprendermos com as nossas escolhas e estamos prontos para encarar a vida com mais sabedoria e espiritualidade.  

Foi exatamente aos 42 anos que me joguei nessa formação. Depois, entendi profundamente que aquilo que me move na vida é compreender o comportamento humano. Como caçadora de tendências, do ponto de vista social, detectar como os comportamentos humanos se manifestam em tendências. Como coach ontológico, olhando para os comportamentos humanos individuais e como eles se expressam nas histórias de vida.  


OS SLASH/BARRA, BARRA, BARRA

A angustia de não saber me definir: jornalista de formação, palestrante, educadora, caçadora de tendências, pesquisadora e também coach ontológico, deu lugar a um entendimento voltado ao futuro das profissões. Foi aí que percebi que a inquietação de não saber me colocar em uma única caixa não era meramente uma angústia pessoal. Era um fenômeno social chamado Slash Career ou Carreiras Slash.  

Os profissionais chamados Slash (termo popularizado pela escritora nova iorquina Marci Alboher em seu livro “Uma Pessoa/ Múltiplas Carreiras: O Guia das Carreiras Slash”), são aqueles que precisam da barra para poder responder à pergunta: Qual sua profissão? Aqui no Brasil conhecido como o “profissional barra, barra, barra”.  

É um modelo híbrido que reflete, em certa medida, a necessidade das pessoas de realizar todo o seu potencial, com diferentes formas de atuação. Em meu caso, refletiu-se em meu potencial ser expresso com várias atuações: em inovação mas também em acompanhar seres humanos a abrir novas perspectivas para viver com mais bem estar e coerência.  

O fenômeno de ter várias carreiras simultaneamente está ganhando cada vez mais adeptos por conta da flexibilização do mercado e da busca por propósito no mundo profissional. Segundo a autora Marci Alboher, pessoas com carreiras Slash são aquelas que tem múltiplos fluxos de renda simultaneamente de diferentes carreiras.  

Muitas pessoas tendem a confundir um estilo de vida Slash com o trabalho em tempo parcial. Uma diferença fundamental é que, em uma carreira Slash, todo trabalho é conectado de um jeito ou de outro com os outros. Há um efeito de cruzamento e todos eles desempenham um papel no planejamento geral de carreira. A maioria das pessoas opta por uma carreira de Slash porque não consegue encontrar um único emprego satisfatório. O Slash permite experimentar, encontrar uma direção e aprimorar habilidades diferentes.  

A própria autora Marci expandiu sua carreira original como advogada ao negociar um acordo de trabalho flexível, que lhe permitia viajar e buscar outras carreiras como jornalista / autor, palestrante e coach de escritores aspirantes. Hoje, ela se identifica como líder de autora / palestrante / líder sem fins lucrativos, embora muitas vezes conte com sua experiência em direito e jornalismo.  

Um dado curioso é que ter múltiplas carreiras ao mesmo estava associada a profissões mais criativas como fotógrafo/escritor porém, atualmente, principalmente com a geração dos millennials, o fenômeno tem se tornado mainstream também com carreiras mais tradicionais. É que para essa geração, o trabalho não é apenas uma fonte de renda mas também uma esfera de realização pessoal. A sharing economy e o crescimento da tecnologia também proporcionaram um aumento desse tipo de atuação como por exemplo motorista de uber/ host do airbnb/blogger/youtuber.  

PORQUE SE TORNAR UM PROFISSIONAL SLASH?

Ter uma carreira não linear não fazia parte do pensamento de emprego há vinte anos atrás. Os empregadores até penalizavam carreiras não lineares em seus processos de recrutamento. Hoje, as organizações buscam maior agilidade e flexibilidade em termos de modelos de emprego. No futuro próximo, as organizações tenderão a contratar funcionários em tempo parcial, remotos e flexíveis.  

Do ponto de vista pessoal, poder abraçar diferentes paixões e talentos, dá a possibilidade de assumir múltiplas identidades. Não é preciso abrir mão do que você ama em nome do trabalho. Sem falar nas múltiplas fontes de renda e na possibilidade de equilibrar vida pessoal e profissional, unindo hobbies com a profissão como por exemplo um jornalista, que é coach mas também é músico como freelancer.  

Se você também já é ou se sente híbrido provavelmente você já está vivendo no futuro. E se formos mais a fundo, o gênio da renascença Leonardo da Vinci, já vivia desta forma. Ele era artista/ inventor/ pintor/ escultor/ desenhista/ cientista/ engenheiro/ anatomista/ matemático/ arquiteto/ botânico/ poeta/ músico. Imaginem desconsiderar uma das barras? Da Vinci provavelmente não expressaria todo o seu potencial e seu talento e não seria essa referência na história da humanidade. E você? Quais talentos você ainda não expressou? O que te impede de se tornar um profissional slash?


#escolasaopaulo #descubra #reinvente #viva

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MUNDO EM TRANSIÇÃO

Por Sabina Deweik, professora da Escola São Paulo dos cursos de “Cool Hunting” e “Os Novos Paradigmas do Futuro e as Tendências Emergentes” 

O mundo está vivendo um grande período de transição no qual antigos valores e estruturas já não dão mais conta do fluxo da vida. Nas famílias, nos indivíduos, na política, nas empresas e organizações, no significado do que é ter sucesso nos dias de hoje, tudo vêm sendo questionado e desconstruído. “Estamos em um estado de interregno, entre uma etapa em que tínhamos certezas e outra em que a velha forma de atuar já não funciona. Não sabemos o que vai substituir isso. As certezas foram abolidas”, diz o sociólogo Zygmunt Bauman. 

O QUE HERDAMOS 

Nós herdamos um modelo da Revolução Industrial. Um modelo que primou pelo individualismo, pela produção em massa, pelo avanço a qualquer custo do homem sobre a natureza. De lá para cá, a ideia de competitividade, resultado, foco e individualidade só se intensificou. Desde então, a relação das pessoas com o ato de consumir vem se intensificando exponencialmente bem como a ideia de que trabalhar e ser feliz são departamentos distintos. O homem chegou a acreditar no lema “você é o que você consome”. Status, ostentação visibilidade, marca, imagem, principalmente a partir da década de 80 passaram as ser valores vigentes. 

Diante de tais fatos, bem como a grande crise social, econômica e ambiental que vivemos, passando pelo problema dos refugiados, terrorismo, o aparecimento das chamadas doenças modernas como síndrome do pânico, ansiedade e distúrbios alimentares, às grandes mudanças climáticas advindas da poluição, destruição de habitats, superpopulação humana, sobre-exploração dos recursos naturais — o homem começa a se dar conta que algo está ruindo neste sistema. 

NOVA DIREÇÃO 

Alguns indícios apontam para essa nova direção. O empreendedorismo, por exemplo sofreu um boom nos últimos anos, a palavra startup se popularizou e o número de pessoas empreendendo por oportunidade é cada vez maior. ARevolução Digital que se iniciou com a popularização da internet, e as revoluções pós digitais que caracterizam o momento presente e os anos subsequentes começaram a modificar radicalmente não só nossa relação com as tecnologias, como também com trabalho, educação e até mesmo nossos valores mais intrínsecos. Podemos então prever transformações profundas em todos os sistemas que ancoram a economia e o mundo hoje. As redes sociais mudaram a forma como as pessoas protestam e a exigência de transparência. 

Por conta de novas gerações que nasceram na era digital, a educação como conhecemos hoje também está com os dias contados. O objetivo da educação não será ensinar coisas, porque as coisas já estão na internet, estão por todos os lugares, estão nos livros. A educação será um facilitador para ensinar a pensar e criar na criança essa curiosidade. Quanto ao modelo trabalho de 8 horas por dia dentro das empresas, este, também se tornará cada vez mais distante, dando lugar a novas dinâmicas de espaço e novas configurações de emprego.  

A LÓGICA É SE REINVENTAR 

Dentro dessa lógica, precisaremos nos reinventar todos os dias, reinventar nossas carreiras, e nossos modelos de negócio. O lucro, antes prioritariamente financeiro, passa a ser reavaliado por ângulos que ressignificam o conceito de sucesso. Alteram-se os critérios para o que seria uma pessoa ou um negócio bem-sucedido, colocando em pauta outras motivações compensatórias: realização de propósito, desenvolvimento pessoal, satisfação criativa. 

A diminuição do consumismo, a internet sendo utilizada para descentralizar o poder de empresas, governos e instituições, o movimento crescente de pessoas produzindo seus próprios bens ou comprando de pequenos produtores, a colaboração, o compartilhamento e o crescimento da indústria criativa são alguns dos paradigmas que tem sustentado a nova economia.  

Sem falar na emergência de uma nova consciência coletiva, desde o movimento biker, que faz crescer odesinteresse de um jovem por ter um carro, até a economia colaborativa com modelos de negócios como o Uber eAirbnb, além do crowdfunding, modelo que permite que ideias inovadoras sejam implementadas à partir de um financiamento coletivo ou até mesmo o surgimento de formas de trabalhar e viver coletivas como o co-working e o co-housing. 

Urge sabermos de onde vêm os alimentos que comemos, cresce o consumo de orgânicos, aparecem projetos de upcycling, na gastronomia fala-se de slow food, no consumo fala-se de lowsumerism (baixo consumo), o consumidor quer saber que o que consumimos respeita um ciclo sustentável e por isso cresce também o ato da compra como um ato social. É fundamental compreender os novos valores para entrar em sintonia com esse novo mundo 

OS MILLENIALS 

Vale dizer, que na década de 90, o advento da internet e das novas tecnologias impulsionou ainda mais a mudança comportamental. Nascia naquele momento uma nova geração, que presenciou de perto novidades do mundo digital nunca antes vistas até então. Nasciam os e-mails, as ferramentas de busca e, principalmente, a possibilidade de interação com outras pessoas sem sair de casa. Formava-se ali a chamada Geração Y, ou Millennials, uma geração mais autocentrada e egoísta, porém, de maneira antagônica, adepta por compartilhar informações pelas redes sociais. Rapidez, instantaneidade, flexibilidade e não linearidade de pensamento caracterizam este grupo, que passou a influenciar outras gerações com suas habilidades e sua vontade de trabalhar por projetos com propósito. Geração que está contestando o mundo corporativo e ressignificando o que é trabalho, família, sucesso, profissão, relações.  

O FUTURO DO TRABALHO 

Raymond Kurzweil, inventor, futurista e idealizador da Singularity University aponta que a evolução tecnológica acontece em um ritmo exponencial e uma vez que cada tecnologia serve de suporte para o desenvolvimento da próxima chegará o momento em que atravessaremos uma fronteira onde a velocidade do avanço tecnológico será maior do que a capacidade dos seres humanos de acompanhar a sua mudança.  

Estudos apontam que 40% das empresas não sobreviverão a Revolução Digital, o número de funcionários das empresas será cada vez menor e em 2030 existirá uma empresa para cada 10 pessoas. Vivemos um momento de transição e entender para onde o mundo está caminhando tornou-se premissa para continuar a caminhada. 

Na Escola São Paulo, ofereço um curso online chamado Os Novos Paradigmas do Futuro e as Tendências Emergentes, onde indico quais são esses movimentos que estão se efetivando ou ainda se efetivarão nas próximas décadas e como eles podem ser utilizados para que você trabalhe estrategicamente a sua criatividade de forma a colocá-la à serviço da inovação, o que, no mercado, é um diferencial competitivo. 

MINDFUL REVOLUTION 

Inicia-se uma nova revolução, batizada pela Revista Time como Mindful Revolution ou a revolução do auto-conhecimento. O ser humano começa a se voltar para a essência depois de muito tempo de exterioridade. Com a popularização de técnicas orientais milenares como yoga e meditação, a valorização do silêncio, a ideia de espiritualidade desassociada do esoterismo ou do misticismo, o digital detox e o fim da glamurização do workaholic, começamos a vislumbrar um futuro diferente. A mudança é radical. 

E você, como tem se conectado com essa transição? Quais são as mudanças necessárias para que encontre mais sentido na sua existência? Qual a verdadeira jóia da tua alma? 

#escolasaopaulo #descubra #reinvente #viva 

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O FUTURO É FEMININO

Por Sabina Deweik

O nome deste post faz referência a uma campanha de conscientização a respeito dos direitos das mulheres que vem tomando força no mundo todo. Elas reivindicam a correção de atrasos sociais, institucionais e constitucionais, a fim de finalmente alcançar uma sociedade equitária em oportunidades para homens e mulheres. Mas a campanha também nos leva a refletir a respeito de quais valores queremos imprimir no mundo, afinal o ser feminino está vinculado à diversas questões cotidianas que, se valorizadas, caminharemos para uma nova sociedade com novas perspectivas.

O PASSADO É MASCULINO

Há muitos anos a humanidade está vivendo uma era de valores masculinos. Em todas as esferas de nossa vida aprendemos a competitividade, o individualismo, a ação, o foco em resultados, os resultados a qualquer custo, a racionalidade. Esta forma de viver e enxergar o mundo e as coisas está dando espaço à emocionalidade, à colaboração, à intuição, ao cuidado, à empatia — valores esses ligados ao feminino. E aqui não entra em questão o gênero masculino ou feminino, mas de uma forma de ser, viver, trabalhar e perceber o nosso entorno de maneira distinta.

Se pensarmos no mundo do trabalho, fica fácil entender o quanto nos movemos até agora segundo padrões do masculino. No mundo organizacional, por exemplo, as habilidades até então requisitadas em um colaborador eram sua capacidade analítica e seu poder de gerar números e resultados. Até mesmo a competição foi super- valorizada. A mentalidade era: tenho que ser melhor que meu colega porque posso não receber a tão desejada promoção. Ou ainda: Se ele/ela se der bem eu não vou me dar bem.

FALHAMOS. E AGORA?

Aprendemos inúmeros valores herdados da Revolução Industrial. Adam Smith, em 1776, escreveu em A Riqueza das Nações: “Individualismo é Bom para toda a sociedade” ou “O consumo é a única finalidade e o único propósito de toda produção”. Esse modelo foi incorporado por nós como a única lógica vigente. Um modelo social e econômico impondo sucesso como uma forma para atingir a felicidade ou ainda a ideia de que mais é melhor. Um modelo no qual o fazer sozinho, o não compartilhar fazem parte da lógica. Um modelo que nos distanciou das emoções, da consciência, do sentido maior. O resultado: uma população com altos índices de depressão, suicídio, burn out, estresse, ansiedade.

De acordo com uma pesquisa da Organização Mundial da Saúde (OMS), a depressão será até 2020, o maior motivo de afastamento do trabalho no mundo. No Brasil, cerca de 5,8% da população tem a doença, o que faz do país o campeão de casos na América Latina. Os índices demonstram que algo neste sistema está falhando. O aumento de bens de consumo e produtividade não é proporcional ao aumento de felicidade e bem-estar.

NOVOS VALORES EMERGENTES

Mas a boa notícia é que a antiga lógica está começando a ser revisitada, dando lugar a uma série de valores emergentes que apontam a bússola para outra direção. Se pensarmos nos modelos de negócios mais inovadores de hoje, desde Spotify, Netflix, Waze, Google, Airbnb, Uber e outros, há sempre a lógica do compartilhar, de gerar experiência para o usuário, de democratizar o uso e levar a um número cada vez maior de pessoas a se beneficiar do serviço/produto. Sem falar que nenhum deles trabalha com um bem físico, nem possui nada. Essa é uma mudança de mentalidade importante. Passar da posse ao acesso. Vamos desfazendo a necessidade de pagar pela propriedade de algo para ter a experiência com algo.

Segundo Jeremy Rifkin em seu livro A Era do Acesso, “A transformação do capitalismo industrial para cultural está desafiando muitas de nossas suposições básicas sobre o que constitui a sociedade humana. As antigas instituições fundadas nas relações com propriedade, nas trocas de mercado e no acúmulo de bens materiais estão sendo arrancadas lentamente para dar lugar a uma era em que a cultura se torna o recurso comercial mais importante, o tempo e a atenção se tornam a posse mais valiosa e a própria vida de cada indivíduo se torna o melhor mercado”.

UM NOVO SER HUMANO

Esse tipo de relação está dando lugar a um ser humano diferente, com um novo significado do ser, em detrimento do ter. Essa prerrogativa está sendo impulsionada pelas novas gerações, principalmente a geração Y, nascida entre fins dos anos 70 e início dos anos 90, e a geração Z, nascidos entre o fim de 1992 a 2010. Esses jovens começaram a trazer à tona o conceito de propósito no trabalho. Para eles, assim como para a geração Z, o “fazer” precisa fazer sentido.

Quando nos perguntamos pelo sentido das coisas, estamos acessando uma maior consciência. Depois de muito tempo de resultados, de racionalidade, de ação, passamos a dar espaço para nossas emoções, dentro e fora do mundo corporativo. Nos permitimos, por exemplo, falar de empatia no mundo do trabalho.

O MASCULINO RESSIGNIFICADO

O masculino também está sendo ressignificado e hoje sua única função não é prover, mas cuidar, exercer outros papéis. Esses papéis ainda não estão consolidados, mas aos poucos sendo discutidos em inúmeras instâncias. No universo do consumo, as marcas já estão incorporando esses novos conceitos. A Axe por exemplo, por mais de uma década, realizava campanhas nas quais as mulheres perdiam a cabeça e controlavam seus impulsos sexuais quando confrontadas com as fragrâncias da marca. Mas há dois anos, a estratégia é outra. Desmascarando estereótipos e com mais inclusão, a marca retratou homens usando sua confiança e sabedoria, não necessariamente as fragrâncias, para conquistar mulheres.

UMA ERA MAIS FEMININA

A busca pelo conhecimento, a valorização do silêncio, da natureza, a valorização de técnicas de colaboração, de autoconhecimento como CNV (Comunicação Não Violenta), Mindfulness, Yoga ou o crescimento do coaching como ferramenta de desenvolvimento humano apontam para o mesmo lugar: a emergência de uma era mais feminina. O livro Liderança Shakti dos indianos Nilima Bhat, criadora dessa filosofia, e Raj Sisodia, líder do movimento “Capitalismo Consciente”, fala desta transição de paradigma:

“Tanto os homens quanto as mulheres foram condicionados a valorizar características de liderança que tradicionalmente são consideradas masculinas: hierárquica, individualista e militar”, dizem eles. “Nós reanimamos um arquétipo feminino de liderança: regenerador, cooperativo, criativo e empático”, acrescentam os autores.

No curso Os Novos Paradigmas do Futuro e as Tendências Emergentes da Escola São Paulo, exponho detalhes desta e de muitas outras novas formas de se comportar e de ser em sociedade. Nesse conteúdo, explico e faço análises de cases e movimentos de transformação, mostrando os prováveis próximos passos das pessoas, do mercado e das relações estabelecidas por eles.

POR QUE O FEMININO?

O feminino é circular, emocional, intuitivo, colaborativo, empático, compassivo, flexível, adaptável, acolhedor, solidário, multidisciplinar. O feminino permite um encontro genuíno com o eu, com a consciência de si, do outro, do mundo. Independente de gênero, o que o mundo precisa é trazer esses valores do feminino para todas as esferas e domínios da vida. Reconhecer o feminino em si, é reconhecer nossos valores mais humanos. É um antídoto para muitos anos de desconexão e não consciência.

#escolasaopaulo #descubra #reinvente #viva

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O FOMO E OS NOVOS PARADIGMAS

Por Sabina Deweik

A sociedade contemporânea ocidental conta com inúmeras vantagens em relação às gerações anteriores. A tecnologia nunca foi tão avançada, a inovação e a criatividade nunca foram tão valorizadas. Mas junto dessas benesses, as nossas relações com as coisas e pessoas também mudaram. O tempo se acelerou, nos isolamos no mundo digital e doenças relacionadas aos novos hábitos, como a ansiedade e a depressão, se intensificaram e se “espalharam”. Por conta disso, é importante entendermos o que está acontecendo conosco.

O FOMO

Em um mundo repleto de novos comportamentos e mudanças, fica difícil radiografar a realidade e direcionar a bússola que nos dá a rota para saber, por exemplo, como empreender, como falar com o consumidor, quais estratégias usar em seu negócio, o que é preciso para que uma marca seja relevante. Vivemos o tempo todo uma espécie de FOMO (sigla em inglês que quer dizer Fear of Missing Out), a crescente síndrome da contemporaneidade na qual estamos o tempo todo com a sensação de que não sabemos o que escolher porque parece que sempre estamos perdendo uma enormidade de oportunidades.

Estudando, observando e captando tendências e comportamentos aprendemos a olhar não apenas para os movimentos passageiros mas também para aqueles que tem uma maior duração. Como caçadores de tendências, acompanhamos muitas vezes os chamados “Trend Reports” (relatórios de tendências) e percebemos que na realidade o que é apresentado como um novo movimento, é apenas a evolução de um comportamento manifestado de outra forma. Por isso, ao invés de falar apenas de tendências, olhamos para os chamados Paradigmas do Futuro.

As tendências podem causar o tal do FOMO. São tantos os novos comportamentos que uma empresa, uma marca, pode ficar perdida e não saber o que escolher para aplicar em seu negócio. Já os paradigmas são a certeza de que um movimento pode durar 20 anos. É aí que sentimos o JOMO (Joy of Missing Out), que prega justamente a alegria de não escolher todas as opções.

OS PARADIGMAS

Os Paradigmas são novas forças que direcionarão o mercado e a sociedade: são novos parâmetros culturais, comerciais, “empreendedoriais” que estão trazendo uma mudança radical na construção do futuro. Eles representam as novas direções. São linhas guia para o desenvolvimento de todas as estratégias e projetos de empresas, instituições e consumidores. Um paradigma é uma mudança no imaginário coletivo mundial, uma nova consciência global da qual marcas, instituições, organizações ou indivíduos não podem escapar. Diferente de uma macro tendência, os paradigmas tem um núcleo de estabilidade maior, portanto tem uma duração no tempo também maior. Os paradigmas perduram por até 20 anos ao passo que as macro tendências tem uma vigência de 6 ou 7 anos.

Os paradigmas apresentados abaixo são fruto de mais de 20 anos de observação e monitoramento de comportamentos em diferentes setores (são baseados na experiência com o renomado instituto de pesquisa de tendências e consultoria estratégica Future Concept Lab, com sede em Milão). Eles representam as chaves de leitura para compreender as tendências e suas evoluções no tempo. É como uma moldura, um frame que enquadra múltiplos comportamentos que conversam com o mesmo impulso. O conhecimento dos paradigmas nos dá a possibilidade de entendimento de inúmeros comportamentos. Sendo assim, para um único paradigma, podem existir inúmeras tendências coexistindo.

Como afirma Francesco Morace no livro O que é o Futuro, os paradigmas não são apenas dimensões descritivas e analíticas , mas sim dimensões conceituais e geradoras por meio das quais é possível imaginar projetos e produtos voltados para o futuro. Então vamos comigo conhecer essas 4 forças que trazem clareza e foco: Crucial & Sustainable, Trust & Sharing, Quick & Deep, , Unique & Universal.

CRUCIAL & SUSTAINABLE

Esse paradigma diz respeito ao tema da sustentabilidade que está moldando o futuro do nosso planeta e de todos os consumidores do mundo.

O Crucial & Sustainable é “Voltar às origens, protegendo ao longo do tempo tudo aquilo que nos circunda: nosso patrimônio econômico, ambiental e, ao mesmo tempo, também social e cultural. Redescobrir a importância dos recursos essenciais, que demonstram ter um papel decisivo em nossas vidas”, diz Francesco Morace no livro O que é o futuro?

Dica: Se uma empresa quer se manter relevante nos próximos 20 anos ela precisa refletir em como sua marca pode pensar no coletivo maior. Essa era de transição é definida pela busca dos sentidos e do propósito. As marcas podem ser disruptivas mas também com um impacto social. Se uma marca pensa e age na era industrial, ela está em um tempo diferente do que vive o seu consumidor”.

Um exemplo é a Tesla que faz carros elétricos com custo baixo e está mudando a mobilidade urbana e impactando o planeta positivamente. O erro está em ver o negócio como uma fábrica gigante de produzir produtos ao invés de cuidar de sistemas humanos reais.

QUICK & DEEP

Esse paradigma diz respeito à qualidade do futuro que estará cada vez mais em sintonia com a ideia de respeito pelas pessoas normais, pelos consumidores em busca de experiências felizes, sem perseguir a quimera do luxo. A capacidade de ser rápido, oportuno e acessível deverá ser conciliada com a ideia de felicidade e profundidade de experiência.

Dica: Acessibilidade com qualidade. O futuro pede pelo cruzamento destas duas dimensões. Um bom exemplo é a o serviço Rent The Runway que recentemente anunciou uma parceria com o varejista de itens para casa West Welm. A partir da ideia de que a casa costumava ser um lugar privado, mas agora é um lugar público, ou seja os interiores são hoje flexíveis e instagramáveis, é possível combinar qualidade e rapidez. A parceria responde às mudanças de comportamento dos Millennials que usam produtos de interiores para ter controle criativo sobre espaços alugados. Já que os Millennials e a Gen Z estão constantemente postando fotos de si mesmos em suas casas no Instagram, há uma necessidade de mudança dos interiores sem um custo alto. O serviço atende essa necessidade Quick & Deep.

TRUST & SHARING

O futuro é caracterizado por uma relação muito mais próxima e de confiança, não só com a marca, mas também com toda a empresa em seu complexo orgânico. As grandes empresas terão um novo papel de liderança e responsabilidade social e cultural muito além de seu produto. O compartilhamento irá encontrar a sua importância entre o real e o virtual e a explosão de novas tecnologias e a acelerada afirmação das redes sociais tem papel relevante na transparência da mensagem.

O paradigma Trust & Sharing, segundo Francesco Morace no libro O que é o Futuro?, “redefine uma cadeia de valor que toma forma atravessando todos os setores da sociedade e do mercado: a reciprocidade das relações repropõe uma economia das “não equivalências”, regenerando uma relação baseada na lealdade e no compartilhamento entre as pessoas, instituições, empresas e consumidores”.

Dica: Com a possibilidade de compartilharmos cada vez mais, torna-se essencial o item confiança e transparência. A Yellow é um ótimo exemplo de Trust & Sharing — os patinetes compartilhados que tomaram conta das ciclovias, calçadas e ruas em uma grande parte das capitais brasileiras. O serviço vai crescer ainda mais: a Uber, por exemplo, pretende chegar ao mercado brasileiro com bicicletas e patinetes ainda neste ano. O modelo é apostar na confiança. Os patinetes ficam soltos nas ruas e o usuário desbloqueia seu uso pelo app. A localização é compartilhada no aplicativo para saber onde está o veículo. Depois que você usa, outra pessoa pode utilizar o patinete. Um modelo cada vez mais crescente de pensar os negócios desafiando o antigo sistema do fazer individual e da propriedade privada.

UNIQUE & UNIVERSAL

Esse paradigma diz respeito a capacidade de produzir e comunicar uma identidade única e distinta, inclusiva e não exclusiva, fundada na dimensão cultural de sua história, de sua identidade. Em um mundo global, torna-se essencial negócios ou pessoas que assumem seu caráter único, sua personalidade, sua maneira única de ser e se expressar no mundo seja como marcar ou como ser humano. A diversidade constitui a condição do sucesso dos negócios no futuro.

Dica: O caráter único é o que diferencia. A diversidade não é momentânea, não é tema de nicho, ela permite a inclusão de quem ficou a parte durante muito tempo. É o ponto de partida para ficarmos mais perto das pessoas e do consumidor. Um exemplo é o reposicionamento da Mattel, fabricante da famosa boneca Barbie que nos anos 80 refletia um modelo de consumo aspiracional, com uma única boneca magra, alta, loira. Trazendo o novo paradigma, a Mattel trabalha hoje com uma gama de bonecas com diferentes biotipos para se comunicar com essa nova geração.

No curso de Cool Hunting da Escola São Paulo, eu explico as minhas metodologias para fazer análises ricas da realidade e no curso Os Novos Paradigmas do Futuro e as Tendências Emergentes, também da Escola São Paulo, conto todos os detalhes desses novos movimentos, seus desdobramentos e muitas outras informações a respeito do que veremos emergir nos próximos anos.

#escolasaopaulo #descubra #reinvente #viva

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VIRADA SUSTENTÁVEL – DIA 1

A Virada Sustentável é um movimento de mobilização para a sustentabilidade que organiza o maior festival sobre o tema no Brasil. Começou em 2011, em São Paulo, e já realizou edições nas cidades do Rio de Janeiro, Porto Alegre, Salvador, Manaus, entre outras.
A concepção temática da Virada Sustentável é, atualmente, baseada e totalmente concebida a partir nos 17 Objetivos do Desenvolvimento Sustentável (ODS) definidos pela ONU, que são também os princípios que orientam a programação do festival em todas as cidades.
Participamos de parte da programação que aconteceu na Unibes, em São Paulo, nos dias 22 e 23 de agosto.

4ª Revolução Industrial e Gestão de Resíduos

Antonis Mavropoulos, em sua palestra “4ª Revolução Industrial e Gestão de Resíduos”, problematizou a relação que existe entre reciclagem e economia circular. Acredita que não devemos considerar a reciclagem como o caminho para a economia circular, pois perdemos tempo e dinheiro com ela, quando teríamos de avançar nas outras partes da cadeia (utilizar matérias-primas renováveis ​​ou biodegradáveis, projetar com responsabilidade para estender o ciclo de vida atual de um produto – reparando, atualizando e revendendo -, produzir com consciência, criar mais plataformas de compartilhamento e pensar em novos modelos de negócios como um todo).

Ele propõe novos modelos de negócios em que a mentalidade dos governos e marcas precisa ser diferente, uma vez que estes entendem tudo sobre o mercado financeiro, mas não sobre seus impactos sociais e ambientais. Ainda medimos progresso de forma errada, pelo PIB, o que, de novo, deixa como foco a questão financeira, e não a ambiental e a social. O reuso, por exemplo, não é medido no PIB, bem como o prolongamento da vida útil de um produto.

Segundo o fundador e CEO da D-Waste e Presidente da ISWA, o futuro do nosso planeta está na conexão entre Economia Circular e Indústria 4.0. Isso determinará se estamos indo em direção a um planeta com ou sem desperdício. A Economia Circular ou será digitalizada ou não prevalecerá.

A 4ª revolução industrial apenas acelerará o esgotamento de recursos e criará problemas mais complexos e danos mais irreversíveis se não caminhar de mãos dadas com a economia circular. Porém, tanto a indústria 4.0, como a economia circular, demandam mudanças radicais nos modelos, culturas e políticas de negócios a fim de entregar todos os resultados prometidos. Sem essas mudanças, tanto a indústria 4.0, como a economia circular, acelerarão o esgotamento de recursos e aprofundarão a desigualdade.Vivemos em uma nova sociedade, que leva ao surgimento de uma nova economia.

Economia circular do plástico

O jornalista e editor Caco De Paula, moderador do painel “Economia Circular do Plástico”, inicia sua fala comentando como o plástico, que mudou completamente a vida das pessoas em vários aspectos por muitos anos, passa hoje pelo problema no fechamento do ciclo, pois temos que pensar em uma nova forma de lidar com essa matéria-prima. E, ao se tornar um bem de consumo, temos uma série de “contratos sociais” que ainda não estão bem estabelecidos, envolvendo fabricantes, consumidores e governos. Algo que está em construção no mundo inteiro, não só no Brasil. Estamos praticando um exercício de virada, em que personagens da cadeia estão vivendo experiências, criando soluções e financiando pesquisas em busca de alternativas mais sustentáveis.

Nesse painel, presenciamos uma discussão aberta e informativa sobre os desafios e tendências da economia circular do plástico, com participação de representantes de grandes empresas da cadeia produtiva em nível global: Fabiana Quiroga, diretora de reciclagem da Braskem, Mariana Bazzoni de Werna Mendes, gerente de sustentabilidade da AMBEV, e César Sanches, diretor de sustentabilidade do Valgroup. Os representantes das três empresas têm como desafio suas áreas sustentáveis, investindo sempre em inovação como forma de garantir maiores facilidades para a reciclagem desse material. Consideram ser necessário criar um outro modelo de negócio, pois, no caso de outras matérias-primas, como o alumínio, o próprio produto reciclado financia o processo, o que está longe de acontecer com o plástico.

Fabiana Quiroga acredita que a questão do plástico deva passar por uma mudança comportamental de todos os setores da cadeia, desde a fabricação da matéria-prima, a transformação, a empresa de produção de bens de consumo e, no final, o consumidor em si. Todos os setores devem oferecer soluções sustentáveis para a sociedade e pensarem juntos em uma mudança comportamental.

Fabiana contou também como a Braskem se empenha todos os dias para melhorar a vida das pessoas por meio de soluções sustentáveis da química e do plástico, engajados na cadeia de valor para o fortalecimento da economia circular. Entre algumas ações, entregam conhecimento aos clientes no melhor aproveitamento da matéria-prima e em uma produção que facilite a reciclagem (quanto mais tipos de plásticos colocarem em uma embalagem, por exemplo, mais complexa sua reciclagem). Quando fala de mudança, chamou a atenção para a importância do design, em como pensar a melhor forma do design desse produto para que possa ser usado o máximo possível e, ao final, não tornar-se um resíduo, mas uma nova matéria-prima.

A designer, pesquisadora e doutora em Comunicação e Semiótica, Mônica Moura, autora do livro Faces do Design, define design como “ter e desenvolver um plano, um projeto, significa designar. É trabalhar com a intenção, com o cenário futuro, executando a concepção e o planejamento daquilo que virá a existir”.

Em nosso curso Design Sustentável, com Eloisa Artuso, além de trazer ferramentas sustentáveis aos designers, trazemos conhecimento e responsabilidade à todos os profissionais que estão pensando em suas marcas e negócios, sendo eles designers de produtos ou não.

Mariana Bazzoni de Werna Mendes conta como a AMBEV se posiciona frente às demandas da sociedade em prol da sustentabilidade, caminhando além das expectativas do consumidor sobre a reciclagem em si, repensando seu posicionamento acima das provocações que vem recebendo do consumidor. A AMBEV tem uma missão de conseguir transportar as expectativas do consumidor para o restante da cadeia, sendo inventiva, criativa e com muito diálogo entre todos os setores. Para ela, a visão de circularidade é ter diversos atores trabalhando em outros aspectos além do uso e descarte, como gerar valor em cima daquilo que normalmente não parece ter mais. Lixo é dinheiro, e temos que gerar valor e oportunidades para ele com inovação e novas ações.

César Sanches percebe que a economia circular gerará uma série de oportunidades para empreendedores, professores, pesquisadores. Novas tecnologias, automação, robótica, inteligência artificial, tudo isso vai se desenvolver, e cabe a nós usar os materiais e essas tecnologias de forma a criar uma sociedade melhor. Numa visão otimista, acredita que o ser humano, se observarmos ao longo de toda a sua história, já entendeu que a economia linear chegou ao seu limite e que podemos aproveitar todo esse conhecimento acumulado por séculos e transformá-lo em economia circular, sustentável. Não é uma obra concluída, mas está sendo feita.

Economia circular do alumínio

No painel “Reciclagem | Os desafios da profissionalização, geração de renda e consumo consciente”, Eunice Lima, diretora de comunicação e relações governamentais da Novelis, Estevão Braga, gerente de sustentabilidade da Ball, Cristiano Cardoso, da Cooperativa Recifavela, e Nina Marcucci, coordenadora de conteúdo do Menos 1 Lixo, discutiram como as empresas e as cooperativas têm buscado soluções  para aumentar a rentabilidade, melhorar a gestão e, consequentemente, a qualidade de vida das pessoas envolvidas no ciclo produtivo do alumínio.
Eunice Lima contou que o Brasil é o maior reciclador de alumínio do mundo, por ser um negócio altamente rentável. Temos um índice de 97,3% de reciclagem de latas de alumínio com 600 mil pessoas envolvidas no processo. A Sua reciclagem consome 95% menos energia elétrica, quando comparado à produção do alumínio a partir do minério, reduz em 95% a emissão de gazes de efeito estufa, além de ser um material infinitamente reciclável. Seu sucesso se dá pela estruturação da reciclagem do alumínio como negócio; investimento industrial em capacidade de reciclagem; as indústrias absorvem todo o material coletado (existe comprador garantido); valor agregado da sucata, que remunera atividades de coleta e transporte; logística reversa organizada; e valor compartilhado em todos os elos da cadeia. Não enfrenta os desafios de outros materiais como vidro, plástico etc.
Um processo que hoje é uma oportunidade de renda e já se tornou um novo modelo de negócio. Ponto para o alumínio.

Jogando luz no lixo invisível

Em uma cidade como São Paulo, o sistema de recolhimento, tratamento e destinação dos resíduos custa bilhões de reais todos os anos e envolve milhares de pessoas, incluindo toda a economia informal gerada pelos catadores e suas famílias, peças fundamentais no processo da reciclagem. Mas tudo isso não é suficiente se cada um de nós, cidadãos, não tomarmos consciência sobre nossas opções de consumo de produtos e a destinação dos resíduos que inevitavelmente são gerados. Para refletir sobre como essas questões estão todas interligadas, o painel “Jogando Luz no Lixo Invisível” reuniu uma roda de conversa com diferentes olhares sobre experiências de manejo sustentável de resíduos com Patrícia Lorena, CEI e Founder da Inurbe, Larissa Kroeff, cofundadora da Meu Copo Eco, e João Bourroul, do Pimp My Carroça. 
Patrícia Lorena nos apresentou dados como o de São Paulo ser responsável por 12% do PIB brasileiro e produzir, aproximadamente, 8% dos resíduos do país – 19 mil toneladas por dia, quantidade que encheria 140 aviões cargueiros 747-8F, os quais, se enfileirados, ligariam a Avenida Paulista ao aeroporto de Congonhas! Acumulando essa quantidade por três dias, encheríamos o Estádio do Pacaembu.

Lamenta a relação que os paulistanos têm com os resíduos – tratam de manter suas casas limpas, mas entendem a rua como responsabilidade alheia, sem perceber suas responsabilidades individuais em manter a cidade limpa e conservada.
Larissa Kroeff trouxe uma reflexão sobre o lixo produzido nos eventos, e percebeu uma oportunidade de negócio criando o projeto “Meu Copo Eco”. No Brasil, o custo do lixo se divide com o de saúde e o de educação nas gestões municipais – 97% do lixo geram custo por meio da coleta e manutenção dos aterros sanitários, enquanto que apenas 3% geram receita às cooperativas de reciclagem. “E se fosse o contrário?”, questiona ela.
João Bourroul, além de nos contar do trabalho dele com os catadores nos projetos Pimp My Carroça e Cataki, empoderando e trazendo autoestima a esses atores praticamente invisíveis da cadeia, nos presenteou com o testemunho de um catador, que veio para relatar os problemas que enfrentam no dia a dia, como a logística e a falta de respeito.

Clique aqui para para ler sobre o que vimos e sobre nossas impressões do dia 22, o dia seguinte!

#VireSuaCidade #escolasaopaulo #descubra #reinvente #viva

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SOBRE O QUE AS PESSOAS ESTÃO FALANDO?

Por Carolina Bastos, curadora de conteúdo da Escola São Paulo

Sobre o que as pessoas estão falando? Pensando? Se questionando?

Nosso mindset está realmente mudando?

BlastU

Estivemos essa semana dentro da segunda edição do BlastU, acompanhando painéis, workshops e debates sobre empreendedorismo, inovação e tecnologia.

Quando ouvimos pessoas como Sérgio Leitão, do Instituto Escolhas, conversando com Oskar Metsalvat, da Osklen, sobre as mudanças e as quebras de paradigmas que estamos vivendo e outras que ainda precisamos viver, sinto uma verdadeira euforia. Porque não estamos sozinhos!

Quando cheguei na Escola São Paulo, há dois anos, esses mesmos assuntos e pensamentos já estavam no nosso radar. Mas eu realmente não via tantos eventos desse porte e com tanta gente interessante falando sobre possibilidades e ações que já estão acontecendo e que precisam urgentemente acontecer.

Quando marcas começam a se posicionar, como o caso da Osklen, que tem isso em seu DNA desde o começo, vejo uma força enorme de transformação se movimentando, engolindo antigos preconceitos e desbravando espaços fundamentais.

Educação

Aqui no Brasil, a educação tem um lugar vergonhoso na nossa vida. Apenas 10% da população tem acesso a um ensino digno, e, mesmo assim, ainda aquém do que vemos ao redor do mundo.

Quando Priscila Cruz, do Todos Pela Educação, nos conta dados concretos, como por exemplo, o impacto econômico que uma transformação na educação poderia causar, impulsionando em 2 pontos percentuais o crescimento de nosso PIB caso as metas que tanto discutimos fossem atingidas, fica na minha cabeça uma pergunta recorrente: como não estamos investindo melhor nisso? Sem contar as transformações que reverberariam dessa ação, como inclusão, diminuição da violência, entre tantos outros benefícios. E digo mais, porque quando falamos de investimento em educação de base, até o ensino médio, nossos valores, como país, são altos, mas pelos resultados, nossa administração dessas verbas anda bem equivocada. Claro que existem exceções, mas elas deveriam ser a regra. E, infelizmente, não estou aqui comentando nenhuma grande novidade.

Claudio Sassaki, o cofundador e presidente da plataforma de educação online Geekie, participou com Ricardo A. Madeira (Tuneduc), André Barrence (Google for Startups) e Paulo Batista (Alicerce Educação) de uma conversa inspiradora sobre “Educação Transformacional”, onde ele deixou claro que, em sua opinião, o caminho para melhorar a aprendizagem passa necessariamente pelo professor, e que “o uso de inteligência artificial para os alunos aprenderem sem os professores tem um impacto limitado”.

Segundo ele, sua empresa está trabalhando, por exemplo, em tecnologias que ajudem esses profissionais a economizarem tempo e a organizar tarefas em pequenos grupos de estudantes dentro da sala de aula.

Transformação digital

Com a transformação digital, como vamos lidar com tanto déficit? Com tanto desemprego?
Enquanto grande parte dos setores desaparecerão, em alguns setores estratégicos e que irão crescer nos próximos anos, sobram vagas, já que não existem profissionais qualificados para as mesmas.

E então, claro, me vem a pergunta, aquela que não quer calar, e que sei que está também na cabeça de muitas outras pessoas: como me preparar? O que preciso aprender, desenvolver? O que eu quero realmente transformar para termos um mundo possível para nós e para as próximas gerações?

Eventos como a BlastU, onde discute-se inovação e novas formas de fazer as coisas, fica claro que existem soluções, tanto tecnológicas quanto humanas, muito melhores do que as que usualmente são aplicadas a produtos e serviços que consumimos.

Economia criativa

A economia criativa, nossa área de atuação e pesquisa, tem se desenvolvido de maneira exponencial, e mesmo que essa palavra já esteja parecendo um pouco gasta, ela vai seguir aparecendo para nós, porque a velocidade das transformações nunca mais será a mesma. Se isso será bom ou ruim? Me parece que cabe a cada um de nós, nesse caso, fazer do seu limão uma limonada.

A palavra mais ouvida em todos os espaços era propósito. Por que fazemos o que fazemos? De médicos, cientistas, economistas, ativistas, educadores à publicitários e empreendedores… todos ali estavam falando sobre significado e direcionamento de energia para algo em que possamos realmente acreditar. Para mim, o sentimento comum era: “precisamos nos conectar e encontrar novos caminhos”.

Ficou muito claro que os que estavam ali compartilhando suas experiências, incluindo erros e acertos, estavam de peito aberto mostrando: “vejam o que eu sonhei, desenvolvi, participei, etc… e como foi possível chegar até aqui, olha tudo que deu errado, ou que ainda está dando, mas não quero desistir”.

Diversidade

Falou-se também de diversidade e inclusão, em conversas como a de Patrícia Villela, do Humanitas360 e Carolina Mellone Etlin, advogada, em um painel sobre “Empreendedorismo atrás e além das grades”, um tema pouco visto em eventos como esse. Ponto para a organização do evento.

Tracy Francis (a sócia da consultoria McKinsey) conversou com Carolina Videira (Turma do Jiló, associação que promove a educação inclusiva), e lembrou que ainda há desigualdade salarial, que a parcela de mulheres em cargos de liderança nas empresas ainda é muito menor que a dos homens e que é preciso que os homens se conscientizem e ajudem a mudar esse cenário.

Foi também lindo de ver a conversa entre nosso professor Marcelo Rosenbaum e Biraci Brasil, líder Yawanawa, falando com sinceridade e muita propriedade sobre oportunidades de novos negócios na floresta Amazônica, baseadas em saberes ancestrais, juntando inovação ao respeito pela tradição e a cultura de nossos índios.

Enfim, nesses dois dias de evento, não conseguimos ver tudo, claro, mas a amostragem foi positiva. Segundo os organizadores, o objetivo era disponibilizar ferramentas para os empreendedores e conectá-los a empresas e mentores. Conseguiram? Acho que em alguns dos painéis que acompanhei a empatia e a vontade de fazer parte de uma transformação na nossa sociedade era mais profunda do que o conteúdo, mas, mesmo assim, o evento me deixou com a sensação de que as pessoas e empresas estão cada vez mais entendendo o que e para onde precisamos ir. Juntos.

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COMO A TECNOLOGIA PODE TORNAR AS CIDADES MAIS EFICIENTES?

A relação da humanidade com a tecnologia sempre foi conflituosa. Ao mesmo tempo em que a encarávamos como uma aliada para tornar o nosso dia a dia mais ágil e prático, também a enxergávamos como uma potencial ameaça (seremos substituídos por robôs?). Nos últimos anos, contudo, ela tem sido encarada como uma maneira de tornar as cidades cada vez mais eficientes. Um relatório recente elaborado pelo McKinsey Global Institute (MGI) concluiu que as tecnologias inteligentes podem ajudar as cidades a melhorar entre 10% e 30% alguns índices importantes de qualidade de vida, como redução de emissões de carbono, agilidade no deslocamento e redução de incidentes criminais.

Vidas podem ser salvas

Otimizando as centrais de atendimento e auxiliando no deslocamento no trânsito, por exemplo, a tecnologia pode reduzir entre 20 e 35% o tempo de resposta das chamadas emergenciais em casos de acidentes de carro ou incêndios, o que significa mais chances de salvar vidas. Um exemplo prático: graças a 8.200 megafones instalados na Cidade do México, seus 20 milhões de habitantes conseguiram ser alertados a tempo sobre o terremoto que atingiu o município em setembro de 2017, o maior registrado em um século. Instalado na costa do Pacífico há 20 anos, o sistema lança uma onda que aciona alarmes em escolas, escritórios e outros prédios da capital mexicana, dando aos habitantes o tempo de um minuto para saírem dos prédios antes do início dos tremores. O aplicativo SkyAlert também foi lançado com este objetivo, mas não funcionou durante o abalo sísmico – ainda que seja uma importante aliada, a tecnologia também falha.

Mapeamento para aumentar a segurança

Embora não possa, isoladamente, solucionar a criminalidade de uma cidade, a tecnologia pode ajudar a reduzir entre 30% e 40% os incidentes de assalto, roubo de carros e furtos, segundo o levantamento do MGI. Tudo graças ao mapeamento em tempo real das situações e, claro, ao policiamento preventivo. Contudo, este monitoramento deve ser feito com bastante cautela de modo a não interferir no direito de ir e vir dos cidadãos e a não contribuir na criminalização e no isolamento de alguns bairros e comunidades – muito antes de ser uma questão tecnológica, a criminalidade, de uma maneira geral, é fruto de desigualdades sociais.

Ainda segundo o estudo, até o ano de 2025, as cidades que fizerem o uso de aplicativos de mobilidade inteligente têm o potencial de reduzir os tempos de deslocamento entre 15 e 20% em média. Isso significa uma economia de 15 minutos por dia em uma cidade de trânsito intenso, por exemplo. Além disso, a tecnologia pode ajudar as equipes técnicas responsáveis a resolverem problemas de atraso e falhas com mais agilidade e orientar os motoristas a optarem por rotas mais rápidas.

No âmbito da saúde, a tecnologia pode reduzir em mais de 5% o índice de doenças em crianças, levando em consideração uma cidade em desenvolvimento, por exemplo, baixando as taxas de mortalidade infantil. Em cidades mais desenvolvidas, já existem sistemas que, por meio de dispositivos digitais, realizam exames que são posteriormente encaminhados para avaliação médica – tudo à distância. As avaliações ajudam o paciente e o médico a saberem quando uma intervenção é necessária, evitando complicações e internações.

Um exemplo prático de como a tecnologia pode contribuir com a saúde das populações é o data_labe. Criada no Rio de Janeiro, a iniciativa ajuda moradores da periferia da cidade a sugerirem políticas públicas que melhorem a realidade de suas comunidades. As propostas são feitas a partir da análise e do cruzamento de dados públicos. Por meio da iniciativa, por exemplo, a doula Vitória Lourenço identificou que as grávidas que mais morriam na cidade eram moradoras da periferia, jovens, negras e com baixo nível de escolaridade. Sua pesquisa serviu de base para o projeto de ampliação das Casas de Parto, lei apresentada pela vereadora Marielle Franco – assassinada em março de 2018.

Internet das coisas

Integrante da incubadora da Coppe, na Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), a startup criada pelo engenheiro Sergio Rodrigues combina tecnologias como internet das coisas e inteligência artificial para ajudar a solucionar problemas das cidades. Em parceria com o Ministério do Planejamento, a empresa desenvolveu o projeto Sigelu Aedes com o objetivo de contribuir nas ações de enfrentamento do mosquito Aedes aegypti. “No primeiro ano do projeto, aumentamos de duas mil para 200 mil vistorias. Deste total, seis mil tiveram focos comprovados”, afirma Rodrigues em entrevista à revista Pequenas Empresas e Grandes Negócios.

A tecnologia também tem sido utilizada para combater o déficit habitacional das grandes cidades no mundo. Atualmente, os edifícios são pensados e construídos como no século passado, mas iniciativas como construções modulares e bairros integrados tecnologicamente estão se tornando cada vez mais comuns, conforme aponta artigo da consultoria CB Insights. Neste novo cenário em desenvolvimento, até empresas de tecnologia como Google e Facebook têm se mostrado presentes, conforme reportagem da revista Época Negócios. A primeira investiu entre US$ 25 milhões e US$ 30 milhões em 300 unidades habitacionais modulares no bairro de Moffett Field, na Califórnia, e iniciou em 2017 a construção de um empreendimento com cerca de 10 mil unidades. Já a segunda vai construir em seu campus 1.500 apartamentos planejados (além de estabelecimentos e parques) voltados para seus funcionários e também para o público.

Para além da dualidade vilã x heroína, devemos encarar a tecnologia como nossa aliada na construção de cidades mais eficientes para todos os seus moradores, facilitando o seu dia a dia e, principalmente, fortalecendo os laços em comunidade. Afinal, não podemos esquecer que não é a inteligência artificial que faz uma cidade, mas sim os seus habitantes.

Arquitetura como agente de transformação

O Projeto de revitalização do Mirante Nove de Julho é um ótimo exemplo de como a tecnologia pode tornar a cidade mais inteligente, com soluções simples e relativamente baratas. Após a reforma, o espaço é ocupado por um café, feiras e eventos, e como nos conta Mila Strauss, arquiteta e nossa professora do curso online de Arquitetura e Urbanismo, responsável junto com Marcos Paulo Caldeira, pela reforma e recuperação da primeira fase do Mirante:

“O Mirante Nove de Julho é um exemplo onde a internet funciona como um ator muito importante. No pavilhão que foi reformado, encontra-se internet disponível. Tem muita gente que passa o dia trabalhando lá, ou desce para consultar alguma coisa. E é assim que as empresas que estão lá conseguiram engajar muitas atividades: através da internet. Esses usos novos, que são as bases das cidades inteligentes (tecnologia e a sustentabilidade), vão ativar muito espaços que estavam ociosos, de uma forma democrática e dinâmica. E ficamos muito felizes (e animados!) em poder fazer parte disso”.

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A FACULDADE DO FUTURO

No atual mercado de trabalho, todo conhecimento é válido

Em um mercado de trabalho cada vez mais concorrido, qualificação profissional (diploma universitário) é um quesito indispensável, correto? Não necessariamente, ao menos para as mais importantes empresas de tecnologia do mundo, como Google, Apple e IBM. A informação consta em um levantamento feito pelo site de busca de empregos Glassdoor. Além das gigantes de tecnologia, figuram na listagem empresas como Hilton, Whole Foods, Starbucks e Bank of America.

Não que elas desconsiderem a formação tradicional ao contratarem seus colaboradores, muito pelo contrário. Mas, cada vez mais, estão ampliando o seu leque de análise e considerando a qualificação de profissionais sem diploma universitário em seus processos seletivos. A mudança de comportamento tem uma motivação prática: o número de vagas no setor é superior à quantidade de candidatos. Além disso, o desenvolvimento de setores como o de Tecnologia tem motivado o desenvolvimento de novas habilidades e a criação de “novos empregos”.

Um outro modelo de formação

A vice-presidente de talentos da IBM, Joanna Daley, declarou ao site CNBC Make it que, em 2017, cerca de 15% das contratações de sua empresa nos EUA não têm graduação de quatro anos. Segundo ela, em vez de olhar exclusivamente para candidatos que foram para a faculdade, a IBM agora avalia também os candidatos que têm experiência prática por meio de bootcamps (programas de ensino imersivo que focam nas habilidades mais relevantes de determinada área), outros empregos ou mesmo por esforço próprio. Na visão da empresa, cursos livres ou vocacionais e a experiência adquirida no trabalho muitas vezes são mais eficazes do que o conhecimento adquirido em quatro anos de universidade, por exemplo.

De acordo com levantamento da Associação de Controle e Auditoria de Sistemas de Informação dos EUA (Information Systems Audit and Control Association, em inglês), 55% dos recrutadores da área consideram a experiência prática a qualificação mais importantes. “Os ‘novos empregos’ não apenas trazem candidatos que constroem habilidades através de outros campos de conhecimento, mas também profissionais mais velhos ou aposentados que retornam ao mercado de trabalho”, afirma Joanna.

Seres humanos excepcionais

Em 2004, o então vice-presidente de Recursos Humanos da Google, Laszlo Bock, declarou em entrevista ao The New York Times que a companhia priorizava a capacidade cognitiva geral do candidato, não o seu quociente de inteligência. “É a capacidade de aprender. É a capacidade de processar na hora. É a capacidade de reunir diferentes tipos de informações”, disse. “Quando você olha para pessoas que não fazem faculdade e, mesmo assim, fazem o seu caminho no mundo, elas são seres humanos excepcionais. E devemos fazer tudo o que pudermos para encontrar essas pessoas. Muitas faculdades não cumprem o que prometem. Você gera uma tonelada de dívidas e dúvidas, você não aprende as coisas mais úteis para a sua vida. É [apenas] uma adolescência prolongada”, acrescentou.

A Escola São Paulo pensando no futuro

A Escola São Paulo é, desde 2006, um espaço democrático de compartilhamento de experiências e de conhecimento, a favor de iniciativas que promovam o diálogo e o respeito às diferenças e que contribuam para que a gente possa viver em uma sociedade mais justa, respeitosa e generosa. Não acreditamos em verdades absolutas. A nossa proposta é fazer um convite à reflexão. A partir dessa responsabilidade procuramos profissionais atuantes no mercado e produzimos cursos com conteúdos que a gente tem curiosidade em estudar e acredita que são relevantes e que vão acrescentar alguma coisa na vida das pessoas.

Em um mundo em constante transformação como o nosso, um diploma de graduação já não é garantia de sucesso. No atual mercado de trabalho, mais importante que um certificado acadêmico é o conhecimento adquirido por cada profissional, seja pelos métodos tradicionais ou por vias menos convencionais.

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PERIFERIA EMPREENDEDORA

Em 2012, inspirado pelo livro O banqueiro dos pobres, do economista Muhammad Yunus (criador do termo Negócios Sociais), o jovem Thiago Vinícius criou o Banco Comunitário União Sampaio, no Capão Redondo, bairro onde mora na periferia de São Paulo. O capital de giro inicial foi de R$ 20 mil, captados via crowdfunding. A iniciativa funciona com duas carteiras, uma produtiva e outra para consumo. A primeira opera em reais, com juros de até 2%, e segunda com o Sampaio, moeda criada pela instituição, sem juros, que é aceita por diversos estabelecimentos da zona sul paulistana. Desde sua criação, o banco já movimentou mais de R$ 1 milhão.

Presidente da Associação das Mulheres de Paraisópolis, na zona sul paulistana, Elizandra Cerqueira criou o Bistrô & Café Mãos de Marias, iniciativa que, desde 2017, oferece cursos de capacitação e empreendedorismo para mulheres do bairro. Além disso, mantém uma horta orgânica de onde as cozinheiras tiram os ingredientes para fazer os pratos vendidos no espaço (o cardápio é composto por iguarias da culinária nacional, como virado à paulista, feijoada, bobó de camarão e moqueca de peixe, entre outros). O Bistrô tem o objetivo de apoiar as mulheres de Paraisópolis – atualmente, elas representam 53% da população local e chefiam 20% das famílias do bairro.

Thiago e Elizandra integram o grupo de quase 18 milhões de empreendedores das classes C, D e E que movimentam mais de R$ 228 bilhões por ano no país, segundo o Instituto Locomotiva e o Data Favela. Segundo levantamento da consultoria Data Popular, na última década, os negócios movimentados entre os 12,5 milhões de moradores de favelas geraram R$ 68,5 bilhões de renda anual. Um mercado cada vez mais forte e diverso que tem impactado diretamente os índices econômicos nacionais. “A periferia é a base da economia solidária”, afirma Thiago, em entrevista à revista Pequenas Empresas & Grandes Negócios.

Apesar dos números expressivos, os empreendedores da periferia ainda sofrem preconceito do mercado e têm dificuldade para encontrar investidores que os auxiliem a colocar os seus projetos em prática. “Muitos acreditam que quem mora nas periferias não tem muito conhecimento. Não levam muita fé no nosso trabalho”, afirma Elizandra, em entrevista à Pequenas Empresas & Grandes Negócios.

Mesmo diante destes entraves, é cada vez maior o número de iniciativas em curso com o objetivo de auxiliar projetos empreendedores das periferias das grandes cidades brasileiras. A Artemisia é uma delas. Dentre os projetos já apoiados pela aceleradora de negócios de impacto social está a boutique Krioula, criada no Capão Redondo, em São Paulo, que vende turbantes, colares, anéis e brincos inspirados na cultura afro. “Queremos focar o nosso trabalho cada vez mais nas regiões periféricas porque potenciais não faltam”, afirma Priscila Martins, gerente de relacionamento institucional da Artemisia, em entrevista à revista Época Negócios.

O Fundo de Aceleração para o Desenvolvimento Vela (FA.VELA), de Belo Horizonte, Minas Gerais, é outro espaço que vem auxiliando empreendedores da periferia. Em entrevista ao jornal Brasil Econômico, o presidente e cofundador da iniciativa, João Souza afirma que, somente em fevereiro de 2017, 48 negócios foram gerados para garantir o crescimento e a sustentabilidade das iniciativas lideradas pelos 35 empreendedores periféricos. Atualmente, já foram acelerados 122 negócios e formados mais de 130 empreendedores. De acordo com o Fundo, 42% atuam na área de serviços, 40,3% em fabricação de alimentos/artesanato e 17,7% na área comercial. “A gente tenta fortalecer este perfil empreendedor do morador de periferia democratizando o acesso a conhecimentos e a ferramentas que o ajudam a modelar melhor esse negócio, esse projeto que ele quer tocar e pensar a médio e longo prazos”, explica Tatiana Silva, diretora de projetos do FA.VELA, em entrevista à TV Globo de Minas Gerais.

Retratar como moradores da periferia de São Paulo estão transformando a realidade de suas comunidades com iniciativas inovadoras em áreas como gastronomia, comunicação e moda é o principal objetivo do documentário Visionários da Quebrada. “Acreditamos nas mudanças estruturais vindas das margens, nos saberes das periferias e na potência das pessoas engajadas na construção de suas comunidades. É um convite para atravessarmos as pontes que já estão construídas”, explica, explica Ana Carolina, idealizadora e diretora do filme.

Em visita ao Brasil em 2019, Barack Obama causou furor e comoção, falando sobre diversidade de direitos e oportunidades.

“Se houver apenas homens que pensam da mesma forma, as lideranças acabam perdendo informações”, e aqui acrescentaríamos: se não ampliarmos nossos olhares estaremos todos perdendo grandes profissionais, empreendedores, criativos, desenvolvedores, desbravadores dessa nova economia que está nascendo.

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